Atrasadice

Este paranoico levantamento contra a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento é um vergonhoso indicador do obscurantismo de uma parte da sociedade portuguesa, digna dos princípios do século passado.

Não vale a pena escrever de outra maneira o que Maria João Marques claramente formulou aqui, salientando-se o seguinte excerto:

“O que os perturba? Não é, claro, o módulo da segurança rodoviária ou de empreendedorismo. O que transtorna as personalidades signatárias são os módulos da sexualidade – onde se enquadram a Educação Sexual e os temas da tolerância para com gays, lésbicas e transexuais – e da Igualdade de Género.

Incrível, não é? Um país com números aberrantes de violência doméstica, crimes sexuais que têm aumentado nos últimos anos, sentenças iníquas dos tribunais garantindo a impunidade a violadores e agressores domésticos, diferenças salariais de 17% a menos para as mulheres, num momento em que 90% dos desempregados com a crise da covid são mulheres – e há quem faça petições contra o ensino da igualdade de género.

Mas não espanta. Lá em cima falei em homens. É este o primeiro reparo que faço. Na petição de quase cem pessoas só 15 são mulheres. Um grupo de senhores, que julga ainda ser a palavra dos homens a encerrar os assuntos, com média de idades justificando a incapacidade de perceção das necessidades educativas dos anos 2020, que nunca necessitaram de se preocupar com gravidezes fora de tempo, agindo para que pais objetores de consciência possam impedir às filhas os conhecimentos indispensáveis para não contraírem doenças sexualmente transmissíveis nem engravidarem sem desejarem. (Aos rapazes também, claro. Mas, apesar de tudo, o conhecimento da existência de preservativos é mais generalizado. A sexualidade feminina é mais complexa. E os rapazes não engravidam.) (…)

Ideológicos são os que se opõem à disciplina de Cidadania: pretendem manter as mulheres e os gays e os transexuais vítimas de discriminação e violência; insistem em controlar (pela ignorância e pelo medo de uma gravidez) a sexualidade feminina. Isto, sim, é ideologia – e da má.”

Não precisamos de menos nem de facultativo ensino de Cidadania. Precisamos, urgentemente, é de muito mais.

Comments

  1. Julio Rolo Santos says:

    Pelo painel dos subscritores do manifesto contra a disciplina de “cidadania e desenvolvimento” dado nas escolas, ficamos a saber o estado de atraso mental que vai nas cabeças de muitos intelectuloides que pastam neste relvado pestilento mas que se intitulam os sabechoes da nossa praça. Cuidado com eles porque eles não dormem.

  2. Filipe Bastos says:

    Sabe, Ana, nisto da “Cidadania e Desenvolvimento” vejo-me algo dividido. Suspeito que não sou o único.

    Por um lado, concordo que a escola deve formar cidadãos, não apenas ensinar-lhes a escrever e a contar. Os pais até podem contrariar depois o que lá se ensina, mas enquanto sociedade temos o dever de transmitir certos valores.

    (Passemos por cima da segurança rodoviária, direitos humanos, etc.; claro que isso é +- unânime, ninguém quer saber disso. Falamos dos temas que dividem esquerda e direita, ‘progressistas’ e conservadores, sexo, tolerância, etc.)

    Por outro, ninguém nos perguntou sobre esses valores ou como devem ser ensinados. Como sempre, nada foi discutido ou referendado. E ao contrário de Física ou Matemática, as opiniões dividem-se. Muito. Como poderia não haver um choque?

    A esquerda já tem a fama de querer controlar as pessoas, impor pensamento único, arrogar-se a dona da moral, etc. Porquê a ânsia de confirmar essa fama?

    Depois temos as obsessões. Até se entende a igualdade de género, ensinar os miúdos a não serem bestas, tudo bem. Mas o que hoje passa por esquerda resume-se à histeria da ‘identity politics’ e ao policiamento do politicamente correcto.

    A verdadeira divisão do mundo não é entre sexos, ou géneros, ou raças ou religiões; é a de sempre: haves e have nots. Isso é que se devia ensinar. O resto é ruído e só aliena as pessoas.

    • POIS! says:

      Pois pois!

      “A verdadeira divisão do mundo não é entre sexos, ou géneros, ou raças ou religiões; é a de sempre: haves e have nots. Isso é que se devia ensinar. O resto é ruído e só aliena as pessoas”.

