Sobre a degradação do SNS

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Fotografia: Lusa

Ao contrário de Marques Mendes, que será, porventura, o cidadão português mais bem informado da actualidade, eu não sei se o SNS está pior ou melhor do que no tempo da Troika. Não tenho números ou dados estatísticos que me permitam chegar a uma conclusão clara e objectiva sobre o problema. Nem sei sequer se o que se passa hoje no SNS resulta das políticas deste governo ou dos seus antecessores.

Contudo, não me interessa saber se, estatisticamente, o SNS está pior ou melhor que no tempo da invasão pirata neoliberal, à qual nos submeteram as mesmas pessoas que participaram na fabricação da crise artificial que colocou a economia mundial de rastos, e da qual os mais ricos emergiram mais ricos, e os mais pobres, sem surpresa, mais pobres.

Interessa-me, isso sim, perceber como é que um governo que se diz de esquerda, apoiado pelos partidos mais à esquerda, todos eles alegados defensores intransigentes do Estado Social, permite que o SNS esteja no estado em que está. Quatro anos após o advento da Geringonça, há urgências de obstetrícia sem recursos, hospitais no interior sem especialistas, filas de espera intermináveis para as mais variadas necessidades e hospitais com equipamento obsoleto. Ou, pior, sem o equipamento necessário.

Porque dizer-se de esquerda, ou alegar a herança da construção do SNS, vale de muito pouco quando os serviços prestados pelo sistema estão em ruptura. Quando se insiste numa ortodoxia das contas públicas, com défices historicamente baixos à custa dos impostos e dos cortes nos serviços prestados à população. Quando se continuam a despejar milhões na banca. Quando um batalhão de “notáveis” deve milhões ao Estado, sem que nada lhe aconteça. Não é aceitável que nos continuem a impor esta nova forma de austeridade, baseada em cativações e na ausência de investimento nos serviços fundamentais.

Se, como indicam as sondagens, o PS precisará do apoio de outros partidos para conseguir a maioria parlamentar, é essencial que esses partidos sejam intransigentes na defesa, aposta e aumento significativo do investimento no Serviço Nacional de Saúde, sob pena de serem legitimamente enfiados no mesmo saco que os partidos que contribuíram para a sua degradação. E que os portugueses que o defendem votem em conformidade nas Legislativas de Outubro.

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Boa questão. Pergunte ao Centeno.
    Ele explica, embora ande muito calado nos últimos tempos.
    Mas é ele que tem a batuta, o Santo Graal, o Orçamento, que lê como se fosse um oráculo do progresso de Portugal.

    Eu só ouço Catarina Martins e Jerónimo de Sousa dizerem:
    “O PS tem que se definir no SNS”.
    Assim sendo como pode afirmar que …”um governo que se diz de esquerda, apoiado pelos partidos mais à esquerda, todos eles alegados defensores intransigentes do Estado Social, permite que o SNS esteja no estado em que está…”

    Por favor, busque em Centeno a resposta, Centeno um neo-liberal do tipo “uma qualquer Maria Luís”, embora com um sorriso beirão que faz dele mais simpático, mas tão influente no futuro do SNS como o foi a referida Maria Luís..

  2. Por acaso eu acho mais piada a partidos de direita (PSD e CDS) que votaram contra a criação do Serviço Nacional de Saúde, incluindo o senhor Presidente da República que enquanto deputado também votou contra o SNS, partidos e pessoas essas que o que mais querem é desmantelar todo que é público e entregar o serviço aos privados, andarem constantemente a gritar: “vejam o estado a que chegou o SNS”!! E como se eles enquanto governo da geringonça 2011-2015 não tivesse quase privatizado os serviços, ficando mais barato fazer um segurozinho de saúde que ir a um hospital público.

    E quando quiserem saber a verdade sobre como estão os hospitais públicos perguntem a doentes crónicos como eu (ou como à minha colega de trabalho que é acompanhada noutro hospital público) pois nós vamos a consultas de três em três meses, fazemos exames de três em três meses, vamos ao hospital levantar medicação de ambulatório todos os meses (que custa malhares de euros por mês e não pagamos um cêntimo) somos seguidos em várias especialidades e também já temos vários internamentos e cirurgias no lombo.

