Marcelo e as greves

O Presidente da República comentou a greve dos motoristas. É natural: ainda há pouco comentou o jogo da Supertaça entre Benfica e Sporting. Amanhã, comentará a actuação do nadador-salvador na Praia de Monte Gordo, aquele já mais próximo de Vila Real de Santo António.

Começou por afirmar que os fins são legítimos, considerando que isso não é suficiente. Se bem entendi, Marcelo reconheceu que os motoristas têm razões para protestar, o que quer dizer que estão a ser alvos de injustiças. Que isso não seja suficiente já me parece mais estranho, mas esperemos.

Depois, diz que o recurso à greve deve ser ponderado e não exagerado, deixando implícita a ideia de que os sindicatos que convocaram a greve podem não estar a ser sensatos, ao contrário, depreende-se, de quem não lhes quer dar aquilo a que têm direito, porque, relembre-se, as razões da greve são legítimas.

Finalmente, afirmou que exageros destes – que estão por provar – levarão a que os portugueses possam não se sentir solidários com os grevistas. Quem está convencido da justeza da sua luta não precisa da simpatia de ninguém. As sufragistas foram amplamente criticadas, mas, segundo a teoria marcelista, deveriam ter comido e calado, por serem tão impopulares.

Voltando ao princípio, há uma pergunta fundamental: as reivindicações são justas? Se sim, o Presidente da República e o governo deveriam fazer declarações públicas no sentido de obrigar a que tenham reposta. Em vez disso, como é costume, preferem criticar os injustiçados, tendo, muitas vezes, o apoio de democratas distraídos.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    O comum neste país é os órgãos de soberania dizerem que não interferem nas reivindicações laborais do sector privado, para logo de seguida mandarem os seus “pareceres” a condicionar qualquer ação nesse sentido. Nada de novo. Isto é dos manuais de hipocrisia política. Mas não fiquemos por aqui, a CS de reverência já se pôs a jeito, tentando também ela explorar até ao tutano aquela “virtude” muito portuguesa, “a minha reivindicação é mais justa que a tua, logo, vai-te lixar mandrião que já ganhas o suficiente”!
    Para completar o enredo virão os “Menos” deste país declarar que a inveja da classe trabalhadora sobre quem tem o poder do dinheiro é tão soberba, que os querem levar à ruína.

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    É lamentável que, no exercício de um dever consignado na constituição, este personagem venha imiscuir-se de um modo viperino – como é seu timbre – agitando todo o tipo de medos. Este fulano, não é um personagem qualquer. É suposto ser o presidente dos portugueses e uma coisa é meter-se na discussão, tal como fez o governo, para limitar impactos. Outra, é passar a mensagem dos papões e dos temores. Era assim (e é assim) que a igreja funciona e por isso, já muito pouca gente crê nela. Por isso ele tão afanosamente beija a mão das autoridades eclesiásticas, pois tem os mesmos tiques. Simplesmente vergonhosa a sua actuação como comentador só que agora, a num posto que deveria forçá-lo a ser comedido.

  3. Anonimus says:

    O que são reinvindicações justas?

  4. Luís Lavoura says:

    há uma pergunta fundamental: as reivindicações são justas?

    Essa não é a única pergunta fundamental. Cabe também perguntar se a forma de luta última (a greve) é adequada e atempada em face das reivindicações.

    Neste caso, não é. Porque o patronato está disposto a dar aos trabalhadores aquilo que eles querem para 2020. Os trabalhadores exigem mais para 2021 e 2022, e é isso que o patronato não está disposto a dar (agora). Ora, ainda que aquilo que os trabalhadores querem para 2021 e 2022 seja justo, não é adequado e atempado fazer uma greve com um ano de antecipação.

    • Ana A. says:

      Os tempos adequados para reivindicações já passaram à história!

      Quando os sindicatos estão livres do “jugo” partidário, vale tudo até “arrancar olhos”!

      E é assim que deve ser! Livre e poderoso, o povo é quem mais ordena!

      • Julio Rolo Santos says:

        O povo é quem mais ordena é um slogan cada vez mais em desuso porque deixou de ser genuíno. Agora caímos no “quem tem unhas é que toca viola” e quem não tem?

        • Ana A. says:

          Pois aí é que reside o cerne da questão: todos temos de ter direito a “ter unhas”…e já agora, a viola!

          • Julio Rolo Santos says:

            Sim mas nem todos temos unhas e, como tal, não podemos tocar viola e as desigualdades, entretanto, vao-se acentuando. Como resolver esta situação?

        • Ana A. says:

          “Como resolver esta situação?”

          Existe o velho ditado:

          “A união faz a força!”

          e ainda um pensamento que se atribui a Mahatma Gandhi:

          “A Força não vem da capacidade física, ela vem de uma vontade inabalável.”

          Na verdade o que está em causa é que nas sociedades materialistas e individualistas não se pode esperar nada mais do que a luta mesquinha pelo nosso bem-estar individual em detrimento do bem estar no seu conjunto: Humanidade!

          Como resolver isto? “Reciclar” os valores vigentes e ver mais além do que o “nosso quintal”?!
          Não sei e aceito sugestões!

  5. António Lopes says:

    E os “Correios da Manhã”, misteriosamente, ainda não descobriram quem são os mentores desta greve.
    Um presidente do Sindicato que até ao final de 2017 (Data NIF/NIPC Entidade Concelho Acto/Facto
    2017-11-08 505785242 TRANSPORTES FRANCISCO SÃO BENTO, LDA Vila Franca de Xira Dissolução e encerramento da liquidação) era “patrão” e um vice-presidente acusado de burlas e que deixou a “arder” antigos empregados.
    Lendo os “links” seguintes, isto não será um caso de polícia?
    https://zap.aeiou.pt/lider-camionistas-greve-advogado-252709
    https://transporteportugal.com/empresa-transportes-francisco-sao-bento-em-lisboa-11561

  6. Julio Rolo Santos says:

    Cada português tem razões de protesto mas nem todos são irracionais a menos que se proteste por protestar. Então a que conclusões chegamos,?

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