Educação: pão e circo

No campo da Educação, os poderes, políticos e outros, juntam à ignorância a sobranceria e o exibicionismo habilidoso de um marketing vazio, cheio de palavras melífluas que, em si mesmas, não podem, aparentemente, ser contestadas, de tão consensuais (alguém é contra a inclusão, por exemplo?).

Ao terminar o ano, perto do final de outro mandato desastroso, mais uma vez, não se mexeu na forma de acesso à Universidade (o que garante o lucros de alguns colégios), manteve-se a imposição de novas inutilidades (no caso desta equipa, as provas de aferição) e aprofundou-se o ataque aos professores (roubados em tempo e dinheiro).

O Paulo Guinote chama a atenção para duas cerejas em cima do bolo mal cozido: a criação do Plano Nacional das Artes e a proposta de retirar o exame de Matemática do acesso aos cursos para professores do Primeiro Ciclo. No primeiro caso, haverá pão para alguém; no que se refere ao segundo, é o habitual circo do Conselho Nacional de Educação.

Comments

  1. José Manuel de Barros Leite Braga says:

    O meu comentário é simples: subscrevo na íntegra este texto!

  2. Luís Lavoura says:

    não se mexeu na forma de acesso à Universidade (o que garante o lucros de alguns colégios)

    Que forma de acesso à Universidade proporia o António?

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      Eu não sei o que o António proporia, mas eu proporia que cada Universidade/Instituto definisse a sua própria metodologia de seriação dos candidatos, com ou sem realização de provas (preferencialmente com – mas locais, preparadas e corrigidas pelo estabelecimento de ensino responsável), e os exames nacionais contassem apenas para aprovação (mínimo de 10) e para eventuais critérios de desempate e/ou complemento de dossiê de candidatura.

      • Luís Lavoura says:

        cada Universidade/Instituto definisse a sua própria metodologia de seriação dos candidatos

        Isso não é uma solução, isso é apenas transferir o problema do nível nacional para o nível local. Cada Universidade teria a sua própria metodologia, OK, mas qual seria em sua opinião a metodologia (mais) correta?

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Realização de prova escrita na Universidade, seguida de uma prova oral/entrevista aos candidatos. Para mim, essa seria a metodologia mais correcta.

          Os examens nacionais e as médias do secundário seriam meramente indicativas, não servindo nem para excluir nem para aprovar ninguém automaticamente (embora fosse exigível um mínimo de 10 a TODAS as disciplinas, obviamente).

          • Luís Lavoura says:

            Realização de prova escrita na Universidade, seguida de uma prova oral/entrevista aos candidatos.

            Essa prova escrita seria equivalente a um exame. E a entrevista seria equivalente a uma prova oral. Acha correto fazer depender o futuro escolar de um jovem de um só exame, de uma só prova oral? Deitando para o lixo todo o esforço que esse jovem fez até aí para ser um bom aluno? Acha que isso é pedagógico? Acha que devemos voltar ao tempo em que os exames eram obrigatórios e eliminativos?
            Eu discordo.

          • Fernando Manuel Rodrigues says:

            A prova equivale a um exame: OBVIAMENTE. Quanto às suas objecções:

            Primeiro: O futuro não estaria dependente desse(s) exame(s). Apenas a entrada NESSA faculdade. O estudante poderia candidatar-se a tantas faculdades quantas quisesse e pudesse, e o mesmo aconteceria no ano seguinte.

            Poderia inclusivamente aproveitar o ano do (eventual) insucesso) para se preparar melhor e assim obter melhor resultado no ano seguinte.

            Segundo: Se acho que isto é pedagógico? ABSOLUTAMENTE. O que não é pedagógico é entrar em colégios privados que literalmente “vendem” notas, e assim poder entrar na faculdade que se pretende. Também não é pedagógico que, no caso de não se obter a média pretendido no secundário ficar com o caminho cortado para o curso que se pretende (como Medicina, por exemplo) PARA SEMPRE.

            Os exames deverão ser sempre obrigatórios e eliminativos, pelo simples facto de que são a melhor e mais isenta forma de avaliação, onde não pode haver favorecimentos, e a vida é um permanente exame, onde somos constantemente postos à prova.

