Ouve-me

Liliana Garcia

E se em vez de um apagão feminino fizermos antes um clarão feminino?
Séculos de história já trataram de apagar o feminino. Nós conseguimos melhor que apagões. Colocar a mulher na obscuridade não me parece a melhor forma de luta para aumentar a visibilidade do papel da mulher na sociedade, seja para lutar contra a violência doméstica, seja para lutar pela igualdade de direitos. É no silêncio que se vão apagando mulheres vítimas de violência doméstica.
A igualdade de género não vai lá com apagões, mas sim com clareza, a começar pela clareza de pensamento. Quantas de nós se questionam sobre os papéis que assumem como seus (são uma clara vontade da mulher ou imposição social)? Quantas de nós educam os filhos, ou as filhas, no sentido da igualdade de género?Quantas de nós contribuem para uma visão feminista do mundo? Quantas de nós sublimam o feminino na sua inteireza, além da maquilhagem e das roupas da moda? Quanto mais sairmos dos clichés ou da reprodução automática de correntes enviadas por mensagem, mais nos sublimaremos como mulheres. Nós não somos o cliché onde nos querem colocar, nós somos seres pensantes com capacidade de sermos o que quisermos e de nos fazermos ouvir. Assim o queiramos, assim o queiramos com muita força. Vamos lá ser a mulher que, de facto, queremos ser. Já pensaste que mulher és? És o que queres ser ou a mulher que os outros querem ou esperam que sejas? O que fazes quando ouves comentários machistas, depreciativos das mulheres? Percebes quando outra mulher está também a ter uma atitude machista? Como reages quando um homem, de forma directa ou subtil, te desvaloriza?
E se em vez de nos apagarmos (nas redes sociais, na vida lá fora, em casa, seja onde for) destacarmos as nossas virtudes? E se em vez de apagões sublimarmos mulheres? E se cada uma de nós olhar em redor e escrever um post a elogiar as qualidades de uma amiga, irmã, filha, mãe, prima, avó, tia, colega de trabalho, vizinha? Há tantas mulheres do caraças em nosso redor. Vamos lá incentivarmo-nos umas às outras à visibilidade social.

Imagem: “Ouve-me” (1979), de Helena Almeida

 

Comments

  1. Ana A. says:

    Entendo a mensagem e respeito-a!

    Contudo, sou apologista que, já está mais que na hora de avançarmos para outro patamar: lutarmos (trabalharmos) para que, entre os Humanos, haja respeito mútuo e solidariedade!

  2. JgMenos says:

    ‘Vamos lá incentivarmo-nos umas às outras à visibilidade social.’
    Um ridículo que acresce a um igualitarismo que nem se percebe se nega a diferença – o que é tão só estúpido – ou se afirma uma qualquer especial qualidade – que não só acredita a diferença como ambiciona o privilégio.
    A suspeita maior é que tudo se resuma a uma qualquer transicionalidade em que isto de ser macho ou fêmea seja coisa a decidir no dia a dia.

    • ZE LOPES says:

      Sim! Há gente que muda de sexo todos os dias! Há até uma rede de clínicas a “Sex-Express”, passe a publicidade, promovida por cirurgiões esquerdalhos, que facilita essas coisas. Há gente que muda tão frequentemente de sexo que tem de baixar as cuecas para ver qual quando tem de preencher um formulário, tamanha é a confusão!E não há quem ponha cobro a isto! Um escândalo!

    • ZE LOPES says:

      Mais um título para JgMenos: DST (Dono dos Sexos Todos)! Este homem está francamente imparável!

  3. Uma frase que vou usando há algum tempo é que, não raras vezes, a culpa da vítima é quase exclusivamente sua e das suas escolhas. E tenho para mim que a culpa do grande machismo da sociedade portuguesa (que é a que conheço) e que se vai perpetuando é culpa da mulher e da forma como vai educando os seus filhos. Eu sou homem, e bem vi a educação que tive. Fosse eu mulher e teriam-me posto a fazer camas, a lavar a louça e a aprender a passar a ferro. Essa distinção é feita em criança pela própria mãe, mulher machista.

    E citando Eça nas Farpas:

    Diz-me que mãe tiveste – dir-te-ei o destino que terás.
    A ação de uma geração é a expansão pública do temperamento das mães. A geração burguesa e plebeia de 1789 a 93, em França, foi livre sensível e humana – porque as mães que a conceberam tinham chorado e pensado sobre as páginas de Rousseau.
    A geração de 1830, gerada durante o primeiro império – foi nervosa, idealista romântica, porque as mães tinham vivido nas emoções heróicas das guerras, na contemplação das fortunas maravilhosas.

    Se a geração de 1851, em Portugal, foi mais forte e original do que a nossa – é porque as mães, de onde ela saiu, tinham sido as raparigas vivamente sacudidas pelos tempos dramáticos das lutas civis.
    É, pois superiormente interessante saber o que são hoje, em 1872, essas gentis raparigas de 15 a 20 anos de quem nascerá, para o bem e para o mal, a geração portuguesa de 1893. Assim poderemos prever o que elas serão mais tarde como mães, como educadoras (…)

  4. JgMenos says:

    O ideal a ser construído por gente que se diz dada ao colectivo e à partilha é construir a plena autonomia de machos e fêmeas, qualificando-os por igual.
    Há naturalmente um maior enfoque nas lides tradicionalmente femininas, uma vez que o pressuposto é que constituam símbolos de servidão.
    Provavelmente as candidaturas a cursos de comandos fariam um contraponto razoável, não fosse o caso de as mamas atrapalharem bastante.

    • ZE LOPES says:

      “Provavelmente as candidaturas a cursos de comandos fariam um contraponto razoável(…)”. Talvez! Mas há melhores formas de ir parar ao hospital, ou mais longe.
      Logo escolheu V. Exa. a única tropa do mundo que, para evitar que alguém seja baixa numa guerra, o seja logo no treino.

    • ZE LOPES says:

      “O ideal a ser construído por gente que se diz dada ao colectivo e à partilha é construir a plena autonomia de machos e fêmeas, qualificando-os por igual”.

      É inqualificável a ignorância de tal gente! Experimentem utilizar esta ideologia nos cabos elétricos e vão ver o resultado! Mas é bem feito!

  5. ZE LOPES says:

    “Provavelmente as candidaturas a cursos de comandos fariam um contraponto razoável, não fosse o caso de as mamas atrapalharem bastante”.

    Mais um título para JgMenos: DMT (Dono das Mamas Todas). Este já era esperado. Não compreendo como demorou tanto o reconhecimento! Burocracias!

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