Sobre a morte de um homem

Bruno Candé, um homem de 39, anos foi assassinado. Por acaso, era actor e tinha filhos, mas qualquer morte estúpida é um desperdício de oportunidades, um universo irrepetivelmente desaparecido. Acrescente-se que tinha a pele escura.

De um lado, afirma-se que o crime resulta de racismo, porque somos um país racista. Do outro, nega-se, grita-se, até em manifestações, que os portugueses não são racistas. Estou mais perto dos primeiros, mas já lá vamos.

Para o falecido, penso que a morte teria exactamente o mesmo efeito se se descobrisse que o móbil tinha sido outro qualquer. Os que o choram estariam a chorá-lo e continuariam revoltados, porque a morte é quase sempre uma injustiça.

Não sei se os portugueses são racistas e não sei se alguém sabe, mas sei que um racista já é um racista a mais e também sei que há muitos racistas. Também sei que poderá haver mais racistas nuns sítios do que noutros. O racismo, residual ou estrutural, deve ser combatido em todas as trincheiras, especialmente nas escolas. Mesmo que seja ou fosse residual, é preciso não esquecer que o espaço e o tempo ainda estão demasiado cheios dele.

As pessoas que estão do lado do morto têm direito a falar em racismo. Poderá haver quem se aproveite politicamente? Pode ser que sim, mas o racismo não é uma invenção e é algo que deve ser combatido – mal por mal, prefiro quem se aproveite de causas justas. Acresce que os que choram o morto têm, de qualquer maneira, todo o direito à revolta e à emoção. Os que choram este morto saberão melhor do que eu – muito melhor do que eu – se há racismo.

Do outro lado, as companhias são piores, mesmo admitindo que haja quem esteja sinceramente convencido da inexistência de um racismo estrutural. Do lado dos negacionistas do racismo, está um deputado que já propôs que um membro do parlamento devolvido à sua terra. É o mesmo deputado que afiança que temos um problema com a comunidade cigana, mas não fala dos problemas da comunidade dos banqueiros, um dos maiores problemas do país. É o mesmo deputado que partilha uma imagem (não uma ligação) de um perfil de facebook em que se afirma que Bruno Candé teria provocado repetidamente o seu assassino.

Bruno Candé é que já não pode participar nesta discussão.

Comments

  1. «As pessoas que estão do lado do morto têm direito a falar em racismo.»

    Mais do que reconhecer um direito, sugere-se que invoquem o racismo; a esquerdalhada anseia por vítimas de racismo; mais, exige que lhe completem o sortido de vítimas que lhe sustenta a sua enorme sensibilidade ao sofrimento dos outros, condição para irem metendo a mão ao orçamento.

    A doutrina dos coitadinhos em acção…

    E falando em banqueiros logo se percebe que dinheiro nunca pode ser um problema.

    Sem variantes este faduncho imbecil da esquerdalhada!

    • António Fernando Nabais says:

      Sim, Ventura.

    • POIS! says:

      Pois é!

      E a culpa do racismo até é dos próprios. Salazar bem se esforçou por os civilizar. Tanto missionário, tanto soldadinho comando, e nada! Continua tudo na mesma. Não há respeiro!

    • José Peralta says:

      Ó “menos” !

      “As pessoas que estão do lado do morto têm direito a falar em racismo.» !

      Sim ! EU estou do lado do morto ! E, não sendo da família, tenho esse direito.

      O Bruno Candé foi assassinado por um civil ! Se tivesse sido assassinado por um polícia, tenho a certeza que tu estavas do lado do polícia, porque nesse caso “não era RACISMO, era “LEGÍTIMA DEFESA POR DESRESPEITO À AUTORIDADE” !

      Por isso é que a Amnistia Internacional e os Tribunais internacionais acusam a polícia portuguesa de violência desnecessária e racismo !

      E basta uma minoria de energúmenos fardados, para manchar, conspurcar toda uma corporação !

      Que, por sua vez, SE CONSPURCA (tal como a dos os juízes e outras…) com o silêncio medroso e a solidariedade corporativa do “hoje foi com este, amanhã pode ser comigo” !

      Mas tu como é costume,, estás SEMPRE do lado errado…Estás na direitalha !

      Porque um tipo que é capaz de dizer uma abjecção como esta : – “a esquerdalhada anseia por vítimas de racismo” (mas afinal há racismo ou não há ? E vítimas ?”) Mais uma incongruência…), diz tudo sobre ti !

    • Paulo Marques says:

      As únicas vítimas a sofrer que podem meter a mão ao orçamento são os membros da CIP.

  2. Ana Moreno says:

    Belo Post, colega Aventador. 100% contigo.

  3. Ninguém quer ver o óbvio says:

    Ando a descobrir que:

