Lost In Translation

[João L. Maio]

É unânime entre todos aqueles que se mantêm atentos e que, sobretudo, têm bom senso, de que o ambiente está a mudar. É um facto mil e uma vezes já explorado e com dados científicos que o comprovam.

Não vale, portanto, o esforço tentar desvalorizar a questão ou assobiar para o lado e fingir que nada se passa. Passa-se, é grave, e é preciso reflectir sobre o assunto mas, acima de tudo, agir sobre ele para mudar o rumo dos acontecimentos.

Ora, esta urgência climática anunciada trouxe com ela dois tipos de pessoas e, por conseguinte, duas linhas de pensamento: as que acham que isto é tudo muito, muito grave e, cegamente, defendem a causa; e as que, de forma acérrima, declaram que tudo isto é uma teoria da conspiração e que afinal não está tudo assim tão mau. Parece não haver meio termo.

Com isto, e como não poderia, nunca, deixar de ser, a política aproveitou-se do assunto, aqui e no resto do mundo. Mas, como é sabido, Portugal é uma sociedade à parte, quase alheada do que se vai desenvolvendo no resto que há à sua volta. Todos os partidos, sem excepção, e em tempo de campanha eleitoral legislativa, pegaram no tema para dele fazerem bandeira de campanha e tentar sacar mais uns quantos votos.

E o povo, vai na conversa?

É preciso não confundir certas coisas e é preciso que não nos deixemos guiar por supostos líderes de uma visão fatalista do mundo, assim como o seu contrário. Os jovens, sobretudo, são neste momento os mais preocupados e activos na tentativa de resolução deste problema, e, como é natural quando se é jovem, seguem a linha de pensamento e de discurso de alguém que acicata a discussão e torna o tema popular. O que é perigoso.

É verdade que o tema é sensível e que exige medidas rápidas e eficazes, assim como um esforço de todos os que compõem cada sociedade. No entanto, é preciso espírito crítico para nos debruçarmos sobre essas mesmas medidas e bom senso para que não se caia no policiamento de antanho nos tempos modernos.

Acredito no livre arbítrio de cada um. E acredito que, cada um, na sua liberdade de escolha, de acção e de pensamento aja sempre em consciência com a história que corre, mas nunca entrando em totalitarismos ou extremismos, como se a urgência ambiental fosse o único problema que precisa de resolução imediata. Não é.

São precisas Gretas, como são precisas Malalas, como são precisas pessoas que tomem a iniciativa e tenham o dom de fazer passar essa mensagem. Não é preciso é que se faça dessa mensagem um ideal populista, pois aí o essencial poderá acabar por se perder na tradução.

 

Texto escrito por ocasião da visita de Greta Thunberg a Portugal, 3 de Dezembro de 2019

Comments

  1. Ana A. says:

    Tendo este texto sido escrito em 3/12/209, gostava de perguntar ao autor, se hoje ainda mantém a sua opinião: “Acredito no livre arbítrio de cada um.”

    É que houve um confinamento mais ou menos imposto à escala global e os resultados no ambiente surgiram.

    Ou se educa um bocado “à força” para a questão ambiental, ou quando chegar o bom senso (se chegar), poderá ser tarde demais!

    • Ana A. says:

      *3/12/2019

    • Vila do Conde says:

      Pois como dizia o velho Eurípedes no século V A.C. ” Tente colocar bomsenso na cabeça de um tolo e ele dirá que é tolice”

    • João L. Maio says:

      Olá, Ana.

      Sim, à data ainda acredito no que escrevi em Dezembro do ano passado. Acreditarei no livre arbítrio de cada um, até que o livre arbítrio de cada um seja um dia retirado (o que já esteve mais longe de acontecer, diga-se”.

      Como diz, e bem, e Ana e, se atentar, eu também o digo no texto, são precisas medidas “à força”, ou seja, quem estiver no Governo terá, obviamente, de impor um conjunto de medidas no que concerne ao aquecimento global e às alterações climáticas.

