As falazes divisões debilitadoras da Esquerda

As relações entre os sexos são, sabidamente, um tema complexo e virulento. Não sou especialista no assunto de género, mas não sou cega e basta olhar em volta para ver, na mercearia, mulheres com nódoas negras sobremaneira suspeitas; basta conhecer os números sobre salários para ver as diferenças; basta atentar ao número de mulheres em cargos de poder e compará-lo com o dos homens; basta ler sobre a violência doméstica e ver os números, basta ter, quando jovem, sentido o desconforto de ouvir bocas sexistas na rua. Enfim, basta olhar e ver. Como gosto muito de cinema, noto particularmente que, mesmo na grande maioria dos filmes verdadeiramente bons, a apresentação do acto sexual transporta sobremaneira os clichés de uma fantasia bem masculina.

Vem isto a propósito do programa Prós e Contras sobre o movimento #MeToo. Só vi a primeira parte, e chegou. Aliás, chegou logo ao ouvir Raquel Varela a desqualificar todo o movimento, porque acha que os homens ficam cheios de medo. Porque acha o verbo “importunar” muito bonito e reivindica o direito de tocar. Afirmando que o movimento mete tudo no mesmo saco, mete ela própria tudo no mesmo saco, ao reduzir o movimento à questão da presunção de inocência. Daí, dá o salto e etiqueta arrogantemente o movimento #MeToo de conservador, anti-democrático. E claro, só as lutas de classes é que são progressistas.

Pessoalmente, também me interessam mais os temas do 1%, da miséria, do desmantelamento de direitos e do planeta à boleia do “comércio livre”. Mas porque carga de água não se pode intervir contra a injustiça social e, simultaneamente, contra a injustiça das relações de poder entre os sexos, pela ecologia, contra os problemas do acesso à Justiça, tudo e mais alguma coisa? Que raio de pensamento maniqueísta e excluidor é este?? E porque raio se especializa a Esquerda, repetidamente, em criar divisões internas que a enfraquecem cada vez mais, ao invés de unir as lutas?

Cingindo-me apenas aos aspectos mais directos deste assunto (e confesso que só “peguei” aqui no Aventar neste tema porque um amigo me enviou o seu artigo a respeito, que em muito veio ao encontro do que tinha pensado ao ouvir o programa) tenho a dizer o seguinte:

  • as sociedades – e, sem dúvida, a portuguesa – estão pejadas de indicadores de injustiça de género – o que não falta são estatísticas.
  • olhando para a sociedade, é assustador o que se passa tanto “debaixo dos panos” – p. ex. a selvajaria da violência doméstica – como em cima deles – p. ex., juízes a julgarem a violência do homem resultante do “adultério da mulher” com base no hábito tradicional e na Bíblia.
  • um movimento que tematiza e cria oportunidade de falar em público de algo dramático que vem sendo reprimido ao longo dos séculos, e que desse modo contribui para atacar as injustiças instaladas até aos dias de hoje, é fundamental. Há que evitar exageros? Sim, mas é bom não esquecer que até agora os exageros aconteceram do outro lado. É imperioso manter o pressuposto da inocência? Claro, o direito do pressuposto da inocência é um progresso civilizacional, é ponto assente, não está em causa.
  • Portanto, quando vem uma mulher olhar só para a partezinha que lhe interessa, ignorando toda a brutal realidade das outras, e defende o direito a importunar, e reivindica o direito ao toque – pressupõe-se do masculino, pois é desse que estamos a falar -, essa mulher – seja porque tem o pensamento empalado em esquemas de direita/esquerda, seja por coqueteria em relação aos homens, seja porque promove o próprio estrelato – esta mulher torna-se moralmente responsável por muito daquilo que de trágico está aqui em causa. A sua mensagem: “Vá homens, importunem e toquem, não tenham medo”, dá jeito em muitos casos. As vítimas, ou simplesmente as mulheres que não querem ser tocadas (já nem falo na localização corporal) agradecem-lhe, Raquel Varela. Isto tem ZERO a ver com puritanismo; tem a ver com uma sexualidade e relação auto-determinada. É fácil.

Lutarem, mulheres e homens, por um mundo mais justo, seja quanto ao acesso à equidade de género (e felizmente, não faltam homens que lutam por ela ao lado das mulheres), ao poder, ao dinheiro, ao conhecimento, à saúde, ao tempo e a uma vida auto-determinada, denunciando as origens e realidades do Presente, é possível. Quando a injustiça é demasiado poderosa e encapotada, o esforço de a ultrapassar pode ter de ser duro e até exagerado – e terá de estar sujeito a princípios fundamentais. Mas é imprescindível.

Comments

  1. Não sei o que é o Metoo, nem quero saber, tal como não quero saber o que se passa, lá por terras da 52a democracia do mundo. Prefiro interessar-me pelo que se passa no meu país que no que eu vivo. Mas quando digo dizem-me que isso está a cegar cá, que há por cá umas feministas quaisquer, que que eu nunca ouvi falar, e que também reivindicam umas barbaridades quaisquer.

    Eu, no meu país, felizmente que ainda não preciso de uma “Declaração Amigável de Engate & Foda” para seduzir e sair com uma mulher, e em caso de consenso, darmos umas boas cambalhotas. E acho que genericamente nenhum homem português sente esse medo. E eu ainda me lembro de quando o Júlio Machado Vaz dizia, há muitos anos, dizia que os jovens americanos eram incentivados a não sair sozinhos porque às vezes podiam ter problemas.

