Saudades do 24 de Abril

Se Cristas votasse no Brasil, não votaria nem em Haddad nem em Bolsonaro. Abstinha-se.

Entre um democrata declarado e um ditador em potência, a senhora Assunção prefere não escolher. Sendo que escolhe na mesma – escolhe não contrariar o favorito, que é o mesmo que votar no fachosolnaro.

O resto é paleio de encher. Clarinho que nem água é que, para a senhora Cristas, o mal menor não é repudiar o sujeito que ameaça aniquilar os opositores, que defende a tortura e a polícia que atire a matar, que classifica as mulheres como seres humanos de segunda e os homossexuais como uma aberração e que os pobres devem ser capados para que não tenham filhos.

Estará esta cartilha fachista em linha com o seu credo cristão? E com o seu desejo de evitar o populismo? Onde é que encaixa aqui o Centro Democrático Social / Partido Popular?

Mais do que as palavras, os actos definem as pessoas. E esta senhora, se votasse no Brasil, ficava em casa. Tal como no dia 24 de Abril.

Comments

  1. Anonimo says:
    • j. manuel cordeiro says:

      Lá está, os actos falam mais alto do que as palavras.

      • Anonimo says:

        O que me impressiona no seu post (e no comentário ao meu link) é que não admite a ninguém a possibilidade de votar nulo. Nem mesmo a um brasileiro (que não vota hipoteticamente como J. Manuel Cordeiro), torturado durante a ditadura brasileira pelo torturador que Bolsonaro elogiou. Para si é apenas mais um fascista e está o caso arrumado. Como democrata devia ter mais humildade e respeito pela opinião dos outros e não admitir apenas uma opinião única: a sua.

        • j. manuel cordeiro says:

          O que me impressiona a mim é a sua capacidade de extrapolação.

          • Anonimo says:

            Limitei-me a interpretar o seu comentário lacónico à notícia que eu linkei sobre o facto de até uma vítima de tortura da ditadura que Bolsonaro elogia considerar votar nulo. E expliquei porquê.
            Tenho pena que opte por comentários crípticos e lacónicos em vez de simplesmente tornar clara a sua opinião relativamente à notícia e à relação que tem com o seu post.

          • j. manuel cordeiro says:

            Coisas da liberdade. Também se pode ser lacónico e críptico.

  2. Rui Naldinho says:

    Esta gente chama extrema-esquerda a tudo o que não seja da cor deles. A obsessão é de tal ordem, que nem o mais elementar sentido de humor conseguem interiorizar.
    “Álvaro Cunhal, esse perigoso Estalinista que queria comer criancinhas ao pequeno almoço”, quando questionado pela CS nas vésperas da 2.ª volta das Presidenciais de 1886, entre votar em Mário Soares, Freitas do Amaral, ou abster-se, teve o cuidado de afirmar:
    “Estes deveriam por a cruz no dito candidato, Soares, mas tapando a sua foto com a mão, numa atitude de patriótica vergonha”.
    Como se percebe por este discurso dos dirigentes do CDS, Bolsonaristas há-os, só não têm ainda um capitão que os comande.

    • j. manuel cordeiro says:

      Pois é. Mas o mal menor, para alguns, é a extrema-direita.

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      A lógica é a mesma. Só difere no tamanho do sapo. Recordo aqui que também Fernando Henrique Cardoso (outro “fascista” bem conhecido) afirmou abester-se.

      Aliás, no que toca a “nomes”, enquanto uns chamam “comunas” a todos os opositores, outros chamam fascistas (até há bem pouco tempo, ainda usavam o eufemismo “populistas” mas o discurso vai endurecendo em proporção directa com o número de derrotas).

      No meio disto tudo, o debate democrático desaparece, e o respeito pela vontade popular é mandado às urtigas. Sim, porque o povo, ou vota como eles querem, ou então é porque é estúpido (ou foi manipulado, que é assim como chamar-lhe estúpido, mas encapotadamente).

      Ouvir as rzões do povo? Nah… Isso não vale a pena. Cada uma das partes está convencida da sua superioridade moral, e a única coisa que admite e arrasar com a outra.

      Eu vou assistindo, e cada vez mais me convenço que isto vai acabar mal.

      • j. manuel cordeiro says:

        Tem a certeza que é do voto do povo que se trata? Nos states, Trump foi eleito com 19% dos votos. Por cá a abstenção bate recordes. Uma franja do eleitorado, organizada e militante, chega para ganhar uma eleição.

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Isso vale para qualquer dos candidatos. São as regras do jogo democrático.

          Ou defende outra coisa que não a razão do voto? Já só me faltava ouvir esta.

          • j. manuel cordeiro says:

            Que raio de extrapolação. Só estou a relativizar essa questão da voz do povo.

