O PS e o (a)normal funcionamento das instituições

A propósito do chumbo de Vitalino Canas e de mais alguns nomes propostos pelo PS para o Tribunal Constitucional e para outras entidades públicas, a feroz Ana Catarina Mendes rapidamente deu conta da indignação dos socialistas, acusando as restantes forças políticas de bloquear o normal funcionamento das instituições democráticas, o que me levou a concluir que a deputada desconhece o funcionamento das mesmas.

Da mesma maneira que, em 2015, me insurgi contra a desonesta narrativa da negação da democracia representativa, aquando da rejeição parlamentar do governo minoritário PSD/CDS-PP e da formação da Geringonça, manterei a coerência: o PS não tem maioria e
não quis firmar acordos com os seus antigos parceiros à esquerda, pelo que tem que se sujeitar à negociação. Sendo incapaz de o fazer, tem igualmente que se sujeitar às consequências da sua incompetência, calculada ou não. Ana Catarina Mendes pode propagandear o que bem entender que a realidade permanecerá imutável: o único partido que pode, neste caso específico, ser acusado de bloquear o normal funcionamento das instituições é o PS.

Porque em democracia, o normal funcionamento das instituições depende, em casos como este, da deliberação da maioria do parlamento. E se o PS é incapaz de negociar, optando por tentar impor a sua vontade aos restantes, não pode esperar outro desfecho. Aliás, o desastre ficou bem evidente no resultado da votação, na qual o número de votos favoráveis foi inferior ao número de deputados socialistas.

Ao não procurar consensos, ao agir de forma prepotente e provocatória, em conflito permanente com a esquerda e a direita, e ao propor nomes “queimados” como o de Vitalino Canas, o governo minoritário de Costa comportou-se como se de uma maioria absoluta dispusesse. O que me leva a crer que o plano de António Costa passa mesmo por o seu governo não chegar a 2023, na esperança de conseguir uma maioria absoluta lá para 2021, se as contas continuarem “certas”, os números do desemprego não dispararem, o turismo continuar a fazer a sua parte e as Autárquicas lhe correrem bem. E, ou muito me engano, ou nada disto acontecerá. É que, não sei se já repararam, mas parece que a próxima crise financeira vai chegar mais cedo do que o previsto.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Há uma coisa que o PS tarda em perceber. Ou é teimosia, ou pior ainda é burrice.
    Em quarenta e seis anos de democracia, só por uma vez o PS teve uma maioria absoluta. O PSD teve 3. Uma de Sá Carneiro com a AD e duas de Cavaco Silva.
    Mesmo essa só foi possível, quando o PSD desceu tão baixo na consideração do centro direita português, ao propor Santana Lopes para primeiro ministro, em vez de Manuela Ferreira Leite, tendo esta mandado o PSD às malvas. Não estou a afirmar que MFLeite seria boa primeira ministra. Estou a afirmar que MFLeite é muito mais credível do que Santana Lopes.
    Para a maioria dos portugueses o PS é um pouco como um Seguro. Seja um Seguro do carro, da casa, ou de vida. É um Partido fundamental, na medida em que é um travão aos excessos da esquerda e da direita. Mas tal como os Seguros, as apólices que nos vendem estão cheias de ratoeiras, e não bastas vezes, na hora da verdade, dão o dito pelo não dito. Ou seja, prometem-nos uma coisa e fazem outra.
    Eu tenho sérias dúvidas de que o PS tenha nos próximos anos qualquer maioria absoluta. Como também não acredito que a direita chegue ao poder tão cedo. Qualquer um deles vai ter de aprender a negociar. Eu sei que lhes custa, mas essa é a verdadeira essência da democracia. Chama-se Partilha.

  2. Ana A. says:

    Maiorias absolutas?! Só se o eleitorado for mesmo muito burro…

    • Rui Naldinho says:

      Pois, Ana
      Já tiveram tempo de aprender. Se não aprenderem só se podem queixar-se deles próprios.