    Não acreditem em tudo que que aparece nos média (então os tempos de espera é de rir!) nem que no que os Mentes desta vida dizem. Falem com quem sabe que são os doentes crónicos, as pessoas que mais usam os hospitais neste país. Se está tudo bem? Longe disso e há muito por fazer, e os hospitais não têm recursos por igual. Mas também não é o caos que se fala. Longe disso! E eu não troco o Hospital Santo António por nenhum hospital privado deste país.

    • Convém passar à populaça a mensagem de que o SNS não funciona porque, entre prestação privada de cuidados de saúde e seguros, há muito dinheiro a ganhar com isso.

  3. Ana A. says:

    Não sabendo eu exactamente o que está em causa, no que concerne à complementarização dos serviços privados da saúde com o SNS, exponho o meu caso:

    em 2009 fui operada a um cancro da mama no IPO do Porto. Tinha recebido o diagnóstico em Junho desse ano e no dia 1 de Outubro estava a ser operada. (todas as análises e mamografias etc. foram feitas em clínicas de análises privadas em parceria com o SNS, logo, gratuito para mim).
    no decurso dos tratamentos subsequentes, todos no IPO, tinha que tomar uns comprimidos diários, que me eram fornecidos gratuitamente pelo IPO. Sendo que, por volta de 2011/2012 começaram a racionar a entrega e houve o receio de não os receber atempadamente, coisa que nunca chegou a acontecer, felizmente. Estes comprimidos eram de marca e o seu preço na caixa era de 130€ /mês, mas eram fornecidos gratuitamente como disse. Vieram depois a ser genéricos, o que baixou bastante o seu custo para o SNS.
    ainda durante o “reinado da troika” (não sei agora precisar o ano), em vez de ir fazer as análises ao sangue, ao privado (sem qualquer custo para mim), como até ali tinha acontecido, fui obrigada a ir ao hospital da minha zona de residência, fazê-las. Não achei isso errado, uma vez que se o SNS pode fazê-lo com menos custos, pois que o faça. Apenas tenho a apontar o tempo de espera em jejum, desde as 8h até quase ao meio-dia. Essas análises obrigatórias no público, só aconteceu uma vez. Depois voltou tudo a ser como antes, ainda no tempo da troika. Não cheguei a perceber se foi uma experiência que quiseram fazer e não resultou, ou lá o que quer que seja.

    Infelizmente, sou “cliente assídua” semestral dos exames ao sangue, mamografias e ecografias. Como disse vou com as requisições do médico de família, à clinica de análise que entender, não pago nada porque estou isenta de taxas moderadoras e tenho os exames na minha mão de forma rápida e gratuita para entregar ao médico de família.

    Acho este sistema perfeito, pela parte que me toca!

    Se o SNS fizer tudo isto com menos custos para o erário público e que cumpra com os requisitos necessários para que não haja atrasos que prejudiquem o utente, acho óptimo!

    Se não consegue, então que deixem tudo como está!

    Repito: não sei se as alterações na Lei de Base passariam por alterar esta dinâmica, mas fica o meu depoimento!

    • E o que é preciso é ouvir os casos reais, não as exceções de quem, no interior, e mal, espera anos por uma consulta de especialidade porque o Estado não coloca os médicos onde são precisos, como faz, e bem, por exemplo com os professores. O que é preciso é ouvir as pessoas que usam os serviços públicos, se estão satisfeitas ou se não estão satisfeitas e não ouvir as paragonas dos jornais e televisões.

      Em 2010 a minha doença auto-imune (que até originou uma segunda) passou a ser considerada doença crónica e assim sendo deixei de pagar taxas moderadoras. Para logo em 2011, entrar entrar a geringonça-fascista e de um dia para outro passei a ter que pagar tudo: consultas, análises, etc etc etc! Só umas análises que fiz recentemente para Infecciologia paguei 50€! E isto só pode ser gozar com a vida das pessoas. Mas entretanto com o novo governo também nada mudou, o que mudou fi isentar de taxas moderadas os abortos. Se cconcordei? Não, não acho que essa fosse a primeira prioridade, quando o Estado dá gratuitamente consultas e anti-concecionais. Continuo a pagar as mesmas taxas moderadoras de antes, para moderar o quê? Uma doença que é crónica! Como é que se modera uma doença crónica? Gostava que algum político me respondesse.