          • Fernando Manuel Rodrigues says:

            Pois é… está a “relativizar”. Só que não há nada para “relativizar”. Quando o povo é chamado a pronunciar-se, a sua decisão é soberana, e só tem é que ser acatada, goste-se ou não se goste. Chama-se a isso democracia…

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Quanto à forma como Trump foi eleito, que eu saiba, o resultado (a sua vitória) foi aceite e validado. A isso chama-se democracia.

      • Paulo Marques says:

        Concordo que há disparates a mais: democracia, capitalismo e comunismo já descreviam tudo e o seu contrário, depois passamos ao mercado livre e agora ao populismo, fascismo e socialismo, que querem dizer aquilo que o interlocutor quiser.
        Daí a dizer que o Bolsonaro não é fascista… A descrição cobre-o bem, a acreditar quem passou por isso (ver os pontos no fim do artigo):
        https://www.nybooks.com/articles/1995/06/22/ur-fascism/

  3. Ricardo Almeida says:

    A pancada da D. Cristas nesta classificação de extremos é patética e não passa de uma vã tentativa de se distanciar (por enquanto) dos paspalhos de extrema direita que já começam a fazer barulho. No EUA já andam mais mansinhos mas no Brasil não param calados e até em Portugal já se consegue apanhar o aroma a podre cada vez que esta gente abre a boca.
    Estes broncos de direita, talvez devido às fracas capacidades intelectuais que demonstram, desde cedo que se definiram como o grupo racista, xenófobo, aldrabão, cristão fanático entre outras características que, nas cabecinhas muito limitadas destes senhores, constituem o “cidadão perfeito”. Este cidadão é incapaz de realizar somas de cabeça, tem um fio de baba a escorrer pelo canto da boca sempre entreaberta e anda com a Bíblia debaixo do braço de manhã à noite. Por outras palavras, perfeito.
    Ora quando a direita ergue uma torre de excrementos e classifica de esquerda quem não se sentir inclinado para viver rodeado de moscas e papel higiénico usado, pessoas como a Dona Cristas ficam numa situação desconfortável.
    Não há moderados nesta direita. Ali são todos a favor de muros na fronteira, execuções de não formatados e o fim das universidades. Quem não concorda é porque é comunista e como tal… Stalin… Venezuela… Cuba… VERMELHO NÃO! (o argumento “anti-esquerda” dificilmente arranca para além dos chavões do costume)
    A senhora ainda é demasiado fina para ser fotografada lado a lado com os abortos do PNR pelo que anda aflita a tentar “criar” esta pseudo-facção de extrema-esquerda, num mundo onde quem não expulsa homossexuais de autocarros à pedrada é comunista!
    Para Cristas se colocar no centro é necessário haver dois extremos, ainda que um só exista na cabeça dela.

  4. Fernando Antunes says:

    Esta gente, de modo dissimulado, que é para não parecer mal, está mortinha que ganhe o Bolsonaro, e, de resto, muita gente da Direita tuga apoiou, de modo menos dissimulado, o golpe de teatro que foi o impeachment de 2016, e a eleição do Trump no mesmo ano. Esta gente não desgosta do Salazar, e acha que Pinochet evitou males maiores na América Latina.

    Pôr os negros no seu lugar; acabar de vez com qualquer protecção à floresta amazónica e às reservas indígenas; pôr toda a “petralhada” (que seria a oposição, se o Brasil continuasse a ser um país democrático) na cadeia; dar carta branca à polícia para “matar delinquente” (acabar portanto com o primeiro princípio de um Estado de Direito, que é a presunção de inocência e o inviolável direito a um julgamento justo). Tudo isto, admita-se ou não, é uma espécie de sonho molhado de muita gentinha ressabiada deste país.

  5. Anonimo says:

    “Coisas da liberdade. Também se pode ser lacónico e críptico.”
    Claro que pode. Bolsonaro também não debate: diz coisas (como o seu post) e depois recusa-se a debatê-las.

    • j. manuel cordeiro says:

      Deixe estar que meter um link tem muito de debate. E a partir daí extrapola em apoteose. Está no seu direito.

      • Anonimo says:

        O link foi apenas o ponto de partida para o raciocínio que desenvolvi no comentário seguinte. Da sua parte, nada. Apenas a tática do toca e foge (à Bolsonaro) e um post que tudo reduz ao “é fascista”.

        • j. manuel cordeiro says:

          A única parte que não são meras bocas é esta, que por acaso vem logo a seguir ao link:

          “O que me impressiona no seu post (e no comentário ao meu link) é que não admite a ninguém a possibilidade de votar nulo. Nem mesmo a um brasileiro (que não vota hipoteticamente como J. Manuel Cordeiro), torturado durante a ditadura brasileira pelo torturador que Bolsonaro elogiou. Para si é apenas mais um fascista e está o caso arrumado. Como democrata devia ter mais humildade e respeito pela opinião dos outros e não admitir apenas uma opinião única: a sua.”

