Sobre o ódio aos professores

Na comunicação social alimentada pela política que se alimenta da comunicação social há um padrão de ódio aos professores que ganhou raízes com a equipa de Maria de Lurdes Rodrigues e do inenarrável Valter de Lemos.

Este ódio não há-de resultar de os professores ganharem bem ou mal, até porque há muitos outros profissionais no Estado que estão bem melhor, tais como os juízes e a gentinha da nomeação política, e que não merecem estes mimos. Quanto a mim, é por os professores terem um papel estruturante da sociedade, o que tem um grande potencial para incomodar a boyada da política. Consequentemente, há que metê-los na linha.

Se considerarmos a existência de uma agenda escondida para se tentar controlar a classe docente, todo o processo transformativo do sistema educativo dos últimos anos passa a fazer sentido.

Por exemplo, porque razão se transformaram cargos tipicamente democráticos das escolas com carácter decisório em órgãos consultivos? Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Conselho Pedagógico de cada escola, que, com a criação do cargo de Director, ficou esvaziado de capacidade interventiva, cabendo o processo decisório ao cargo uni-pessoal do Director.

Ou porque é que a municipalização do ensino está a ter tão boa receptividade por parte dos municípios? Possivelmente porque o braço político, via nomeações e concursos simulados, tal como acontece actualmente no poder local, vai entrar em força nas escolas. Esta transformação, além de criar potencial para mais jobs for the boys, leva o controlo político até à sala de aula, por via do controlo do vínculo laboral do docente. Empregados domesticados, já se sabe, são mais dóceis.

Ou ainda, porque é que a carga burocrática dos professores explodiu nos últimos anos? Naturalmente, a quem não sobre tempo para respirar, vai faltar, certamente, vontade de intervir na sociedade.

Poder-se-á dizer que esta tese é um exercício da teoria da conspiração. Mas olhe-se para as mudanças políticas sobre este prisma e conclua-se se o que parece errático passa ou não a ter um fio condutor. Em causa está controlar um grupo grande dentro do Estado, com elevada capacidade de pensar por si mesmo, que se mantém minimamente informado, o que contrasta muito com a restante população, e que tem (ou tinha) uma elevada apetência para a iniciativa própria. Diametralmente o oposto da generalidade da classe política, tão bem simbolizada por um Parlamento maioritariamente de lambe-botas que se apressa aos seus “muito bem” a cada fala do chefe.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Um ódio construído pelo Poder Central, apoiado por uma comunicação social sempre disposta a mostrar o cú e virar a peida ao violador.
    Eu só acrescentaria mais uma pequena particularidade.
    Apesar de Mário Nogueira se eternizar na cúpula do Sindicato dos Professores com aquela truculência que lhe é habitual, para mim já devia ter dado lugar a outro/a, prefiro-o a ele mil vezes, àquele lambe botas da UGT, ex bancário do BES, cujo comportamento como dirigente máximo de uma pseudo Central Sindical, me faz lembrar o Estado Novo.
    Ora, a rapaziada do costume gosta é dessa gente mansa, sempre disposta a trocar a dignidade dos seus representados por um prato de lentilhas.
    É só por isso que alguns sindicatos causam tantos pruridos.

  2. Carlos Almeida says:

    Boas

    A UGT foi criada pelos “xuxas” do Mario Soares em 75, para combater os sindicatos de Esquerda que eles não controlavam,
    Nesse tempo os únicos sindicatos que lhes eram afectos era os dos bancários.
    Ainda me lembro das manifestações orquestradas pelo PS e por gente da direita que agora se acolheram no CDS e no Partido do Marcelo Caetano Recauchutado, na zona do Arieiro e Ministério do trabalho em Lisboa, contra a CGTP.
    Nesse tempo quem fazia o trabalho sujo era o PS do Mário Soares.
    Bem me lembro da polémica Unidade Sindical vs Unicidade Sindical.

    A direita arranja sempre uns lambe botas como muito bem aponta o Rui Naldinho

  3. Bento Caeiro says:

    Só quem não esteve e marcou presença ao que se passava após o 25 de Abril no mundo politico-sindical, faz afirmações como as do Rui, porque, quanto às do Carlos, são do teor das então combatidas e derrotadas.
    Para o bem e para o mal, a existência da UGT visou tão somente evitar a unicidade sindical defendida pelo PCP e que este, apoiado pelo governo de então, queria impor ao movimento sindical.
    Foi uma forma de criar uma alternativa ao que o PCP, com a sua CGTP, queria imprimir ao mundo do trabalho, aliás como o tentou noutras áreas que, felizmente, pela luta então desenvolvida, fracassaram.
    Como é óbvio, muitos não tendo consciência do facto, a atitude face aos professores, aos sindicatos e aos partidos que os apoiam, são ainda os resquícios da batalha então travada contra aqueles que – em nome de ideologias totalitárias – se queriam apoderar do Estado e, por este, dos destinos do País – PCP, CGTP e quejandos, de então e de agora.

