Os iluminados do Conselho Nacional da Educação

Estava ontem no Gabinete de Intervenção da minha escola com uma aluna que já tivera três faltas disciplinares a três disciplinas diferentes no mesmo dia. Pelo que vi no sistema, já era a nona falta deste género desde Setembro.
É uma miúda do 5.º ano. Não a conhecia antes. Nitidamente desafiadora, malcriada mesmo. Sempre à espera de uma reacção.
Para os iluminados do Conselho Nacional de Educação, a solução para problemas destes é simples: acabar com o 2.º ciclo. É o verdadeiro Ovo de Colombo. A partir daí, não haverá mais chumbos no 2.º ciclo, não haverá mais faltas nem outros problemas disciplinares. Porque o 2.º ciclo terá simplesmente acabado. Como é que ninguém pensou nisso antes?
Preside à Comissão Nacional de Educação Maria Emília Brederode Santos. Olhando para o seu curriculum, vê-se que presidências, coordenações e direcções de organismos governamentais não lhe faltam. Vulgo tachos.
Pelo mesmo documento, não consta que tenha leccionado. Estar em frente a 30 miúdos, saber o que é dar aulas, saber do que está a falar. Saber o que é bom.
Eu também gosto de dar uns palpites sobre as tácticas do Sérgio Conceição. Não percebo por que razão o Óliver, o melhor jogador do plantel, não tem lugar cativo no 11. Mas lá está, ele é que treina, eu faço o papel do tipo que não percebe nada do assunto mas gosta de mandar umas bocas.

Na educação, teria piada ver alguns destes treinadores de bancada em frente a certas plateias das nossas escolas. Aí sim, a sua sapiência ficaria demonstrada. E as mentiras e as demagogias que debitam rapidamente iriam para o caixote do lixo dos lugares-comuns.
Entre governantes e dirigentes que nunca puseram os pés numa sala de aulas, directores de agrupamento que não são obrigados a ter turmas e mesmo sindicalistas que da última vez ainda se usava o giz e o retroprojector, Portugal é um mundo de especialistas da Educação.
Estar no olho do furacão é que é ligeiramente mais complicado.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Estar no olho do furacão é muito bom.
    É de lá que se mandam os palpites e as bocas. É lá o lugar das Broderodes deste país ou sejam vêm o furacão, mas não o sentem.
    O professor não está no olho do furacão, lugar para privilegiados em clima tempestuoso. O professor está mesmo no furacão que os inquilinos do olho gerem com bocas e palpites.
    Estes irresponsáveis de dirigentes tiraram a autoridade aos professores. Com esta gente, isso é meio caminho andado para que os desafiadores e provocadores proliferem nas escolas.
    Tirem a autoridade à autoridade e vejam o que se passa a seguir.
    Parece que passamos a vida a descobrir a lua.

  2. Sempre irão haver alunos e alunas problemáticos/as. Faz parte, especialmente em plena adolescência. Nesse caso concreto, de certeza (direi eu) que alguém já foi falar com a aluna para tentar ver qual a origem da reacção dela. Também li a notícia e discordo com a eliminação do 2º ciclo. Os alunos/as têm que ter acompanhamento quer dos professores, quer dos Directores de Turma. Por essa lógica, também discordo com a forma como os “Senhores Políticos” têm gerido o nosso País e nem por isso eles deixam de existir,
    Haja “paciência”!

    • Manuel Silva says:

      We:
      O IRÃO é na Ásia Menor.
      Ainda se não deu conta disso?
      Já o IRA era da Irlanda do Norte.
      Não me diga que também não sabia?

  3. E a educação fica em que país?

    • Manuel Silva says:

      We:
      A Educação começa por nós, sabermos que o verbo haver, no sentido de «existir», só se conjuga na 3.ª pessoa do singular.
      Já que quer falar de Educação, porque não concorda com o fim do 2.º Ciclo?
      Porque sim?
      Sabe que somos o único país da Europa que tem esta estrutura com este ciclo?
      E sabe porquê?
      Porque, para se acabar com a discriminação entre o Ensino Técnico e o Ensino Liceal, cuja opção por um ou por outro tinha de ser tomada aos 10 anos, unificaram-se os dois ciclos no CPES (Ciclo Preparatório do Ensino Secundário), em 1967.
      Depois, a nossa inércia fez o resto, e a coisa arrastou-se até hoje.
      Ao 1.º Ciclo, Básico, de 4 anos (antigo Ensino Primário), deve seguir-se o 2.º Ciclo, Básico, de 5 anos, por fim, o Ensino Secundário, de 3 anos (este como é hoje).
      Felizmente que, nas antigas Escolas Preparatórias, criadas para o CPES, que só ministravam 2 anos, já se introduziu o 3.º Ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos, estes considerados, inicialmente, Ensino Secundário, ministrado por professores deste ciclo, depois passou a 3.º Ciclo do Ensino Básico: uma confusão). Mas os quadros dos professores, como foram diferentes, e penso que ainda são, isso que causou durante muito tempo dificuldades de gestão de pessoal docente.
      Portanto, reformule-se esta aberração em pleno século XXI, os tempos são outros.

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