Crise energética

A presente crise energética em que o país mergulhou por força da greve dos motoristas de transporte de mercadorias perigosas, deixou uma vez mais a nu algumas deficiências estruturais que existem em Portugal.
É inconcebível que não existam oleodutos para assegurar o transporte de combustível das refinarias aos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, obras que seriam muito menos dispendiosas que alguns elefantes brancos construídos nas últimas décadas. Apenas numa lógica de satisfação clientelar, por força de interesses instalados que vivem encostados ao Estado, aliados ao facto deste tipo de obra apesar de estrutural, ser pouco visível e render poucos votos a políticos que preferem inaugurações com direito a banquete e fotos cortando fitas…

Como é possível que o país esteja praticamente paralisado por falta de combustível ao terceiro dia de greve? No primeiro dia ninguém prestou atenção ao assunto, à boa maneira portuguesa no segundo dia soaram alarmes, corrida generalizada aos postos, que continua ao terceiro dia, com particulares a encherem depósito e serviços públicos reclamando o seu quinhão de reserva, todos apanhados desprevenidos.
Sobre a greve não me pronuncio, em primeiro lugar porque pouco ou nada percebo do que está em causa, em segundo lugar por ser um direito constitucionalmente consagrado. É da natureza da economia que existam negociações, no final ambas as partes acabarão por ceder, quando encontrarem um denominador comum. Mas se respeito o direito à greve, é fundamental que os sindicatos respeitem o direito ao trabalho. Uma vez mais os inenarráveis piquetes apupam, insultam quem está legitimamente a trabalhar. Porque a greve é um direito, não é, nem pode ser uma obrigação. A sua legitimidade perante a opinião pública advém da adesão e capacidade de mobilização que os organizadores consigam, o que não pode ser imposto sob qualquer forma de coação. Até porque a outra parte, a entidade patronal, se o fizer, incorre na prática de crime.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Concordo na generalidade com aquilo que o António escreve. Apenas uma questão, em relação ao oleoduto. Para se avançar um dia, com esse tipo de infraestrutura, já há muito devia estar construído, é necessário que os políticos se entendam de vez, onde e quando ficará o novo aeroporto.
    A cidade de Lisboa e o país em geral, sabem que necessitamos de um novo aeroporto, próximo da capital, mas ao mesmo tempo fora desta, servindo a região centro, mas também a ligação dos voos intercontinentais aos aeroportos de Porto e Faro, com ligações regionais.
    Também sabemos que os interesses imobiliários, são infelizmente aquilo que move os políticos e os seus mandantes, em especial a banca, maioria das vezes proprietária hipotecária de todos os terrenos e grandes empreendimentos que se movem em Lisboa.
    Só alguém muito distraído acreditará que o novo aeroporto não pode ser em Alcochete, ou mesmo na Ota, por questões que não os interesses dos mandantes dos políticos da capital.
    A escolha do Montijo, e /ou o prolongamento do actual aeroporto de Lisboa, são um bom exemplo disso. O importante não é o País. O importante é não desvalorizar o território urbano e/ou potencialmente urbanizável de algumas zonas de Lisboa, em especial na margem Norte.
    Imagine-se que o tal oleoduto, de que o António fala, tinha começado a ser construído no tempo de ex primeiro ministro Sócrates, ele que gostava tanto de negociatas com obras públicas, a caminho de Alcochete, a fazer agora uma “curvinha”para o Montijo.
    As obras públicas neste país obedecem sempre a um critério. Nem sempre é o da eficiência. Nem sempre é o da Centralidade. Nem sempre o economicista. E muito menos o da abrangência social. Mas há um que nunca falha:
    O que é que nós negociadores, podemos ganhar com isto?
    Já, amanhã, ou num futuro próximo. E se não formos nós, directamente, talvez um familiar, um amigo, ou mesmo um conterrâneo.
    É assim que eles garantem a seguir o seu próprio emprego.

