O foro de Moro

Não tenho qualquer simpatia por José Sócrates e acredito que possa ser culpado de tudo aquilo de que o acusam e mais ainda. Mas uma coisa é eu acreditar, outra é ele ser, outra ainda é provar que ele o é. E é por isso que o estado de direito funciona como funciona. São as regras da democracia, que podem nem sempre ser justas, mas até ver são as melhores que existem.

Claro que, para o ex-juiz Sérgio Moro, nada disto importa. Nem no Brasil, onde fez condenar sem provas um ex-presidente por razões que já todos percebemos quais são, nem em Portugal, onde veio dar conselhos que ninguém lhe pediu e emitir opiniões que lhe dispensamos a propósito do sistema judicial.

E o pior de tudo é que o fez na presença de um alto representante do governo português e de uma quantidade não despicienda de magistrados e outros putativos agentes da justiça portuguesa, sem que nenhum deles esboçasse sequer um gesto. Já não digo de indignação ou de escárnio, mas pelo menos de legítima defesa.

Mais que não fosse pelo respeito devido à Constituição da República Portuguesa que hoje se celebra e onde se afirma claramente (artº 21º) que «todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão.»

Se atitudes como a do alegado ministro da justiça brasileiro não merecem, no mínimo, um sonoro «vai à merda!», então não sei mesmo para que é que se fez o 25 de Abril.

Comments

  1. Nuno M. P. Abreu says:

    Detesto José Sócrates como politico.
    Os actos por ele praticados, já comprovados, podem ou não indiciar a prática de eventuais crimes, mas atestam indubitavelmente que, com na sua prática, foram enxovalhados os princípios éticos fundamentais que devem conformar as atitudes de qualquer governante que recebeu um mandato da maioria dos portugueses para cuidar dos seus, deles, interesses.
    Agora, no resto, estou em total acordo com o articulista.
    Não precisamos de pregações de dirigentes de países que não só solicitamos como a moral que os move é do mais baixo que há!

  2. Rui Naldinho says:

    Em todos os países onde não houve processos revolucionários com vista à mudança do regime político ditatorial, para uma democracia, no mínimo, ou um grande conflito armado à escala internacional, no máximo, tal como aconteceu na Europa, no primeira metade do século XX, as democracias ficarem sempre refém das suas elites. No caso português, eles acabaram por regressar em força meia dúzia de anos depois, o que demonstra uma grande ingenuidade dos nossos governantes, nesse período.
    Dois exemplos elementares são a democracia Espanhola e o Brasileira. Uma nunca saiu do franquismo. Daí não podermos estranhar a forma como funciona a justiça Espanhola. A outra nunca saiu daquele patamar de corrupção endémica que por ali grassa à décadas. Mas podíamos falar noutros países da Europa, a Leste, na América do Sul e noutros continentes.
    Também detesto Sócrates. Aliás, tenho sérias dúvidas que neste Blog alguém defenda o ex primeiro ministro. Mas há uma afirmação recente de Sócrates, com a qual eu concordo em absoluto. Moro não passa de um activista político, travestido de juiz, cuja única função foi a de inquirir, julgar, condenar e prender Lula da Silva. Tudo num pacote digno de uma agência de viagens ou de um supermercado, como se a Justiça fosse um circuito de viagens ou um cabaz de mercearia.
    No Brasil, as elites jamais perdoariam que um antigo sindicalista, eleito PR por duas vezes, saísse incólume dessa contenda, que os obrigou a estar de fora do Poder durante quinze anos.
    Moro de juiz, só deve ter o curso académico. Não passa de facto, de um activista político, com agenda própria.

    • Nuno M. P. Abreu says:

      Sinceramente discordo da generalização feita no primeiro parágrafo deste comentário.
      Não há factualidade nenhuma que comprove e determinismo da conclusão efectuada, a relação causa e efeito aventada. Em primeiro lugar não me parece haver na Europa nenhum pais onde em maior ou menor grau não sejam as elites que encabecem os destinos respectivos, sejam elas mais à esquerda, mais à direita ou se situem simplesmente no centro. As elites italianas, francesas, inglesas ou alemãs são ideologicamente diferenciadas e todas elas dirigem os respectivos governos lá colocados pela populaçao. Todas sofreram grandes guerras. A Espanha vivei uma das mais violentas e sangrentas guerras civis. E como se viu na TVE no debate de terceira feira aquilo pareceu uma feira de vaidades de élites..
      O problema da democracia europeias é a pouca importância que se dá à educação cívica, à informação no seu sentido restrito que se não confunde com propaganda, e a uma reformulação profunda da estrutura partidária que não permitisse a ascenção ao cume golpistas gananciosos como Sócrates, Varas, Duartes Limas, ou Dias Loureiros.

