Ferraz da Costa com a barriga encostada ao balcão

Nos cafés e nas tascas, os amigos reúnem-se, bebem uns copos e, de uma penada, resolvem todos os problemas do mundo com base em nada. É a informação que não passa cá para fora, mas eu tenho um primo que, é o eu sei que os funcionários públicos são quase todos tarados sexuais porque conheço um que, é um estudo publicado no facebook que diz que, é o a mim não me enganam que eu não ando aqui a ver passar os navios.

Daqui virá pouco mal ao mundo, porque os disparates que dizemos entre amigos morrem no café ou na tasca e esfumam-se mal desencostamos a barriga do balcão, ficando a camisa cheia de nódoas e de falsos argumentos. Um pouco de alienação, no entanto, não faz mal a ninguém.

Ferraz da Costa deu uma entrevista. Mesmo perfumado e sentado num sofá dos mais caros, debitou um discurso tão vácuo como o dos nossos amigos ébrios que explicam tudo, que isto é muito simples.

Diz o alegre conviva o seguinte:

Não estou a dizer que os salários devem ser altos ou baixos. Acho que para muitas pessoas até são mais altos do que deviam, pois não deviam ser tão altos para os que apresentam maior absentismo ou para os que não se importam com o que se passa ou para os que ficaram em casa.

Quantas são “muitas pessoas”? Em que dados se baseou para saber se são muitas ou poucas? Não interessa, é uma ideia que eu tenho e toda a gente vê o mesmo. Como é que se sabe que os salários são mais altos do que deviam? Como é que é possível meter no mesmo saco todos os que faltam ao emprego, sem distinguir os justos dos pecadores? Como é que se chega a conhecer verdadeiramente quem são os que não se importam? Como é que se sabe que todos os que ficaram em casa são iguaizinhos e todos maus? É fácil: argumentar não é preciso, falar é preciso.

Diz o folião que os professores portugueses “são dos mais bem pagos ou os segundos mais bem pagos em paridade de poder de compra da União Europeia”, o que é conversa de tasca, porque estes dados tomam como referência o topo de carreira, ocupado por uma minoria da classe e inacessível a uma maioria. Mas que interessa isso? É dizer coisas!

Depois, mostra-se escandalizado com “o diferencial de salários entre o que ganha um médico em Portugal e o que é oferecido a um médico na Galiza”, tendo em conta a recente notícia da fuga de médicos portugueses. Logo a seguir, considera que as pessoas “emigraram porque acharam que tinham hipótese de lutar por uma promoção profissional”. Isto quer dizer que, em Portugal, as pessoas não têm hipóteses de lutar por promoções? Mais: será que as pessoas emigrarão para ganhar menos, se tiverem hipóteses de promoção?

Na verdade, Ferraz da Costa faz parte de uma clique muito antiga que luta para baixar salários e retirar direitos, usando um discurso aparentemente moralista, com a habitual defesa da meritocracia ou da suposta avaliação de desempenho ou do crescimento económico à custa do encolhimento dos rendimentos. A propósito de autoridade moral, seria bom saber quando trabalhou Ferraz da Costa? Mesmo a Bloomberg não sabe muito bem.

Ferraz da Costa paga uma última rodada e vai para casa, que a patroa já deve estar chateada. Mas disse-lhes das boas!

Comments

  1. Ferraz da Costa, que conseguiu ser o patrão dos patrões ainda antes mesmo de poder ter idade para ser presidente da república, de vez em quando dá entrevistas ao “I”.
    É muito curioso porque que antes dessa entrevista deu precisamente outra há um ano (16 de Fevereiro) ao mesmo jornal a dizer:

    “As empresas não conseguem contratar porque as pessoas não querem trabalhar”.

    Os portugueses não querem trabalhar em Portugal, mas entre 2011 e 2015 saíram 500 mil para o estrangeiro!, decidiram emigrar se calhar porque estavam fartos de não fazer nada aqui, e então foram experimentar não fazer nada para outros países! Ou então, certamente porque estavam fartos dos altos salários praticados em Portugal e quiseram ter a experiência de tentar viver com 485€ por mês outro país qualquer para ver como é.