    Eu acredito que, mesmo por vias travessas, o mundo há-de pular e avançar. Há desigualdades e preconceitos. Certamente que há. Mas também os há ao contrário. Um militar homem tem de cortar o cabelo; mas se for uma mulher já não precisa.

    Depois temos o ridículo das quotas na política. Eu posso ser um excelente orador, com grandes capacidades políticas, mas só porque tenho um pénis sou descriminado porque não sei quantas mulheres que nem se interessam pelo assunto têm de preencher uma quota. E não vejo ninguém a querer 50% de quotas na construção civil, na estiva, em tudo que é difícil. Aí já não se quer igualdade.

    Quanto à violência doméstica dizer que esta não tem género, mas infelizmente quando se fala no tema fala-se exclusivamente na Mulher. O que descrimina ainda mais os homens abusados que, quando se deslocam à esquadra para fazer queixa, riem-se deles, dizem-lhes para serem homens e bater nas mulheres.

    E, em Portugal, que é o país que me interessa, há 14 queixas por dia de homens contra mulheres por violência doméstica. Como digo, a violência doméstica não tem género.

    E lamento que um programa da TV pública nacional, que não vejo desde a discussão do aborto, pago com os nossos impostos, ande a perder tempo e a alinhar em correio-manhizações a falar de movimentos doutros países que não nos interessam um cu.

    A mulher ainda é descriminada no local de trabalho sim, e eu vejo-o; é preciso acabar com essas diferenças, mas é preciso analisar as coisas com olhos de ver. Direitos sim, privilégios como as quotas não. Nem diabolizar o homem na violência doméstica quando esta não tem género.

    • Ana Moreno says:

      Boa tarde Konigvs, também acho, pode esquecer o MeToo, trata-se do tema de fundo. Sobre as quotas haveria muito a dizer, mas é outro assunto. Quanto à violência doméstica, obviamente é terrível seja ela contra mulheres, contra homens, contra crianças, contra idosos, ou contra quem for. Mas no contexto da discussão em causa, os números são significativos. E a grande maioria dos casos é de homens contra mulheres. Por exemplo, “No total das queixas feitas, as mulheres são o grupo mais afetado (86,6%).” https://www.jn.pt/nacional/interior/ha-14-mulheres-vitimas-de-violencia-todos-os-dias-9509936.html
      Os números são perigosos, exactamente porque as vítimas têm terrível medo de falar; Mas é bom não escamotear a dimensão.
      Quando escreve “em caso de consenso”, está tudo dito. É disso que se trata, nessa vertente do tema.

      • Os números valem o que valem, por isso os políticos gostam tanto deles. A questão da violência não deve ser uma guerra dos sexos. Mas eu não tenho dúvidas que por exemplo as queixas dos homens serão infinitamente mais pequenas do que na realidade, porque como é óbvio para todos nós, o homem tem vergonha de se ir queixar à polícia que é violentado (seja física ou psicologicamente) por uma mulher. Porque na sociedade o homem não pode chorar. O homem tem de ser forte e manter sempre o seu papel de macho dominante. Ora se se vem a saber que há um homem que leva no focinho da mulher é a galhofa geral, e a vítima nestes casos parece que é duplamente culpada e não se faz justiça.

        Tal como não tenho dúvidas que os números da violência sobre mulheres estão muito inflacionados para cima. Então em casos de divórcio o que não faltam são queixas sobre o ex-marido, muitas vezes até queixas sobre abusos sexuais das filhas. Parece que vale tudo na hora de lutar pela custódia dos filhos, mesmo inventar falsas violações sobre os próprios filhos!

        Sabe que por exemplo, em Portugal, quase metade das denúncias de abusos sexuais provam-se que são falsas? Metade!

        “Inventam crimes por vingança, por interesse ou para tentar esconder gastos ou infidelidades. ”

        https://portal.oa.pt/comunicacao/imprensa/2017/07/30/falsas-denuncias-em-quase-metade-dos-crimes-sexuais/

    • Jorge Evaristo says:

      A melhor ideologia de género é fornicar abundantemente.
      E muitas das gajas que falam de assédio sexual têm falta dele com efeitos penetrantes.

      • Ana Moreno says:

        Olé toiro! Ah ganda macho! A esse nível dispensa-se a conversa, pelo que desde já me escuso.

  2. JgMenos says:

    Antes de mais o pressuposto da igualdade é, no que respeita a género homem/mulher, genericamente estúpido e cientificamente errado (biológica, psicológica, emocional, comportamental…). Os outros géneros recentemente inventados não conheço nem pratico.

    Como agora vem sendo hábito, tudo é avaliado a partir de um branco de tudo que sejam valores tradicionais, A cretinice pós-moderna parte do zero e presume que a humanidade tem que ser recriada pelas seus bestuntos subitamente iluminados.

    Assim não há decência, gentileza, gracejo, sedução que resista a ser medido à crua análise inquisitorial dos selvagens instintos que subjazem a tais manifestações.

    Para simplificar uma situação complexa: às #Metoo, não muito obrigado, estão dispensadas.

    • Ana Moreno says:

      Olhe que boa notícia, JgMenos!

    • Paulo Marques says:

      Criado do zero, desde que assente no politicamente correcto classicismo, claro está.

  3. RSantos says:

    Os meus dois comentários finaram-se! Ou passaram o horizonte de eventos ou foram censurados…..Estranhooooo!

    • Ana Moreno says:

      Mas não neste post, certo RSantos?? Aqui nada foi censurado.

      • RSantos says:

        Não certo ter sido noutro post que não neste. O estranho é que a “virulência” dos comentários não dava para infectar uma ervilha mas eclipsaram-se.Tudo isto vale o que vale, valendo muito pouco.