    “ – o atacante é um ex-combatente do Ultramar (uma guerra que, lembremos, foi em prol da supremacia branca Portuguesa, contra a hegemonia de Angola, Moçambique e Cabo Verde e onde se cometeram crimes contra a Humanidade que ainda hoje não foram investigados a sério);
    – o atacante tem armas ilegais, trazidas do Ultramar;
    – o atacante, dois dias antes da execução, na senda da prática documentada de muitos ex-combatentes de tomarem as mulheres pretas das ex-colónias, diz à vítima que queria violar a mãe da vítima;
    – o atacante, dois dias antes da execução, diz que a vítima devia voltar para a senzala (onde os escravos pretos eram armazenados, como se fossem bens e não pessoas);
    – o atacante, dois dias antes da execução, diz que um cidadão preto, nascido em Portugal em 1981 “deve voltar para a sua terra”;
    – o atacante, dois dias antes da execução, diz que quer matar a futura vítima;
    – o atacante, por causa de alguma coisa que a cadela, da vítima — que é invisual e tem o lado esquerdo parcialmente imobilizado, devido a um acidente que teve, tem de usar, acha que tem o direito de fazer uma esperinha de dois dias, para acabar com uma vida, em plena luz do dia, após o almoço, na praça pública;
    – a vítima, descrita unanimemente como pacata, é morta desta maneira,…
    Não é racismo. É um pobre velho com 76 anos. É um traumatizado do Ultramar. É um coitadinho. É um velho a defender-se de um atacante.
    A Polícia está a fazer um péssimo trabalho, perguntando a quem estava por perto, no dia, se ouviram algum comentário racista do assassino. Não tendo ninguém ouvido nada, concluíram que não houve indícios de racismo. Mesmo com a população a dizer que ouviram claramente o assassino a dizer coisas que citei, dias antes, na sequência da discussão que tiveram.
    A Polícia não vê nenhum nexo de causalidade entre as duas situações. Onde é que alguma vez se fez uma investigação assim? Reconhecem que a situação que aconteceu no dia da morte, derivou da discussão nos dois dias anteriores, mas não reconhecem o carácter racista do que foi dito inicialmente como contributo para o desfecho, porque, no dia da execução, ninguém ouviu nada.
    Foi o quê? Por causa da cadela? Se tinha medo da cadela, por que não a atacou a ela, mas sim ao dono? E os insultos da violação da mãe, do “vai para a tua terra” e para a senzala foram para quem? Para a cadela? Ou já passamos esta fase e já reconhecemos que a cadela foi uma desculpa para extravasar o ódio ao dono?
    E se foi contra o dono, foi porquê? Insanidade temporária? Alguém vai ter coragem de alegar insanidade temporária num crime premeditado com estas características? Se foi intencional e premeditado, foi por o quê?
    Quando isto não é racismo? O que é então o racismo? Quando Eu continuo à espera que alguém me diga quando é que é racismo, porque vejo muita gente a dizer que “racismo é mau”, mas contorcem-se para o reconhecer a cada momento.
    Aqueles que estão a dar um passe ao racismo explícito nesta situação, mais não estão do que a sinalizar aos racistas mais activos que podem atacar pessoas de minorias étnicas que, no fim, não se passa nada.
    A própria equipa que está a investigar o caso deveria ser alvo de inquérito, porque isto é cegueira voluntária. “

    JB

    • Eis o psicólogo de trazer por casa a garantir que haja racismo!
      Faz-lhe a folha completa, mas o que verdadeira me impressiona é «a supremacia branca Portuguesa, contra a hegemonia…».
      Nada pára as asneiras racistas da esquerdalhada!
      Os esfomeados de Angola e Moçambique agradecem sensibilizados do alto da sua hegemonia!

      • José Peralta says:

        Ó “menos”

        O psicólogo, o que fez, foi “sodomizar-te” e muito bem !

        A tua resposta, (que deves ter tido que “teclar” de pé, por não poderes sentar-te..”) não passa da vulgaridade costumeira e balofa do “esquerdalhada, esquerdalhada esquerdalhada”…

        Não passas “disto” e no caso em apreço, não tiveste “imaginação” para contestares NENHUM dos tópicos do texto de JB ! Limitaste-te, penosamente, a…estrebuchar” !

        As melhoras, ò “menos” ! Lava-te com água de malvas…que “isso” passa !

        • As tuas experiências, debaixodassaias, sempre te atormentam.

          • José Peralta says:

            Ó “menos”

            Como sempre, a tentares “virar o bico ao prego” debaixodassaias !

            Não consegues, “menos” ! Debaixodas saias, o “prego” está virado é para ti…

            Lava-te com água de malvas, que “isso” passa !

  4. Antonio says:

    Não sei se os portugueses são racistas, mas sei que há racistas entre os portugueses.

    Dizer que os portugueses são um povo racista por nele haver racistas é o mesmo que dizer que os ciganos são ladrões quando se constata existirem ladrões entre os ciganos.

    Trata-se de generalizações e por isso facilmente incorre em erro quem as faz.

    • Isso parece-me coisa de senso comum, o que por estes lados não lhe garante popularidade.

      • José Peralta says:

        Ó “menos”

        Curiosa a tua afirmação ! Porque, apesar do teu “senso comum”, popularidade é o que “por estes lados”, não te falta…

        • POIS! says:

          Pois é!

          Lá na minha terra, quando alguém manda uma bojarda, até dizem que é “senso comenos”.

    • Paulo Marques says:

      Dizer que os portugueses são um povo racista exigia métricas que julgo não se podem obter.
      Dizer que o país é estruturalmente racista é uma evidência, basta observar a linguagem usada com olhos críticos. Ou as desculpabilizações imediatas para crimes racistas.

  5. Dizer que os tugas não são racistas é o mesmo que dizer que os tugas se preocupam com os tugas velhos que morrem devido às ondas de calor!

  6. Alegremo-nos, há passeata contra o racismo no fim-de-semana!

  7. Albino manuel says:

    Duvido que Jgmenos seja padre jesuíta. Bem sei que aquilo está em estertor. Cada vez há menos candidatos e cada vez têm pior formação. Bem sei que estão danados porque o estado lhes tirou a côngrua dos contratos de associação. Ainda assim, este jgmenos é demasiado primário ou primata para ser jesuíta.

    É um labrego rural saído do CDS ou um suburbano do Chega, aqui menos provável. Iniciativa Liberal duvido; são sala de estar, não são estábulo

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