Do país de origem aos testículos ou contributos para uma retórica reaccionária

Nem todos podemos ser pessoas civilizadas: uns não receberam educação em pequeninos, outros fundaram o Chega. Sendo pouca a esperança de que estes pobres desgraçados cheguem à civilização (nada que, ao longo da história, os tenha impedido de chegar ao governo), é nosso dever, cristãmente, deixar alguns contributos para que possam exercer ainda mais cabalmente a sua incivilidade, para que possam continuar a sonhar com o direito a acabarem com os direitos dos outros.

Joacine Katar Moreira defendeu que Portugal deveria devolver património às ex-colónias. André Ventura, por discordar, propôs que, em vez disso, Joacine fosse “devolvida ao país de origem”. É natural que André Ventura, sendo orgulhosamente reaccionário, não se aperceba verdadeiramente da desproporção entre o teor da proposta de Joacine e o conteúdo da sua crítica. Uma qualquer desconfiança ainda o levou a dizer que referência à deportação era ironia.

É claro que, para um reaccionário, país e origem são conceitos muito simples e, no caso em apreço, nem sequer é importante saber que Joacine é cidadã portuguesa ou que as nossas origens são tão incertas que nos arriscamos a ter antepassados africanos, nórdicos, asiáticos ou outros, numa provável mistura que faria vomitar um reaccionário, se perdesse algum tempo a pensar no assunto, deus nos livre e guarde e salazar nos proteja, sempre vigilante.

Seja como for, querendo, apesar de tudo, ajudar o pobre reaccionário, gostaria de lembrar que o verdadeiro país de origem de cada um de nós poderá estar nos testículos paternos, donde partiu o corajoso espermatozóide que já fomos, cheio de quase nada, carregado de esperança, numa fuga em frente que termina numa colisão que é, ao mesmo tempo, morte e vida. Assim, poderá o reaccionário desejar que o oponente regresse a esta origem, cujo termo técnico, em bom reaccionarês, é “os colhões do teu pai”.

Por outro lado, e se o reaccionário, distraído, sentir um inesperado laivo de empatia, e se se preocupar com o conforto do adversário, há a possibilidade de lhe desejar o retorno à tepidez do líquido amniótico ou, para que o reaccionário possa perceber, “a cona da tua mãe”.

Deixo aqui estes breves apontamentos, pedindo desculpa por não conseguir mandar André Ventura para o seu país de origem, porque não há viagens que lhe permitam privar com Hitler nos comícios de Nuremberga, ou gritar vivas a Mussolini nas praças da Cidade Eterna.

De qualquer modo, André Ventura está rodeado de gente que acredita que as ex-colónias deveriam continuar a fazer parte do território nacional, um Portugal do Minho a Timor. No fundo e em verdade, talvez André Ventura esteja, afinal, a querer que Joacine fique em Portugal, regressando à Guiné.

Comments

  1. António João Soares says:

    Mas afinal, sendo essa tipa deputada deve sentir-se obrigada a defender os interesses dos portugueses e preparar-lhes um futuro mais feliz. Mas, infelizmente, como a maioria dos seus colegas de hemiciclo, essas funções são postas de lado e o que lhes interessa é imagem e dinheiro, é tacho e ambição de reforma vitalícia.

  2. Pedro Vaz says:

    António Fernando Nabais tem tacho no Ministério da Educação, quem tem tacho dado pelo neo-feudalismo Globalista obviamente não gosta do Chega por razões muito óbvias não é? Já agora, se querem saber porque os miúdos estão cada vez mais burros é porque o Sistema Globali$ta encheu a educação de pessoas como o António Fernando Nabais…escravo bom é escravo burro.

    • António Fernando Nabais says:

      O Pedro é um escravo bom.

    • POIS! says:

      Pois, o Sistema Globaleiro é mau!

      O António Nabais não gosta do Chega mas devia gostar. É que Herr Ventura apresentou na AR diversas propostas que visam premiar os detentores dos tachos no Ministério da Educação, tais como o desbloquamento da carreira tachista e o pagamento de um subsídio aos tachistas deslocados de casa!

      É uma das provas de que o Sistema Globaleiro já se instalou por todo o lado. A outra são os doutos comentários produto da vesguice ignorante de Vosselência, entre outros que se vão CHEGANDO à frente.

      Ora atente-se nesta citação: “DEFENDER O REGRESSO À EUROPA DAS LIBERDADES FUNDADORAS: a liberdade de circulação de bens, de serviços, de pessoas e de capitais. Acrescida, para quem o pretenda, de uma voluntária adesão ao euro, como até agora tem sido. Defenderemos, intransigentemente, um regresso à Europa centrada no mercado livre, concebida como um espaço de livre comércio e de concorrência fiscal”. (Manifesto da candidatura ao PE Chega/Basta)

      Se isto é combater o Sistema Globaleiro estamos conversados.

      Pois é, Xô Vaz vosselência não estará certamente no rebanho certo. Sim, porque se trata de um conjunto de reses atrás de um pastor e também porque cada um vê lá o que convém e não olha ao resto. De combate à Globareilice é que não se vê nada! E olhe que também os seus elogios ao João Maria das Canetas não batem muito certo com o programa oficial do Chega. Ou o programa é só para disfarçar foi feito por políticos mentirosos que dizem uma coisa nas campanhas e quando “chegam lá” fazeem outra?

      Um exemplo são os cidadãos fardados com tachos no Ministério da Administração Interna e no da Defesa. Gostam muito do Chega porque lhes promete resolver os problemas de estatuto e carreira. Não lhes deve agradar muito é que o Chega defenda que passem a pagar a educação universitária dos filhos e os cuidados de saúde de toda a família, com o fim do SNS!

    • Paulo Marques says:

      Como diz o POIS, mas mais resumido: se o Andrézito é anti-globalista, onde estão as propostas para controlo de capitais, cessação dos vistos gold, desfinanceirização da banca e por aí?
      Em lado nenhum, pois claro.

  3. JgMenos says:

    Todo o esquerdalho é especialista em saber o que os outros pensam.
    Mas a maior especialidade é mesmo jogar com palavras.
    Ter a nacionalidade portuguesa e ser serventuário de uma outra qualquer nação, se convém, é um oxímoro.
    Ter tido colónias e não ter remorsos, é outra impossibilidade para a canalha esquerdalha.
    Ser uma preta racista, é outra impossibilidade, só típica de ser pensada por um racista branco.
    Mas sobretudo, se ‘lá fora’ se fala em devolver, qual o progressista que não acorre a lançar uma questão de que se ‘fala ‘lá fora’?

    E aqueles rapazinhos que chegam ao Algarve, regressando à terra dos seus antepassados? Lá chegarão,,,

    • POIS! says:

      Ora pois, mais uma revelação!

      Citandooo-oo-JgMenoooos :”Ter tido colónias e não ter remorsos, é outra impossibilidade para a canalha esquerdalha”.

      É algo que nos escapou a todos! Quem diria que o JgMenos teve colónias! O que ele não deve ter sofrido para sustentar aquela malta toda!

      Ainda havia de ter remorsos? Ora essa!

    • POIS! says:

      E mais uma coisa, pois!

      Todo o direitrolha é especialista em saber o que os outros pensam. E a prova é o supra comentário de JgMenos.

      Sugiro a vosselência que se dirija à igreja mais próxima para obter a água benta. O resto já tem de sobra!

    • Paulo Marques says:

      Ter mais do que uma nacionalidade nem sequer é recente, não se trata de colónias, mas de conquistas, e os rapazinhos do Algarve são ingleses, resta saber se alguém os manda para a terra deles.

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