  4. Tito Adriano says:

    Ana Moreno, és um desastre! Uma dessas radicais feministas que metem dó. Incapazes de uma análise séria e imparcial. Um dia destes um tipo não pode dar uma foda que lá vai assédio! São criaturas como tu que acabam por destruir as relações entre homens e mulheres. Essa atitude nada tem de esquerda, mas algo de muito sinistro. Felizmente que essa treta do MeToo pouco impacto tem por cá!
    Bom Domingo!
    Tito Adriano

    • Paulo Marques says:

      Macho que é macho ibérico é tão macho que fica inseguro se tiver que pensar na parceira.

      • JgMenos says:

        O teu avoengo arborícola pensava tão só nos concorrentes ao seu prolífero orgasmo.
        A tua avoenga arborícola nem equipada para o orgasmo estava.

        Só mesmo um esquerdalho pós-moderno para fazer da psicologia evolucionista tábua rasa e criar o Macho Novo.

        • ZE LOPES says:

          “O TEU avoengo arborícola”…Ora aí está o que muitos já desconfiavam: JgMenos é de origem extraterrestre!

          Chegou voando num disco que se riscou na aterragem, com a missão de tomar conta deste planeta. A sua missão começa por tentar colonizar as mentes, utilizando uma estratégia chamada “emparvoar”, ou seja, tornar os outros parvos.

          Infelizmente para ele, a missão não tem corrido como esperava. A proliferação de esquerdalhos, criaturas desconhecidas lá no planeta Direitroll 69 (da constelação Salazaristos) tem constituído um obstáculo difícil de combater.

          No entanto, ultimamente tem conseguido vários títulos que vêm perigosamente cimentando a sua nefasta influência. O último é o de DOT (Dono dos Orgasmos Todos)! Não é com especial prazer que estou a dar esta notícia.

        • Paulo Marques says:

          Por acaso só pensava em trabalhar duro para sobreviver no glorioso Portugal Novo e, como o Menos, contentou-se com isso.

  5. Paulo Marques says:

    A Raquel já provou que fala muito, tem boas intenções, mas falha em perceber ou explicar alguma coisa – mas também por algum motivo foi escolhida para o prós e prós.
    Passei, por estar farto disto, a ser a favor de coisas como cotas, só metendo esta gente a conviver com seres humanos diferentes (menos aplicável em questões feministas) é que eles aprendem a lidar como adultos.
    Quanto à esquerda, devia ter mais que fazer do que discutir cada caso ao detalhe, é uma óptima forma de não conseguir fazer mais nada e fazer com que nada mude.

  6. Ana, só uma pequena chamada de atenção. Quando entrar neste tipo de discussão não chame ao barulho a questão da intimidade e do ato sexual porque vai-se meter num campo muito pantanoso e esse argumento pode-se virar contra si.

    Eu sei que há mulheres que reclamam, por exemplo, da forma como o ato sexual é mostrado na pornografia, e li um artigo que saiu no Público com uma senhora que faz filmes porno, segundo ela, tendo em atenção o lado feminino. A mim parece-me bem, aliás, quando maior diversidade melhor. Mas, há que ter em contra que a missão da pornografia não é fazer pedagogia, se fosse, por exemplo, toda a gente usava, como devia, preservativo.

    Mas o terreno é pantanoso porquê? Eu não sei se a Ana é heterossexual ou não, nem de que tipo de práticas sexuais é adepta, nem vem para aqui ao caso a intimidade de cada um. Todos nós temos as nossas fantasias, mais ou menos convencionais, mais ou menos bem aceites por uma sociedade ainda cheia de teias de aranha na cabeça e que foi ensinada pela santa madre igreja a fazer no escuro, com o lençol por cima, e com um buraquinho lá pelo meio, porque para a religião o sexo é pecado grave, e só deve ser praticado para procriar. E ainda assim, por causa desse pecado tão grave é preciso batizar os filhos.

    O terreno é pantanoso, porque como canta a Rita Lee, “sexo é animal”. E não tenha dúvidas que, uma larga maioria das mulheres gosta de ser dominada no ato sexual pelo homem. Muitas vezes gosta e é assim que se excita mais, em ser insultada, amarrada, humilhada, forçada. Sou homem, gosto muito de mulheres, sei do que estou a falar! Cada vez mais ouço mulheres que me dizem que gostariam de ter sexo com dois homens, ou com mais até. Ao menos nisso as coisas mudaram. E, se nos anos oitenta e noventa quase só se viam filmes porno em que as menage-à-troi eram com um homem e duas mulheres, agora, se consumirem pornografia, verão que hoje, a maioria são de uma mulher com dois ou mais homens! Então qual é o lado machista de se ver uma mulher a divertir-se com vários homens?

    É óbvio que hoje em dia as práticas sexuais são muito variadas. Muitas mulheres e muitos homens também gostam de inverter os papeis pré-determinados, tal como há muita mulher que gosta de usar um strapon e encontrará por certo muito homem adepto da prática. Mas tudo isto para dizer, que no campo sexual, normalmente (não querendo generalizar!) a mulher assume e prefere uma postura de subjugação. E já só falta, virem algumas pseudo-feministas ocas da cabeça, virem dizer que as mulheres só deveriam fazer sexo com os homens, em certas e determinadas posições que não sejam degradantes para o seu papel igualitário na sociedade! Sei lá só fazer… em cima do homem? Está a ver a estupidez?