    • António de Almeida says:

      Por mim o aeroporto principal deveria ficar na Portela e avançarmos para um segundo aeroporto. Sobre a localização do segundo não me posso pronunciar por aí além, faltam-me conhecimentos para isso, gostaria que ficasse na margem Sul, mas seria Montijo? Alcochete? Não sei…
      Mas sei que existe vantagem competitiva para Lisboa no aeroporto da Portela, que está ali há mais de 50 anos. Obviamente que existirão apetites imobiliários pelos terrenos da Portela, mas a esses não podem existir cedências. Nesta como outras matérias, pensa-se pouco o país e à boa maneira portuguesa vai-se desenrascando…

  2. Nuno M. P. Abreu says:

    Este sim, um dos comentário aqui postados que pode ser classificado de “Aventado” Promove ventos que incitam à acçao e não se limita à delaçao facciosa dos potenciais crimes de moinhos de vento que Cervantes metaforicamente definiu como miragens.

    • António de Almeida says:

      A velha questão de olhar para um copo meio cheio ou meio vazio. Não é possível esquecer que disputas laborais devem encontrar soluções negociadas, porque uns precisam trabalhar, outros precisam encontrar quem trabalhe. Seguramente que as partes acabam por se entender mais tarde ou mais cedo, sem precisar de interferências…
      Obviamente que ilegalidades cometidas por qualquer das partes, é assunto para Tribunal.

      • Paulo Marques says:

        Pois acabam por se entender, uns precisam de comer, os outros aguentavam anos sem mais. Até ao dia em que põem tudo a arder.

      • Nuno M. P. Abreu says:

        Já aqui dei conta que durante anos fui responsável por um departamento de pessoal de uma multinacional. Todos os anos negociava com um a comissão de trabalhadores e sempre chegamos acordo. De tal forma que um empresário vizinho veio pedir a minha ajuda numa negociação de uma firma que tinha como tarefa produzir um aparelho. uma máquina de escrever que entrara em desuso. Havia no entanto uma encomenda para países da América que se fosse executada permitiria pagar salários. O representante dos trabalhadores incitou os trabalhadores a não executar a encomenda e sentaram-se no refeitório a jogar as cartas com ares de gozo. Aquilo foi tudo à falência e ainda hoje, penso eu, as instalações fazem lembrar o coliseu de Roma. Alguns daqueles trabalhadores ainda foram recolhidos na multinacional. Outro viu-os anos a pedinchar junto da estação de comboios Algueirão-Mem Martins. A fabrica era a “Messa”

        • António de Almeida says:

          Lembro-me bem dessa fábrica. A tecnologia ditou o fim do negócio, mas poderiam ter sido convertidos, os braços de ferro levam a isso mesmo, falência…

          • ZE LOPES says:

            “Convertidos”? Em quê? Por quem? Por algum “Liberteiro Conversor”?

          • Nuno M. P. Abreu says:

            Ainda bem. Sem duvida que se tivesse havido um mínimo de cooperação se não teriam perdido tantos postos de trabalho, e se não tivesse deixado ao abandono umas instalações soberbas. Um empresário que regressara de Moçambique tentou. Uma comissão de trabalhadores, completamente estalinizada deitou borda fora. Daí por vezes a minha mágoa contra este tipo de atitudes!
            Um certo bom senso precisa-se..

          • António de Almeida says:

            Não foi caso único, infelizmente. Felizmente trabalhei numa multinacional que durante 10 anos funcionou sem comissão de trabalhadores, porque ninguém se candidatava, embora anualmente estivesse prevista a sua realização. Não defendo abusos ou prepotência das empresas para com os trabalhadores, nem dogma destes que a todos prejudicam, há que haver bom senso e também a noção que estão todos no mesmo barco e quando mete água, afundam-se todos…

  3. Paulo Marques says:

    Um oleoduto é pouco visível? E o que sair das inevitáveis rachas, também?

    «Como é possível que o país esteja praticamente paralisado por falta de combustível ao terceiro dia de greve? »
    Bem vindo ao maravilhoso mundo do petróleo, em breve a extinguir um planeta perto de si.