    • Rui Naldinho says:

      …há décadas…

  3. Orlando Sousa says:

    “onde fez condenar sem provas um ex-presidente”
    O ex-presidente brasileiro foi condenado por todas as instância judiciais brasileiras.
    E lembro que houve membros de orgãos de soberania portugueses que subscreveram e apelaram à libertação de Lula da Silva. Também acho que Moro não se devia ter pronunciado sobre a matéria específica (José Sócrates), mas o precedente estava criado.

    • João Sequeira says:

      “O ex-presidente brasileiro foi condenado por todas as instância judiciais brasileiras.”
      Lamento contrariar, mas isso não é verdade.
      Lula da Silva foi condenado por Sérgio Moro em primeira instância, apenas com base em denúncias (a chamada “delação premiada”), sem qualquer prova material efectiva. O Supremo Tribunal de Justiça acaba de reduzir-lhe a pena, e ainda falta a decisão do Supremo Tribunal Federal.

      • JgMenos says:

        Os gajos faziam-lhe as obras em casa.
        Ele nem dava por isso…tão inocente…tadinhao…

        • ZE LOPES says:

          Não dava por isso? Pode ser, mas olhe que, às vezes, acontecem coisas estranhas. O Dr. Salazar que, como ambos sabemos, foi um liberal, embora incompreendido por este povo de analfabetos, presenciou um estranho facto: uma foto autografada de Mussolini pusou-lhe em cima da secretária e ele não deu por nada até ao dia em que (em meados de 1945) comemorava o seu 56º aniversário e resolveu arejar a escrivaninha. Chateado, chamou Silva Pais para o esclarecer sobre aquela e outras coisas que lhe andavam a esconder. Mas ficou mais descansado quando este o esclareceu que os indivíduos indesejáveis ao regime liberal-salazaresco até eram premiados com estadias em “resorts” de Cabo Verde e São Tomé.

          • João Sequeira says:

            Não podia estar mais de acordo, Zé Lopes. O dr. Salazar não só foi um liberal como até foi um antifascista, segundo garantiu o dr. Hermano Saraiva – e quem somos nós para contrariar um historiador sério e rigoroso e tudo, como este.
            Uns ingratos, é o que esta comunagem é. Iam passar férias grátis às Colónias, tinham anos de retiro em Peniche sem pagar um tusto – tudo lugares tranquilos e com vista para o mar – e ainda se queixam. Malandros. Por isso é que o país não anda pra frente!

    • Carlos Almeida says:

      A elite brasileira racista, nunca perdoaria a alguém, fosse quem fosse que tivesse tirado milhões da miséria. Principalmente se muitos desses milhões fossem negros.
      A ela se junta grande parte da classe média brasileira, a julgar por amostragem dos que agora cá aparecem cheios de dinheiro e arrogância.
      Antigamente era a “justiça” dos coronéis e dos jagunços, agora são os “bata preta” com sermão encomendado, para lhes defender os interesses. O resto é conversa para “boi dormir” como dizem eles.
      Mas o mais interessante é que os mesmos que dizem quando alguém deste lado do Atlântico, dá uma opinião não coincidente com a jairzada, que eles é que sabem, vem agora exportar a ideologia a quem fizeram o frete.
      Juiz ?????

  4. Orlando Sousa says:

    https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47153099

    É só ler e depois consultar a informação oficial.

  5. Paulo Marques says:

    Volta para a tua terra, Moro.

  6. Abraham Chevrolet says:

    Era uma prova de respeito pelos leitores que fossem por inteiro explanados os motivos porque o comentador A não gosta da pessoa B. Sem esse cuidado a imaginaçao do leitor voa enquanto que o escrito tristemente jaz. E daí ,como é vulgar ver,parte-se para as mais mirabolantes hipóteses, todas virgens de provas,a maior virgindade que em Portugal campeia.