    Quem me conhece sabe que eu o primeiro a defender as minorias e/ou os mais desprotegidos e infelizmente ainda vivemos numa sociedade demasiado machista, aliás, custa-me por exemplo trabalhar com homens, mais novos e extremamente machistas. Mas depois, por outro lado, há coisas nesta luta justa pela igualdade das mulheres, que não fazem sentido nenhum!

    • Ana Moreno says:

      Olá Konigvs,
      antes de tudo respondo-lhe pela forma séria como fala sobre o assunto. Outros dos comentários nem merecem resposta e apenas demonstram mais uma vez a brutalidade que entra em jogo quando se fala deste assunto – tal como diz, pantanosa. Este facto, em si, é um indicador. Mais uma razão para se falar. O não falar serve o machismo.
      Aliás, falo à vontade, porque vivo numa sociedade onde é possível falar. E só tem vantagens. Acredito que se se falasse mais, sem ser só a brutalizar a discussão, como é tão frequente em Portugal, também o acto sexual seria diferente. Começa na escola, há apenas duas horas de educação sexual – em Portugal – e já isso de forma limitadora: https://www.rtp.pt/play/p4258/e368903/grande-entrevista

      Depois lhe diria que tudo é possível, de comum acordo. O “comum acordo” também não é 100% claro em situações de desigualdade, mas é a única linha a que nos podemos agarrar.
      Depois, que quando escreve “Mas tudo isto para dizer, que no campo sexual, normalmente (não querendo generalizar!) a mulher assume e prefere uma postura de subjugação.”, pois será essa a sua experiência. Se não generalizar como diz, muito bem. A mim estranha-me muito esse “normalmente”, mas aí sim, não há hipótese de discutir com base em dados. Vagamente, lembra-me (pelo paralelismo) o facto de eleições serem ganhas por partidos de direita, com os votos dos pobres. Mas deixaria por aqui.
      Finalmente, que o muro de silêncio é tal, a repressão subtil e embrenhada é tal, que, sim, pode haver – e há – coisas “que não fazem sentido nenhum”. Sim, isso acontece, mas sinceramente, prefiro isso, do que continuar tudo na mesma. E até retroceder, como quando a juventude ainda é tão machista, conforme refere.
      Não é nada fácil; mas a meu ver, é necessário, e até revolucionário.

      • JgMenos says:

        O chamar pantanoso ao assunto é já um mau começo de análise.
        Da animalidade primitiva às exigências do nascimento de prematuros sapiens às virtualidades da contracepção e da riqueza material é toda uma história linear e sempre condicionada por convenções sociais com seu experimentalismo.

        Até chegarmos a este ponto de miséria intelectual em que tudo se esquece e tudo se cria Ex nihilo.

        • Paulo Marques says:

          A história de linear nada tem, a não ser para historiadores de vão de escada.
          O resto, é a condição humana e sempre foi, ponto.

      • Eu comecei a ver o programa que deixou no link, parece-me muito interessante, mas o que a especialista começa a dizer, é mero senso comum! Não é preciso fazer um curso para sabermos quando estamos a ser inoportunos! Um homem quando num autocarro encosta as partes baixas ao rabo duma mulher sabe muito bem que está a cometer um abuso! Não é preciso legislação que lhe diga que está errado. Ele sabe que é errado! Todas as pessoas do planeta sabem distinguir o certo do errado. Violar uma mulher desmaiada numa discoteca é errado, por maior clima de “sedução” que tenha havido antes. Tal como quando uma mulher vai bisbilhotar o telemóvel ou computador do namorado sabe que isso é um comportamento errado.

        A educação sexual. Eu nunca tive disso na escola. Hoje não sei o que se passa nas escolas, mas tendo a achar que quem educa sexualmente é a pornografia. Não são os pais, não é a escola, são os amigos e a pornografia. E, como disse acima, é um mau princípio, porque a pornografia é feita para vender e dar muito dinheiro, não para fazer pedagodia. E depois os jovens vêem aquilo e acham que podem fazer aquelas mesmas coisas com a namodinha e vai dar mau resultado. E na volta a namoradinha vai achar que ela é que está errada por não fazer determinadas coisas, que na cabeça do namorado toda a gente faz.

        Quando fala em dados refere-se às preferências que falei? Não acho que sejam precisos grandes dados. É de novo senso comum do “uma lady na mesa uma puta na cama”! Mas logicamente que cada caso é um caso e, também no sexo, só se faz o que ambos estiverem confortáveis em fazer.

        Também concordo. Nesta vertigem pela igualdade muita barbaridade se tem dito, mete-se tudo no mesmo saco, e nem sempre se presta um bom serviço aqueles que pretendemos defender. Mas, acho que com o passar do tempo as coisas se ajustarão e tenderão a entrar nos eixos mesmo contra todos os Velhos do Restelo que para aí andam.

        • Paulo Marques says:

          “Não é preciso fazer um curso para sabermos quando estamos a ser inoportunos! ”
          Não, mas também não se nasce ensinado. E mesmo sabendo, não quer dizer que se dê valor. A cultura é o que é, e também foi com ela que aprendi, só mudando alguns anos depois de adulto. Arrependo-me de muito, até porque sendo pouco sociável não foi vantajoso em nenhum aspecto.

    • Paulo Marques says:

      Ora bem, mas é ainda importante realçar o facto que o não é não e o respeito mútuo são partes fundamentais do S&M, por muito violento que seja. As linhas podem ser um bocadinho mais difusas, mas continuam a ser claras.