    • António de Almeida says:

      Existem regras de construção e manutenção. Por acaso um oleoduto será assim tão difícil de construir e manter totalmente seguro?

      • Paulo Marques says:

        Tendo em conta que o ferro oxidiza, sim. Fora isso, não sei se a Eurolândia teria contribuído como para as autoestradas, não que boa parte delas fossem boa ideia.
        Agora, certamente, seria uma parvoíce, a menos que queiramos mesmo desistir e queimar tudo enquanto cá estamos. Mas ainda menos dinheiro há, por isso…

      • ZE LOPES says:

        É seguro se só transportar óleo…Fula!

  4. JgMenos says:

    Tenham sempre presente que os trabalhadores, coitadinhos, são a parte mais fraca; podem parara o pais mas, coitadinhos, são os explorados.

    • António de Almeida says:

      Por mim têm todo o direito a parar. Não têm é o direito de obrigar outros trabalhadores a parar, com os piquetes de greve. Faz greve quem quer, trabalha quer quer.
      Por isso é que as greves têm sempre que ser ponderadas, ou deveriam, porque se não obtêm adesão, sai-lhes o tiro pela culatra. Não é um caso único, mas nunca gosto de ver piquetes à porta de locais onde outros querem exercer o seu direito ao trabalho. Se a adesão for voluntária e total, então é porque normalmente têm razão, quando precisam usar a força para convencer colegas, é porque não a têm…

      • Ana A. says:

        “Se a adesão for voluntária e total, então é porque normalmente têm razão, quando precisam usar a força para convencer colegas, é porque não a têm…”

        Há sempre os lambe-botas e os medrosos que têm medo de ficar na lista negra do patronato e não querem fazer greve.

        Têm todo o direito para tal: ser lambe-botas, medrosos e não querer fazer greve!

        O que eu acho obsceno é que depois da luta dos grevistas ganha, os outros também lucrem com os direitos conseguidos e pelos quais não lutaram.

        Se fossem pessoas honestas, recusariam usufruir de tais benefícios!

        • António de Almeida says:

          Até posso concordar com o que escreve, mas ninguém pode ser obrigado a ir contra a sua vontade.

        • Nuno M. P. Abreu says:

          A concluir pelo que a Ana escreve e, eventualmente segundo os cânones que professa, quem não aceitar fazer greve é lambe-botas e medroso. Quem não faz greve não tem direito a ter ideias próprias, a decidir como fazer para lutar por uma vida melhor, nem sequer a usufruir de uma decisão legal desde que ela tenha sido obtida através de um processo em que não participou.
          Tem toda a razão. Devemos todos ser Estalinista. A quem não pensar como nós, a esses lambe-botas, devemos fazer o que Estaline fez a Trotsky. Expulsa-lo do nosso meio e ir atrás dele nem que seja ao México e mata-lo. Ou então fazer uma purga em todas as unidades fabris copiando Estaline no grande expurgo de 1936: matam-se todos os que contestam a nossa opinião ou num acto de bondade enviam-se para o Gulag.
          Ah! Grande Ana. A nova Rosa de Luxemburgo!

          • Ana A. says:

            Se é isso que extrai do meu comentário, lamento por si, caro Nuno, e aconselho-o vivamente a fazer uma desintoxicação mental, pois está a turvar-lhe o discernimento!

          • Nuno M. P. Abreu says:

            Cara Ana:
            Antoine Laurent Lavoisier, considerado o pai da Química Moderna, descobriu a “Lei de Conservação das Massas”, que afirma, sinteticamente, “que na Natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma”.
            Como poderia eu, simples mortal violar tal lei universal ao extrair algo que não estivesse contido no local donde foi extraido?
            Lavoisier, por ser rendeiro, foi enforcado com base numa lei de 17 de Setembro de 1793, a Lei dos Suspeitos que criou tribunais revolucionários que o condenaram à forca.
            Também Estaline, enviava para desintoxicar mental quem, na sua majestática opinião, tivesse o discernimento turvado.
            Mas oh! Ana. Estaline morreu já há sessenta e seis. A Ana não deve ser tão velha que ainda sinta saudades dele! Estamos em pleno Século XXI. Na época da digitalização. Esqueça lá esse plano diabólico de mandar desintoxicar mentalmente alguém sempre que não tem argumentos a contrapor. A razão não exclusiva de um alguém. A razão constrói-se. Vá lá. Democratize um pouco o seu pensamento

          • Ana A. says:

            O Nuno deve ser um grande animador de serões familiares com as suas histórias!

