Temas da silly season…

Chego tarde ao assunto da silly season, porque só hoje o li, e nem pretendo entrar na discussão sobre o texto de Maria de Fátima Bonifácio, vou passar ao lado do coro de indignados e virgens ofendidas, regra geral em Portugal nesta matéria reina a hipocrisia e abunda a ignorância e pouco me interessa o pensamento da senhora, que afinal representa quem? A mim, de certeza que não.
Ao que parece há quem defenda que o problema da integração dos ciganos e africanos se resolve com quotas. Quanto aos primeiros, será lógico que pergunte, mas quais ciganos? Os que teimam continuar nómadas? Ou aqueles que estão perfeitamente integrados na sociedade? É que os últimos não representam os primeiros, até se desprezam mutuamente. E se formos falar em africanos, deixem que pergunte, quais? Os angolanos? Os cabo-verdianos? Os guineenses? Os moçambicanos? Basta visitar um bairro na periferia de Lisboa para perceber que não frequentam os mesmos estabelecimentos, muitas vezes nem se misturam. E se mergulharmos um pouco mais fundo, acabamos a perceber que entre negros de pele mais escura e mulatos por vezes também se gera fricção. Antes de mandarem bitaites, há que perceber a realidade do outro.

Sim, há quem em Lisboa ou Porto volta e meia mande a sentença do “vai para a tua terra…” mas não é obrigatório que seja racismo, eventualmente será xenofobia. Afinal falamos dos mesmos que desconfiam dos turistas, dos chineses, dos indianos e paquistaneses, dos brasileiros, até dos ingleses e espanhóis, como esperar que acolham ciganos e africanos? Que já agora se detestam mutuamente, neste pormenor Maria de Fátima Bonifácio tem razão, se não sabem porquê, é porque nunca conviveram com uns e outros. Não sei a que propósito surgiu agora a ideia peregrina das quotas, por acaso tão ridícula, porque se nem sequer admitem como possível saber através do próximo censo à população quantos cidadãos portugueses existem nas diferentes etnias que compõem o nosso tecido social, mas houve alguma alminha que se terá lembrado de propor quotas para representar não se sabe bem que percentagem de pessoas, só porque sim, é giro, modernaço, estamos à frente no combate ao racismo. Sobre quotas, qualquer tipo de quotas, sou contra. Os lugares devem ser conquistados e ocupados por mérito, nada pior que alguém estar num cargo porque representa uma quota. É um atestado de inferioridade passado a alguém que provavelmente até será competente. Ninguém merece tal, a não ser que seja de facto incompetente.

Comments

  1. Fernando Costa says:

    Totalmente de acordo. Há muita hipocrisia nestes assuntos de géneros, etnias e suas quotas. A quotizacao nao se pode aplicar as valores de cidadania.

  2. Luís Lavoura says:

    Bom post.

  3. Paulo Marques says:

    « Quanto aos primeiros, será lógico que pergunte, mas quais ciganos?»
    Os mais qualificados segundo o “mercado” de trabalho, ó obtuso.

    «Que já agora se detestam mutuamente, neste pormenor Maria de Fátima Bonifácio tem razão»
    Pois, e também detesto gente de direita e eles detestam-me a mim, e os velhos detestam os novos e os novos detestam os velhos. Não há nada de exclusivo aí.

    «É um atestado de inferioridade passado a alguém que provavelmente até será competente.»
    É um atestado de incompetência a um país que se acha civilizado porque copia o que outros lhe dizem o que é civilização, sendo incapaz de tratar as pessoas como pessoas. Assim sendo, que haja igualdade à força.

    • António de Almeida says:

      Caro Paulo Marques
      Eventualmente serei detestado por algumas pessoas de esquerda, mas boa parte dos amigos, ou pessoas que não considerando amigos, respeito, são de esquerda. E não detesto ninguém. Há é muitos a quem não ligo pevide, desde logo à maioria dos políticos. O problema é que eles ligam-me a mim (e aos demais, não é especificamente a mim) e acabo afectado pelas suas políticas.
      Há uns anos entrei numa loja, uma funcionária orgulhosa para mostrar iniciativa e competência, mostrou-me um sapo que tinha colocado à porta para afugentar ciganos. (Sim, ao que parece ainda funciona). Ficou surpreendida quando lhe disse que era para tirar aquilo imediatamente e que todos clientes eram por princípio bem vindos.
      Por último e para o esclarecer, em vez de chamar alguém obtuso, informe-se do pensamento cigano sobre os ciganos que se qualificaram profissionalmente e estão integrados na sociedade. Procure um cigano nas feiras e tente indagar o que ele pensa dos ciganos que abandonaram as tradições e não decidem o casamento dos filhos, ou que permitem que a filha saia com um não cigano, dos que trabalhem para um patrão não cigano. A não ser que os decida colocar em reservas ou campos de concentração, pela força só consegue algo com os que permitem e hoje continuam a existir pequenas comunidades que não se fixam e permanecem orgulhosas das suas raízes e tradições. E já agora, no Alentejo existem comunidades na fronteira, que andam dos dois lados, para receberem subsídios do estado português e do estado espanhol. Não pense que são burros, porque de burros nada têm. Burros são os que julgam tudo perceber enfiados nos gabinetes, debitando teses que aprenderam na universidade, sem conhecerem a vida real…

      • Paulo Marques says:

        Não falta quem deteste (em valores muito diferentes de detestar). Outros detestam a peste grisalha, ou os millenials desempregados que não emigram, ou quem faz abortos, ou quem é LGBT+, ou quem é funcionário da EMEL, ou quem pede dinheiro, ou os judeus, ou um qualquer outro grupo de pessoas. Isso não é exclusivo de nenhuma etnia.
        Que não são burros sei eu, há muitos anos contaram-me de quem usava a reputação da etnia para assustar clientes de empresas a pagar dívidas, apesar de nunca fazerem nada a ninguém.
        Há-de tudo, é o que quero dizer, em todos os grupos.

        • Paulo Marques says:

          Basta ver o que os alemães pensam dos europeus do sul, os ingleses dos polacos, os europeus ocidentais dos balcãs e por aí adiante. Até quem é unido por lei descrimina outros brancos à força toda.

          • António de Almeida says:

            Poderia ter mencionado os ingleses, escoceses e irlandeses, que são um caso ainda mais bizarro. Ou franceses e belgas, polacos e ucranianos, exemplos não faltam por essa Europa fora, mas se entrar no continente africano, no interior de vários países, tem as tribos que se desprezam. Sem o tribalismo e guerras entre africanos, a escravatura europeia para a América não teria atingido a dimensão que sabemos. Mas se conhece os orientais, saberá que também por lá existe muita discriminação. No médio oriente nem se fala e no continente americano é de alto a baixo…

          • Paulo Marques says:

            Não é um exclusivo Africano, porra. Só lá vão oitenta anos sobre as maiores atrocidades na europa, 30 sobre a guerra no Kosovo e o fim dos Troubles. Columbine há 20, e por aí adiante.
            Ou basta ler as resmas de comentadores por toda a internet a querer matar quem faz abortos ou se veste de mulher ou rejeita avanços sexuais ou, ou, ou…

        • António de Almeida says:

          Golpe verídico: No Ribatejo um cigano (bom aspecto) sinaliza um apartamento e ocupa a casa. Imediatamente degrada as condições higiénicas do prédio, de forma propositada, mas sem danificar o mesmo. Digamos que apenas suja. O construtor não consegue vender as restantes fracções e devolve a caução em dobro…
          Sim, por vezes existe discurso do ódio, outras será mero oportunismo no sentido de apelar ao populismo para “caçar” votos, ou ganhar protagonismo. Há muito quem lhe falte mundo, nunca sairam do cantinho e desconhecem o que existe para lá do seu horizonte.

  4. Fernando Antunes says:

    A conversa do mérito é muito bonita, mas o António de Almeida sabe com certeza que se neste momento existem 80 deputadas no Parlamento não é por causa do seu mérito inquestionável.
    É por causa de uma Lei da Paridade de há 13 anos, que impôs uma quota de género de 33%. E nem é uma lei muito radical. Mas antes dessa Lei havia pouco mais de 40 mulheres eleitas.

    É realmente tão ingénuo a ponto de acreditar que isso — 40 mulheres em 230 deputados — era simplesmente a “meritocracia” (uma palavra que é sempre o embuste utilizado pelos conservadores) a funcionar?

    A mesma conversa gasta e demagógica do mérito se ouve de cada vez que se impõs uma lei de quotas de género em Portugal. Resultado? Alguns dos melhores parlamentares que temos na Assembleia da República são mulheres. O que digo é subjectivo, é claro. E não quero estar a nomear, porque isso leva para outro tipo de discussão. Mas uma coisa é factual: elas são 50% da população; contudo, inacreditavelmente se não fosse pela existência de quotas, dificilmente teríamos sequer um terço de mulheres no Parlamento. Como aliás, antes não tínhamos.

    Por isso não me venha com as tretas das meritocracias, e das “conquistas pelo esforço”. Não digo que não — eu sei que há muitos filhos de papás ricos que se esforçaram muito para serem quem são… Mas isso é só uma parte da realidade.

    A outra parte da realidade é que por exemplo as mulheres passaram a ter mais visibilidade na sociedade em posições de chefia na administração pública, em parte foi porque lhes deram cada vez mais essa oportunidade. E continuam a ser bastante descriminadas. Agora, imagine sem as quotas…

    Atenção: concordo inteiramente que num país ideal não são necessárias quotas. Concordo, como princípio.

    Mas hélas, isto não é um país ideal, é Portugal.

    • Paulo Marques says:

      Não é nada, pá, é a cultura das gajas e dos pretos que não é a mesma cristicoisa que a dos homens brancos que nascem de boas famílias.

    • Anabela says:

      “eu sei que há muitos filhos de papás ricos que se esforçaram muito para serem quem são… ”

      “Atenção: concordo inteiramente que num país ideal não são necessárias quotas. Concordo, como princípio.
      Mas hélas, isto não é um país ideal, é Portugal.”

      Este pelo menos diz ao que vem, é claro como agua.

      Anabela

    • António de Almeida says:

      Caro Fernando Antunes
      Conheci mulheres que são excelentes profissionais, ao ponto de conseguirem carreiras profissionais de topo a nível internacional. Obviamente que isso dificilmente é conciliável com família (para os homens é igual nesse tipo de carreiras, porque nunca param e à noite não estão em casa com a família, mas são escolhas individuais).
      Verdade que na política há um défice de mulheres, mas por exemplo na Justiça tal não se verifica (juízas, procuradoras), ou na medicina (há especialidades onde quase só existem mulheres e outras que não as atraem, uma vez mais caímos na escolha). E Portugal tem várias mulheres com carreiras de sucesso, de fazer inveja a muito incompetente que anda por aí, sem precisarem de quota. Porque a partir do momento em que são a maioria da população e começaram a ser a maioria dos estudantes universitários, seria sempre uma questão de tempo. Mas para chegar ao topo de carreira em muitas áreas são precisas 2 décadas, ora Portugal começou a mudar nos ano 70, não foi assim há tanto tempo, para produzir efeito estrutural.

  5. JgMenos says:

    Num país em que a quota dos boys partidários, com seus curricula imaginários, é de norma – basta ler o seu jornal diário: ‘Diário da República’ – mais quota menos quota no público vai dar ao mesmo: andam uns camelos a trabalhar cá fora para sustentar a cambada esquerdalha mais as sua fantasias.

    • Chega, Menos! says:

      “andam uns camelos a trabalhar cá fora para sustentar a cambada esquerdalha mais as sua fantasias.”

      Imagino a trabalheira que tu deves ter para te sustentares, quanto mais pagares impostos. Talvez respaldado num negócio manhoso, daí o anonimato com que frequentas vários blogs.
      Aliás, se não fosse essa tua “Meno(s)ridade”, não te escondias atrás de um perfil falso.

      • JgMenos says:

        Chega, Menos!, não sei que intenções tens.
        Queres convidar-me para um chá, ou tens algum job para oferecer?

        • Chega, Menos says:

          “… ou tens algum emprego para me oferecer?”