          É isto a que chama o seu raciocínio?

          Vejamos, então.

          “O que me impressiona no seu post (e no comentário ao meu link) é que não admite a ninguém a possibilidade de votar nulo. ” —> extrapolação e processo de intenções

          “Nem mesmo a um brasileiro (que não vota hipoteticamente como J. Manuel Cordeiro), torturado durante a ditadura brasileira pelo torturador que Bolsonaro elogiou.” —> extraploação e processo de intenções

          “Para si é apenas mais um fascista e está o caso arrumado. Como democrata devia ter mais humildade e respeito pela opinião dos outros e não admitir apenas uma opinião única: a sua.” –> extrapolação e processo de intenções

          É isto a que chama raciocínio?

          Teve as respostas compatíveis com o que escreveu.

  6. ZE LOPES says:

    Este tipo de declarações insere-se numa estratégia de comunicação mais global por parte da Dreita Liberaleira: quando se agravarem os problemas a culpa será atribuída à esquerda por ser “radical”.

    Depois vão recusar aliar-se aos anti-fascistas, antes procurando atrair os fascistas em alianças de poder para os “normalizar”.

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      Mas que conversa mais troglodita… “fascistas”, “anti-fascistas”… Mas o que é isto – voltámos aos anos 60?

      Quanto aos “problemas”, foram criados pelo PT – a tal “esquerda anti-fascista patriótica”.

      • ZE LOPES says:

        “Mas o que é isto – voltámos aos anos 60?”

        Resposta: Não. A muito antes!

        Quanto ao resto, digo-lhe uma coisa: esta conversa não é trogolodita. V. Exa. é que pensava que sim, por isso veio entusiasticamente tentar participar. Foi levado ao engano, é o que é!

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Tem razão… pela sua parte. Aconselho-o a consultar um calendário, para actualizar o seu relógio, ou a reentrar na máquina do tempo e voltar para donde veio. A sua cassete já não tem lugar no século XXI.

          • Paulo Marques says:

            O problema é que o trabalho à jorna, os serviços mínimos a neutralizar qualquer greve, polícia à paisana a infiltrar manifestações, despedimentos por gravidez e doença, serviços de saúde abaixo do mínimo, monopólios privatizados, banca desregulada, medidas para impedir o voto de minorias, assassinatos políticos, guerras comerciais com o exército como ameaça, … e por aí fora e por aí adiante continuam a equivaler o século XXI ao XIX.

          • Fernando Manuel Rodrigues says:

          • Fernando Manuel Rodrigues says:

      • j. manuel cordeiro says:

        «Quanto aos “problemas”, foram criados pelo PT – a tal “esquerda anti-fascista patriótica”.»

        Eis o argumentário da nossa elite de direita. A corrupção é de esquerda. Tire os óculos.

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          A corrupção não tem côr. Mas que o PT está envolvido até ao pescoço, disso não tenho dúvidas. Só alguém em completo estado de negação é que não vê isso.

          • j. manuel cordeiro says:

            Já estamos a chegar a algum lado. Não me viu em lado algum dizer que o PT não está enterrado até ao pescoço. Tal como o partido do Temer (direita). Agora vir dizer que a culpa é do PT, é estar a cortar metade dos envolvidos. Tenha lá paciência.

          • Fernando Manuel Rodrigues says:

            Oh Cordeiro. Mas quem governava? Quem detinha o poder? Quem era responsável perante os “deserdados da fortuna” que neles tinham confiado (e muitos ainda confiam)? Tenha lá paciência. Do Temer, só espero que vá fazer companhia ao Lula em breve.

            Nunca irei perdoar ao PT pelo que fez, e pela descredibilização que trouxe à esquerda (a mim não, porque quando começa a cheirar-me a esquerda “caviar chique com tiques de modernaça”, fica logo esturrado o arroz).

            A corrupção é grave, venha de onde vier, mas vindo deles, a gravidade é multiplicada. Mas lá diz o ditado: “Não sirvas a quem serviu, e não peças a quem pediu”.

          • j. manuel cordeiro says:

            Se é assim, nunca irei perdoar ao PMDB não se ter constituído a uma alternativa aos corruptos do PT.

            E porque é que ninguém votou no PMDB? Afinal de contas, se o PT é um bando de corruptos, não podiam ter votado na alternativa? Pois, acontece que o PMDB é um bando de corruptos. E prestaram um péssimo serviço à democracia com o golpe de estado da remoção de Dilma. Os golpistas, com a demonstrada sede poder, deixaram claro que tirar de lá o PT se trataria de trocar uns corruptos por outros corruptos.

            Tenha paciência. Já dei para esse peditório do ah e tal, o PT é o responsável pela ascensão da extrema-direita ao poder. Isso não passa de conversa de encher chouriços para ver se se cola a esquerda de cá a uma suposta imagem de corrupção.

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