            Já quando deturpa o que os outros dizem e se assume como o dono da verdade e insiste em rotular os outros só porque não concorda com eles, é mesmo muito irritante!

            Estalinista! Eu?! (Bem, se o sapiente Nuno M. P. Abreu extraiu essa informação do meu comentário, quem sou eu para contradizê-lo.)

            Pobre de quem, com ideias preconceituosas fica cego e surdo e encerrado no seu labirinto!

          • Nuno M. P. Abreu says:

            Matematizando a controvérsia
            1.Ana afirma:
            – Há sempre os lambe-botas e os medrosos que têm medo de ficar na lista negra do patronato e não querem fazer greve.
            2. Nuno hipostasia:
            – A concluir pelo que Ana afirma quem não faz greve é lambe botas ou medroso.
            3. Ana afirma:
            – É obsceno que os trabalhadores que não fizeram greves e foram beneficiados pelo acordo que dai resultou sejam abrangidos por esse acordo .Para serem honestos deviam recusar tais benefícios
            4. Nuno realça tais afirmações.
            5. Nuno da razão a Ana. Acha que seguindo tal raciocino devemos classificar de lambe botas todos que não concordem com as nossas ideias. Lembra que Estaline seguia esse caminho. Lembra Trotsky . Lembra o Gulag.
            6. Nuno eleva Ana ao patamar de Rosa Luxemburgo, figura icónica da revolução alemã de 1918/1919, assassinada há cem anos e que num discurso emotivo, pediu aos soldados que se negassem a combater e aos trabalhadores de seu país que iniciassem uma greve geral.

            Perante isto Ana conclui
            a. O Nuno é um grande animador de serões familiares;
            b. O Nuno deturpa o que os outro dizem; e
            c. O Nuno assume-se como dono da verdade.
            Num ato de piedade incontida, Ana lamenta ideias preconceituosas e aqueles que ficam cegos e surdos no seu labirinto.
            Tres vezes nove vinte e sete, noves fora, nada. Eureka!!!
            Ana deu de caras com um espelho. Mire-se bem, Ana. Se for paciente verá não as cinquenta sombras de Grey de que todas as mulheres falam secretamente, mas o riso sarcástico de Estaline.

      • Paulo Marques says:

        Nem toda a gente tem a greve paga pela concorrência. Era bom que o mundo fosse simples.

    • abaixoapadralhada says:

      Mais uma jericada do burro

    • ZE LOPES says:

      Sim. E coitadinhos dos patrõezinhos que são obrigadinhos a contratar os trabalhadorzinos que se armam em coitadinhos e podem parar o paízinho. É uma peninha que os patrõezinhos não tenham tempinho para largar a gravatinhas e condizirem os camiõezinhos. Estaríamos todinhos mais descansadinhos.

  5. ZE LOPES says:

    Venha este e outros oleodutos! Até acho, sinceramente, que cada português devia ter um oleoduto!

    • ZE LOPES says:

      Mas atenção! A mim não me enganam! Por detrás desta greve estão os poderosos lobbies das trotinetes! Não se admirem se, sexta-feira as autoestradas estiverem cheias delas a caminho do Algarve!

  6. …..este para mim o melhor comentário, Zé Lopes, pelo que induz e deixa subentender, através de humor sarcástico, sobre algo abrangente e verdadeiro que vamos verificando estar a acontecer !!!

  7. atento às cenas says:

    privatizem

  8. Daniel says:

    Há muitos anos que existe um pipeline entre a refinaria de Leça e o Aeroporto do Porto!

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