      Estou longe de pensar que o Sr. Bastos tenha alguma coisa contra os professores. Nada disso! Até já manifestou que todos os portugueses deveriam ter um professor. Se fizesse umas limpezazinhas e passajasse umas roupinhas, ainda seria melhor! O problema é que são todos de esquerda, fora isso…

      E prontos! Deixem-se lá de coisas como igualdade de género e tal. Ensinem só que esta sociedade está dividida entre os chulados e mamados e os chulões e mamões. Assim já não haveria pretexto para abaixo-assinados. Cavaco e Passos e o Cardeal até já se ofereceram para fazer um manual a ensinar como se deve combater as desigualdades e como transformar esta sociedade numa sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados, sem mamões e chulecos (e trafulhas, acrescenta Passos!).

      Alô, alô, urgente! Bastos ao Ministério da Educação! Pode entrar pela porta dos fundos para não se encontrar com chulecos!

      • Filipe Bastos says:

        Pois não sei se percebo, POIS.

        Concordei que a igualdade de género não é inútil; para mais num país onde tanta besta bate na mulher ou quer matá-la.

        Desde que, claro, não seja a histeria da ‘nova esquerda’:
        — manter a desigualdade entre haves e have nots, desde que haja mais mulheres no topo a mamar também;
        — fingir que tudo que uma mulher faça é bom e nobre;
        — fingir que mulheres e homens são iguais, como se milhares ou milhões de anos de evolução fossem ‘fake news’.

        De resto, sim, é mesmo como diz: há que deixar claro que a sociedade se divide entre os que têm pouco ou nada, uma classe média cúmplice, hipnotizada por gadgets e SUVs, e os que têm muito ou obscenamente muito.

        E que isso se sobrepõe a tudo o resto, seja orientação sexual, raça ou religião. Ou tem alguma dúvida?

        • Ana Moreno says:

          Viva, Filipe Bastos, “Por outro, ninguém nos perguntou sobre esses valores ou como devem ser ensinados.” Os valores em causa estão na Constituição…
          Quem não quer falar de sexualidade esclarecidamente, deixa-a nas mãos da pornografia e da hipocrisia. Isso é o pior que se pode fazer pela sociedade do futuro.
          E quem considera falar de género uma questão de ideologia, mais não quer do que manter a ordem injusta actual.

    • Paulo Marques says:

      O perigoso radical Nuno Crato não respondia a provocações na altura. Ou não reparou, e ainda não investigou, quem criou a cadeira, com o conteúdo da igualdade de género?
      O interesse da coisa é chamar normal ao que é normal e que não tem lógica que seja divisionário. Se a “política identitária” extravasa a igualdade, ou são casos pontuais que acontecem com tudo, ou são a franja da franja e irrelevantes.

  3. Uma disciplina sem programa, sem um guia claro de quando e como abordar cada assunto, sem detalhes que possam dizer aos pais o quê o como são apresentadas as matérias em que estes têm directo interesse e clara responsabilidade, é mais uma cagada progressista.
    Acresce ser muito agravada por provavelmente ser entregue a progressista, ou seja:
    – gente normalmente inculta, e que se dispensa de a adquirir
    – auto-satisfeita por recitar a liturgia do corretês,
    – que tomam como acto de uma fé de ‘todos os que valem’ na sociedade-
    – sociedade a que, na sua imbecilidade, julgam conhecer o presente; e na sua estúpida soberba estão certos de lhe conhecer o futuro.
    Resumindo: umas bestas pretensiosas!

    • POIS! says:

      Pois tá bem!

      O Sr. Menos tem lá um professor que lhe deram quando era pequenino. è de corda e carregando num botãozinho diz frases como “Menos, és muito esperto!”, “porta-te bem!” ou “muito bem! Tens 20 valores!” (aqui, a seguir, começava a entoar o Hino da Mocidade Portuguesa, mas está avariado).

      Consciente de que foi da maior importância pra a formação da sua formidável personalidade, JgMenos quer reunir mecenas para oferecer um a cada português. É um projeto ambicioso, mas possível.

      Com os avanços da robótica este professor poderia alargar o seu vocabulário: “o trabalho doméstico é muito digno. Não se esuqeçam de agradecer à mamã”, “Estás zangado? Dois tabefes resolvem muita coisa!” ou “cuidado! Não desperdices a tua preciosa virgindade!”.