    • Carlos Rosa says:

      O pessoal de Esquerda que inunda este Blog, porque é de Esquerda vê o mundo todo ao contrário, isto é, desligado da realidade e apenas de acordo com a cartilha desgastada dos partidos marxistas.
      O Ferraz da Costa sabe do que fala porque emprega portugueses. Conhece a realidade da vida e do mundo do trabalho. E os que trabalham para ele não se queixam dos vencimentos que ele paga porque ele é justo. Em primeiro lugar só emprega pessoas que gostam de trabalhar. Pode escapar algum, mas esse acaba por ter que dar o litro a acompanhar os outros porque até são os colegas de trabalho que o fazem acertar o passo. E até paga salários acima da média. Nunca se ouviu falar de contestação nas empresas do Sr Ferraz da Costa.
      O pessoal de Esquerda que ou vive à conta dos pais ou dos impostos que todos pagamos não tem autoridade para falar porque está fora da realidade do mundo do trabalho. O futuro é dos que trabalham e criam riqueza.
      Os mamões de Esquerda têm os dias contados.

      • ZE LOPES says:

        Ou seja: O Ferraz da Costa paga altos salários mas está preocupado com os salários…que outros pagam!

        V. Exa. parece estar muito bem informado. Demasiado, mesmo. Será que frequenta a mesma tasca?

        “Os mamões de Esquerda têm os dias contados”. Bem sei que V. Exa. é um reputado astrólogo, até previu, segundo é público, o ataque que sofreu Salazar às mãos de um agente do KGB disfarçado de cadeira de repouso. mas há aqui um problema: é que o pessoal de Direita quando deixa de trabalhar vai para a reforma. Logo, passa a logo ser, para tipos como V. Exa, “mamão”! Por isso não há hipóteses de tal acontecer.

        Aliás os “coletes amarelos” que V. Exa. tão prontamente defendeu queriam aumentar o salário mínimo para muito mais do que o seu louvado Ferraz diz que seria certo. E sobre as reformas, nem se fala! Aí é que a “mama” torce o rabo…

        Olhe bem para as suas contas e veja quanto mete no bolso de gente como “o Ferraz da Costa (que) sabe do que fala porque emprega portugueses. (E) Conhece a realidade da vida e do mundo do trabalho”. Por exemplo, quanto paga de eletricidade? E de gás? E de gasolina? E que comissões paga aos bancos? E de portagens? E de medicamentos (ao Ferraz e tal?). Onde estão as “mamas” e “mamões” que V. Exa. vê em todo o lado?

      • Fernando says:

        Ferraz da Costa sabe tanto de trabalho quanto Passos Coelho…

      • Então ainda bem que os trabalhadores salazaristas de Direita que ganham o salário mínimo miserável, ou que ganham 620€ de salário médio a recibos verdes e a trabalhar sábados e domingos no turismo, e que são muitos neste país, compreendem muito bem o facto de serem explorados pelos patrões.
        É que não podemos todos comer bifes todos os dias, e há uns mais espertos que os outros, porque o capitalismo é isso mesmo, uma selva em que os mais espertos se aproveitam dos que não nasceram no mesmo berço do Ferraz.
        Ainda bem que há muita gente que é explorada, mas que compreende e aceita bem o facto, só pelo simples facto de ser salazarista e gente com um pensamento avançado e que vê o mundo como ele tem de ser, às direitas e não como esse pessoal em vias de extinção que quer um mundo melhor e com igualdade de oportunidades para todos.

      • A indigência retardada à imagem desse neo-Opus Ferraz.

  2. Antonio Martinho Marques says:

    Ele não é água!!!
    Uisque (de que eu também gosto muito mas só posso beber pouco…) só do muito bom, de 16 anos para cima – logo é inoportuna e tendenciosa a ligação que o António Nabais estabelece com a barriga encostada ao balcão, presumindo arrotos de bagaço ou hics de carrascão. Atualize-se, meu amigo, faça o possível por entrar no clube dos Ferraz e Santos do “Pinga” Doce, e logo verá como eles têm razão, mesmo parecendo que não estão bêbedos!