      Responde certamente Manuela Ferreira Leite: “Se pagar tem direito a ser tratado, senão que se foda, que morra”!
      Lembram-se dos casos de Hepatite C? A preocupação de PSD e CDS com doentes é esta! É deixar morrer as pessoas quando havia tratamento porque é caro! Mas nunca é caro salvar bancos privados! Será que já ninguém se lembra? Não há muitos anos, foi em 2015! Quantas pessoas é que morreram e poderiam ter sido salvas???

      https://www.publico.pt/2015/02/04/sociedade/noticia/doente-com-hepatite-c-diz-nao-me-deixes-morrer-ministro-comprometese-pessoalmente-1685052

      Sobre as listas de espera. Em 2017 tive de ser operado. O médico diz-me, ligue para a menina do gabinete da especialidade e marque. Ligo e ela diz-me que pode ser já na semana seguinte, três ou quatro dias depois. E até fiquei surpreendido, porque na ansiedade em que estava, e apanhado de surpresa, até gostaria de ter tido mais algum tempo para me preparar mentalmente.
      Se é assim em todo o país, se é assim em todos os hospitais públicos? Certamente que não será, mas que não se olhe só para as exceções e se faça disso o estado geral. Como referi, pela minha parte, não tenho nada a apontar pelos serviços prestados. As minhas queixas prendem-se essencialmente com ser dente crónico e ter que pagar taxas moderadoras em tudo, menos na medicação de ambulatório que é totalmente gratuita.

      Mas já agora, querem saber das maravilhas da saúde privada? Também posso dar exemplos vividos bem de perto:

      Caso 1. O meu padrasto foi operado à próstata no hospital da Arrábida em Gaia. No dia seguinte, chega lá a enfermeira e vira-se para ele “esta algália é para tirar”. Contrapõe o meu padrasto: “olhe que eu acho que não, confirme primeiro”. Não confirmou, tirou-a e depois afinal viu que se enganou. Resultado: tiveram que lha colocar de novo com as dores que sabe que daí resultam não estando sedado.
      Caso 2. A minha namorada desloca-se a uma clínica privada para tomar a vacina do papiloma, tudo pago à conta dela. Está no gabinete de enfermagem e nota a jovem enfermeira muito pouco à vontade e pasme-se a fazer-lhe perguntas sobre como proceder!! Responde-lhe se não é ela a profissional que deve saber o que está a fazer. Nisto a enfermeira prepara-se para a injetar sem sequer ter tirado o ar à seringa! Ela levanta-se, diz-lhes das boas e pede o Livro de Reclamações para reportar o sucedido.
      Caso 3: O meu colega de trabalho tem um acidente de trabalho e vai à clínica do Seguro de trabalho. Como é uma sexta-feira à hora de almoço, despacham-no às três pancadas e ele sai de lá sem saber se tem alguma coisa fora do sítio ou partida! Se tiver depois na 2a feira avisam-no!
      Caso 4: A minha mãe, que tem ADSE, vai ao hospital de Gondomar para simplesmente lhe passarem uma receita para uns óculos. Chega lá e o especialista já tem tudo alinhavado para a encaminhar para cirurgia. Ao que a minha mãe contrapõe: “mas eu só quero uns óculos, vai-me passar a receita ou é preciso ir a outro lado?” O médico tenta vender-lhe a ideia que ela pouco pagará porque tem ADSE (claro, quem paga é o Estado!) e que a cirurgia é uma coisa espetacular!

      E os casos poderiam continuar uns atrás dos outros, só com relatos de família, e se calhar é por estas e outras coisas que na saúde privada as queixas aumentaram 75%.

      • JgMenos says:

        Lá vem o choradinho.
        O Estado vai pagar tudo, do berço à cova, o que quer dizer que alguém anda a trabalhar para que não te falte nada.
        E o descaro com que se diz isto é um assombro de estupidez e arrogância!

        • Paulo Marques says:

          O estado tem que pagar a comida aos “colaboradores” dos teus clientes para que possam continuar a servir de burros de carga e verem o dinheiro fugir lá para fora.
          Vai fazer de coitadinho para outro lado.

      • Paulo Marques says:

        Ainda bem que tem boas estórias, as duas que tenho de doenças mais complicadas são de miserável incompetência e desprezo, acabando as duas em falecimento.
        Há-de tudo, imagino. Mas também ouvi sobre o caos que foi a introdução da GRPD num hospital que ainda não o cumpre porque não há recursos para o cumprir quando há ensaios clínicos a fazer que permitem manter os pacientes vivos.
        Bem não vai com certeza.

