Marcelo e a $aúde

Marcelo Rebelo de Sousa descuida-se, de vez em quando, do seu habilmente construído papel de pater familiae e lá sai uma ameaça, uma palavra mais tóxica, uma insinuação pérfida. A sua última declaração sobre o debate da Lei de Bases da Saúde, que poderíamos resumir em “ou chegam a consenso ou estão a pôr em risco a ADSE”, não só é uma pressão intolerável sobre a AR como é tentar navegar a ignorância de muitos portugueses, sempre prontos a puxar do preconceito e do estereótipo.

Não acredito que este argumento de curto prazo e pernas ainda mais curtas agrade mesmo àqueles que parece servir. É que, verdade seja dita, a ADSE não só é perfeitamente sustentável com as contribuições dos seus associados como é – juntamente com a Segurança Social – um verdadeiro saco azul onde todos os governos vão metendo a mão para compensar desmandos orçamentais. Desde que os descontos para esse instituto treparam de 1% para 3,5 %, então, tem sido um fartote. Além disso, os funcionários públicos, além de pagarem por determinados direitos com este desconto, ainda contribuem, com os seus impostos, para o Serviço Nacional de Saúde de todos. Contribuem duplamente, portanto.

Finalmente, não esqueçamos que os próprios Hospitais públicos podem – e devem – facturar à ADSE pela prestação de serviços aos seus beneficiários. Quer dizer: a ADSE beneficia, directa ou indirectamente, muito mais que apenas os seus associados. E tendo nós notado como, a partir do aumento da contribuição para este Instituto, hospitais privados nasceram e/ou cresceram como cogumelos, fica a perceber-se quem precisa de quem.

(Nota: não deixa de ser sintomático que os poucos grupos detentores de hospitais privados que ameaçam denunciar os protocolos são os que têm efectivas ambições de hegemonia e governo indirecto de um sistema de saúde; é que, por todo o país, centenas de clínicas, consultórios, laboratórios mantêm, sem problemas, os seus compromissos).

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Marcelo Rebelo de Sousa está para os utentes do SNS, mas não só, da mesma forma que a Isabel Jonet está para os pobrezinhos.
    Não consigo ver Marcelo de outra firma qualquer, que não esta.

    • Rui Naldinho says:

      …de outra forma…

    • Carlos Rosa says:

      São cristãos.
      Portugal tem cristãos aos milhões e
      muçulmanos aos milhares.
      Judeus só tem os que merece.

      • ZE LOPES says:

        Allô INE! Não se preocupem com o recenseamento. O Carlos Rosa já o está a fazer! O país agradece!

        Depois da contagem dos crentes, já está a caminho da Zona do Pinhal para começar a contar a nossa fauna florestal. Sim, porque Portugal tem gambozinos aos milhões e unicórnios aos milhares. Centauros só tem os que merece.

  2. JgMenos says:

    Bem estavam os pobres se o SNS fosse só para eles.

    Duas cretinices estão num pico de popularidade esquerdalha:
    1 – Que o SNS pode substituir-se aos serviços hoje a serem prestados por privados.
    2 – Que os privados devam prescindir de ter lucros, ou melhor dizendo, deixem de lucrar com a saúde (ou com a doença, para mais colorida emoção esquerdalha)

    • Fuck you, Baby says:

    • ZE LOPES says:

      Ora aí está! Quando a “mão invisível” não chega para aliviar os liberal- empreseiros da saúde da ansiedade da falta de lucro, não há nada como uns microbiozinhos para dar uma ajuda.

      O negócio, afinal, é a doença, não a saúde. Estamos entendidos. O lema será “quantas mais as infeções mais alto sobem as ações” ou “doente infetado, dividendo assegurado”. Ou ainda: “doente bem curadinho, a falência vem a caminho” (este especialmente dedicado à indústria farmacêutica).

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