    • João Sequeira says:

      Está a falar de quem? E de quê? A sério que não percebi quem são o A e o B da sua equação.

  7. Mário Manuel d'Oliveira Vilela says:

    Sou Português e fico espantado com tanta merda debitada pela boca de alguns que por aqui andam. Mas afinal quem é o Sócrates? Reference ao filosofo? Ou à merda que um dia foi 1º ministro de uma republica de banas chamada Portugal? É que se é desse, esqueceram que ele esteve preso, que falsificou documentos de uma Universidade, andou fugido em França a gozar com o dinheiro dos impostos dos trabalhadores portugueses, que praticou falsidade ideológica, que só por si já constitui crime!. Quanto ao palerma encartado que escreveu esta coisa, a que chama artigo, vá aprender um pouco de Direito e da Justiça do Brasil, ficou mais que provado sim e por isso mesmo foi condenado em 3ª Instância, justamente aos mesmo anos que o Juiz Sérgio Moro o tinha condenado. O que confirma que este estava com a lisura na prática da sua profissão, o que não acontece em Portugal!.
    E já agora como muito bem diz, o 25 de Abril de 1974, ganhamos a liberdade de expressão, vá à MERDA, Viriato Teles!

    • João Sequeira says:

      Ó senhor d’Oliveira, ponha-se a pau. Porque se, como diz, a falsidade ideológica for tipificada como crime, arrisca-se a ir preso.

  8. JgMenos says:

    Desde que seja comunóide já tudo são presunções de inocência.
    Não foi o Moro que condenou o Lula.
    Foram vários tribunais e uma mão cheia de juízes.

    • ZE LOPES says:

      Ora aí está! E direi mais: quem inventou a presunção de inocência foi um inocente presunçoso!

  9. Rui Naldinho says:


    “Lula começou a cumprir pena ainda antes de esgotar todos os recursos disponíveis, algo permitido por decisão do Supremo, contrariamente à prática corrente antes do caso de Lula. O que impossibilitou o ex-Presidente, na altura o mais popular candidato presidencial, de concorrer às eleições, que resultaram na vitória do actual Presidente, Jair Bolsonaro. Algo que levou os apoiantes do ex-Presidente a considerar que a sua prisão é mais uma decisão política que judicial, notando que Moro acabaria por ser nomeado ministro da Justiça por Bolsonaro.”

    Constata-se pois, que tudo aquilo foi cirúrgico. Tinha de ser assim, pois as urnas legitimariam o homem, de novo, como Presidente.
    Em Portugal, e tenho de repetir isto até que a voz me doa, tentaram de outra forma, fabricar uma maquinação parecida, intoxicando a opinião pública. Daí o seu amor à ex PGR, Joana Marques Vidal.
    Não, não são coincidências! Eles têm uma agenda própria, apoiada pelos média, que lhe são afectos. Perguntem aos Steve Banon’s desta vida, que eles explicam.
    Eu só gostaria de imaginar a direita a comentar tudo isto, mas com personagens diferentes, sendo que o Juiz era uma espécie de Baltasar Garzon, e no caso espanhol, o ex PM, Mariano Rajoy. O que diria a direita?
    É por isso que eu quando os vejo a criticar a Venezuela, rio-me da tanta falta de vergonha.

    • João Sequeira says:

      Tem toda a razão, Rui Naldinho. Moro é dos que condenam antes de julgar, como muito bem disse recentemente o actor e escritor André Gago.

    • Nuno M. P. Abreu says:

      Caro Rui:
      Tem de haver um mínimo de seriedade na discussão para ela ser produtiva.
      Neste seu comentário faz uma citação opinativa e parte dai para conclusões como se aquela fosse uma verdade absoluta. Por isso inicia o seu comentário com um “Constata-se pois.. . “
      Sinceramente penso de Lula o que penso de Sócrates. Não foi por acaso que este convidou aquele para o lançamento do seu “livro”
      Ainda há pouco mais de dois meses, julgo, Lula voltou a ser condenado por corrupção e branqueamento de capitais. “Provado” ficou que o apartamento que afinal era do filho Fábio Lula da Silva, mais conhecido como o Lulinha, foi pago com dinheiro vivo e que o arquitecto responsável pela obras tratava do assunto em S. Bernado do Campo com Lula.
      Segundo uma reportagem do Recorde, no ano em que Lula assumiu o Executivo, em 2003, Fábio trabalhava como monitor no zoológico de São Paulo com o salário de R$ 600 e dava aulas de informática para complementar a renda.
      No segundo ano de mandato, Fábio montou a Game Corp, com capital de R$ 10 mil e hoje a empresa está avaliada em R$ 6,5 milhões.
      Em 1982, estive em Angola numa viagem de promoção de negócios. Por essa altura, José Eduardo dos Santos era presidente há três anos e Isabel dos Santos era uma criança de 10, agarrada às saias da mãe Tatiana que nos solicitou uma máquina de fazer pipocas. Hoje, Isabel dos Santos está no”top ten” das mulheres mais ricas de África.
      José Eduardo dos Santos era presidente do MPLA, do saudoso Agostinho Neto, escritor e poeta.
      Lula da Silva foi Presidente do PT.
      Serão estes partidos da direita?
      “É por isso que eu quando os vejo a criticar a Venezuela, rio-me da tanta falta de vergonha.”
      Será que a direita também se deve rir com a falta de vergonha da esquerda quando enxovalha a direita esquecendo os esqueletos que tem dentro do armário?
      O que mais odeio na politica é a corrupção. Os erros devem ser sempre denunciados, sejam eles cometidos por quem quer que seja, sem prurídos ideológicos e apenas na defesa das gentes que a eles estão sujeitos.
      Criticar o que se passa na Venezuela, seja por quem for, desde que fundadamente não devia fazer rir ninguém, na minha modesta opinião.

  10. Abraham Chevrolet says:

    No Brasil ha sentença sem julgamento??? Xiiii !!!
    Em Angola há sentença sem julgamento??? Mama ueee !!!
    Em Portugal há sentença sem julgamento??? Nossa Senhora de Fátima !!!
    Grande tradição de Direito,a Lusófona! !! Cum car…ho !!!

  11. Luis says:

    Quando as leis são feitas por advogados/deputados corruptos para servirem à medida dos seus poderosos clientes tenho de considerar que o “estado de direito” em Portugal está bem torto.
    Para se ver ao estado a que este “estado de direito” chegou não é preciso falar dos salgados, bavas, pinhos, granadeiros, sócrates, macedos, …à solta, basta notar que o advogado “peste grisalha” faz leis sobre vistos gold que são uma “especialidade” do seu escritório e nada se passa na comissão de estética.
    No meio disto tudo considero positivo que o juiz Moro tenha dito o que disse pois a justiça em Portugal não se respeita a si própria, (juízes em greve????), por isso não pode pedir a outros que a respeitem.

    • Rui Naldinho says:

      Como é óbvio a Justiça portuguesa não se fez respeitar.
      A fazê-lo, tinham mandado Sérgio Moro meter-se na seu reduto bolsonarista, como activista que é, pois ainda somos um Estado onde a delação não serve como prova, onde o juiz instrutor do processo nunca será o juiz de 1ª Instância, ou fará parte do coletivo de Juizes com poderes para condenar na Relação, se for caso disso.
      Só num país como o Brasil, uma verdadeira República das Bananas, alguém vai preso com os recursos ainda pendentes.
      Mas como ele não faz parte das elites, só pode mesmo ser corrupto ou ladrão.

  12. ZE LOPES says:

    Não podemos estar em maior sintonia, caro João. Lembro que amanhã mesmo passa mais um aniversário (o 77º) do acontecimento a que me referi no comentário. Estava Salazar a comemorar a sua 56ª primavera, nessa altura a dançar um “chá-chá-chá” com a Maria de Jesus quando entra Cerejeira com uma nova foto do Mussolini só que desta vez, por razões que se desconhecem, não estava autografada. Inicialmente, segundo relatos da época, Salazar até pensou que a foto estava ao contrário, mas foi informado que não. Era mesmo assim!

  13. Carlos says:

    Sem provas????? Deve ser um complô da justiça brasileira contra o “inocente” Lula. Condenado várias vezes por juízes diferentes, deve ter um azar do caraças pois será vítima de um complô bem dirigido.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading