A norte do paralelo nada de novo

C

Foi com este abraço que Kim Jong-un e Moon-Jae-in selaram a amizade do momento. Passearam-se pela zona desmilitarizada, fizeram juras de amor e chegaram mesmo a dar as mãos. O mundo exultou, a fake imprensa atribuiu o momento histórico a Trump e a região respira de alívio. Alegadamente.

Quem não respira de alívio, e fica na exacta mesma situação em que se encontrava antes deste belo episódio de marketing político, é o povo norte-coreano. Lá, agora como antes, impera um regime totalitário. Não há liberdade, qualquer tipo de liberdade, não há condições de vida dignas para a maioria e a senhora que lê as notícias no canal do Estado é sempre a mesma.

Há quem acredite que o Kim está a ganhar tempo, e que o programa nuclear continua e continuará sem sobressaltos, como continuará a repressão contra a população norte-coreana. E não é que a Coreia do Norte seja uma Síria, onde May, Trump e o seu novo BFF podem largar uns Tomahawk para medir pilas com o Xi Jinping. Ou porque a operação lhes está a correr mal. Na Coreia do Norte não existem grupos rebeldes para financiar. E fazer muito alarido no quintal do maior credor do Tio Sam poderá não ser a melhor das ideias.

Claro que, querendo, os EUA têm capacidade militar para pulverizar a pequena Coreia do Norte num abrir e fechar de olhos. Teriam que lidar com um ambiente hostil na região, onde apesar de tudo ainda tem aliados, mas fá-lo-iam sem grande dificuldade, apesar das consequências imprevisíveis. Tal como o poderia fazer a China, ou a Federação Russa, caso se tornasse absolutamente imprescindível.

No fundo, fica tudo na mesma: o Kim continua a ser o Dono Daquilo Tudo, mais a sua corte e os seus generais de chapéu grande e condecorações a pontapés, tal foi a bravura no campo de batalha, e a esmagadora maioria da população continuará a viver na miséria, num estado policial opressor, minada até ao tutano com propraganda que por aqui não enganaria uma criança de 10 anos, tal é o reino de ignorância ao qual são forçados. Para muitos, o simples conceito de liberdade não existe. Nunca lhes foi dado a conhecer. Ou assume outras características, decorrentes da narrativa oficial do regime. Um pesadelo orwelliano, capaz de corar de vergonha qualquer regime do Médio Oriente, que segue o seu caminho sem perturbações a registar.

Comments

  1. .?.?. says:

    e a senhora que lê as notícias no canal do Estado é sempre a mesma.

    Tem piada! Cá, quem lê as noticias na RTP, SIC e TVI são sempre os mesmos… (Grande Democracia…)

  2. é um passo no bom sentido. não é o momento para criticar que está tudo mal na Coreia do Norte…

    • Não é uma crítica, é uma constatação. Visto de qualquer ângulo, está tudo mal na Coreia do Norte!

  3. Rui Alexandre says:

    Fundamental é que um pequeno país faz frente ao imperialismo, isso sim é uma boa notícia . O regime da Coreia do Sul está agindo correctamente, dando uma enorme bofetada sem luva no seu patrão, EUA. Também é isso positivo.

    • Um pequeno país que se formou e se sustenta por causa do imperialismo. A Rússia e a China sempre foram imperiais desde sempre. Não mudaram com a ideologia.

  4. “Claro que, querendo, os EUA têm capacidade militar para pulverizar a pequena Coreia do Norte num abrir e fechar de olhos. Teriam que lidar com um ambiente hostil na região, onde apesar de tudo ainda tem aliados, mas fá-lo-iam sem grande dificuldade, apesar das consequências imprevisíveis.”

    Esta escrita, arrepia
    o resto é paleio que nada acrescenta
    ao que podemos ler, todos os dias, na imprensa

  5. fmart@sapo.pt says:

    “Claro que, querendo, os EUA têm capacidade militar para pulverizar a pequena Coreia do Norte num abrir e fechar de olhos.” E com que gozo João Mendes o afirma! Abençoados States que, decénio após decénio, vão pelo mundo fora expurgando a humanidade do vírus do totalitarismo e implantando a paz, a justiça social e a democracia! Que seria de nós sem eles? Decerto, a cada passo veríamos países soberanos a serem invadidos, mercenários a serem financiados e armados para derrubar governos, sabotagens económicas, campanhas orquestradas a fim de induzir rupturas institucionais, que mais, Santo Deus? Afortunadamente, a esquerda social-democrata está atenta (para além de veneranda) na denúncia da insídia comunista. Sorte a nossa!

  6. Tuga says:

    Caro João Mendes

    Comentário xuxalista, obviamente.
    Mas repare que o Mario Soares, que se fosse vivo seria grande fan do Mr Trump tal como foi anteriormente do Mr Kissinger, já morreu.
    RIP

  7. A.Silva says:

    Já o regime da Coreia do Sul é uma colónia dos americanos.
    Vamos lá a ver se o Trump não obriga os sul coreanos a voltar com a palavra atrás.

  8. Luís Lavoura says:

    É um mau hábito, esse de nos intrometermos na política interna dos outros países.
    A Coreia do Norte tem a sua política interna. Não temos nada que nos intrometer nela.
    Temos é que nos preocupar com a sua política internacional, isto é, com a relação da Coreia do Norte com os outros países.

  9. Ana Cruz says:

    Muito interessantes estas comunas que aparecerem a “condenar” o regime comunista da Coreia do Norte. Parecem tão democratas.
    Num primeiro movimento condenam os totalitarismos. Depois condenam ao mesmo tempo os regimes realmente democráticos como os EUA como se tratassem igualmente de regimes totalitários.
    Esta estratégia já vem doa anos 60 logo após o relatório Krutchev ter sido divulgado pela Mossad, em que tem por base :
    “como não consegues impor as ideias comunistas no ocidente devido à própria Cultura ocidental , temos que alterar a própria cultura, infiltrando as instituições por forma a altera-las por dentro.”
    Mas fique descansado que as pessoas realmente livres e democráticas e com 2 dedos de testa, sabem que para implantar a suas ideias , será preciso empregar a força e será necessário o totalitarismo, e isso não pega.
    Tome um conselho: emigre para a Venezuela onde acabou de haver um aumento do salário mínimo de 95%, pois lá as suas ideias estão todas implantadas.

    Ana Cruz

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