  3. Rui Naldinho says:

    É tão bom ter nascido filho de pai rico.

    Criticam tanto o Mário Nogueira por estar há quase onze anos no Sindicato dos Professores, mas poupam este “fidalgo” a qualquer catalogação. Só passou a vida toda na CIP e no Fórum para a Competitividade a dizer alarvidades.
    Ainda o hei-de ver, depois de finado, como Presidente da Associação dos Defuntos Portugueses.
    “Vamos ver o que ele vai dizer à CS!”

  4. Maria Rita do Espírito Santo says:

    Uma anarquia de pensamentos… O homem deve ser um assiduo mestre das universidades de verão… Tanta sapiência junta só mesmo de quem comodamente no seu caríssimo sofá passa o dia fumando o seu charuto cubano… Sim porque em questões de charutos o que interessa é que seja bom e de preferência muito caro… sem problema… não há charutos comunistas… charuto é charuto e ponto 😂😂😂
    Irra! que o Ferraz já contagiou com a anarquia de pensamentos… 😂😂😂😂😂

  5. ZE LOPES says:

    CRÓNICAS DA TASCA – volume 2

    Consta que, numa das suas deambulações à procura de protagonismo (matéria que, nos dias de hoje, está muito cara!) Ferraz da Costa se cruzou com António Catrapão, um antigo “colaborador” lá da “Ferrazlynce” que estava a empinar um copo de vinho.

    Ferraz da Costa, com o ar jovial e simpático que sempre o carateriza, dirigiu-se ao homem e disse:

    Catrapão! Você… sempre bêbedo, sempre bêbedo, sempre bêbedo!!!

    Ao afastar-se, enfastiado, ouviu o outro responder:

    E V. Exa? Sempre patrão, sempre patrão, sempre patrão!

  6. Zé Pestana says:

    Um filho da mãe será sempre um filho da mãe.
    Ó Ferraz vai trabalhar que és um bom malandro.

  7. Julio Rolo Santos says:

    Há patrões e patrões e não fica mal a ninguém distingui-los. Quem não for capaz de o fazer é melhor calar-lhe para sempre. Obviamente que a maioria dos patrões portugueses têm uma cultura acéfala mas isso não significa que outros não possam ter uma postura diferente. Infelizmente, São poucos mas bons.

  8. Lurdes Dias says:

    O Ferraz tem razão no que diz.
    Ele baseia o seu pensamento na sua experiência individual.
    Ele ganha muito mais do que devia.

  9. JgMenos says:

    Só um trengo pode pensar que o Ferraz da Costa não saiba do que fala.

    A cambada de trabalhadores que se guiam pelos seus direitos contrasta com aqueles que se focam nos deveres que receber um salário lhes impõe.
    É óbvio que a dominante dos primeiros está na função público.

    • ZE LOPES says:

      Vá-se rindo, vá! Quando a onda da liberalice chegar às profissões “liberais” vai ver como elas ardem!

      O liberaleiro Ferraz da Costa sabe do que fala, até porque foi um homem que subiu a pulso, particularmente em dois decisivos momentos: o primeiro, ainda criança quando elevou o braço para abrir a carteira do pai vendo que estava bem recheada. O segundo foi quando pegou no testamento.

      A cambada de Ferrazes que se guiam pelos seus direitos de gestores contrasta com aqueles que se focam nos deveres que receber um rendimento empresarial justo lhes impõe.
      É óbvio que a dominante dos primeiros está na Direita polítiqueira e liberaleira.

      Gostou Menos? Fui eu que inventei!

    • António Fernando Nabais says:

      E o menos veio pagar um copo ao Ferraz.

      • ZE LOPES says:

        Não só pagou um copo como lhe levou uma garrafa do famoso licor de barbatana de gambozino, de fabrico próprio, envelhecido em aparas de chifre de unicórnio.

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