Portugal à venda

Diz assim o anúncio:

Quer residir ou investir em Portugal? Nos dias 15 e 18 de Maio, vamos ter duas sessões de apresentação exclusivas sobre o mercado imobiliário em Portugal, os regimes de incentivo ao investimento (Visto Gold e Residentes Não-Habituais) e reuniões individuais para esclarecimento de dúvidas.

e é da empresa JLL:

uma consultora internacional especializada na prestação de serviços de imobiliário para clientes que procuram obter valor acrescentado na promoção, na ocupação ou no investimento imobiliário. Com mais de 300 escritórios em 80 países, servimos as necessidades locais, regionais e mundiais de clientes, fazendo crescer a nossa empresa ao longo do processo.

Impacto disto, já real, é:

“Fundos imobiliários, bancos e seguradoras compraram ruas inteiras e as consequências são desastrosas”.

E o resultado, também já real ou a caminho disso, é este:

Quando se olha para o que se está a passar em Lisboa (e no Porto) percebe-se essa tendência. Os centros das cidades estão a ser ocupados por quem tem dinheiro para investir e isso vai conduzir à desertificação dos cidadãos locais, mesmo daqueles que, como classe média, ainda tentavam resistir. E Portugal, nesse aspecto, surge como um lugar seguro para elites francesas ou brasileiras. O centro das cidades começa a parecer-se com enormes condomínios privados. Um dia destes os presidentes das juntas de freguesia da parte central de Lisboa serão eleitos por eles próprios, porque não haverá eleitores. Ou seja, a democracia está a suicidar-se com esta aparente “economia de mercado”.

Tudo, mas TUDO, se transforma em mercadoria. Vencem os poderosos.

É uma história muito simples. Tão simples e que tanto dói.

Comments

  1. Manuel Lopes says:

    Há que aproveitar a ocasião

  2. Luís Lavoura says:

    Mas isto é normal. É a evolução das cidades.
    No passado, as cidades eram centros industriais; havia fábricas dentro das cidades. Hoje em dia já não há, as fábricas foram-se todas embora. Qual é o mal?
    Atualmente vivem pessoas no centro de Lisboa. No futuro, o centro de Lisboa será um parque de diversões para turistas. Os habitantes e os serviços estarão alhures. Tal como as fábricas se foram embora de Lisboa, também os gabinetes governamentais e outros serviços sairão do centro de Lisboa, que ficará transformado num parque de diversões só para os turistas. Qual é o mal?
    É natural que o presidente da Junta de Freguesia não goste nada disto, porque em Portugal as freguesias recebem dinheiro do Estado proporcionalmente ao número de eleitores recenseados nelas. Mas isso é um problema de distribuição de dinheiros que pode e deve ser resolvido, não é razão para se procurar impedir uma evolução natural.

  3. Luís Lavoura says:

    Em Paris há uma Disneylândia que atrai bué de turistas. As pessoas não habitam na Disneylândia, a qual é um mero parque de diversões para os turistas se entreterem.
    No futuro, os centros de Lisboa e do Porto serão umas espécies de Disneylândias para os turistas se entreterem. As pessoas morarão e trabalharão noutros sítios que não aí. Qual é o problema?

  4. Pois é, Ana, encontramo-nos sempre nestas encruzilhadas de noite escura e tempestade de medo e susto e aflição, como nos filmes de terror, aonde se assiste a doer muito, sim, a esta degradação da humanidade e da possibilidade de um modo digno justo e feliz de se viver neste mundo mas em que TUDO, sim, como diz, se transforma em mercado dessa minoria de monstros poderosos e criminosos que nos sufocam a esperança e as vontades fraternas e solidárias da partilha.
    …e tudo a acontecer tão depressa e tão real !
    Que nos reste ainda a esperança e as vontades, apesar de tudo.
    Aquelabraço /

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