A transferência de Cristina Ferreira e o capitalismo subsídio-dependente

CFe

Foto: Expresso

A Plural Entertainment, empresa de produção audiovisual detida pela Media Capital, dona da TVI e da Rádio Comercial, entrou em lay-off em Abril, situação que se prolongou por dois meses. Escusado será dizer que, durante esse período de tempo, foram os contribuintes portugueses quem garantiu os salários dos trabalhadores da Plural – que perderam, em média, 30% dos seus rendimentos – a que acrescem 3,3 milhões de euros do pacote de 15 milhões que o governo destinou para apoiar a comunicação social com compra antecipada de publicidade.

Temos, então, uma empresa privada, a Media Capital, duplamente apoiada pelo Estado, cuja actividade directamente relacionada com a empresa sujeita ao regime de lay-off, a Plural, se manteve, ininterruptamente, e, é seguro dizer, com audiência reforçada, devido ao confinamento. Enquanto milhares de empresas portuguesas eram (e continuam a ser) directa e violentamente prejudicadas pelas ondas de choque da pandemia, mergulhadas em situações aflitivas e de pré-insolvência, o Estado assegurava os salários dos trabalhadores da Plural, apesar da sua actividade se manter sem grandes alterações ou impactos, ficando ainda privado das respectivas contribuições para a Segurança Social.

Mas esta história não se fica por aqui. Segundo a CGTP-IN, que acusa a Plural/Media Capital de perseguição e discriminação de sete trabalhadores sindicalizados, existem outras irregularidades que passaram por entre os pingos da chuva:

Durante todo o lay-off foram inúmeras as substituições dos trabalhadores em funções. Enquanto o Estado financiava o lay-off, a empresa, com actividade em algumas produções, ao invés de levantar o lay-off aos trabalhadores necessários, recorreu a prestadores de serviços para efectuar as funções dos que integram os quadros. Ocorrência tácita nos créditos/fichas técnicas das produções. Igualmente, o incumprimento da lei originou queixa à ACT.

Perante este cenário, a transferência de Cristina Ferreira, que regressa à TVI na qualidade de apresentadora, directora de entretenimento e ficção e accionista, passando a ocupar uma cadeira na administração da Media Capital, para auferir um salário bruto na casa dos 3 milhões de euros, é indecente e um insulto à situação actual do país. Miguel Poiares Maduro resumiu bem a situação:

Os bancos que receberam auxílio financeiro do Estado ficaram sujeitos a tetos salariais. Mas ninguém parece incomodado com contratações milionárias por empresas de media que ainda há pouco reclamavam e receberam auxílios públicos.

Eis o capitalismo subsídio-dependente em todo o seu esplendor! Um capitalismo parasitário, que coloca trabalhadores em lay-off sem necessidade de o fazer, colocando o ónus no Estado, que tem empresas e famílias verdadeiramente aflitas para acudir, e que estende a mão, qual sem-abrigo, para receber do Estado uma quantia astronómica, praticamente igual à que passará a entregar anualmente à apresentadora, para não falar das acções e outras regalias que a mesma receberá. Lembrem-se disto quando a verdadeira crise chegar, lá para o final do Verão, e vos disserem que andaram a viver acima das vossas possibilidades. A narrativa é e será sempre a mesma.

Comments

  1. José Monteiro says:

    No coments.
    De vento em pôpa*, a Nova Economia
    ou economia de puta madre.
    * Resposta de Melo Antunes, com doença final,
    à tola pergunta de alguns: como vai?
    Que um dia a Bastilha seja com eles/as.

    • Rui Naldinho says:

      Não penso que este povo levante, como os Franceses na Bastilha. O melhor que conseguimos em 900 anos de História, foram aqueles quarenta bons rapazes a atirarem o Vasconcelos pela varanda fora, e foi porque estávamos debaixo do jugo espanhol.

      • Rui Naldinho says:

        …que este povo se levante…

      • Paulo Marques says:

        Basta ver a quantidade de pessoas que preferiam destruir o país a um acordo mínimo e insuficiente na zona económica comum.
        Se calhar estamos melhores como colónia, não temos auto-respeito nenhum.