  7. Ana Moreno says:

    Konigvs, esse tipo de preconceitos é brutal, seja contra homens, seja contra mulheres. Essa é a grande questão, sobre a qual tanto já foi escrito: Como mudar essas formas de opressão, coisas tão simples como “na sociedade o homem não pode chorar”? Por isso admiro homens que o façam, são corajosos e “role makers”.
    Quanto às estatísticas, os números valem mais ou menos conforme as fontes. E esse artigo que refere não vale como estatística. Vou deixar por aqui. 🙂

    • Acabei agora de ver a entrevista do link da RTP que deixou, e subscrevo integralmente o que a senhora disse. Aliás, é quase prazeroso ouvir alguém que sabe verdadeiramente o que está a dizer. Esta entrevista pode-se considerar que é o verdadeiro serviço público.

      Achei interessante quando mencionou a questão do “politicamente correto”. Quando me vêem depreciativamente com essa expressão eu pergunto logo “mas o que é que há de certo em ser-se errado”? E ela mesma sublinhou o que eu tinha aqui lembrado na questão dos abusos aos homens:
      “Os homens quando são vítimas, são duplamente vítimas”.

      Interessante. Obrigado por ter partilhado.

  8. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Acho curioso atacar-se agora a Raquel Varela, que é uma mulher emancipada, que se afirma de esquerda (e cujo discurso revela valores de esquerda, de facto), com educação e formação superior, só porque, na questão da “ideologia de género” não alinha pelo discruso dominante do “politicamente correcto” e se tem afirmado como poliiutcamente “incorrecta”.

    Raquel Varela tem razão quando afirma que muitas das estatísticas que são brandidas (como a da desigualdade salarial de que a Ana fez aqui eco) não revelam dados fiáveis, por não estarem divididas por estratos sociais, por níveis de escolaridade, por tipo de trabalho, etc. São estatísticas feitas à medida, por quem procurava à partida um determinado resultado. Estou certo que muitos aqui sabem do que falo e sabem que isto existe e como se faz. Há muito que venho dizendo que estas estatístias não têm valor algum. Por exemplo, é ou não verdade que cada vez mais mulheres ascendem a cargos de topo? É ou não verdade que, nas Universidades a maioria dos docentes já são mulheres? O que querem mais? Banir os homens todos para a sarjeta?

    Traquel Varela também tem razão quando diz que os problemas da violência doméstica e do abuso sexual/violação não são assim tão transversais á sociedade, e atingem mais determinados grupos, sobretudo nos estratos sociais mais baixos, e em bairros que são, já por si, problemátios por outras razões. Como em tudo, há que distinguir a estrada da Beira da beira da estrada.

    O movimento “metoo” tem vindo a perder credibilidade, à medida que se vão conhecendo alguns episódios (como o que envolveu Asia Argento).

    Que o meio de Hollywood é promíscuo é algo que não constitui novidade. Já o era nos anos 40/50 do século passado. Que muitas actrizes terão atingido a ribalta à custa de favores sexuais também é algo que não me custa acreditar, assim como não me custa acreditar que tenha havido (e ainda haja) produtores (homens) que se aproveitam do seu poder para obter esses favores, através de chantagem mais ou menos velada ou mais ou menos explícita. Também caso haja produtores mulheres, eventualmente a história acontecerá, só que os homens, condicionados como estão pelos factores culturiasi e educacionais, não fazem sequer queixa (ou secalhar até acham que isso é um bónus extra).

    Muitas das situações relatadas só nos chegam pela boca das alegadas vítimas. É verdade que o princípio da “presunção da inocência” que é primordial do Estado de Direito tem sido completamente torpedeado neste processo. Por isso, e porque tem tratado de forma igual situações que não são iguais, acho que o movimento tem sido mais pernicioso do que vantajoso para a causa das mulheres. E não se confunda este movimento (como também já vi) com a situação do médico da Federação de Ginástica. Uma vez mais, lá está questão da estrada de Beira.

    Dito isto, e como alguém que foi educado que “numa mulher não se bate, nem com um flor” e que (se calhar também por timidez) nunca sequer lançou um piropo a uma desconhecida (quanto mais avanços de qualquer tipo) acho que se está a criar um ambiente intimidatório, que leva a que os homens cada vez mais sejam tentados a refugiar-se em “relações comerciais” (vulgo prostituição) ou simplesmente a isolar-se, parta não terem problemas. A relação homem/mulher, actualmente está inquinada por estes movimentos. E sim – nada têm de “esquerda”, embora uma certa “esquerda caviar” cuja agenda assenta na destruição dos valores tradicionais da sociedade, se tente aproveitar deste movimentos para lançar novos ataques.

    Sobre as alegadas importunações que a Ana mencionou… Sejamos claros. Todos nós (uma vez mais falo com experiência própria) já fomos importunados (eu diria mesmo assediados), por diversas formas e em dizersas situações ao longo da vida. Temos de saber resisitr e oferecer resistência. Não vamos agora pretender de repente instituir “o céu na terra”. Se há crimes e criminosos, certamente haverá assédio e asediadores, como haverá salteadores, assassinos, corruptos, etc…. sempre. Cabe a cada um(a) saber lidar com a situação. A emancipação da mulher passa também por acabar de vez com esse discurso de “calimero”.

  9. Ana Moreno says:

    Portanto, Fernando, está tudo muito bem como está, óptimo, fim da conversa.
    Quanto a “Temos de saber resisitr e oferecer resistência”, é exactamente disso que se trata, em toda esta discussão. De preferência, e fundamentalmente, de forma solidária.
    Individualmente e na rua, até já a estalada por resposta adequada a boca sexista deu direito (“uma vez mais falo com experiência própria”).

