A mais cobiçada arma russa não é a bomba atómica, é a Gazprom

gas

[ António Alves * ]

Há cerca de um ano o mundo esteve à beira da confrontação por causa de um vídeo colocado no YouTube. Mostrava um massacre e pretendia provar que o regime sírio tinha usado gás sarin para matar indiscriminadamente população civil. O vídeo mostrava um elevado número de crianças mortas. John Kerry afirmou ao mundo que os americanos tinham provas obtidas “por outros meios”, a partir de “fontes independentes”, “através de processos adequados” contra o regíme Sírio. Os EUA ameaçaram bombardear a Síria.

“Sabemos que o regime [de Bashar al-Assad] ordenou o ataque, sabemos que eles se prepararam para isso. Sabemos de onde foram lançados os rockets. Sabemos onde caíram. Sabemos os danos que eles causaram. Vimos as imagens terríveis divulgadas nas redes sociais e temos provas [do que aconteceu] obtidas por outros meios. E sabemos que o regime tentou encobrir tudo, por isso temos uma argumentação muito forte” – John Kerry

Os russos e chineses ameaçaram auxiliar a Síria. Felizmente houve bom senso e a crise arrefeceu. Mais tarde, veio a provar-se que os rebeldes fundamentalistas islâmicos, que são financiados por potentados árabes amigos dos EUA, eram useiros e vezeiros no uso de armas químicas e, muito provavelmente, mataram premeditadamente inocentes com gás sarin [2] para inculpar o regime de Assad. Nos media ocidentais o coro que então culpava sem provas o regime sírio era praticamente unânime. Por trás do conflito na Síria está o interesse do Qatar e dos EUA [3] em abrir território para fazer chegar um gasoduto à Turquia de forma a abastecer a Europa e retirar à Rússia a sua força estratégica: o gás de que a Europa depende e a Gazprom tem.

A guerra segue dentro de momentos numa Europa perto de si. Não perca os próximos episódios.   * texto de 2014

Comments

  1. esteves, ayres says:

    È isso mesmo, é a Gazprom! O resto são disfunções de bastidores…. E como dizia o meu avó paterno um republicano convicto; “ter-se gás e água temos tudo”!

  2. manuel.m says:

    Veja no Google ” Nord Stream 2″ e verá que a questão é diferente da que pensa: Um novo pipeline que ligará a Russia e a Alemanha através do Baltico vai tirar à Ucrania, (por onde passa o pipeline que hoje abastece a Europa), o poder de chantagear com o corte e conseguir assim preços baixos, (quando paga), para as suas necessidades. A América está contra, mas há poucos dias a Frau Merkel avançou com o projecto, com Síria ou sem Síria.

  3. Manuel Lopes says:

    Tudo gente sábia…

  4. Concordo inteiramente, António Alves :

    …”Assad é, neste momento, o mal menor. Andar à procura de soluções perfeitas, enquanto o mal medra, é lirismo intelectual. A Síria, tal como eram Iraque e Líbia, é um estado laico que tinha níveis de vida superiores aos da região, onde as mulheres vão para a universidade e chegam a ministras. E também podem conduzir automóveis. Só é possível substituir Assad por algo que seja melhor para os sírios. Não é oferecer-lhes o que foi oferecido aos iraquianos e líbios…”
    e
    .
    …” O facto da intervenção russa na Síria estar a pôr a descoberto a hipocrisia do ocidente quanto ao chamado “estado islâmico” começa a incomodar os poderes fácticos.”

  5. Bento Caeiro says:

    O Milagre do Ataque à Síria
    Só uma achega.
    Os palhaços de serviço, Trump, May e Macron, alegando a existência de armas químicas na Síria e afirmando que, com o seu ataque, destruíram essa mesma fábrica – sabendo-se os efeitos que alegadamente os gases provocaram, porque foram amplamente divulgados – então eu pergunto, porque parece que ainda ninguém o fez: como foi possível que tal tenha sido feito, sem que a maior parte da população de Damasco fosse morta, precisamente – a acreditar nas palavras daqueles com a libertação desse mesmo gás?
    Ou será que nos querem fazer crer que se destrói uma unidade com essas características e a libertação de gás – factor da dimensão da referida fábrica – não se tenha dado ou não teria quaisquer efeitos para a população que a rodeia?
    Ora, como – segundo parece – apenas houve três feridos ligeiros, qual é a conclusão a tirar?

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