  4. Marques Mendes mais uma vez a tentar que os Tugas comam gelados com a testa, sad!!!!

  5. JgMenos says:

    Para os dirigentes da esquerdalhada o SNS, mais do que um serviço para os cidadãos, vale pelo emprego público que cria. Mais funcionários significa mais dependentes de quem promove e sustenta o funcionalismo, o que significa mais votos e mais lugares para os queridos líderes,

    Um putedo, como dizia o Grande Educador da Classe Operária.

    • Paulo Marques says:

      Que horror, estava tudo melhor sem emprego como no tempo do Coelho, aquilo é que eram uma economia a carburar.

  6. Julio Rolo Santos says:

    O SNS é um cancro que se instalou nos serviços de saúde, centros de saúde e hospitais, não por falta de financiamento, nem de políticas mas sim por falta de organização. Hoje não se sabe quem manda nos hospitais e centros de saúde, se são os enfermeiros, médicos ou até os auxiliares ou as próprias corporações de interesses, tal a bagunça que se instalou. Uma revolução no SMS, deve começar por saber quem manda em quem e o resto virá com essa definição.

  7. Luís Lavoura says:

    Este post não faz qualquer sentido. O autor diz que não sabe se o SNS está pior ou melhor, mas depois diz que o SNS está muito mal. Ora, (1) se o autor não sabe se o SNS está pior ou melhor, como sabe que ele está muito mal? O autor, pura e simplesmente, não sabe como o SNS está! (2) O que conta para avaliar o atual governo não é como o SNS está, mas sim se ele está a melhorar ou não, que é precisamente aquilo que o autor diz não saber. O que interessa é saber se o atual governo tem feito melhorar o SNS ou não – não interessa que ele ainda esteja mal.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Compreendo o seu ponto de vista.
      Contudo as críticas públicas ao SNS, lançadas sob a forma de parangonas, parecem indicar que há uma preocupação de uma parte da sociedade civil sobre a (in)eficácia do SNS.
      Temos sob a forma de intervenções, felizmente, as declarações de Konigvs e Ana A. que parecem conduzir à conclusão que parecem existir mais vozes que nozes.

      Pessoalmente, estou preocupado, não pelas notícias, mas com a classe política que nos comanda.
      O que me parece, com toda a honestidade, é que a forma como o SNS é gerido a nível governamental pode ser altamente perigoso, porque aquela gente já disse várias vezes ao que vem e o muito que vale o orçamento em relação a um qualquer cidadão português …
      Concluo que tenho sérias dúvidas numa altura em que os Centenos que nos calharam em sortes falam do modo que falam do “santo orçamento”.

    • João Mendes says:

      Luís, diferenças de opinião à parte, estou habituado a comentários mais coerentes da sua parte. Eu não sei se o SNS está melhor ou pior do que estava há X anos e isso não invalida que seja da opinião de que está mal. Ou invalida? Explique lá.

      Já agora, e desde que publiquei o texto em questão, vim a deparar-me com números que demonstram que o número de profissionais de saúde, em todas as áreas, aumentou face ao passismo. Melhorou, portanto, mas ainda está muito áquem do que seria desejável, pelo que continua fraquinho. Percebeu, ou quer que lhe faça um desenhito?

  8. Maria Martins says:

    Excelente análise da situação. Ainda hj vi o ministro Centeno a gabar-se do menor défice de sempre e, dizendo que foi conseguido pelo aumento da arrecadação.
    Como o SNS está na ordem do dia, ele tb falou dos mil milhões e 600 investidos na saúde, querendo se justificar mas, nada justifica. Se aplicou, não foi suficiente e, esperava-se mais de um governo socialista que privilegia a banca e a TAP em detrimento do SNS, que é o povo.

  9. Julio Rolo Santos says:

    Quanto dinheiro mais será necessário aplicar nos serviços de saúde para que o sistema funcione? ZERO. Já o disse e repito, os serviços de saúde do SNS não precisam de mais dinheiro mas sim de mais organização e uma definição clara de se saber quem verdadeiramente manda no SNS. Se continuar cada um a querer puxar a brasa á sua sardinha, nada feito.

  10. Julio Rolo Santos says:

    A degradação dos serviços do SNS é uma encenação dos seus profissionais que se apoderaram do controlo dos serviços para provocarem o caos e exigirem o impossível. Se esses profissionais estão tão preocupados com os doentes porque é que estão permanentemente de greves sucessivas.? Será que ganhem assim tanto que se dêem ao luxo de perderem uma parte significativa do seu salário por via das greves? Não dá para entender.

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