Era um Janeiro frio em Bath, Inglaterra, e procurei um pouco de calor escrevendo um postal aos amigos. Com tantas possibilidades de satisfação instantânea, incluindo a de estarmos em contacto com quem nos é querido, um postal chegado à caixa de correio traz com ele uma pequena parte de nós que uma fotografia partilhada pelos skypes da modernidade não capturam: aquele breves momentos enquanto compomos uma prosa de ocasião, antecipando o sorriso no destino perante a inspirada lembrança.
Não sabia, porém que a surpresa seria recíproca.
Soube ontem, para minha enorme estupefacção, que o postal tinha acabado de chegar, passados três meses depois de ter sido escrito. Talvez alguém tenha gostado tanto da Abadia de Bath que acabou por adornar o seu posto de trabalho com a minha correspondência. O mais certo, porém, é que lhe tenha acontecido o mesmo que a outras cartas e encomendas que, ultimamente, têm ficado perdidas por entre o caos criado pela diminuição da qualidade do serviço.
Uns correios que já foram exemplares, com entrega garantida no dia seguinte e sem precisarem de envelopes coloridos de azul e outras variantes, estão reduzidos a uma pálida aguarela do que foi uma empresa vibrante. E isto acontece, ironicamente, num momento em que a entrega de encomendas cresce exponencialmente, capaz até, quem sabe, de equilibrar a redução da circulação de cartas. No entanto, a aposta dos CTT foi a criação de um banco, eventualmente por este ser um negócio que pode falir sem que abra falência.
Eis o novo Portugal, nascido da venda de todo o seu valor para pagar os desmandos da banca. Foram privatizações, dizem, para melhorar os serviços e baixar os preços ao consumidor. Aí está, porém, a electricidade e telecomunicações das mais caras na Europa, como constatamos mensalmente pela cartinha chegada à caixa de correio. Esta, note-se, sem meses de atraso.
Um País completamente descaracterizado, mais parecendo um não-país.
Uma carta enviada por mim de Gondomar para Barcelos demorou um mês e meio a chegar. Uma encomenda com lentes de contacto, vinda de Lisboa para Gaia, via CTT Expresso, que tem de ser entregue, obrigatoriamente, em 24H e é para isso que se paga bem, e é entregue por uma carrinha e recebe-se um SMS a informar a hora a que chega, demorou uma semana a ser entregue. Deve ter ido passear pela Europa. E mês e meio para fazer 90Km dava para eu ir lá a pé umas quantas vezes.
O serviço mudou como da água para o vinho, parece que passamos a viver num país completamente diferente. Os pensionistas não recebem as cartas a tempo. O correio normal de 3 dias chega passado duas semanas. Fecharam-se postos dos correios. Despediram-se pessoas. O mesmo carteiro tem agora correspondência para entregar em várias freguesias. Andam particulares, com os seus próprios carros a distribuir correspondência, pagos a recibos verdes e a ganhar 300€ por mês.
Mas como o serviço melhorou tanto, amanhã os preços aumentam para o máximo possível!!
Ah, e isso, temos mais um banco. Que eventualmente teremos todos de pagar depois de alguém ter roubado o dinheiro. Mas Portugal é um país sereno e oviamente ninguém irá para a cadeia.