Carta aberta a Miguel Sousa Tavares

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[Filipe Marques, professor]

Olá, Sr. Comentador Miguel Sousa Tavares,

Às vezes consigo ouvi-lo com atenção… hoje não foi um desses dias. Mas gostava de lhe falar um pouco da minha vida.
Tenho 42 anos, ainda sou casado, e tenho 1 filho de 10 anos. Sim, ainda sou casado, porque não é fácil manter uma família quando a minha entidade patronal (Ministério da Educação) resolve destruí-la.
Passo a explicar:
Dou aulas há 18 anos… andei boa parte deles a percorrer o país. Nos últimos 12 consegui ter o luxo de trabalhar a menos de 50km de casa. Como deve imaginar, fui estabilizando a minha vida… casando, comprando casa, aumentando os membros da família…
De repente, uma iluminada resolve atropelar a lei pensando que por 50€ por dia me pode usar da forma que mais lhe convier. Com esse atropelo fui colocado a dar aulas a 200km de casa, ganho 50€ por dia e gasto 40€ e pronto ainda estou pior que aquelas Senhoras da fábrica dos Açores que parece que ganham o mísero salário mínimo. Como já deve ter feito, as contas ganho 300€ por mês… já mudei 2 vezes de pneus e fiquei parado na estrada 2 vezes. Já devo no mecânico mais de 1000€.
Já sei o que está a pensar…. porque não fica a dormir lá no local onde foi colocado? Não fico porque ainda sou casado, porque ainda tenho um filho e porque tenho pais que precisam dos meus cuidados.
Mas gostei muito daquela parte em que o sr. lamentou o facto de as famílias dos alunos não saberem o que vai acontecer desta greve. Sabe que os professores também têm família e os filhos dos professores também sofrem muito, e todos os anos, sem saberem se em setembro vão mudar de casa, se vão mudar de escola, sem saberem se vão ter que deixar de praticar desporto, sem saberem se vão ter de abandonar as suas actividades extracurriculares… olhe, sem saberem o seu futuro. Pense lá um bocadinho como será a estabilidade emocional desses professores e dessas famílias.
Também gostei de saber que os professores querem progredir na carreira mais depressa que os restantes funcionários públicos… sou sincero, não sei nada sobre as outras carreiras profissionais… mas relativamente à minha, trabalho há 18 anos e nunca progredi na minha vida, estou tal e qual aquelas sras que são exploradas lá nos Açores.

Podia dizer mais coisas… mas não vale a pena.

Comments

  1. com esta descrição da vida deste Professor e tantos outros já era tempo do Ministério verificar a situação de colocar os Prof. o mais perto possível da zona residencial, Porém, isto também acontece que existem muitos professores e poucos alunos porque a população juvenil tem decrescido continuadamente. Já que o anterior Governo nada fez que este Ministro e seus secretários de estado agarrem n o problema e tentem resolver rápidamente.

    • Bento Caeiro says:

      Concordo. É pôr-los a dar aulas somente aos seus filhos e, eventualmente, a alguns alunos da rua. Também as turmas não poderão ter mais de 10 (não, é demasiado), 5 alunos. Entre os materiais a fornecer pelo ministério, estarão grandes quantidades de lenços para limpar as lágrimas dos pobres desgraçados dos professores.

      • Os Professores dão muitos lenços aos alunos pagos do seu bolso! Era muito esclarecedor os que aproveitam para falar mal dos Professores passarem um dia numa escola! Enquanto não perceberem que vivemos em sociedade e há direitos e deveres dos quais faz parte o respeito e as mais elementares regras de boa educação tudo vai mal. Torna-se difícil um aluno respeitar um Professor quando à sua volta e nos meios de comunicação não se tem o mínimo respeito pelos profissionais que fazem de tudo para ajudar a crescer cidadãos, pessoas felizes, participativas e bons profissionais. Tem de haver colaboração cada um fazendo a sua parte e construtivamente apresentar propostas de solução depois de se informarem da situação!

      • Helena Ramos says:

        não sei se o “sr.” Bento Caeiro se tornou completamente obtuso ou já nasceu assim!!! se calhar deveria ter integrado um currículo alternativo ou um PIT com PEI e ser considerado NEE para poder compreender que muitas coisas estão mal e a ironia de quem goza com quem não deve é uma atitude que em nada acrescenta à procura de resolução.

        • Bento Caeiro says:

          O respeito, tal como o poder e a liberdade, não se dão, conquistam-se e obviamente as fornadas de professores não conquistaram e, pelo que se vê, não vão conquistar esse respeito. Para tal, os alunos teriam de aprender e como se vê a coisa está cada vez mais difícil e então de disciplina, nem se fala.
          Também, a vossa função é transmitir conhecimentos aos alunos, apetrechando-os, neste âmbito, para adquirirem outros ou para os aplicarem em algo que lhes sirva para a sua vida.
          A vossa função não é tornarem os alunos pessoas felizes, porque aí é que erram – eventualmente, porque tomaram uma finalidade futura, como objectivo imediato: feliz, feliz sente-se o aluno quando não estuda e, mesmo assim, passa. Esse é o grande erro do sistema actual do ensino e dos professores – o facilitismo do politicamente correcto. Estudo é trabalho, exigência, esforço, cansaço – sangue, suor e lágrimas – que poderão dar em preparação para a vida e, nessa altura, em felicidade.
          Esse, o erro do actual sistema de ensino e dos professores que adoptaram essa filosofia.
          Agora, agora aguentem-se!

          • Manuel Martins Torres says:

            Se Bento Caeiro
            Voce esta como uma Mae que vi ha dias numa noticia na sic noticias,que nao deu educacao à filha,nem admitiu que a filha fosse educada pëla professora, e ainda por ela mais a familia foram a escola agredir a professora,
            Os meus quando EU été chamado à escola ,por causa de maus comportamentos,levaram no CORPO,hoje NAO sao formadod em nada porque ou NAO aprenderam ,ou nao quiseram estudar,
            POR falta de educacao,e apoio, nao foi ,de certeza absoluta,

  2. Rui Naldinho says:

    Aquele momento em que tu percebes, que MST tem uma obsessão contra os professores como classe profissional, e que os professores têm uma obsessão contra o discurso de MST sobre a classe, valorizando-o.

  3. julio otriz rodrigues paulo says:

    No nosso País só há subsídios, e compensações chorudas, para membros do governo, juízes, deputados e amigos. Existe, ainda, complacente tolerância para tudo que envolva corrupção Para quem trabalha exigem-se sacrifícios e invoca-se, sempre, “boa vontade” mas impossibilidade de o dinheiro chegar para tudo…….O resto é conversa…..

  4. atento às cenas says:

    ainda não perceberam que o sousa tavares não merece duas linhas.

  5. Luís says:

    Criticar os professores… tá bem … e sobre o gatuno do compadre, não tem nada a dizer?

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