Pedro Bingre do Amaral fez ontem um esforço tremendo, nas declarações que proferiu pelo Canal 2, para evitar dar razão póstuma e apócrifa a Angela Merkel, Passos Coelho e Vítor Gaspar. E, já agora, a António Costa.
É verdade que usou o termo “frugalidade” em vez de “austeridade”, precisão linguística com que procurou contornar o determinismo escatológico e judaico-cristão da Goldman Sachs, inflectindo para uma epistemologia neo-budista, com crescente aceitação, aliás, entre os filhos da encriptação dos dados com que Deus, segundo dizem, nunca jogou.
Concluiu, sem surpresa ou desilusão, que os pobres devem manter-se assim, pobres. E que o seu número deve diminuir por via do controlo vital, ou seja, esperando que os que existem morram e impedindo que, antes disso, se reproduzam. Nem que para tal seja forçoso vaciná-los contra o bicho mau.
Não é certo que não tenha razão.
Não se percebe, aliás, nada disto.
Entretanto a vida, essa brutalidade carbónica, emergiu em Lisboa de um caixote do lixo pelas mãos, precisamente, de um frugal.
Tolentino será Papa.
Obrigado, Bruno.
Com este texto, levou-me a ver o último Jornal da Noite, da RTP2, algo que faço com pouca frequência. Obrigado também pela sua prosa, sempre tão rica em vocabulário pouco usual na nossa CS, a não ser quando é o Pacheco Pereira. Quando o leio, Bruno, tenho de ter sempre um dicionário ao pé de mim, não vá o meu amigo “baralhar-me o raciocínio”.
Obrigado também ao Pedro Bingre do Amaral, pela sua entrevista.
Depois de ouvir o Pedro, quarta á noite, dissiparam-se todas as dúvidas na minha moleirinha, se as houvesse, sobre como alcançar a eternidade. Não a minha, mas a do planeta.
Comer com parcimónia, uma das coisas mais comuns nos pobres, a não ser quando estão famintos, claro, mas aí compreende-se, fornicar de preferência pouco e com preservativo, mas sempre de forma regrada, é a receita para não darmos cabo disto tudo.
O problema é mesmo haver uma pobreza endémica à escala global, onde os pobres não podendo alcançar um patamar de dignidade aceitável, limitam-se a “enfardar” uma quantas entremeadas ou moelinhas, quando podem, por norma no início do mês, e fornicam sem apelo nem agravo, nas horas vagas, porque ir ao cinema e ao teatro está caro.
A frugalidade muito bem recomendada por Pedro Bingre do Amaral nada tem a ver com a austeridade propugnada por Merkel e Vítor Gaspar. Porque a austeridade deles é somente para o Estado – não é para os privados. É o Estado quem, no entender deles, tem que ser austero, poupadinho – os privados não. Pedro Bringre, pelo contrário, exige frugalidade para todos.
….gosto deste tipo de crítica de fazer arrepio na espinha, quase tipo humor negro e gelado, para nos fazer parar e reparar na crueza da realidade destes dias .
A exemplo no pormenor /pormaior desta frase dura e crua de Bruno Santos :
…”Entretanto a vida, essa brutalidade carbónica, emergiu em Lisboa de um caixote do lixo pelas mãos, precisamente, de um frugal….”
porque chama a atenção para a um acontecer real que passou despercebido, aonde fica denunciada essa ausência de patamar de dignidade aceitável nunca alcançado pelos pobres … e para o seu contrário, na hipocrisia da apresentação discursiva de soluções pseudo humanistas/virtuosas apresentado .neste
…” determinismo escatológico e judaico-cristão da Goldman Sachs ” !
Felicito estes dois textos e seus autores, Bruno Santos e Rui Naldinho, que me fizeram sorrir sofridamente … e pensar !
…e posso ainda acrescentar este post recomendável (com a devida consideração pela autora ) porque no âmbito desta sensibilidade humanista que se exige a todos nós, os de boas vontades :
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2019/11/parlamento-europeu-e-votacoes-sobre-o.html
“Tolentino será Papa” ! – Bruno Santos dixit .
Mais um bom momento de leitura que o Bruno nos ofereceu.
Obrigado por isso.
Permita-me uma pequena discordância.Deus joga mesmo aos dados. Nós é que ainda não conseguimos entender as “dimensões da mesa” para onde Deus os lança.
Pobres sempre os tereis–.Palavras do Senhor.
Um poeta a governar a nau de Pedro tão arrombada ?
Mas é permitido aos poetas (e filósofos) governar ?
Tolentino agora sim, entre saduceus e fariseus.
Não terá mais a proximidade dos simples,cara Adília barata Rosa.
Åmen.