Os jornalistas avençados pelo saco azul do GES estão de regresso ao Expresso

RSalgado

Fotografia via Jornal de Negócios

Há muito muito tempo, numa galáxia longínqua, um grupo de jornalistas destemidos expôs um complexo esquema de evasão fiscal, envolvendo figuras de topo da política e dos negócios, práticas ilícitas e sociedades-fantasma offshore. O Expresso e alguns dos seus jornalistas estiveram envolvidos na investigação desde o primeiro momento.

Com o caso nos jornais e alguma indignação momentânea na sociedade civil, decapitaram-se por cá duas ou três cabeças secundárias, oferecidas em sacrifício ao Deus do dinheiro fácil obtido pela via da pulhice, até ao dia em que o Expresso abriu uma caixa de pandora ao noticiar a existência de uma lista de jornalistas avençados por um saco-azul do GES, com o propósito de comprar cobertura noticiosa e/ou opinativa favorável aos interesses de Ricardo Salgado e restantes membros da corte.

Desde então, vários foram os apelos feitos ao Expresso, no sentido de desvendar quem seriam esses jornalistas sem respeito pelas mais elementares regras deontológicas. Os dias fizeram-se semanas, as semanas passaram a meses, o mediatismo do caso esmoreceu e dos jornalistas que faziam fretes a Salgados e quejandos nem mais um pio se ouviu. Até que a última edição do semanário chegou às bancas.

Na edição desta semana, o Expresso traz novos dados sobre pagamentos feitos pelo saco-azul do GES, tendo para o efeito elaborado uma lista com os 20 maiores beneficiários do mealheiro trafulha que Ricardo Salgado guardava nas Ilhas Virgens Britânicas. Contudo, com a excepção de Zeinal Bava, que sozinho levou mais ou menos o mesmo que os restantes 19, Fernando Costa Freire, antigo adjunto diplomático de Durão Barroso e de Santana Lopes, Von Greber, indivíduo com nome de oficial alemão do Allo Allo!, do qual apenas é dito pelo jornalista Micael Pereira que “É possível que se trate de um consultor financeiro nos EUA”, e Manuel Pinho, antigo ministro da Economia de José Sócrates, os restantes 16 são membros do clã Espírito Santo ou ex-gestores e administradores do grupo. Nada de novo, portanto.

Estranhamente, na crónica de Pedro Santos Guerreiro, presente na mesma edição e igualmente subordinada ao tema dos avençados do saco-azul do GES, há algo digno de registo. Pela primeira vez em muitos meses, um alto oficial do Expresso quebra o tabu e refere-se à famosa lista de jornalistas avençados, ao afirmar a existência de “um número reduzido de jornalistas”, que constavam na lista de avençados e cujas identidades o Expresso não conseguiu ainda apurar, “porque muitos pagamentos foram feitos sem nome, para offshores ou mesmo em envelopes”.

Estão à vontade para me lapidar, mas tenho Pedro Santos Guerreiro como um jornalista honesto e objectivo, sem grande inclinação para fazer fretes. Mas isso não invalida que a desculpa apresentada pelo director do Expresso pareça ter pés de barro. Afinal, se muitos pagamentos foram feitos sem nome, alguns até em envelopes, como base em quê é que nos venderam a história dos jornalistas avençados? Ou será que, entretanto, descobriram algum amigo com o rabo preso?

Comments

  1. Adorei, João mendes, esta notícia.Aqui no Brasil também tem gente muito “honesta” envolvida nester tipo de coisa e espero mais denúncias destas pessoas que estão loucas para governar o país em direcção ao “desenvolvimento. Grande trabalho o vosso.

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    O noticiado representa obviamente um crime (ou vários crimes) que, tal como os eventuais criminosos têm passado entre as gotas da chuva sem se molharem.
    Espanta-me o silêncio do Ministério Público.
    Espanta-me o silêncio da PGR, bem como o tempo que se perde com a discussão dos partidos em torno da qualidade do seu trabalho que, no capítulo dos problemas financeiros, está à vista..
    Espanta-me, em suma, o silêncio da Justiça.
    Espanta-me o silêncio do Responsável pelo normal funcionamento das Instituições democráticas.

    Ponto 2 do ARTIGO 13.º da Constituição Portuguesa:
    (Princípio da igualdade)
    Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

    O que parece é que há pessoas que quando nascem já trazem a marca do “Habeas Corpus” perpétuo.

  3. Rui Naldinho says:

    Há sempre alguém que já viu o rabo ao vizinho do lado, mesmo sem querer. Porém, dizem as boas práticas do voyerismo moderno, não convém falar aos quatro ventos dos sinais (aquelas pequenas protuberâncias escuras na pele, com ou sem pelo) ou dos “pintelhinhos trogloditas” do rabiosque do vizinho do lado, sem termos a certeza que ele mesmo, ou alguém que lhe é muito chegado, amigo ou amiga, não terá ocasionalmente visto também o nosso, quem sabe exposto ao Sol num qualquer pátio habitacional, quiçá mesmo. numa praia nudista.
    O recato sempre foi bom conselheiro, meu caro. E não fosse a pressão de vender mais uns quantos exemplares ao fim de semana, para que o patrão não venda a publicação ao Luís Delgado, e o Expresso jamais teria abordado o assunto.
    Relvas já há muito tinha aquele canudo mixuruca no bolso. O Expresso sabia disso. Mas só quando se sentiu ameaçado com a potencial privatização da RTP, se viu obrigado a “sacar da pistola”!
    Nós os cowboys somos assim. Olho por olho dente por dente.
    Quem desculpe o Talião

    • Rui Naldinho says:

      Faltam para ai umas aspas, mas faz de conta que elas lá estão.
      Já agora o ultimo parágrafo deveria ser:
      “Que me desculpe a Lei de Talião!”

  4. Paulo Marques says:

    Não faz mal, o Novo Banco anda tão bem que já tem sobrinhos a lavar as dívidas dos tios outra vez. Toca a pagar.

  5. Luis fetnandes says:

    Espero q entre essas “estrelas” figurem os fa naticos bardamerdas q se limitam a atacarem LFV/Benfica, esquecendo q BC e,’ tao/+ calo teiro q ,Vieira c/agravante de nao possuir pa trimonio q garanta dividas ! Deixei de ler o jor naleco e nao me surpreende q em breve siga o mesmo caminho de n.revistas do Grupo

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