  2. Paulo Marques says:

    Interferir na comunicação social já é bom quando é ideia da direita, dizem Rio e Maduro.

    • POIS! says:

      Pois é caso para cantarmos:

      Que parelha bestial,
      Nos reserva o futuro!
      O maduro cai ao rio,
      O rio leva o maduro.

      • Jacquerie says:

        “… O rio fica maduro.” Na minha modesta opinião “ficava” melhor mas muito boa escrita e desculpe opinar/criticar sobre uma poesia/criaçao sua.

        • POIS! says:

          Pois então continua assim:

          Se o maduro caísse,
          Ao rio, e fosse a nado,
          O rio ficava maduro,
          E o maduro molhado.

  3. Julio Rolo Santos says:

    Até aonde vai a ambição da Cristina? Não se põe em dúvida a sua competência, já a demonstrou como dupla com Goucha, e, posteriormente, na SIC. Mas os milhões que vai receber estão desajustados com a realidade portuguesa, que é de salários muito baixos.

    • Fernando says:

      E que competência que esta Cristina tem? Competência em ser histérica e fútil e ganhar milhões por isso?

      Muito gostam de sobrevalorizar tipos e tipas só porque aparecem na TV.
      Durante anos fizeram o mesmo com o Espírito Santo. Também era muito competente… a roubar o próprio banco…

      O que vi desta Cristina posso dizer que está associada a produtos de baixa qualidade, o que não me surpreende tal é o panorama cada vez mais medíocre da comunicação social…

      Cristina Ferreira é um símbolo do tempo actual, uma que ganha milhões a degradar o sector a que se dedica.
      Várias outras indústrias estão a ser degradadas exactamente pela cultura que produz as Cristina Ferreiras.

  4. Tem toda a razão: não há trabalho não há salário! Rua!
    Essa é que é a economia natural .

    Palhaços!

    • POIS! says:

      Ora pois!

      Eis a tartaruga JgMenos a gritar bem alto loas a Darwin! Não é que se esperasse outra coisa.

      Não tarda está é a chular a Segurança Social a partir das Galápagos!

  5. Albino manuel says:

    JgMenos

    E acabar com os contratos de associação com os colégios. Vão comer 0ara outro lado.

    Fora que vai sendo tempo de olhar para as isenções fiscais da concordata.

    Travestis!

    • O que tu queres é emprego público, mama com aval de impostos

      • POIS! says:

        Pois tem V. Exa. toda a razão!

        Continue, JgMenos a dar o inestimavel exemplo de mamar, mas sem aval! O bom trapezista não precisa de rede!

  6. Cambada de tadinhos sempre a choradeira de vitimados!

    • Democrata_Cristão says:

      Tadinho do negas !

    • POIS! says:

      Pois tem V. Exa. toneladas de carradas de razão!

      Há mais de meio século a culparem uma cadeira! Pensavam que a PIDE os protegia toda a vida e nada fizeram! Era só mamar “Cucas” e empinar caranguejos lá pelas áfricas, que o jantar fazia-o o preto! Estavam à espera de quê?

  7. Albino manuel says:

    Este panascas limpou o rabo à doutrina social da igreja. Pelo menos é sincero: alivia a barriga nos pobres.

  8. Albino manuel says:

    É por estas e outras que têm que importar padres de África. Cá ninguém quer.

  9. Maria da Luz Moutinho says:

    Mas o que esta histérica ….vale algum chavo??
    Ela é accionista da TVI …comprou acções…
    Temos uma comunicação social cada vez mais afunilada!!
    Diz umas baboseiras ri-se com histeria e pronto é assim!!
    Ao ponto que chegou esta sociedade e o povo?? Endeusam pessoas sem mérito, embrutecem e qualquer pedante ganha milhões e são medalhados no 10 de junho!! Esta comunicação social não se enxerga, virou um autêntico circo!!

    • Rui Naldinho says:

      Assino. A mediocridade faz um figurão, neste país.

