O triunfo dos porcos

Ouvir a Mortágua falar da partidarização da discussão sobre a continuidade da PGR e reduzir as opiniões que foram sendo dadas a uma dicotomia defesa/ataque de Sócrates, releva uma hipocrisia e uma desonestidade intelectual repugnantes. Seria tão relevante quanto a importância da própria figura que o disse (ou seja, quase nada), não fora o pormenor de traduzir a grande diferença ética entre as 3 posições principais sobre este assunto.

Vamos lá por partes. Obviamente que os partidos teriam de se pronunciar sobre uma questão desta dimensão e importância. Claro que a postura hipócrita de Rio, Catarina e, estranhamente, Jerónimo que disfarçaram a sua cumplicidade nesta ignomínia, recorrendo à postura “Pilatos”, podia ajudar a camuflar aquela verdade. Mas, nestes casos, estamos tão só perante hipocrisia, cobardia e mancomunação. E depois reduzir o mandato de Marques Vidal ao caso Sócrates, não é só atirar areia para os olhos das pessoas. É todo um tratado sobre o que a esquerda pensa sobre os eleitores: são uns burros que engolem qualquer coisa que lhes digamos. Se se tivesse de reduzir o mandato da, ainda, PGR a algo, seria o fim (temporário, como, infelizmente, se vai constatar) da impunidade dos influentes e dos ricos. Não foi só Sócrates. Foram Salgado, Miguel Macedo, o Benfica, Rangel, etc., etc., etc. Mas foi acima de tudo a sensação que o  estatuto e as amizades já não garantiam a impunidade. Foi dar esperança às pessoas que, efectivamente, havia alguém que zelava “à séria” pelo castigo dos poderosos quando estes violavam a lei.

E como resposta a esta “novidade” no plano judicial português, temos, fundamentalmente, 3 tipos de opinião. A primeira que apesar de bastante transversal, não deixou de ter acolhimento, predominantemente, nos eleitores de direita, apoiava com fervor a recondução da PGR quase como o último resquício de uma primavera “passista” que tentou acabar com o poderio de uma verdadeira “brigada do reumático” alicerçada em reuniões das “fraternidades” e em “sacos azuis”. Só que essa “brigada”, como agora se pode verificar, ainda manda, muito, neste País. É a concretização de que são, realmente, os “donos disto tudo”. E, repita-se, só durante um breve período não o foram: durante o consulado de Passos Coelho. Que não teve qualquer escrúpulo em nomear uma procuradora, politicamente, nos seus antípodas (próxima do Bloco), atendendo apenas à certeza que não se amedrontaria perante os interesses instalados. O resto são tretas.

A segunda, uma opinião, tradicionalmente, assente em valores de esquerda, que entende a lei, inquéritos criminais e sentenças como irrelevantes ou mesmo perniciosos quando a justiça se cruza com o plano político. Muito mais importante, nesses casos é a cominação que o próprio discurso em que a acusação é efectuada, encerra (com ou sem fundamento, dá igual). Uma espécie de todo um “tribunal popular” numa só declaração. Só obriga a dois requisitos essenciais: um, quem discursa tem de ser de esquerda e, por tal imbuído daquela, mirífica, autoridade moral associada, e outro, quem ouve tem de desejar que o que se acusa, seja verdade. Por isso tudo, uma PGR que assenta a sua actuação, única e exclusivamente, no cumprimento da lei, não é aceitável.

A terceira, muito mais grave, é a opinião de um grupo que, realmente, decide, os destinos de Portugal. Sabem que pelo seu estatuto, não podem, melhor, não devem ser perseguidos ou investigados. E sabem que, realmente, estão acima da lei. As leis criminais que eles próprios, tantas vezes, incentivam, são, tão só, para aplicar aos “mortais”. Qualquer quebra neste protocolo, exige resposta contundente e imediata. Mas, pelo menos, estiveram, de tal forma, de mãos atadas durante a primavera “passista”, que foram obrigados a não promover o afastamento precoce da PGR e a aguardar pelo fim do seu mandato. Obviamente que os golpes que ordenam, não são executados por eles próprios, mas sim pelos seus peões. E os 3 mais importantes peões nesta jogada que atira para  investigação e a acção penal para uma longa e negra noite, foram Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Rui Rio. Em expresso compadrio.

Em Janeiro de 2018:

A tempestade, perdão, a bonança perfeita do Salgado

Comments

  1. JOãO-MARIA TIGELEIRO says:

    Fosse o balanço do trabalho da procuradora feito aos resultados e teriamos uma mão cheia de nada. Deve ser por isso que a direita tanto gosta dela.

  2. Paulo Marques says:

    JMV, tal como Passos, tiveram um mandato cheios de coisa nenhuma a não ser violações da lei e dos direitos humanos. Dizer que PPC é um grande combatente do poder depois de entregar vários monopólios a preço de saldo, apagar registos de evasão fiscal e fazer leis à medida de capitalistas é de rir.
    O relevante nem é isso, pode ser perfeitamente legal reconduzir o/a PGR, mas a legitimidade democrática exige muito maior discussão e controlo eleitoral de um cargo tão relevante – se bem que isto na eurolândia não conta para nada.

    • Paulo Marques says:

      Mais um radical:

      “Já Pedro Marques Lopes vai mais longe e refere que Marcelo Rebelo de Sousa não só foi vítima de uma tentativa de condicionamento como “de uma campanha de mentiras”.”