      Mas pergunto eu: esse “empurrar à força” já não está a ser feito? Quero eu dizer que desde o Acordo de Paris que foram estabelecidas X medidas. Estão a ser cumpridas pelos governos? Estão a ser cumpridas pelas pessoas?

      Quando falo no livre arbítrio, acredito estar a realçar o papel fundamental do cidadão, quer nesta questão, quer noutras. O livre arbítrio pode ser desculpa para tudo, e para mais alguma coisa, mas prefiro acreditar que para algumas pessoas ainda é um valor em voga.

      • Julio Rolo Santos says:

        O problema, entre nós, é que há forças contrárias que defendem a manutenção do status quo por interesses económicos como essa seita que se opõe á exploração do hidrogênio que o governo, com o apoio financeiro da UE, pretende implementar. A meu ver, tudo o que substitua os produtos altamente poluentes, como o petróleo e o carvão, são bem-vindos e o resto é conversa fiada. Alguns pseudo cientistas bem podem ser chamados á discussão em defesa da sua dama, a manutenção da exploração e uso dos produtos poluentes, mas fiquem-se por aí.

  2. “Os jovens, sobretudo, são neste momento os mais preocupados e activos na tentativa de resolução deste problema”… Boa piada!

    Falsamente preocupados e activos sim, mas no agravamento das condições que lhes causam a falsa preocupação.

    Mais Gretas? Apenas significa mais CIRCO. Ela própria ajuda, e bem, a agravar o suposto problema com que está aparentemente tão preocupada.

    • João L. Maio says:

      Boa tarde,

      Pode sustentar o que diz?
      Por que razão acha que os jovens estão “falsamente preocupados”? Por que razão acha que pessoas como Greta Thunberg desajudam mais do que ajudam? Por que razão chama “falso problema” a um problema tão premente?

      Por fim: é negacionista?

      • Boas!

        1º ? – Claramente não andas a observar o pessoal. Não se consegue observar uma única acção ou medida permanente e eficaz que os jovens estejam a praticar. Aliás muitos dos seus comportamentos diários estão apenas a ajudar a agravar as tais da “Alterações Climáticas Antropogénicas”

        2º ? – Basta observar os comportamentos dos jovens (incluir a ganapada até aos 24/25 anitos de idade!) para se ver que a preocupação deles é meramente um entretém.

        3º ? – A Greta é a versão século XXI da Suzuki… Se a Suzuki desajudou, novamente OLHA EM REDOR, não vejo nada de diferente no comportamento da Greta que vá ajudar. Aliás os Amigos com quem se tem encontrado têm um registo de destruição de Ecossistemas e de Emissões de GEE extraordinário!

        4º ? – Que problema premente é esse?!

        Por fim… Não. Sou realista.

        • João L. Maio says:

          A generalização é sempre um princípio perigoso.
          Percebo bem que generalizar seja um acto de querer puxar a razão para o nosso lado, mas é perigoso porque, normalmente, acaba por ter um efeito contrário.

          Não sei que jovens conhece. Sou jovem, tenho até aos 25 anos de que fala, e se digo que os jovens são os mais atentos e preocupados com a questão ambiental, digo-o com conhecimento de causa. Podem não ser “todos os jovens”, mas também não são “só alguns”. As generalizações, como disse, são perigosas. Mas são as gerações de jovens de hoje em dia e aquelas que virão, as que terão de lidar com as mudanças ambientais causadas por um capitalismo selvagem, sem rei nem roque e, como se vê, em grande parte à margem da lei (quando não é a lei que está feita à medida).

          Se se diz realista e pensa dessa forma, tenho pena em dar-lhe tal notícia, mas vive em negação… ou fantasia.
          Peço-lhe que leia de novo e interprete melhor. Faça o esforço.

          • Não estou a generalizar… Tudo baseado em observação e em leitura de estudos e dados estatísticos.

            O teu “conhecimento de causa” abrange que universo?

            A lenga lenga sobre as gerações de hoje e de amanhã é mero resultado de estares a negar a Realidade que te rodeia. Não se observa nenhum movimento juvenil credível e com dimensão suficiente para alterar a Organização actual da Civilização. Raio… Nem da terra onde vivem quanto mais!

