Efeitos malignos da gigantomania e da globalização

Com as agulhas da globalização afiadas nos acordos de comércio e investimento, andam os dirigentes políticos – nomeadamente a UE, a todo o vapor- a tricotar incansavelmente a rede em que o peixe miúdo, nós, ficamos sem escolha, sujeitos às regras dos tubarões.

Um artigo do The Guardian mostra como os brutais gigantes do agronegócio dos Estados Unidos deglutinaram as unidades agrícolas familiares, destruindo as comunidades rurais. E alerta: as grandes corporações que estão por trás dessa depredação estão agora de olho no mercado pós-Brexit do Reino Unido.

Consequência: “Se os agricultores do Reino Unido quiserem competir com as importações americanas, terão de baixar os seus padrões ou abandonar a actividade”.

“Nas unidades de produção industrial, porcos, vacas e galinhas são enfileirados aos milhares nos celeiros. Muitas unidades são semi-automatizadas, com alimentação controlada por computador e os animais assistidos por vídeo, com visitas periódicas de trabalhadores que dirigem várias operações.”

“No início da década de 70, o secretário de agricultura dos EUA, Earl Butz, impulsionou a ideia da agricultura em larga escala com o mantra “tornar-se grande ou sair”.

“Tim Gibbons of Missouri Rural Crisis Center, um grupo de apoio aos agricultores familiares criado durante a crise agrícola dos anos 80, afirma que o ciclo de choques económicos se associou às políticas governamentais, para criar uma “monopolização da indústria pecuária, na qual umas poucas corporações multinacionais controlam a grande maioria do gado”.

“O sistema foi criado em benefício das corporações de agricultores e seus accionistas, à custa dos agricultores familiares, das pessoas reais, do nosso meio ambiente, do nosso sistema alimentar”, acrescenta.

“O que é realmente perverso é que eles controlam as regras do jogo porque controlam o processo democrático. É um plano. Estamos a pagar para a nossa própria extinção.”

“A questão seria diferente, se fosse apenas baseada na inevitabilidade, ou na competição. Mas ela não é baseada na competição: é baseada na aniquilação da competição”.

Sabe-nos bem comida assim produzida? Destruição das comunidades rurais, extinção de espécies, bem estar-animal, exponenciação das emissões de carbono, OGMs, químicos, hormonas, antibióticos, é tudo indiferente desde que o bife seja tenro, em conta e abundante? Aceitamos entregar-nos aos colossos e às suas regras? Não há alternativa ao mercado do barato? É isto que queremos para nós e para os nossos filhos???

Comments

  1. …”Sabe-nos bem comida assim produzida? Destruição das comunidades rurais, extinção de espécies, bem estar-animal, exponenciação das emissões de carbono, OGMs, químicos, hormonas, antibióticos, é tudo indiferente desde que o bife seja tenro, em conta e abundante?
    Aceitamos entregar-nos aos colossos e às suas regras? Não há alternativa ao mercado do barato?
    É isto que queremos para nós e para os nossos filhos??? ”

    Subscrevo e grito consigo, Ana ! …até que a alma nos doa mais ainda !!

  2. Paulo Marques says:

    O Reino-Unido pós-brexit pode impor as restrições às importações que bem entender, coisa que não acontece na maior parte da europa – a diferença é clara.

    • Ana Moreno says:

      Olá Paulo, para quem acompanha as políticas que estão a ser seguidas no Reino Unido, restrições… não, muito pelo contrário.
      E daí a importância do Backstop.

      • Paulo Marques says:

        Sim, mas isso é uma opção… ou meia dúzia, que não sabem o que querem. Cá, é sim ou sim, tentando-se a porta dos fundos as vezes que forem precisas.

  3. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    O exemplo que nos traz é apenas mais um capítulo do que representa, para a civilização o capitalismo, e a economia de massas.
    Baseados na filosofia que assenta no princípio “quem vier atrás que feche a porta”, assiste-se a um irresponsável imediatismo, onde os impérios se criam com o fito de ganhar dinheiro a qualquer custo.
    A humanidade caminha a passos largos para a sua extinção. E desta vez, nem é preciso nenhum cataclismo como aconteceu no passado. O factor destruidor está entre nós e chama-se homem.
    A comunidade científica deveria, nesta altura estar de mãos dadas contra a irresponsabilidade. Será a única frente confiável e capaz de lutar contra a classe política que, convertida à moeda, renegou, desde que o liberalismo apareceu os princípios básicos de convivência entre o planeta e as espécies.
    Assistimos, na minha óptica, a um percurso da humanidade muito negro, mais negro que a idade média a que chamaram a “época das trevas”, pois associamos a voracidade financeira à mais completa negação de valores.

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