  3. Carlos Almeida says:

    A partir de ontem, o Sr Silva e a quadrilha do BPN, ficaram mais preocupados. Percebe-se porque tanto pressionaram os seus “empregados” no activo da politica, para a continuação da anterior situação. A pressão foi tão grande que se tornou incómoda mesmo para aqueles que tolerariam a continuidade.
    Provavelmente ficaram preocupados sem razão, porque ainda estou para ver se alguém toca nessa quadrilha. Nem sequer na quadrilha do BES vão tocar

  4. Bom, o “aventar” hoje não mudou só de aspeto.

    Não sei onde foram descobrir este suíno mas aqui fica uma pista de onde vem:

    https://aventar.eu/2018/02/16/obrigado-pedro/

  5. Rui Naldinho says:

    A única parte do texto que eu subscrevo na integra é o título:
    O TRIUNFO DOS PORCOS

    Isso é verdade, ontem, hoje e no futuro próximo. Os porcos continuarão a triunfar, infelizmente. Não tivesse o tecido legislativo Português sido construído a pensar nisso. Não foi por acaso, por exemplo, que o regime de pena suspensa em vigor pode ir até condenações a cinco anos. Ainda há dias, o MP pedia uma pena superior a 8 anos para o principal arguido no processo “Vistos Gold”, e penas inferiores a 5 anos para os restantes arguidos. Percebe-se as razões, mesmo na nossa santa ignorância jurídica.

    Por outro lado, a ideia mirifica de que um PGR pode ser reconduzido por mais seis anos no cargo, ocupando doze anos o lugar, de facto, nada o impede, é mais uma narrativa sem pés nem cabeça, num país onde um Presidente da República eleito pelo voto popular, “coisa de somenos importância”, só pode cumprir dez anos de mandato.

    Imagino há seis anos atrás, o que diria a direita, caso Pinto Monteiro tivesse sido reconduzido até aos dias de hoje.

    Desconheço por completo aquilo que “vale” a nova PGR. Mas só o facto de se manter a norma que vem do antecedente, cumprindo apenas seis anos, já é uma boa notícia.

  6. Mário Reis says:

    Nino, andas é de cú tremido…
    Um mandato partidarizado e aproveitado por Portas/Cristas e Passos. Um lamaçal com a instrução de certos processos na “praça pública”, muito do agrado dos midia do poder do dinheiro. A ver vamos no que dá os que se encontram em curso. Mas uma coisinha é certa: além do Cavaco e quadrilhice do BPN, este mandato fica lembrado por arquivamentos escandalosos como o das compras de material de guerra, pelo famoso ‘processo dos submarinos’, com condenações na Alemanha e na Grécia e aqui tudo limpinho limpinho, pelo chamado processo da ‘Tecnoforma’ em que foi ordenado o arquivamento apesar de processo junto Organismo Europeu Anti-Fraude, do caso dos depósitos e doações corruptas de um jacinto que sente o leite no rego, etc.
    Infelizes coincidências ou acasos, de gente que a nomeou e ocupava o poder de então.

  7. Fernando Antunes says:

    O que fizeram ao botão de “dislike”? Nem há paciência para comentar ou contra-argumentar tanta estupidez pegada no artigo.

  8. ZE LOPES says:

    O jogo está viciado! Os porcos trinfariam sempre! Ou porque J.M. Vidal fosse reconduzida, o que seria apresentado como uma grande vitória, ou porque não foi e a vitória é, à falta de qualquer ideia, por manifesta falta de neurónios (doença conhecida como “Síndroma Nuno Melo”), ter-se arranjado uma onda populeira para “surfar”.

  9. ZE LOPES says:

    Agora a sério! Depois de ler o douto post tenho uma proposta a apresentar. Penso que não deveria haver apenas um PGR, mas vários, especializados por assuntos, e recrutados fora do mundo nebuloso da magistratura. Para os assuntos bancários, poderia ser Cavaco. Para o Futebol, Pinto da Costa. Para os assuntos de fraudes com fundos europeus, Miguel Relvas (se é que já conseguiu acabar a licenciatura). Para o branqueamento de capitais, Ricardo Salgado. E assim sucessivamente.

    Evitar-se-ia assim a excessiva concentração de poder numa só pessoa e a politização excessiva do cargo e tirar-se-ia amplo partido da experiência acumulada nos diversos campos.

  10. JgMenos says:

    A matilha cheira o podre socialista…e baba-se.

    Tudo para que o 44 não se desespere e diga quem comeu com ele…para além dos jantares de marisco.

    O dos afectos é um cretino da estabilidade, ainda que seja podre.

    • Paulo Marques says:

      Vai-te babando para aí, mas não conspurques a tasca.

    • ZE LOPES says:

      “A matilha cheira o podre socialista…e baba-se”.

      V. Exa. lá deve saber! Tem ido às reuniões, é? Quem se pode babar com “o podre socialista”? Os militantes do PS? Não parece. Pelo menos não será lógico, não é ó Xô Menos?

      Continue, que V. Exa. tem futuro! Em breve irá ser chamado para ser promovido a Apóstolo da Igreja Universal do Reino da Coelha. Só terá de seguir um curso de formação na Tecnoforma ministrado pelo piloto de drones Miguel Relvas. (De drones? Perdão! Já de jatos, por equivalência!).

      Registo aqui as suas dúvidas: “Quanto à Tecnoforma, qual era o papel do PPC? Accionista?Administrador? Consultor?”

      Terá de seguir o curso para ser iluminado em relação a tamanho mistério, só comparável ao da Santíssima Trindade.

  11. Carlos Almeida says:

    O caríssimo JgMenos, já viu aqui alguém defender o ex militante da JSD ?

    Eu ainda não vi, mas pode-me ter passado

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