          • Sísifo says:

            30 faculdades, 30 exames, 30 entrevistas.
            O aluno que não obtém a tal média, possui muitas outras vias para aceder à bendita Medicina. Por exemplo, começa por aproveitar esse insucesso para se preparar melhor para o ano seguinte, ou anos seguintes, e assim obter os resultados pretendidos.
            Favorecimentos não existem com exames? Andamos todos distraídos e não vemos, ouvimos e lemos notícias?Não sabemos como a filha do diretor do curso de Química de uma das mais afamadas universidades deste país realizou os exames de acesso? Não sabemos que existem as Felicitys Huffmans deste mundo?

            Duplicação de exames também seria interessante: do secundário e de acesso à universidade. E fariam exames nacionais a TODAS as disciplinas para conclusão do secundário? Se, sim, até posso concordar, embora, em caso de insucesso relativo dos alunos e de vagas por preencher nas faculdades, houvesse logo um coro de reclamações e esses exames seriam extintos ou de tal forma facilitados que seriam inócuos.

            Numa coisa, estamos todos de acordo: a vergonha de alguns colégios privados.

    • António Fernando Nabais says:

      Subscrevo o que escreveu o Fernando Manuel Rodrigues. O peso exclusivo dos exames e das médias não é suficiente para avaliar a qualidade do candidato. Basta ver o exemplo de alguns cursos superiores de Música ou de Teatro: a média do secundária só vale 10%; o resto depende de provas prestadas no estabelecimento de ensino. Frequentar Medicina, por exemplo, não deveria depender apenas da média, porque há mais factores a ter em conta para a escolha de um candidato a esta profissão. De qualquer modo, como é evidente, estas decisões não deveriam ser tomadas com a leviandade com que muitas outras são tomadas.

      • Luís Lavoura says:

        o exemplo de alguns cursos superiores de Música ou de Teatro: a média do secundária só vale 10%; o resto depende de provas prestadas no estabelecimento de ensino

        Parece-me evidente e natural que em Música ou Teatro se exija observar ao vivo o talento natural do potencial estudante, em vez de se fiar em notas académicas. Mas parece-me que Música e Teatro serão casos excecionais, que não podem servir de modelo para outros cursos.

        • António Fernando Nabais says:

          A referência aos cursos de Música e de Teatro serve apenas de exemplo, como é óbvio. Para se entrar no primeiro curso, é necessário dominar um instrumento; não se está à espera que um candidato a Medicina já saiba diagnosticar ou operar antes de tirar o curso.

      • Luís Lavoura says:

        Frequentar Medicina, por exemplo, não deveria depender apenas da média, porque há mais factores a ter em conta para a escolha de um candidato a esta profissão.

        É verdade. Resta saber como é que seriam obtidos esses “mais factores”. Através de entrevistas profissionais, ou testes psicotécnicos a todos os candidatos a estudantes? Isso seria muito caro e ficaria aberto a potencial corrupção e nepotismo. Seria potencialmente ainda bem pior do que as notas de favor obtidas em alguns colégios privados.

        • António Fernando Nabais says:

          O factor financeiro deve sempre ser tido em conta, mas não pode sobrepor-se a outros ainda mais importantes. O risco de corrupção e nepotismo é real, mas a situação actual é igualmente grave, por várias razões, incluindo o escândalo a que corresponde a actuação de alguns colégios, que só é possível devido ao peso desmesurado que têm a média e os exames.

          • Luís Lavoura says:

            o escândalo a que corresponde a actuação de alguns colégios

            Certo, mas esse escândalo afeta, ao fim e ao cabo, um número relativamente reduzido de alunos. Enquanto que, se o método de acesso fosse por exames ou por entrevistas, teríamos certamente corrupção generalizada, a par de montes de alunos com a vida gravemente afetada por num só exame se terem saído mal.

  3. John Wayne says:

    Um só exame vai determinar todo o percurso do aluno e, eventualmente, a sua vida profissional? Entrevistas?

    Mas está tudo bêbado ou serei eu o único a não estar sóbrio?

    E se o aluno for surdo? Código Morse ou gestual?

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