A realpolitik e o nepotismo favorecem o populismo

Santana Castilho*

  1. Um grupo de cidadãos pediu que se tomem medidas para impedir eventos neo-nazis no território português, designadamente uma conferência nacionalista promovida por organizações de extrema-direita, programada para 10 de Agosto, em Lisboa. Segundo o Expresso, é Mário Machado (cujo envolvimento no homicídio do malogrado Alcindo Monteiro e noutros crimes de discriminação racial não pode ser esquecido) o mentor da iniciativa, para a qual terá convidado Paul Golding, igualmente condenado no Reino Unido pelo crime de ódio racial. Segundo a Constituição da República Portuguesa (artº 46º, nº 4) não devem ser consentidas “organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista”.
    A Tragédia de El Paso (20 pessoas desabridamente abatidas a tiro por um jovem de 21 anos), eventualmente justificada por um manifesto de supremacia rácica que a polícia texana encontrou, convoca-nos à reflexão. Intitulado “A Verdade Inconveniente”, o manifesto proclama a necessidade de os texanos se livrarem dos hispânicos para proteger o modo de vida dos americanos, colhe inspiração no discurso de ódio de Brenton Tarrant (o monstro que assassinou 51 muçulmanos na Nova Zelândia) e é indissociável da retórica xenófoba e anti-imigratória de Trump, que há bem pouco apodou os mexicanos de violadores e criminosos, apesar de as taxas de criminalidade dos imigrantes serem bem inferiores às taxas de criminalidade dos americanos.
  2. Leis quadradamente estúpidas infernizam continuadamente a vida dos cidadãos, que delas não se podem desobrigar. Mas agora que a desdita lhe tocou, a Realpolitik presta-se ao deplorável exercício de pôr o Governo a querer tornar turvamente interpretável o que é cristalinamente claro, apesar de estúpido. A lei dos impedimentos, que ora questiona, trata do mesmo modo coisas bem diferentes e parece concebida por gente insana. Vem de 1996 e foi apresentada e defendida na AR por António Costa, então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. É edificante rever os argumentos que usou e cotejá-los com aqueles a que hoje recorre. Já lá estava, naturalmente, a alínea que o levou a pedir um parecer à PGR, isto é, o regime de sanções que hoje questiona, para ir em impune ilegalidade até às eleições: demissão dos titulares dos cargos políticos (Pedro Nuno Santos, Francisca Van Dunem e Artur José Neves) e nulidade dos contratos feitos. Esta prerrogativa interpretativa do que é mandatório, que os detentores de cargos políticos se auto-atribuem, é própria de castas, amarrota o Estado e corrompe a democracia.
  3. Por muito que António Costa o negue, o nepotismo do Governo e do PS é um facto. Muito longe de esgotar a longa teia, sem precedentes na Europa, recordemos os seus nós mais notórios: José António Vieira da Silva, ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, é pai de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa; Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, é marido de Ana Paula Vitorino, ministra do Mar; Catarina Gamboa, mulher do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nunes Santos, é chefe de gabinete de Duarte Cordeiro, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares; Francisca van Dunem, ministra da Justiça, é mulher de Eduardo Paz Ferreira, presidente da Comissão de Renegociação da Concessão do Terminal de Sines; António Mendes, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, é irmão de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, por sua vez cunhada de Patrícia Melo e Castro, adjunta de António Costa; João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, é filho do ex-ministro João Cravinho; Waldemar Oliveira Martins, ex-secretário de Estado das Infraestruturas, é filho do ex-triplo ministro Guilherme Oliveira Martins; Ana Isabel Marrana, ex-mulher do ministro do Meio Ambiente e Transição Energética, foi chefe de gabinete da ex-secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Célia Maria Gomes de Oliveira Ramos; Rosa Zorrinho, ex-secretária de Estado da Saúde, é mulher do eurodeputado socialista, Carlos Zorrinho;
  4. Se, aqui chegados, o leitor perguntar o que relaciona os três pontos anteriormente abordados, por favor, volte a ler o título. Infelizmente, às vezes, os circos pegam fogo.