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      Não direi que “está tudo bem”. Não está, nem nunca vai estar. Direi é que o “metoo” prejudica mais do que beneficia. Como diz o povo: “Para pior já basta assim”.

      Quanto à “estalada”, felicito-a, se ela foi merecida. É exactamente disso que se trata – reagir proporcionalmente e na hora – não vir atacar passados 35 anos, e sem provas. Se a “estalada” resultou, isso só vem dar razão à minha posição. E esteja certa de que, caso eu estivesse por perto e tivesse assistido à situação, teria contado com a minha solidariedade… activa (como ainda há pouco uma menina na caixa do supermercado contou… mas isso são outros quinhentos).

      • Ana Moreno says:

        O MeToo é importante e beneficia bem mais do que prejudica, porque tira da zona tabu agressões que ocorrem e sobre as quais não havia força para falar.
        Quanto à estalada, decorreu “por resposta adequada a boca sexista”; logo, a direcção do acto é a inversa.

        • JgMenos says:

          Boca sexista é o manto maior que cobre toda a idiotice.
          Que é feito do vocabulário português? Ordinário, ofensivo, foleiro, malcriado…?

          • Paulo Marques says:

            Milhares de palavras por onde escolher, e o Menos prefere meia dúzia de grunhidos por preguiça.

      • Paulo Marques says:

        Contou com a sua, mas estava longe de garantida para a menina antes de fazer o que fez. E corria o risco de o indivíduo lhe fazer uma espera à saída ou de o patrão a mandar embora por incomodar um cliente – coisas demasiado reais em 2018.
        O objectivo do #metoo é mostrar que há situações que são demasiado comuns que não devem ser aceites como “coisas que acontencem”. Estar à espera que haja um movimento que seja perfeito, claro e com objectivos definidos é matar a política.

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Não estou à espera de um movimento que seja perfeito. Acho, por exemplo, o movimento das ginastas americanas (cuja situação era/foi bem mais dramática) muito mais digno de ser realçado. Infelizmente, pouca atenção foi dada a essa situação (na minha opinião, e infelizmente).

          Já quanto ao #metoo, acho-o endogenamente hipócrita, e por isso não me merece grande crédito. É a minha opinião, e posso estar enganado. O futuro dirá. Mas é o que me diz o meu instinto sobre o #metoo, e por isso é que acho que ele é pernicioso.

          • Paulo Marques says:

            Quanto maior, mais hipócrita e mais casos falsos, a isso nem o #metoo ou o #ocuppy são imunes.
            Porque é que foi este? A minha intuição diz que é o mesmo de sempre, são pessoas com posses.

  10. Concordo consigo ao longo de todos estes comentários, Fernando M. Rodrigues, e igualmente tenho consideração por Raquel Varela e gosto de a escutar em tantas e noutras questões, mulher de esquerda inteligente e com educação e formação superior, sim.

    Haja circunspecção e bom senso baseado em valores e critérios imutáveis e salvemos a liberdade da diferença de mentalidades e valores de cada um !

  11. RuiVP says:

    Estou abismado com o que vai nestes comentários. Por partes:
    Em primeiro lugar, a conversa sobre a desigualdade de género (para os mais obtusos: a expressão «desigualdade de género» refere-se a relações sociais, não tem nada a ver com atributos anatómicos; a estes chama-se «diferenças anatómicas» e não têm nada a ver com questões de valor e igualdade), a conversa, dizia, descambou rapidamente para o campo do sexo no sentido mais estrito e físico do termo. Esteve mesmo à beira de transformar-se num tratado tipo Kama Sutra, oscilando entre o pseudotécnico e o confessional. É muito curioso…
    Em segundo lugar, nota-se a abundância de esforços para relativizar o abuso de poder sexista. Ora não existe nesta questão (como em todas as questões atinentes ao poder) absolutamente nada que possa ser relativizado. A brutalidade sexista é absoluta, não é relativa. Se fosse relativa, um abusador que manda bocas e apalpões a uma mulher que passa na rua e que depois a vê, uns metros adiante, a chorar de raiva, frustração e impotência, nunca mais na vida repetiria a gracinha, sentir-se-ia constrangido ao ver-se retratado na reacção daquela mulher.
    A brutalidade também não era relativa, era absoluta, nas fábricas do primeiro quartel do século XX (isto é, no tempo em que a revolta popular ainda era vigorosa e bastante anarquista), quando os patrões obrigavam as operárias a fazerem horas extraordinárias, sem operários presentes, só para poderem saltar-lhes para a cueca. Houve até patrões que levaram um tiro na testa, à conta disso, e se alguém aqui pensa que o movimento MeToo está a ser violento e exagerado, vá estudar um pouco de história e desengane-se.
    A brutalidade sexista não é relativa, é absoluta e sub-reptícia, quando vemos numa maioria de casais, durante uma conversa entre amigos, o homem cortar a palavra a palavra à mulher a meio da primeira frase desta, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
    E sobretudo percebe-se o carácter absoluto do poder sexista quando os comentários mostram como, com uma inocência pueril, tantos homens não conseguem ver ao espelho o carácter brutal dos seus próprios comportamentos, tomando-os como um dado absolutamente natural do universo.
    Em terceiro lugar, temos o costumado malabarismo com números falsos e notícias deturpadas. Só um exemplo: é completamente falso que haja mais docentes universitárias mulheres do que homens. Há mais alunas do que alunos universitários, sim. Há mais professoras no ensino primário e intermédio do que professores, sim. Mas o ensino superior, que é onde se fabricam os futuros grupos dirigentes (políticos, económicos e culturais), as amizades e capelinhas de poder para o resto da vida, continua a ser dominado por uma maioria de homens docentes efectivos. E o Conselho de Reitores é composto por 17 homens e 2 mulheres (cito de memória, perdoem se erro por umas décimas). Além de várias outras falsidades aqui toscamente lançadas no afã de relativizar a coisa.