            Se queres brincar com palavras sugiro que vás jogar scrabble!

            Claramente se tu “pensas” que te vais safar a brincar ao “faz-de-conta que estou preocupado com alterações climáticas” então não sou eu que está em negação…

          • João L. Maio says:

            Se o que diz é baseado nessa leitura toda que prega, então, certamente, anda a ler mal. Ou só lê o que lhe apetece. É válido.

            Quanto ao seu conselho: nos meus textos brinco com o que eu quiser.

            Obrigado pela sua opinião, embora discorde totalmente e o sinta alienado como num conto de fadas trumpiano.

            Bom fim-de-semana.

    • abaixoapadralhada says:

      Para o circo falta lá o palhaço cuja voz está a -30 dB.

      Deves ser um clone do Sa Lazarento JgMenos

      • Posso tardar mas não te falto, debaixodassaias,
        Tens separado o lixo que fazes em ‘amarelo, azul e verde’ mais o genérico onde conservas as ideias?

        • abaixoapadralhada says:

          Nunca me engano velho nazi
          Agora precisas de clones com vozes a -30 dB para vomitares o teu fel.

          Chamas-me a mim que gosto pouco de padrecas e nunca percebi porque a ligação, o nome ” debaixo das saias”, mas tu é convives bem com os Jesuitas da tua terra

          Abaixo com a padralhada velho nazi

  3. Albino manuel says:

    Venha outro. Este tambem não dá.

  4. Rui Naldinho says:

    Foram as alterações demográficas ao longo dos últimos séculos, que mais contribuíram para as alterações climáticas.
    Com o início da revolução industrial era natural que, com a utilização intensiva do carvão e posteriormente dos hidrocarbonetos, o planeta mais cedo ou mais tarde se viesse a ressentir dos seus efeitos nefastos na atmosfera e nos solos. Não é necessário ser especialista em nada, para ver o óbvio. No entanto a evolução tecnológica tem vindo a progredir no sentido de cada vez mais minorar esses impactos negativos dos hidrocarbonetos e do carvão na atmosfera. Cada vez mais se apostará nas energias limpas, ainda que saibamos todos que há lobies a fazer-lhes frente, por ser ainda uma energia cara. É por isso que eu sempre defendi que empresas estratégicas como a EDP / REN e a GALP/PETROGAL, entre outras, nunca deveriam ter saído das mãos do Estado. Seja aqui, seja noutros países. Qualquer renda que se gerasse numa primeira fase para absorver o impacto no investimento em eólicas, por exemplo, seria sempre para a comunidade, através desta empresa, caso ela fosse pública.
    Ao longo dos últimos cinquenta anos, falo no caso português, mas isto pode replicar-se noutros países, o esvaziamento do interior e centro do país, com deslocações cíclicas de populações para o litoral, tornou o Portugal profundo, um sítio apenas de férias, ou, pior ainda, “habitado por velhos”, agarrados muitos deles a uma agricultura de sobrevivência. Eu diria até, uma economia de sobrevivência, uma vez que vão resistindo algumas indústrias e comércio tradicional.
    O interior desertificou-se. Apesar do investimento recente, duas décadas, no máximo, em programas de reabilitação de vilas e cidades, desse Portugal que fica em cima ou para lá da velhinha EN2, o país necessitava de outras medidas complementares que potenciassem a industrialização dessas zonas, retirando pressão ao litoral. Como nada disso foi feito, apesar de algumas medidas avulsas, aquilo que acabou por acontecer foi a reflorestção de antigas áreas agrícolas e baldios, com eucaliptal e Pinheiro bravo. Uma reflorestação desordenada, sem um ordenamento adequado, sempre à pala de subsídios europeus. Numa terra de “velhos”, sem grandes meios e condições físicas para manter os bosques ou matas limpas, o normal no Verão, é os incêndios lavrarem com a maior das facilidades, haja gente pronta para qualquer tipo de incúria.
    Se não mudarmos as políticas demográficas, recentrando populações nos seus locais de origem, dando-lhes condições dignas de vida, trabalho com formação superior adequada, serviços de saúde e escolaridade com a qualidade oferecidas aos habitantes do litoral, vamos continuar a intoxicar as grandes metrópoles com gente com trabalho precário, desempregados e criminosos aqui e acolá.

