Os professores não têm fundações

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Fotografia: Lusa/António Cotrim@Público

Ligas a televisão. Joe Berardo, em prime-time, a gozar com as caras de Mariana Mortágua ou Cecília Meireles, e através delas 10 milhões de caras portuguesas, mais uns milhões no estrangeiro. O senhor ali, na comissão de inquérito, como quem está no café a comentar a bola de palito na boca, a dar tanga ao país. De tal forma que conseguiu pedir ao deputado Duarte Alves que não o ofendesse: “Se é para brincar, vou-me embora”, disse. E continuou a brincadeira: “Como português, como cidadão, tentei ajudar os bancos”.

Subiu-me um vómito. Mais um caso de um multimilionário indigente, que não é proprietário do carro que conduz (ou que alguém conduz por ele), da mansão onde vive ou do património acumulado pela fundação a que preside de forma absoluta, pelo menos a julgar por algumas respostas que deu aos deputados. Não tem nada, coitado, mas manda na fundação que tem um conjunto simpático de valores, dos quais dispõe e sobre os quais decide, e uma série de dívidas, com as quais nada tem a ver. É multimilionário sem direito de propriedade. Só de usufruto.

O tema que se seguiu foi a bandalheira que se instalou no Parlamento. PSD e CDS ainda a disparar alegremente nos pés, em catadupa, PCP e BE muito indignados porque a direita recuou, como se fosse de esperar outra coisa, e António Costa, com ar de quem dormiu uma boa noite de sono e se tem alimentado bem, a flutuar sobre os destroços da geringuejola, com a bandeira da responsabilidade financeira numa mão e o Pedro Marques na outra, não vá o senhor desequilibrar-se e cair. O Rui Rio foi sabotado (outra vez…), não foi?

Acontece que os professores, esses sacanas marxistas-culturais despesistas, que pelos vistos querem negociar o prazo e a forma de recuperar 9 anos, 4 meses e 2 dias de tempo de serviço que efectivamente prestaram, não têm fundações. Não têm amigos influentes na banca e na política, não têm acesso a empréstimos ilimitados sem necessidade de contrapartidas, não podem sequer dar uma entrevista a uma revista cor-de-rosa, onde apresentam a fabulosa mansão onde residem, propriedade da fundação a que presidem, porque não sonham sequer com a improvável hipótese de fazer fortuna à custa de artimanhas pagas pelo mesmo erário público que, alegadamente, não tem capacidade de restituir os seus direitos. Tão improvável como verem restituídos os seus direitos com a ajuda do CDS, do PSD e mesmo do PS, que fica de pé por exclusiva responsabilidade da oposição à direita, apesar de ter prometido mundos e fundos aos professores.

Não fosse subir-me novamente à boca aquele cheiro a chão do Parque da Cidade do Porto no último dia da Queima das Fitas, fiquei-me por ali. Espero não voltar a cruzar-me com nenhum telejornal tão cedo. Se é para ver isto, vou antes emborrachar-me para o Queimódromo, ver a juventude humilhar-se voluntariamente com stories autodestrutivas no Instagram. Apesar de tudo, o grau de javardice, entre estudantes universitários e outros convivas que por ali passam, sempre é mais digno que certas aberturas de telejornais.

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Foto via Record

Comments

  1. JgMenos says:

    Tadinhos dos professores!
    Não perdem emprego nem têm salários em atraso!
    Os pulinhos da carreira atrasaram-se…que desgraça!
    A culpa é do Berardo que anda às volta com os penhoristas dos negócios.

    • Mário Reis says:

      Não a culpa é toda tua, que nos iludes, que nos convences dever sorrir com a riqueza inesgotável e abundância das fortunas de uns poucos, enquanto uma grande massa de gente que trabalha, que desde sempre se esgotam no trabalho para tentar não morrer de fome, muitas vezes sucumbem sem dignidade. És um pandego! És um canalha!