      Ao contrário dessa ralé progressista, JgMenos não se dispensa de adquirir cultura, como o revela logo no sábio emprego da palavra “cagada”

    • Paulo Marques says:

      Engraçado, é a primeira vez que diz mal do XIX governo constitucional.

  4. POIS! says:

    Parece-me que não é assim tão simples. Não é só a educação sexual, ou para a igualdade que motiva muitos dos signatários.

    O “papá-modelo” que apresentou a providência cautelar que está na origem desta pandemerdice, numa intervenção televisiva, falou também de ser “reservado à família o tratamento de temas como a Constituição ou o sistema político. E até o da literacia financeira!

    Não podemos desligar isto da campanha anti-constituição em fase de montagem. E mais: o que pretende uma boa parte dos signatários não é consagrar uma “reserva da família” em abstrato. Eles sabem que tal se tornará numa armadilha, já que legitimará a “objeção de consciência” de fundamentalistas e tradicionalistas de todos os matizes. A intenção é mesmo a de impor a “matriz cristã” a toda a educação.

    Claro que não serão todos. O Sousa Pinto, por exemplo, disse que até concorda que se tratem as matérias do programa de Cidadania e Desenvolvimento mas assinou porque já não concorda que seja necessária uma disciplina própria. Enfim…qualquer dia assina o manifesto do “chega” só porque até concorda que os polícias deveriam ser melhor pagos. Temos, perante nós, um político com um brilhante passado.

    • Paulo Marques says:

      Cristã não, católica, desconheço que o JC se tenha borrifado para a existência ou não de homossexuais. Já sobre usura e ganância falou muito, mas nunca vem ao caso, sabe-se lá porquê.

      • POIS! says:

        Para o de Famalicão talvez católica. Mas entre os bem-venturados há cristeiros de outros matizes.

      • João Paz says:

        Não costuma estar equivocado Paulo Marques. Mesmo quando não concordo consigo parece-me haver consistência nas opiniões que veicula. Não me parece ser este o caso. “Limpa” as várias referências antihomosexuais dos evangelhos (sobretudo do velho testamento diga-se em abono da verdade) e a frase do evangelho segundo S. Mateus (que este atribui a Jesus) «Dai um pouco mais a quem tem muito e tirai um pouco mais a quem tem pouco»

  5. POIS! says:

    Já agora apresento uma situação curiosa que se passou não há muitos anos. Comparem, por favor, com o que se está a passar lá por Famalicão e com o que dizem os do pandémico abaixo-assinado.

    Ponto de partida: uma aluna de uma escola secundária, ao chegar ao 9º ano foi interrogada pelos pas sobrei se queria continuar a frequentar as aulas de Religião e Moral Católica. Disse que sim.

    Essa aluna frequentava também o ensino oficial da música em regime de coordenação ( o chamado “articulado”, abru(p)tamente cancelado pelo asneireiro encartado Nuno Crato) com as restantes atividades escolares (o que lhe deu, inclusivamente, um diploma prifissional de nível 2).

    Após um período de indefinição, em que não havia turma nem professor, foi informada que a aula semanal da disciplina seria às quartas-feiras à tarde. Ora, esse horário tinha sido deixado inicialmente livre e já estava ocupado por aulas de música. A larga maioria do grupo de alunos estava em situação semelhante por motivos que iam desde atividades culturais e desportivas, a tratamentos médicos e explicações.

    Após uma reunião com a direção da escola, que disse não ter outra solução, a maioria dos pais manifestou intenção de que os filhos renunciassem à disciplina, perguntando como poderiam anular a matrícula.

    E sabem o que receberam como resposta? Não podiam, porque não está prevista a anulação de matrícula a disciplinas isoladas no Ensino.Básico.

    E então? Então, se não frequentassem, chumbariam por faltas!!!! Uma resposta com tom ainda mais ameaçador foi entretanto recebida, enviada pelo orgão regional do ME a que alguns pais, entretanto, recorreram.

    Uma mãe, inclusivamente, tentou agumentar dizendo que a família tinha mudado de opinião em relação à educação religiosa e falou mesmo em “objeção de consciência”. De nada valeu! A ameaça de chumbo por faltas continuou a ser a resposta. Era evidente o embaraço da direçaõ da escola, mas disseram nada poder fazer.

