Joana Marques Vidal e os passistas que fazem futurologia

Fotografia via Jornal de Negócios

Miguel Morgado, António Leitão Amaro, Duarte Marques, Miguel Poiares Maduro e José Eduardo Martins assinam um artigo de opinião no jornal Expresso, a propósito da recondução (ou não) de Joana Marques Vidal, que começa de forma algo romântica, mas pouco realista. Porque a recondução (ou não) da Procuradora-Geral da República está longe de ser uma das “escolhas fundamentais que definem o futuro do País e da nossa democracia”. Imagino que a recondução de Marques Vidal, para os sociais-democratas que assinam o artigo, corresponda a “escolher o regime e o país” que querem, até porque Joana Marques Vidal pouco ou nada incomodou os barões do seu partido, mas não vale a pena embandeirar em arco: os grandes gatunos continuam todos em liberdade. E não há registo de que andem a passar fome ou a dividir apartamento com cinco pessoas num qualquer bairro social.

É mentira que tenha sido durante o mandato da actual PGR que “ficou claro o quanto o nosso regime era dominado por uma teia de interesses e cumplicidades que corrompeu os níveis mais elevados do poder”. Isso é claro há anos, antes de Joana Marques Vidal ou Pinto Monteiro terem ocupado o cargo. A grande diferença do mandato de Joana Marques Vidal reside na revolução tecnológica, que permite que cada vez mais portugueses conheçam os meandros podres e corruptos da política portuguesa, da banca portuguesa, do futebol português e de parte significativa do tecido empresarial português. Longe vão os tempos em que era possível fechar informações delicadas a sete chaves, longe do conhecimento do grande público. O que ajuda a explicar porque é que tanta gente ainda acredita que o regime salazarista não era corrupto e promiscuamente envolvido com os grandes capitalistas do seu tempo, cuja descendência ainda aí anda, a comprar políticos e a assaltar bancos.

Não obstante, considero que o mandato da actual PGR está a ser muito positivo. Penso não haver recordação de tantos membros da elite incomodados pelo Ministério Público, apesar de nada de relevante lhes ter acontecido, e até o poderoso Benfica parece estar e maus lençóis. Porém, se eventualmente vier a ser substituída, não me parece que venha grande mal ao mundo. Até porque nada nos garante que não virá alguém melhor. Daí não me meter em exercícios de futurologia tendenciosa, como decidiu fazer este grupo de dirigentes do PSD, que defende que reconduzir Joana Marques Vidal corresponde a “proteger e prosseguir esse caminho (de “coragem e firmeza na investigação e ação criminal”) ou minar a sua credibilidade e autoridade, regressando a um passado recente em que a proximidade ou dependência política do Ministério Público, real ou simplesmente presumida, feriu de morte a sua legitimidade e, muitas vezes, tornou inoperante o poder e vontade de investigação dos magistrados”. Apesar de tal ser possível, seria mais sensato se estes políticos esperassem pela decisão e eventual substituição, antes de presumir regressos ao passado. Vá, deixem a futurologia para a Maya. Já chegam as figuras tristes que alguns dos senhores fazerm no Parlamento.

Mas sim, dá a entender que o governo está interessado em correr com a PGR. Como o anterior correu Pinto Monteiro. E sim, existe a sensação que o Ministério Público funciona melhor do que no tempo do anterior PGR. Mas, uma vez mais, insisto: os poderosos criminosos de colarinho branco continuam todos no conforto do lar, rodeados pelo luxo comprado com o produto da sua actividade criminosa. Isto para não falar de certos casos, como a denúncia de Paulo Vieira da Silva contra Marco António Costa, que chegou às mãos de Joana Marques Vidal há três anos e meio, e sobre a qual não se ouve um pio. Ou a malta do BPN. Ou a Tecnoforma, que por cá não levanta grandes ondas judiciais, apesar do gabinete anti-fraude da Comissão Europeia, que considera que a Tecnoforma cometeu graves irregularidades na gestão de fundos europeus. E por aí fora. Não sei se o MP estará manchado por “sinistros planos e estratégias partidárias”, mas a sensação que dá é a de que a malta do partido que nomeou a PGR continua a passar entre os pingos da chuva.

Percebe-se o porquê deste exercício de política partidária pré-eleitoral, com os olhos postos no Outono de 2019. Percebe-se também a estratégia de tentar induzir os leitores a achar que tal problema é preto ou branco. Que substituir Joana Marques Vidal “legitimará o branqueamento do sistema de corrupção e de abuso do poder do passado recente e ficará irremediavelmente comprometido com o regresso provável a um regime de impunidade que tantos danos causou a Portugal”, o que mais não é do que demagogia barata e desonestidade pura e dura. Percebe-se ainda que tal é também uma reacção a ausência de uma posição clara de Rui Rio sobre o tema, ou não estivéssemos nós perante uma autêntica brigada do passismo, cujos cargos e influência estão em sério risco, com a excepção de José Eduardo Martins. E faz-me alguma confusão ver José Eduardo Martins envolvido neste esquema conspirativo político-partidário. Logo ele, que já foi esfaqueado por oficiais passistas. Espero que a hecatombe que se prevê para o PSD nas próximas Legislativas permita a Rui Rio limpar o entulho. Santana Lopes estará de braços abertos à sua espera.

Comments

  1. JgMenos says:

    Tudo fazem para esquecer o 44, as manobras do BCP, da Caixa, da TVI, dos robalos…
    Fazem de conta que a camarilha que amparou o 44 não estava e não está no poder.

    Toda a defesa desses coirões da Operação Marquês é sobre vícios de forma; só falta mesmo a instalação de uma nova ‘corrente doutrinária’, do tipo da que mandou destruir escutas.

    • Rui Naldinho says:

      Mete lá os banqueiros todos do teu partido na cela, acompanhados do seu séquito, Administradores, CEO’s, Chairmen, e só depois engavetas o Sócrates para lhes fazer companhia.

    • Paulo Marques says:

      “Toda a defesa desses coirões da Operação Marquês é sobre vícios de forma”

      Não, é sobre um estado de direito, especialmente um que não viva à custa de concursos de popularidade.

  2. JgMenos says:

    Estamos entendidos.
    O Estado de Direito da Esquerdalhada.

    • Paulo Marques says:

      Estamos entendidos, prefere o vácuo de usar palavras para não dizer nada.

      Quer o quê, decidir em referendo quem é preso? Feito pela TVI, CM, SIC, Observador, I ou quêm? Ao menos entende-se como acredita que o Salazar já foi perdoado.

      • JgMenos says:

        O Estado de Direito da Esquerdalhada.
        ‘Todo o fdp tem direito a saber que chamou a atenção da polícia, para a tempo e horas melhor poder organizar uma carreira de ladroagem e vigarice’.
        A tanto se resume a oração do Marquês.

        • ZE LOPES says:

          Nem mais! Fala o profundo conhecimento místico de um reverendíssimo Apóstolo Bispo Ancião da Igreja Universal do Reino da Coelha.

    • ZE LOPES says:

      Entendidos estamos!
      Assim fala um direitrolha salazaresco, tendência marcelesca-passesca.

  3. Luís Lavoura says:

    Excelente post. Concordo.

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