    • Daniel says:

      É o sonho americano/capitalismo selvagem onde vale tudo e tudo se vende!…
      Não é assim nos EUA onde há carradas de “vedetas” milionárias, que são autênticas nulidades e que enriquecem a espalhar estupidez e ignorância pela carneirada??
      O Trump que o diga…
      E agora com as redes sociais, YouTube’s, etc, nem se fala!…

  10. Filipe Bastos says:

    O entretenimento é, sempre foi, sobrepago – uma palavra muito necessária em Português: overpaid. Em casos como o desta bronca mamona, obscenamente sobrepago.

    Isto tem três problemas:
    1) é errado e imoral – estes palhaços ricos mamam num ano, num mês ou num dia o que 99% da população não ganha numa vida inteira inteira de trabalho a sério;
    2) distrai as massas do que interessa – estão demasiado ocupadas a babar-se por Cristinas, actores, futeboleiros e outros ‘astros’;
    3) normaliza socialmente a desigualdade extrema.

    Mas ninguém se importa. A carneirada come tudo. Até os comunas do Aventar nunca parecem ralados com isso. Qualquer crítica é vista como ‘inveja’, na habitual confusão desta com justa indignação.

    Além de limitar os salários e a riqueza, é urgente ir buscar a riqueza excessiva e imerecida das Cristinas, dos Ronaldos, dos Mexias, de todos os mamões que gozam com o pagode. Ontem já era tarde.

    • Paulo Marques says:

      Uma coisa é melhorar os padrões da comunicação, a começar na pública, e cobrar impostos que impeçam distorção de poder e influência na sociedade.
      Outra coisa é culpar um trabalhador, de quem não tenho grande simpatia a nível profissional, muito menos gosto, por fazer pela carreira. Faz muito bem.

      • Topem-me este cromo!
        Desde que seja ‘carreira’ é sempre a mamar.
        Já se tem riqueza, se tem poder que possa atrapalhar os carreiristas, há que o esfolar com impostos.

        • Albino Manuel says:

          Então mas a Santa Madre Igreja e o seu Concílio de meados do século passado não falam na opção preferencial pelos pobres?

          Quer dizer, é preferencial, só isso, não mais e é para esquecer.

          O engraçado é que as universidades privadas pagam todas impostos. Menos uma; a da Concordata. Essa está isenta. Então onde está a igualdade perante a lei? Onde está a igualdade de concorrência? E que dizer dos hotéis em Fátima? Mas esta já a gente sabe que é templo de vendilhões.

        • Paulo Marques says:

          Os liberais que me expliquem porque é que um empregado deve lealdade a alguém, não faz parte da teoria dos agentes racionais de mercado a subir pela meritocracia?
          Ou já se pode e deve mandar na comunicação social desde que não se chame Sócrates (alegadamente)?

      • Filipe Bastos says:

        “Outra coisa é culpar um trabalhador … por fazer pela carreira. Faz muito bem.”

        Fazer pela carreira? Trabalhador??

        Paulo, v. é cego, otário, ou apenas incrivelmente ingénuo?

        Às vezes não sei o que será pior: se os carneiros direitalhas se os esquerdalhas. Palavra de honra. Até o JgMenos – o JgMenos! – vê esta bronca mamona por aquilo que ela é.

        • Paulo Marques says:

          Claro, esqueci-me, é empresária e trabalha por conta própria! Já de Jesus ou do garoto do 10 de Junho ninguém pia, são coisas.

        • Filipe Bastos says:

          Empresária?! Acorde, homem: sabe o que custa a 99% das PME facturar – facturar, não é lucrar – o que esta bronca guinchadora mama num mês?

          V. vive em Portugal? Sabe quanto é o salário mínimo? E o salário médio? Terá perdido qualquer noção de razoabilidade, de senso comum, ou nunca a teve?

          O Jasus, o Ronaldo, o Mourinho, toda a canalha futeboleira é a mesma coisa. E actores, cantores, os cabides ambulantes da moda, as Kardashians da vida, tudo mamões. Tudo injusto, tudo absurdo, tudo obsceno.

          O garoto do 10 Junho não sei quem é; mas se também mamou é também para confiscar. Ontem.

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