Mesmo quando, pontualmente, toma decisões acertadas, a Alemanha tende a receber má nota.
Razões há muitas e certeiras para criticar a política alemã – o tema é, sem dúvida, fértil. Agora, esta decisão – “a Alemanha impôs, em outubro de 2018, um embargo às exportações de armas para a Arábia Saudita, incluindo vendas já aprovadas, na sequência do assassinato do jornalista saudita Khashoggi Jamal, no consulado da Arábia Saudita em Istambul” – não é um desses posicionamentos dignos de crítica, muito pelo contrário. O destaque dado nesta notícia à falta de entendimento entre os partidos, e não ao resultado objectivo – por muito que irrite a França e o Reino Unido, que querem continuar o negócio e precisam de umas peças alemãs para montar nas suas armas -, é tendencioso. Por uma vez, a decisão vai contra os interesses económicos alemães com a finalidade de impedir “exportações de armas para zonas de crise e ditaduras“, ou seja, em favor dos tão badalados e tão descurados valores europeus. Há-de ser temporário, mas, ao menos, vigora desde Novembro.
Não é digno de crítica, mas também não é de elogio:
https://www.reuters.com/article/us-germany-saudi-trade/saudi-arabia-to-exclude-german-firms-from-government-tenders-spiegel-idUSKCN1IQ2GF
Entretanto, continua a vender armas para proteger os seus interesses onde as fábricas não têm “obstáculos”. Coincidência? Diga a Ana.
Olá Paulo, esse artigo é de há 10 meses. Entretanto continuaram os negócios de armas entre a Alemanha e a Arábia Saudita e as encomendas iriam ser entregues se não fosse o embargo. É escusado fantasiar, já há muito que criticar com base na realidade.
O caso aqui é, além de Khashoggi, que no acordo da coligação CDU/SPD consta que não devem ser aprovadas exportações de armas para os países que estão directamente envolvidos na guerra do Iémen – como é o caso da Arábia Saudita. E o SPD anda a levar isto a sério e só por isso é que está a haver essa tensão entre ambos os partidos sobre o prolongamento, ou não, do embargo para além do final de Março (como diz o título do artigo: “A Alemanha não se entende”.) Indústria e CDU estão a pressionar fortemente para lhe pôr fim, pois resulta em elevados prejuízos e ameaças de desemprego; além da pressão da França e do Reino Unido; Isto é óbvio e não tem nada a ver com continuar “a vender armas para proteger os seus interesses onde as fábricas não têm “obstáculos”; É só terminar o embargo e tanto vendedores como compradores voltam alegremente ao seu mortal e proveitoso negócio.
Daí que sim, o embargo é digno de elogio. Agora se me disser que o efeito é muito limitado, isso sim, mas não deixa de ter significado. É um daqueles actos que Santos Silva apelidaria de ingénuos.
P.S. E acabou de ser prolongado por mais seis meses, até fim de Setembro. Óptimo.
Não sabia, todos os artigos que me apareceram na pesquisa eram da mesma data. Fica o seu comentário como complemento ao post, que fica muito bem.
Mas continuo a perguntar, e a Tunísia?
por muito que irrite a França e o Reino Unido
… esses países encantadores que fomentaram e atiçaram a cruel guerra na Síria.