      • JgMenos says:

        Conforta-te com a ideia que nestes 45 anos muitas foram as fortunas que sucumbiram às mãos de uma canalha ignorante, bruta e lamentosa, que se proclamam coitadinhos e são antes demais irresponsáveis e corruptos.
        As muitas fortunas que se formaram entretanto por meio da desbunda abrilesca estão cobertas por direitos e garantias na lei e em costumes onde prevalece o ódio a quem tem iniciativa e arrisca criando postos de trabalho, sempre vistos pela esquerdalhada como postos de exploração.
        A esse ódio se furtam os que se limitam a especular em negócios de oportunidade ou corrupção, pois ainda que detetados mais depressa saem do radar desses coitadinhos e dos tributos implacáveis.

        • ZE LOPES says:

          Olhe que V. Exa. corre graves riscos! Está a pôr decisivamente em causa a sua falta de saúde! A sua dedicação ás atividades contorcionistas pode vir a dar um péssimo resultado! Não se admire se, amanhã, vier a ter de urinar pela cova do braço! V. Exa. está mesmo todo torcido!

        • Paulo Marques says:

          Por acaso ao longo destes 45 foram mais fortunas que sucumbiram à ganância desmedida ainda mais incompetente do que Trump do que outra coisa. Mas pronto, criaram postos de trabalho a quem os outros tiveram que cobrir as necessidades de quem os tem, está tudo bem.

    • Mónica says:

      Há gente que morre todos os dias. Vamos morrer todos também por simpatia?! Apesar da austeridade ter diminuído há com certeza gente a ser despedida, vamos todos despedir-nos também? Há gente que continua a dizer coisas parvas todos os dias vamos continuar a dizê-las também ou ser MENOS um parvo que por aí anda que às tantas até ganha muito bem e nunca foi despedido na vida? Vá-se catar Menos com a sua fortuna de direitolas ou então vá morrer longe!

    • ZE LOPES says:

      Quando a qualidade de uma sociedade ou de uma classe se mede pelo número de indivíduos com salários em atraso estamos conversados. O anormal é que é normal, segundo JgMenos. Se fosse a V. exa. escrevia um livro sobre o assunto. Há muitos portugueses que sofrem de insónias. Seria um sucesso!

      • Paulo Marques says:

        O KPI é empregados sem-abrigo, actualize-se.

        • ZE LOPES says:

          Esta “resposta” é para mim? Não me diga que foi atropelado pelo unicórnio e perdeu o Norte!

          • Paulo Marques says:

            O norte, carago, é uma nação.
            Não, é cinismo, dá ideia que esse é mesmo um indicador de sucesso em Bruxelas.

  2. Mário Reis says:

    Compreendo o asco e o esfacelar de energia que nos desanima, mas é um episódio digno de estudo: de como os temíveis sindicatos estão cheios de razão; de como o sistema politico está vergado a um velho mundo de exploração e miséria; de como os ‘fortes’ se arrogam em não se submeter a leis bondosas e inócuas, ‘amigas do investimento’ que só fomentam os negócios criminosos, protegem as escandalosas fortunas e agravam a imoralidade das condições sociais.
    Devia passar nas TV’s seguido de debate. Não vai passar porque assim deixa-nos na pior das lassidões e boca amarga, Da impotência e da distração incutida por uma preguiça de pensar e agir que se está a tornar incurável. Mas, como se pode, mais uma vez concluir-se, a riqueza é um roubo aos outros! Todo o ser que possui mais que o necessário para a sua vida e dos seus e para o desenvolvimento da sua inteligência é uma ladrão!!! O que ele tem de sobra tem os outros de menos. Por uma razão que ‘inocentemente’ o Berardo exprimiu: “quando vim ao mundo não trazia nada senão a vida, quando morrer não levo nada, nem sequer a vida.” Mas enquanto cá esteve, empanturrou-se e empanturrou outros indignos com as riquezas do mundo, ao lado do sofrimento e da agonia de outros e da degradação dos recursos de todos.
    Foi vergonhoso ver a ignorância e desorientação dos deputados de direita e do PS que se escondem em sucessivos sofismas como os interesses superiores do sistema financeiro e do investimento que sacrifica sistematicamente o bem de todos para meter no cu de quem tem em demasia.
    Devia passar nas TV’s seguido de debate, com repetições dos melhores lances, das rasteiras e entradas a pés juntos, das faltas que nem o arbitro, o var e menos ainda quem supervisiona o jogo quer ver.