    • Rui Naldinho says:

      Sim, no período do PREC a CGTP teve muitas vezes comportamentos exacerbados e irresponsáveis. Ninguém o nega. Vínhamos duma ditadura.
      E daí!? Isso serve de estigma?
      Quarenta e tal anos passados, perguntaria ao meu amigo o que é que a UGT fez até hoje em defesa dos seus representados, cada vez menos, diga-se.
      A UGT foi uma construção política do Dr. Mário Soares com o apoio do patronato laranja. E digo laranja porque a maioria do patronato se refugiou no PSD como forma de se acautelar, face a um CDS acusado de familiaridades fascistas.
      A única coisa que logrou conquistar foram alguns sectores da classe média, tal como bancários, enfermeiros, professores (uma pequena parte, no tempo da Manuela Teixeira), seguros, enfim, aquilo a que chamaríamos o sector de serviços. Hoje nem esses consegue atrair para a participação sindical.
      Não por acaso, a UGT foi responsável por um dos maiores escândalos de corrupção até hoje em Portugal, com os fundos europeus para a formação profissional, no qual surripiou milhões de euros aos trabalhadores. O Poder político e judicial logo foi em sua defesa tentando mitigar o roubo, a pagar até às calendas gregas. Fosse o mesmo montante praticado pela CGTP, e era vermos as páginas de jornais e os comentadores todos os dias a debitar sentenças.
      Uma UGT que em quatro anos de troika, conseguiu um mísero acordo de 20,0€ com o governo do PSD/CDS, depois de lhes terem surripiado cinco feriados, um montão de contrapartidas como a baixa do IRC, sem que baixasse o IRS como estava acordado entre PS e PSD.
      Vir defender a UGT nos dias de hoje, é um exercício psicológico com forte pendor suicidário.
      Bento Caeito não vá por aí, porque há gajos indefensáveis como esse Carlos Silva, testemunha abonatória de Ricardo Salgado, entre muitas outras originalidades praticadas por esse espécime humano.

  4. Bento Caeiro says:

    Rui, as coisas nascem, crescem, modificam-se e desaparecem e tal, como as árvores para os solos, a sua existência já é positiva para a preservação do ambiente: social, no caso da UGT, e meio-ambiente, no caso das árvores. Tal não significando que se impeçam as mudanças, do tipo de organização ou do arvoredo. Uma coisa é certa Rui, o combate da gente que na altura queria a unicidade prossegue gostariam, mesmo de eliminar qualquer tipo de concorrência. Lembre-se o que aconteceu na Autoeuropa cuja actuação da CGTP quase levava milhares de trabalhadores para o desemprego. Garanto-lhe que a hipótese esteve em cima da mesa e com grandes probabilidades de avançar.
    Não há dúvidas – só os mal intencionados o apontam e os aproveitadores o negam: a UGT nasceu como estrutura sindical do Bloco Central – daí as suas tendências: Socialista e Social Democrata. E, então, também a CGTP, é uma estrutura sindical do PCP.
    Nestas coisas Rui, nada melhor que o contraditório e, no que me diz respeito, não fora a existência da UGT, muito mais mal a CGTP teria feito à economia nacional e por arrasto aos trabalhadores – veja o números de fábricas e empresas encerradas pelo radicalismo a que a CGTP conduziu os trabalhadores. Para não falar das pressões e perseguições a que os “camaradas” submeteram os trabalhadores que não alinhavam com eles. Tendo mesmo, a partir de dada altura, a luta entre trabalhadores assumidos formas mais radicais que a luta pela melhoria das suas condições.
    Sei o que se passou com a UGT e com os fundos europeus e conheço a actuação de muitos dos que lá estão ou passaram, contudo, é como no sistema democrático: prefiro a existência de partidos – mesmo que maus, como é o caso actual, do que sua não existência ou proibição.

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  1. […] apontam levianamente o dedo aos professores, desviando o olhar de quem comanda a máquina. O ódio aos professores não surge do acaso. Mas a marca da incompetência, tal como o algodão, não engana – e o […]

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