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      OK, estive à procura de estatísticas sobre a distribuição de docentes por sexo (masculino e feminino) e parece que ainda há uma maioria de homens. Essa maioria, no entanto, passou de 18% em 2001 para 11% em 2015 último dado que obtive num blogue da autoria de Rui Almeida Pereira: http://cadpp.org/estado-ensino-austeridade-molho-bechamel

      Curiosa é a linha de raciocínio seguda. Relativamente ao abandono de estudantes é dito o seguinte:

      “Em 2001 a percentagem de alunos do sexo masculino era de 43 %, a das mulheres 57 %. Embora as mulheres continuem a constituir a maioria, a diferença entre alunos masculinos e femininos caiu para cerca de metade do que era, mostrando uma clara tendência para reverter a situação da Mulher, a prazo.”

      Ou seja, como a diferença diminuiu, conclui-se que, a prazo, a situação de supremacia das mulheres será revertida. Seria de pensar que a mesma linha de raciocínio seria seguida relativamente aos decoentes, certo? ERRADO. Eis o que é dito:

      “A predominância actual de estudantes do sexo feminino no ensino superior torna ainda mais chocante a distribuição por género dos docentes: no conjunto do ensino superior (público + privado), a percentagem de docentes homens é bastante superior à das mulheres (Quadro 4). Apesar duma melhoria progressiva, com o saldo entre docentes homens e mulheres a passar de uma diferença de +18 % de homens para +11 % em 2015, o hiato continua a ser enorme.”

      Ou seja, o facto de a diferença entre homens e mulheres ter dimunuído em 9% em apenas 14 anos é desvalorizada, preferindo-se realçar que continua a haver um hiato “enorme” de 11%. Prevê-se que esse hiato seja ultrapassado na próxima década? Um raciocínio lógico e independentente diria que sim. Mas o raciocínio tendencioso de quem escreve neste site prefere realçar o “enorme” hiato, em vez de realçar a “enorme” recuperação.

      A minha afirmação era, de facto, mais optimista, mas parece que apenas pecou por se ter adiantado um pouco no tempo. Já a narrativa que é explanada no “blogue” que apontei prefere destacar artificialmente “narrativas” que em nada correspondem à evolução da realidade. Num lado, prevê-se que as mulheres vão perder a maioria no número de estudantes do ensino superior (gostava de saber qual a base do raciocínio). Por outro lado, essa lógica canhestra já não serve para os docentes (onde, aí sim, analisando-se o percurso passado, e a realidade em termos de alunos, tudo aponta para que as mulheres estejam em maioria, ou pelo menos atinjam a paridade, a muito curto prazo – por volta de 2025).

      Compare-se agora o panorama entre Portugal e a Suécia (dados de 2015), e veremos que Portugal até não está assim tão distante, tendo em conta que a Suécia é considerado um dos países mais igualitários do mundo. Em muitos casos, até estamos à frente da média da UE:

      https://www.publico.pt/2015/05/17/mundo/noticia/os-campeoes-da-igualdade-continuam-a-lutar-1695342

      Recorde-se que a Suécia é, neste momento, um país a viver um impasse governamental fruto, precisamente, da queda do governo que, em 2015, falava orgulhosamente dos seus feitos. Nem tudo são rosas, mesmo na Suécia. E nem tudo são espinhos em Portugal. Estamos na situação ideal? Não, não estamos. Mas a condição da mulher em Portugal está longe de corresponder à que certos discursos querem fazer crer.

      Um dado a reter, para o sque advogam a “guessa dos sexos”: O número de casamentos em Portugal em 2012, segundo artigo do Público, foi de 34.423. Na Suécia (que tem, sensivelmente, a msma população que Portugal) foi de 50.044. O índice de fecundidade em Portugal foi de 1,28, enquanto na Suécia foi de 1,91.

      A percentagem de mulheres empregadas em paert-time na Suécia era de 36,3% (ou seja, mais de um terço das mulheres sueca escolhem, voluntariamente, trabalhar em part-time). Em Portugal era de apenas 13,7%.

      E agora, quem é que faz “malabarismo com os números”?

      • Fernando Manuel Rodrigues says:

        E há uma série de “gralhas” no meu texto, que agora não consigo corrigir, porque este sítio não permite. As minhas desculpas. Acho que vou começar a escrever no Word, e depois copio.

      • Ana Moreno says:

        Analisar o assunto com estatísticas fiáveis faz todo o sentido Fernando, e de facto, são precisos mais estudos sérios sobre as desigualdades de género. Na Educação, uma diferença que tem sido encontrada, é que embora o nível de formação seja mais elevado nas mulheres do que nos homens, depois os homens ganham mais do que as mulheres. P. ex.: https://www.bbc.com/news/business-43129339
        Quanto aos outros números que refere, sobre o casamento e os empregos part-time, a meu ver não permitem tirar as ilações que o Fernando tira. Olhe só o enorme aumento de divórcios: https://www.pordata.pt/Portugal/N%C3%BAmero+de+div%C3%B3rcios+por+100+casamentos-531

        De qualquer modo, não falo em “guerra dos sexos” nem sou apologista. Sou apologista de homens e mulheres juntos por um mundo mais igualitário, também ao nível do género. O que não quer dizer que não apoie quem para tal contribui com métodos mais radicais. Para mudar essas coisas entranhadas, como “um homem não chora”, muitas formas e níveis são necessários. E mesmo assim, às vezes parece que se avança e depois há retrocessos dolorosos e incompreensíveis.