  3. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Para o peditório do “Sistema Financeiro” e para os burlões e políticos corruptos que o mantêm e dele se servem, não dou nem mais um cêntimo.
    Lembro só que ainda em Maio, vão chegar as eleições. E pelo que ontem vi nos comícios, muita gente vai votar nos miseráveis políticos que estão na base de toda esta caricatura de miserável democracia e estado de direito.
    E saibam que a lei para castigar burlões, existe. Não é aplicada, mas isso são outros quinhentos.
    Este país de burlões, comandados por corruptos vai a votos. E a grande maioria deste povo mentalmente indigente, dominado pelos desígnios do esférico e das transferências estratosféricas, vai votar neles.
    Depois, já sabem. Há que vir para estas e outras páginas chorar um bocadinho…
    Sempre alivia … a vontade de urinar. Pena é que não alivie consciências.

  4. O que Bernardo conseguiu apenas revela poder e inteligência. Infelizmente um pequeno empresário tem quase sempre de dar o seu aval pessoal. Porque ao pequeno empresário a Banca apenas oferece um chapéu quando faz sol. E quando, por circunstâncias díspares, ele é o menos culpado de pagar as suas responsabilidades fica com a sua vida pessoal destruída, a maior parte das vezes de forma irremediável.
    Os Bancos deveriam sempre acautelar os seus interesses sobre os investimentos a que reportam os empréstimos. Não sobre o património pessoal, excepto se foi para isso a que se destinou o empréstimo. Se, depois, não garantem o reembolso, os Bancos devem assumir as imparidades.
    Mas, nunca devemos ser nós, contribuintes, a ter que suportar impostos geracionais para suprir as imparidades da Banca. Muito menos sermos as cobaias da UE.
    Quando fecha uma padaria não é por isso que deixamos de poder comprar o pão.

  5. Fernando Manuel Rodrigues says:

    “Tão improvável como verem restituídos os seus direitos com a ajuda do CDS, do PSD e mesmo do PS, que fica de pé por exclusiva responsabilidade da oposição à direita, apesar de ter prometido mundos e fundos aos professores.” LOOOOL…

    Então e o PCP e o BE porque não votaram as cláusulas do PSD ou do CDS, como pediu Mário Nogueira?

    E o que tem o … a ver com as calças?

  6. JgMenos says:

    Desde que a esquerdalhada descolou da hiperbólica rentabilidade dos descontos para a reforma, para a farsa da solidariedade intergeracional a que acrescentou ‘outras formas de financiamento= impostos’, passou a dar largas ao desprezo pelo sistema financeiro.

    E é esse desprezo que consente que de instrumento racional de desenvolvimento económico ele esteja abandonado às mãos de políticos e bancários incompetentes e não raro corruptos.
    E quando em final os fazem pagar por isso, tudo são gritos e rasgar de vestes, enquanto os cartões de crédito e as hipotecas continuam a bombar.

    • Paulo Marques says:

      Lol. Mas tem um fundo de verdade, desde que a esquerda aceitou que os impostos financiam o estado e que a limitação é financeira, deu tudo para o torto. A dívida privada advém daí, não são os criadores de emprego que distribuem para sobreviver da bondade do seu coração, lol.

    • ZE LOPES says:

      Enfin…Comme dirait le Économiste, Philosophe et Salazariste Encarté JgMoins: “le sistéme financier est bel, les esquerdalhes et les banquiers est que donne cap d’el”.

      Malhereusement, je suis obligé a tous vous dire qu’il y a trois choses que j’ai jamais vu:

      Un: Un défunt qui a ressuscité;

      Deux: Un homme à accoucher;

      Trois: Un sistéme de remises pour la retraite a capitaliser.

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