Pelos campos do Sítio da Nazaré ia D. Fuas Roupinho em esforçada perseguição a um veado que, lesto, lhe escapava como se se divertisse com o esforço do cavaleiro. Este porfiava e atiçava o cavalo que, espumando e resfolgando, corria a toda a brida, cortando os ventos fortes do lugar. No seu entusiasmo, não reparou o fidalgo que presa e caçador se aproximavam perigosamente da falésia do Sítio. E foi quando, subitamente, o abismo se lhes deparou como uma fatal sentença. Foi nesse momento que se abriu um clarão nos céus.
Assustado, o corço estacou de pronto, cortando o solo com os cascos até parar mesmo à beira da falésia, à qual prestes virou as costas. O mesmo fez o cavalo, fazendo brilhar faíscas ao fincar as ferraduras no solo rochoso. Também o rocinante se salvou. Só D. Fuas, coitado, não teve sorte. A brutal paragem da sua montada fê-lo sair em voo sobre as orelhas do cavalo e despenhar-se na falésia. Durante a sua breve queda ainda gritou “valha-me a Senhooooora…”. Mas a Senhora não valeu e o infeliz alcaide de Porto de Mós foi estatelar-se nas rochas da praia.
Os quadrúpedes da história, indiferentes – o seu limitado cérebro não lhes permitia especular sobre as complexidades da situação vivida – lá foram, lado a lado, em direcção aos verdejantes pastos de erva fresca que bem mais lhes importavam que as maravilhas a que acabavam de assistir.
– É para que vejas, cornúpeto amigo – ia reflectindo o cavalo, como quem tenta entender a moral da história. Se D. Fuas fosse vegetariano como nós nada disto acontecia.
Nota: Na narração destes eventos, não foram mortos, sacrificados ou maltratados quaisquer animais. Já não se pode dizer o mesmo no que concerne aos humanos mas, nos tempos que correm, isso parece não ser importante.
Hoje, entre os humanos, há-os pensadores correctos e os sencientes.
O D. Fuas seria hoje considerado na segunda espécie.
E quanto a V. Exa, quando se atirar de um 10º andar, vai no mesmo destino do D. Fuas! É só tentar, não custa nada! Ficamos à espera do relatório da experiência!
E o menos um belo solípede…
Torquato
Bem visto. O padreca faz cá tanta falta como uma viola num enterro
Olhe que o tipo não é “padreca”! É, sim, Pastor Bispo Apóstolo da Igreja Universal do Reino da Coelha!
Para mim, é tudo farinha do mesmo saco.
Andam todos a vender “jogo branco”
Eu até diria mais! O solípede um belo Menos!
“Nota: Na narração destes eventos, não foram mortos, sacrificados ou maltratados quaisquer animais. Já não se pode dizer o mesmo no que concerne aos humanos mas, nos tempos que correm, isso parece não ser importante.”
Mas, durante a narração destes eventos, podemos garantir com toda a certeza que um sem-número de humanos (cujos cérebros não são limitados), maltrataram e mataram um sem-número de outros seres: humanos e não humanos, sem que, os seus mui complexos cérebros se tenham permitido especular sobre as complexidades da situação vivida!
Na verdadeira versão vegan, D. Fuas Roupinho, o cavalo e o veado passeavam livremente a desfrutar da naturez, ninguém perseguia ninguém, e ninguém caía da falésia. Não eram necessários milagres nem senhoras imaginárias.
O único desgosto era do palerma que queria ver sangue e ficava a chuchar no dedo…