*Professor do ensino superior

Comments

  1. José Peralta says:

    Aqui, eu pergunto ao Professor Santana Castilho, se tem conhecImento dos efeitos nefastos e REAIS do nepotismo, na acção do governo, agora e súbitamente, “descoberto” ao fim de QUATRO anos de legislatura, por uma direita revanchista, reacionária e em “apodrecimento” acelerado, que não tem qualquer projecto para o país, e se perde em maquinações destas, a que, o Professor, também parece querer dar voz !

    E se tem esse conhecimento, TALVEZ fosse útil fazer a premente, concrecta e necessária “explanação”, não esquecendo os corruptos compadrios do (des)governo anterior, os quais, certamente, também não ignora…

    Muito obrigado, Professor !

    • JgMenos says:

      Ó Peralta!
      Então não é evidente que leva o seu tempo a apascentar a matilha!
      Verás que na próxima legislatura a eficiência parasitária vai atingir níveis bem mais notáveis, quer em número quer em assentamento estratégico.
      Talvez te toque algum se te continuares a portar bem.

      • José Peralta says:

        Ó “menos” !

        Bateste á porta errada, como sempre ! E o “apoio” de pessoas como tu ao Professor Santana Castilho, pessoa honorável, só o desdoura e deve envergonhar…

      • E o burro sou eu ? says:

        Menos

        “apascentar matilha”

        Apascentam-se os animais que comem erva e outro pasto como as ovelhas, cabras etc
        Matilha é um grupo de cães.

        A frase “apascentar matilha” só pode ter sido escrita por um contabilista analfabeto e ignorante, como o Cruz, alias neste blog o JGMenos

        Para alem de repugnante fascista é burro….

    • Ricardo Ferreira Pinto says:

      Não esteve atento. O que o professor Santana Castilho diz deste Governo andou também a dizer, durante 4 anos, do Governo anterior.

  2. …” não esquecendo os corruptos compadrios do (des)governo anterior, os quais, certamente, também não ignora…

    Muito obrigado, Professor ”

    Apoiado, José Peralta !

    • JgMenos says:

      Se uns roubam, por que não eu, diz o Caturra, paladino da realpolitik.

      • abaixoapadralhada says:

        Fala por ti bandido Cruz contabilista.
        Deves a andar a enganar os trouxas dos teus clientes

  3. JgMenos says:

    A questão 1) é uma prudente entrada para que se saiba que 2 e 3 são contributos de um verdadeiro democrata.

    A diferença entre organizações e ajuntamentos tem a ver com liberdades individuais que, irrestritas no segundo caso, são limitadas se institucionalizadas.
    É um pormenor? Será, mas convém notar que nos detalhes é que se mede o respeito pelo essencial.

    Quanto ao mais: o fascismo é uma deriva totalitária inspirada no comunismo o qual, em totalitarismo, nada lhe fica a dever.
    Mas como a abrilada descambou em higienizar o comunismo e exorcizar tudo o mais, é o que temos.

    • Paulo Marques says:

      É, o que o pós-25 de Abril mais fez foi dar liberdades e poder de controlo dos meios de produção aos trabalhadores. A começar pela banca.

      • anticarneiros says:

        Responder ao Menos é na minha opinião pura perda de tempo.
        Tem umas quantas cassetes pré gravadas e prontas a disparar e não passa disso.
        Deixa-lo falar sozinho é o mais aconselhável

        • JgMenos says:

          Já estás a perder tempo; e logo tu que nem cassate tens.

          • anticarneiros says:

            Oh Burro Cruz

            Tu sabes o que é uma “cassate” ?

            Não será cassete, anormal ?

      • JgMenos says:

        Começaram pelo mais fácil: brincar com o dinheiro dos outros.

        O que eu gostava de saber é quantos desses ‘controladores’ se contam hoje entre cooperativistas, UCPs e demais modos socialistas ou socializantes de produção. Também o número de comissões de trabalhadores efectivamente activas seria interessante de conhecer.

        Sei de alguns trabalhadores dessa época que são hoje empresários – a começar pelo presidente da CIP – mas isso são vitórios do modo capitalista de produção.

  4. Aurélio Lopes says:

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