  5. Filipe Bastos says:

    Há uma terceira linha de pensamento que o autor parece não conhecer: a que admite as alterações climáticas, mas não a influência humana nessas alterações.

    E será esta a linha que mais deve crescer, à medida que as temperaturas, incêndios e outros fenómenos tornam impossível ignorar que algo está a mudar.

    O novo ‘negacionismo’ passa a ser: sim, está a mudar, mas pouco ou nada podemos fazer. O planeta é muito maior que tudo que façamos; sempre houve alterações climáticas, idades do gelo e temperaturas extremas, com ou sem humanos.

    Mas não gosto de lhes chamar negacionistas. Esse termo traz agarrado uma espécie de unanimidade forçada, de groupthink que rejeita quaisquer críticas ou dissidentes. Percebo que agrade a alguns comunas, assim como agrada aos direitalhas do TINA.

    A verdade é que ninguém sabe ao certo. Acredito que muito tenha a ver com a actividade humana, não parece coincidência, e que temos a obrigação de fazer tudo ao nosso alcance. Com outra vantagem: acabar de vez com o absurdo do crescimento ‘infinito’, reformar o capitalismo. E isso é o mais difícil.

    • pouco ou nada podemos fazer” é uma mera constatação de uma REALIDADE!

      Se nem com a OPERAÇÃO COVID os níveis de CO2 sofreram alterações de relevo… Resta aceitar que realmente nunca vamos fazer nada para reduzir emissões da maneira que a malta acha que é necessário para evitar a catástrofe!

      O mais divertido é que durante este ano as emissões de CH4 estão a comportar-se de forma estranha! No final do ano quando a Ignorância Gripal voltar a atacar vai ser de rir, e pois veremos o impacto que tanto escravo “parado” causou!

      A única coisa positiva que a OPERAÇÃO COVID trouxe foi a queda abrupta dos terroristas ambientais – TURISTAS! As cidades estão muito melhores sem esta escumalha…

      • Filipe Bastos says:

        Suponhamos que nada disto pode evitar ou reverter as alterações climáticas, como v. e outros dizem.

        Que sugere então?

        • Não sugiro nada!

          Já está demonstrado e mais que demonstrado que o animal umano é incapaz de por sua iniciativa e de forma realmente sustentável fazer o que é necessário. Como ando há +30 anos a ouvir esta lenga lenga e nada MUDA para melhor já nem perco tempo com idiotices… Apenas me divirto a Contemplar o animal em acção!

          • POIS! says:

            Pois mas podia, ao menos, fazer qualquer coisinha!

            Talvez evitar peidar-se! Intestinalmente e por escrito. Já seria um começo. Pequenino, mas um começo.

          • Filipe Bastos says:

            “de forma realmente sustentável fazer o que é necessário.”

            E o que é necessário?

          • Tudo aquilo que não estamos dispostos a fazer…

          • POIS! says:

            Pois dou um palpite!

            Talvez passarmos todos a Contemplar o animal umano.

            O problema é que quando estivermos todos a Contemplar deixará de haver animais umanos contemplados. Vai ser um problema para o vozinhazerodecibolos. É todoa uma carreira de Contemplante que está em risco!

          • abaixoapadralhada says:

            Voz a -30 dB

            “o animal umano” ?

            Que grande animal me saíste

      • Paulo Marques says:

        É quase como se a molécula de CO2 seja estável durante décadas… na, os cientistas não sabem nada, mais vale deixar tudo entregue ao divino.

  6. Paulo Marques says:

    Achar que isto vai lá com escolhas individuais, escolhas que maioritariamente nem são possíveis com a miséria como modelo económico, também é negacionismo.

    • João L. Maio says:

      Ninguém disse que “isto só lá vai com escolhas individuais”.

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