  12. JgMenos says:

    Em TODOS estes comentários falou-se duas vezes em ‘educação sexual’ e outras duas em ‘educação(no sentido académico)’.

    Educação, aquela coisa que se ensina em casa e se exige na rua, não foi mencionada uma única vez!

    • Paulo Marques says:

      À moda do Menos, essa educação é dada regada por uma garrafa de tinto depois de 12h a bulir como um bom precário e consiste em não sair à noite e só de saia comprida e sobretudo.

  13. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Não é verdade que “o nível de formação seja mais elevado nas mulheres do que nos homens”. A formulação correcta é que há mais mulheres do que homens com formação superior, mas dentro desta, não se pode dizer, em minha opinião, que haja mulheres com formação superior aos homens. E a distribuição não é igual em todos os ramos de conhecimento.

    Sobre as diferenças remuneratórias, falta, uma vez mais, esclarecer qual o tipo de empregos/actividades em que se verificam essas disparidades.

    Por exemplo, se reparar, a diferença entre homens e mulheres com formação superior na área das Tecnologias da Informação e Comunicação (vulgo computadores e informátca) é abismal. Ora, sendo essa uma área onde há muita procura, e consequentemente onde o nível remuneratório é mais elevado, é natural que essa área, que é ainda por cima de grande crescimento, contribua bastante para o desnível remuneratório. Isso não quer dizer que as mulheres que trabalham nessa área ganhem menos do que os homens. É aqui que as estatísticas falham: porque tratam como igual o que não é. Por exemplo, sendo a Medicina uma área onde as muklheres já atingiram (ou estão a atingir) a maioria) seria interesante um estudo sobre o nível remuneratório nesse campo, discriminado, bem entendido, pelos postos ocupados (onde teríamos outro dado interessante).

    Ouseja, para que o estudo sobre o nível de remunerações fosse completo e verdadeiramente informativo, teriam de ser analisadas eventuais disparidades remuneratórias POR SECTOR DE ACTIVIDADE. É essa estatística que nunca vi.

    Sobre os presidentes de câmara – É sabida a pouca apetência das mulheres, de uma maneira geral, pela política. Se calhar, se tivéssemos mais mulheres na política, estaríamos mais bem servidos, diria eu.

    Mas a situação está a mudar, também aqui, e ao que me parece. E nem foram precisas quotas (sou contra). Temos, por exemplo, dois partidos com assento parlamentar (três, se considerarmos os Verdes) liderados por mulheres. Um deles até é da área mais “conservadora” (tradicionalmente falando, que eu tambem não concordo com esses rótulos).

    Temos, pela segunda vez, uma PGR mulher, e a anterior foi, de longe, a melhor PGR que tivemos, talves desde o 25 de Abril.

    Temos várias ministras (embora tenhamos tido uma que se notabilizou por más razões).

    Já acho que a imposição de quotas para quadros superiores às empresas (privadas) um absurdo completo, e uma medida ditatorial por arte do Estado. Uma vez mais, é um atestado de menoridade às mulheres, que estas deveriam rejeitar liminarmente, até porque, em minha opinião, não precisam.

    Como diria o filósofo: “O caminho faz-se caminhando”.

  14. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Sobre a violência doméstica (um verdadeiro flagelo e, quando se trata de violência de homens sobre mulheres, algo verdadeiramente abjecto para a minha formação – numa mulher não se bate… PONTO), apraz-me registar que, no estudo publicado pela UE, Portugal aparece no pelotão da frente (valha isso o que valer).

    No entanto, o trabalho tem de continuar, porque em termos de violência doméstica, tudo o que seja acima de ZERO é demais.

    • Ana Moreno says:

      100%, só acrescento que num homem também não se bate.
      Mas a sociedade – a real – está cheia disso; são problemas reais, que não podemos ignorar, e quanto aos quais devemos intervir.

      • JgMenos says:

        Não se bate, muito bem.
        E da educação não se fala?
        O insulto como argumento; o reco-reco da tortura pela palavra. Nada se diz.
        Parece que a violência do bater, ou pior, nasce de qualquer alucinação inesperada, sem nada que a justifique.

        Mas falar de educação ninguém fala, não é correcto; é assunto que vem do berço, tem conotações de classe, aparenta ser burguesa, coisa de evitar não vá ofender os grunhos e as grunhas!

  15. Ana Moreno says:

    Pois não concordamos quanto às estatísticas Fernando; também se pode cair num exagero tal de diferenciação que se chega a que todos os humanos são diferentes, obrigada, já sabemos. Os resultados sobre Proporção de mulheres nos conselhos de administraçãodas empresas do PSI 20 (%) são claros e dizem algo.
    “É sabida a pouca apetência das mulheres, de uma maneira geral, pela política.” Por trás da apetência há muito que investigar. Não acho que seja sabido.
    “Já acho que a imposição de quotas para quadros superiores às empresas (privadas) um absurdo completo, e uma medida ditatorial por arte do Estado.” Pois não acho; depois de décadas a pedir e a promover políticas quase sem efeito, foi muito bom ter-se introduzido isso mesmo em alguns países, para acelerar o caminho. Melhor ainda seria mudar as causas estruturais dessas diferenças na dificuldade em chegar ao topo.

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