Viver acima das possibilidades é a senhora vossa mãe!

 

O Novo Banco perdoou uma dívida de 25 milhões de euros à Clínica Maló. O Estado emprestou 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução para a injeção de 1.149 milhões de euros no Novo Banco. Pelo meio, há umas histórias que ainda incluem Joe Berardo e Luís Filipe Vieira, entre outros.

Um banco não é menos do que uma pessoa, penso eu, e será, no mínimo, um animal. Não sei se o PAN incluirá os bancos nas pessoas ou nos animais, mas acredito que uma instituição constituída por pessoas (não sei se haverá instituições sem pessoas, mas isso agora não interessa nada) terá sempre qualquer coisa de humano, o que pode não ser bom, porque os humanos estão cheios de doenças. Um banco poderá estar abrangido, portanto, pelos direitos humanos, que um banco também é gente.

Se uma pessoa, mesmo que seja gente, tiver uma dívida, está em condições de perdoar, por sua vez, a um devedor? Imagine o leitor que emprestou uma quantia a um amigo ou a um conhecido (não sei bem se um banco poderá ser amigo de alguém, mas terá conhecimentos, será conhecido) e que esse amigo ou conhecido, não tendo ainda pago o que lhe deve, lhe diz qualquer coisa como “Aqui há tempos, emprestei uns dinheiros a Fulano, mas como o gajo andava um bocado à rasca, perdoei-lhe parte da dívida.” Algumas pessoas são assim; têm um vocabulário limitado, é verdade, ficam-se por um pedestre “gajo” ou um subterrâneo “à rasca”. Os bancos não são melhores, são só pessoas.

O leitor, se fosse uma pessoa muito educada, poderia dizer-lhe qualquer coisa como “Ó caríssimo descendente de uma senhora que negoceia os próprios orifícios corporais para prazer de um batalhão de formidáveis machos, ó meu querido filho de um cavalheiro de cujo crânio nascem duros apêndices próprios de animais ruminantes, então o meu amigo, filho daquela mãe e rebento deste pai, deve-me uma avultada soma, não me paga, empresta dinheiro a terceiros que não nenhum de nós os dois, prossegue com ausência de pagamento da minha dívida e ainda perdoa uma dívida ao tal terceiro sem me pagar primeiro? Saiba que tenho pelo meu estimado amigo a mesma estima que me suscita um verme repugnante que parasite uma qualquer bicheza que se passeie pelo recto de um suíno numa pocilga apertada e raramente sujeita à necessária higiene.”

Felizmente, o leitor é uma pessoa de fino trato, porque um devedor destes, que até pode ser um banco, mereceria outros tratamentos, abordagens diferentes, insultos adoravelmente disfémicos, talvez mesmo umas bengaladas.

A talhe de foice, aproveito para lembrar ao leitor que há por aí muita gente, mesmo pessoas, que quer convencer-nos de que os gestores privados é que são o último grito e que reside na gestão da coisa pública toda a desgraça. Será, pergunto eu ao leitor tão informado quão generoso, que o Novo Banco, a Clínica Maló, Joe Berardo e Luís Filipe Vieira pertencem ao Estado? De certo modo, sim, porque estão a ser sustentados por nós.

Não vá já, ó extraordinário leitor! Junte a este lindo cenário os perdões à EDP ou o atrevimento da Cofina e diga lá qualquer coisa sobre os reluzentes asnos que andam a dizer que o leitor e eu e tantos outros andamos alegremente a viver acima das nossas possibilidades. Por mim, contenho-me e limito-me a mandá-los todos para a puta que os pariu!

Comments

  1. Fernando Monteiro says:

    Puta que os pariu

  2. Pois não pode. A lei até faculta ao credor o direito de accionar os devedores do devedor se este o não fizer.
    Isto ( essas poucas vergonhas ) é um assunto.
    Outro assunto é o viver acima das posses, frase que casou muitos engulhos, já que muita gente achou que lhe estavam a chamar “desgovernada” ou outro adjectivo de semelhante.
    A verdade, porém, é que se estas faltas de vergonha do NB e outros proporcionam a uns poucos que vivam do que não têm, a crua realidade é que, mesmo que não houvesse corrupção, favores, etc., mesmo que fôssemos uma Suíça, a nossa economia não suporta o estado social que temos ( ou tínhamos ).

    • Paulo Marques says:

      A nossa economia o que não aguenta é o desperdício de tantos recursos humanos enquanto as infra-estruturas ficam velhas e com defeitos que ninguém inspeciona.

  3. Carlos Almeida says:

    ” a nossa economia não suporta o estado social que temos ( ou tínhamos ).”

    Ligeiramente fora do tópico, é verdade, mas como se percebe que a “economia” suporte os perdões das dividas dos grandes caloteiros à banca como o ultimo caso conhecido da Maló Clínica e o Novo Banco.
    Nunca tive conta nessa máfia bancaria, mas se tivesse era hoje que acabava

  4. JgMenos says:

    Perdoar incobráveis é um ESCÂNDALO!
    Os incobráveis ficam sempre bem em qualquer balanço!
    São uns mafiosos que andam a enganar as pessoas, os trabalhadores e a mães não sei de quem!

  5. Evadne Penteado de Camargo says:

    Todo esse compadrio só leva a um único destino : a decadência e destruição de um País ! Aqui no Brasil já a isto tudo vivenciamos. A corrupção é tamanha que persiste em continuar, pois está entranhada em todas as camadas da Sociedade. Aqui denominamos a isto de ORCRIM. Lutem para eliminar esse cancer de seu País ! Resistam Portugueses !

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