          Só se fôr no Observador!

    • Paulo Marques says:

      Mais ou menos do que os subsídios, regras especiais, perdões fiscais e “planeamento” que a tua clientela espera que os outros cubram?

  6. Paulo Marques says:

    Eu a pensar que o tema da silly season era o Rio a dizer que se pode aumentar o investimento, cortar impostos e manter as contas “certas”, mas, afinal, parece que o AA já acha que o dinheiro surge do investimento do estado.

    • António de Almeida says:

      Rui Rio? Nem ouço ou leio o que propõe e pelos vistos a maioria também não lhe passa grande importância, nada vi sobre o assunto… Politicamente está moribundo.

  7. Luis says:

    Ufff… até que enfim leio algo sensato sobre as quotas com pés e cabeça e sem estar em linha com os censores do politicamente correcto ou dentro das teorias estúpidas da racista Maria de Fátima.

    No entanto sempre quero dizer que, quanto às mulheres, as quotas não resolveram coisa nenhuma, ao contrário do que dizem os “modernos educadores teóricos” do politicamente correcto.
    Se assim fosse como explicar que profissões que deviam ser das mais respeitadas socialmente sejam desempenhadas maioritariamente por mulheres, sem quotas, a saber: juízas, professoras, enfermeiras e médicas, assistentes sociais…

    Claro que há profissões, no privado, onde as mulheres estão em minoria, mas neste caso considero que não é só a discriminação que conta … é a natureza que “discrimina” ou seja, entre outras, a maternidade.
    Mesmo que o pai colabore totalmente a parte mais dura continua a caber à mulher e quanto a isto não há igualdade de género que resista.

    • Paulo Marques says:

      « juízas, professoras, enfermeiras e médicas, assistentes sociais…»
      Médicos tenho dúvidas, mas fora isso e ser juíz, também não são exactamente as profissões mais respeitadas, quanto mais bem pagas face à formação e qualificações necessárias.

  8. Anonimus says:

    As quotas são um bom método de, não resolvendo problemas, limpar a consciência.
    Faltou aí referir o desprezo, se calhar mais do que racismo, por um determinado grupo, os mestiços.
    PS: nunca percebi bem nestas coisas das integrações, e das denominações tipo “africana américas”, onde encaixam os magrebinos. Não são” pretos”, mas não são “brancos”. Vão ter quota especial, ou…

    • António de Almeida says:

      Após a independência recebemos em Portugal continental inúmeros cidadãos portugueses oriundos de Moçambique, mas de origem indiana, maioritariamente de religião muçulmana. O próprio M. Gandhi andou por África (África do Sul em tempos de apartheid), muitos indus e muçulmanos foram historicamente ocupando território nas costas africanas do índico, império português incluído. Aqui em Portugal eram chamados de “monhés”. Os marroquinos também foram por cá desvalorizados, sobretudo quando nos anos 90 andavam por aí em grande número a vender tapetes. E que dizer dos cidadãos do Paquistão ou Bangladesh que andam por aí? E chineses? Nos anos 90 os eslavos?
      Portugal sempre acolheu a diversidade cultural, mas simultaneamente olha com desconfiança para tudo o que é diferente, alguns portugueses têm a mania da superioridade, nunca consegui perceber bem porquê.
      Quanto ao racismo, por vezes dá jeito, alguém que infringe a Lei em Portugal, se não for branco, evoca o racismo. Mas nós fazemos o mesmo, basta sermos apanhados por um polícia de trânsito num qualquer país africano, para lançarmos a insinuação que com outro tom de pele haveria maior tolerância. E por vezes até resulta…

      • Paulo Marques says:

        «Quanto ao racismo, por vezes dá jeito, alguém que infringe a Lei em Portugal, se não for branco, evoca o racismo.»

        É como o clima, o que interessa são as tendências. Há sempre quem se aproveite há em qualquer assunto, desde o suborno à falsa violação, mas a misoginia e o racismo institucionais continuam lá.

  9. FilipeMp says:

    Este assunto é para rir. Até podiam ser brancos, que na função pública na maioria dos casos o factor eliminatório é árvore genealógica.

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