    Alguns pais tentaram ainda confrontar as autoridades religiosas, que recusaram pronunciar-se, demitindo-se airosamente!

    Quem era a criança? Como é que eu sei como tudo se passou? Pois…não digo…

    PS: E como acabou? Olhem, “à portuguesa” com um acordo entre os pais dos alunos e o professor para que fossem, pelo menos, a uma aula por mês e realizassem uns trabalhos em horas disponíveis. Com prejuízo, portanto!

    Resultado: nenhum daqueles alunos e alunas se voltou a inscrever a Religião e Moral Católicas! Parabéns ao Episcopado lá do sítio!

  6. Como sempre faz a carneirada, se lhes aparam o pêlo, logo se imaginam degolados e berram que os querem matar.

    Princípio base dos progressistas: sempre a razão lhes assiste!

    • POIS! says:

      Pois é!

      Realmente V. Exa. tem berrado muito! Mas olhe que, assim bem aparadinho, fica melhor, bem vale o sacrifício. Sei que o barulho da máquina é aterrador, mas não tenha medo!

      Mas diga-me: V. Exa. não é progressista? Ah! Tá bem! Então, por favor deixe aqui o endereço da sua árvore. Há muita gente a querer visitá-lo e dar-lhe uns frutos secos e tal.

  7. Abstencionista says:

    Não sei quem é a Ana Moreno mas fico a saber pelo seu escrito que é uma pessoa adiantada que tem uma visão clara da educação que pretende e deve dar aos seus filhos, se é que os tem.

    Quem não concorda com ela é insultado de atrasados, obscurantistas e paranoicos o que é revelador que é uma pessoa modesta e mal-educada.
    Os insultados são pais que não compram a inteligência rara da Ana Moreno nem a sua visão adiantada do mundo.

    Porque estes pais não aceitam que lhes seja negado o direito que têm de educar os seus filhos.
    Na verdade estes pais não querem que os seus filhos sejam doutrinados pelo estado.

    Claro que não são os pacíficos domínios dos direitos humanos, a segurança rodoviária ou o mundo do trabalho, etc. que perturbam esses pais.
    Eles não querem é ser enganados pois sabem que os domínios citados não passam de papel para embrulhar a ideologia de género sob o rótulo de sexualidade e igualdade de género.

    Portanto Ana Moreno não recorra às homilias de uma opinadora de causas e explique s.f.f.:

    Como é isso de um homem ser XXs!
    ou do Luís ser hoje campeão da punheta e amanhã ser a princesinha Luisa!!
    ou diga-nos se para ser aerosexual é preciso brevet!!!
    ou se o sexo dos anjos vai passar a chamar-se sexo neutro!!!!
    etc..

    • Paulo Marques says:

      É fácil, basta não assediar nem bater em mulheres, e aceitar que as preferências e gostos de sexualidade e expressão individual variam.
      Eu sei, conceitos muito complicados para trogloditas, mas é só isso.

      • Notável e persistente idiotice!
        Verdadeiro progressista.
        ‘aceitar que as preferências e gostos de sexualidade e expressão individual variam’ – os pedófilos agradecem.

        • POIS! says:

          Pois sim, mas pior, muito pior…

          É a fixação secreta de V. Exa. por tijolos. É uma parafilia muito perigosa. Há já quem defenda, aliàs, o fim da construção civil. Aliás, tudo o que meta empreiteiros é, segundo a Bíblia, obra de satanás.

      • Abstencionista says:

        Concordo consigo na parte relativa a assédio e agressões a mulheres.
        Mas incluía também as agressões a idosos, crianças, deficientes, sem abrigo, etc.
        Desses o amigalhaço não se lembrou pois não fazem parte da sua agenda.
        Acontece.

        Discordo na parte relativa às variações das preferências e gostos de sexualidade individual, pois não tolero as variações sexuais de pedófilos, zoofilos, estupradores, violadores e todo o tipo de abusadores.
        Desses o amigalhaço não se lembrou pois não fazem parte da sua agenda.
        Acontece.

        E acontece pois são conceitos complexos próprios de quem vê o mundo pelo olho do cú apontado ao seu próprio umbigo.

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