Democracia a votos…

Quando os chamados partidos do sistema não dão respostas aos problemas e aspirações das pessoas, estas acabam nos braços da demagogia e do populismo. Jair Bolsonaro, apesar dos anos que já leva em eleições, é um fenómeno político recente, que está a aproveitar o desgaste dos principais partidos por se terem deixado cair nas teias da corrupção. Também a falta de resposta ao flagelo da criminalidade, preocupam os cidadãos que clamam por segurança.

Obviamente que não sendo eleitor nem vivendo no Brasil, falta-me algum conhecimento, mas apesar de compreender os anseios dos brasileiros e até simpatizando com algumas medidas no plano económico do candidato que lidera as intenções de voto, jamais votaria em quem teceu elogios a uma ditadura. Essa é para mim uma linha vermelha.

Sem equívocos, gostaria que Haddad tivesse ficado pela primeira volta. Não simpatizo com o PT, em 2014 preferia Aécio a Dilma. Pior, para mim, uma eventual vitória de Haddad pode até representar a continuidade dos graves problemas em que o PT mergulhou o país nestes anos. Mas eleger um populista, demagogo, para mais saudoso dos tempos da ditadura militar, é um perigo para a democracia. Por isso, mais que a vitória de Haddad, desejo a derrota de Bolsonaro. O que implicaria que, votaria em Haddad se fosse brasileiro, mesmo que sem qualquer convicção ou apoio.

Fico um pouco triste quando leio pessoas que estimo, apoiando, ou cinicamente lavando as mãos, porque a esquerda sairá derrotada. A eleição de Bolsonaro significará a derrota de todos os democratas, sejam de esquerda ou direita. Relembro aos mais distraídos no campo liberal, em 2002 toda a esquerda francesa votou Chirac quando do outro lado estava Jean-Marie Le Pen. Em 2017 criticámos Mélenchon por não ter apoiado Macron frente a Marine Le Pen. Não devemos apregoar que vamos defender a democracia, a liberdade e a decência quando os nossos candidatos vão a votos com inimigos da liberdade. Também temos que estar dispostos a votar quando as nossas propostas não foram acolhidas pelo eleitorado e são os nossos adversários que ficam com a tarefa. E naturalmente porque as convicções não mudam, no dia seguinte à eleição, estaremos na oposição combatendo pelas nossas ideias e propostas. Mas para isso precisamos de continuar a viver em democracia. E defende-la, sempre!

Comments

  1. Paulo Marques says:

    As medidas com que simpatiza são a entrega de monopólios a americanos, não? Ah, e fechar resmas de serviços públicos, a começar pelas universidades.

    O chamado dar “respostas aos problemas e aspirações das pessoas”.

  2. Rui Naldinho says:

    É óbvio que a democracia é maioria das vezes a escolha do mal menor.
    A eleição de Haddad, não resolvendo grande coisa, permite ao menos que a democracia volte a respirar fundo, e ter uma oportunidade de se emendar.
    Quanto à corrupção, acho-a cada vez mais endémica, no atual processo de globalização e financeirização das economias. Hoje tudo é efémero. Logo, matam-se uns aos outros por um lugar ao sol. Comprar favores tornou-se uma forma de ganhar vantagem. E a corrupção pode apresentar-se de várias formas, algumas delas bem dissimuladas em actos puramente administrativos.
    A eleição de Bolsonaro, significará um regresso ao passado. Não será porventura o passado dos anos 60, mas não andará muito longe disso. Mas o pior vai ser a tentação de se quererem manter no poder a qualquer preço, tal como faz Maduro na Venezuela. Eu a isso chamo ditadura.
    Quanto aos nossos apoiantes por cá, nada a referir. Eles sempre foram aquilo que são. As pessoas é que se deixam enganar pelo seu discurso moralista. Ou não tivéssemos nos meia dúzia de bancos falidos, a par de algumas grandes empresas do PSI 20, em agonia, e nenhuma delas ligadas aos PT’s desta terra.
    Mas os piratas são sempre os outros!

  3. ZE LOPES says:

    Fontes bem informadas contaram á imprensa que a mulher de Bolsonaro lhe mandou um SMS a pedir que fizesse um intervalo na campanha para passarem uma noite romãntica.

    Através do twitter, respondeu que os médicos não deixavam, mas que iria mandar um representante…

  4. doorstep says:

    “False flags”

    Nem o bolsonaro ganhou eleições, nem o haddad teria qualquer hipótese de as ganhar, pois nenhum deles concorreu para ganhar as eleições: ambos concorreram para disputarem o lugar de mainato do bispo.

    Suponho que o haddad, se tivesse sido eleito, pelo menos teria poupado o respeitável publico à performance da “prece” incantatória. E daí…

    De qualquer forma quem vai cortar o rodízio vai ser a excelência reverendissima, não a da ICAR – que entrou fora de tempo – mas a da IURD.

    E a prioridade da IURD é amnistiar os mainatos que enxotaram a roussef, se possível sem darem a abébia por arrastamento ao pai politico do haddad.

    O jogo há-de baralhar-se se o bispo entretando morrer e os sucessores se pegarem a hóstias por causa do património.

    “Cosas veredes, Sancho…”

    • doorstep says:

      Em tempo:

      O bispo é o principal árbitro do jogo, porque tem os imnstrumentos de intoxicação (a tv record).

      Mas não é único – os sonsos da “assembleia de deus”, vulgo “testemunhas de jeová” (que, a propósito, o Dr. Sem Amigos Endinheirados nunca mais acaba de mandar a julgamento) dominam a “bancada da bíblia” e têm especial preferência pelo recrutamento discreto de peões de brega – – por isso em acórdãos da relação do porto aparecem transcrições ipsis verbis da versão da bíblia em português adoptada pelas testemunhas de jeová.

      E, claro, temos também a globo, dita a seita queque.

      Enfim: o pobre capitão ainda vai sair cabo da contenda…

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