    • Maiorias absolutas? Só se o eleitorado fosse mesmo inteligente.
      Ainda hoje não havia Ponte Vasco da Gama.
      Deviam passar os intermináveis “Prós e Contras” da altura.
      Aconteciam todas as desgraças e, afinal, até os pássaros gostaram.
      Sempre igual, com a Ponte, o TGV, o Aeroporto…
      Os génios do contra de agora, há 10 anos asseguravam que o Aeroporto de Lisboa dava para mais 50 anos.

      • Rui Naldinho says:

        O que determinou a construção de obras ditas de regime, seja a Ponte Vasco da Gama, as Auto Estradas, o Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, ou mesmo o Metro nesta área metropolitana, foram os fundos Comunitários. O resto é treta.
        Pensar-se que foram as maiorias absolutas a determinar o investimento, só mesmo para ingénuos.
        A UE que financie a 70% um novo aeroporto na zona de Lisboa, e vai ver se ele não passa logo para Alcochete.
        Diga antes, a privatização da ANA foi um negócio lesa pátria. Nem ao menos garantiu um investimento que acomodasse numa parte dos lucros retirados, a construção de um aeroporto de raiz, mesmo que por fases. Depois é vê-los nos Conselhos de Administração da ANA.

        • Mas há algum problema com o financiamento do Aeroporto do Montijo?
          Quem vai pagar aquilo é a ANA e, concordando consigo que a privatização da ANA foi um negócio de lesa Pátria,
          pergunto-me se este alarido repentino contra o Montijo não terá por detrás a interesses da ANA que quererá adiar “ad eternum” esse custo.
          Por mim tanto me faz -porque não sei dizer qual a melhor localização- ser na OTA/Alcochete/Montijo ou Monsanto.
          Esqueci-me, no 1ª post, do Alqueva cuja obra foi objecto da mesma guerra de idiotas e, quanto ao Montijo, como alentejano, apenas diria:
          “Construam-me, porra”

  3. Paulo Marques says:

    Coitada, esqueceu-se que não estava na comissão europeia, onde esta coisa de parlamentos e representação não interessam para nada.

  4. Pedro Vaz says:

    João Mendes a fazer a clássica “oposição controlada” para disfarçar…

  5. Julio Rolo Santos says:

    Para formar governo não é suficiente ganhar as eleições, é preciso ter maioria absoluta ou uma maioria parlamentar. Quando a dupla PSD/CDS tentaram formar governo esqueceram-se que não tinham maioria absoluta e desconheciam que só o podiam fazer juntando outros apoios parlamentares, o que não conseguiram. Antonio Costa aproveitou a inabilidade da dupla PSD/CDS e apesar de ter perdido as eleições, teve a habilidade de negociar apoios parlamentares que lhe permitiram formar governo com maioria capaz de lhe aprovarem os orçamentos anuais e poder levar a governação até ao fim da legislatura. Desta vez e apesar do PS ter ganho as eleições, António Costa esqueceu-se de que não tem maioria absoluta e ignorou que os seus anteriores parceiros não estavam dispostos a passar-lhe cheques em branco. Daí a situação atual que poderá descambar num desaire governativo.

    • Pedro Vaz says:

      BE é Globali$ta desde o primeiro dia (Louça e Portas são/eram pedófilos chantageados do SIS (aliás o dois Portas são/eram)) e o PCP já se vendeu faz muito tempo…não se preocupe que a coligação está segura. O BE e PCP falam muito mas é só teatro para o gado…

      • POIS! says:

        Pois, tá a ver a sorte que tem? Ainda se queixa do BE e do PCP?

        Afinal ainda há quem se preocupe em produzir teatro para gente como V. Exa!

        Quanto ao resto Herr Vaz espera-se que tenha provas das atoardas que aprendeu lá nas redes e jantarícios do Chega, e que pensa que pode mandar de modo irresponsável. A venturosa grunhice já está a fazer escola mas não pense que vai ficar impune!

      • Paulo Marques says:

        Só não é globalista quem acha que a residência se vende por 50000€, né Pedro?

  6. JgMenos says:

    O amigalhaço de Sócrates para o TC?
    Mais um passo na defesa da matilha.

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