Num mundo em que a econometria é a fita métrica de tudo, nada pode estar fora da economia, tudo é PIB, crescimento e outras virtudes absolutas. A economia, já se sabe, passou a viver convencida de que é uma ciência exacta, esquecendo-se das suas raízes humanas e sociais. Aliás, deixou de se falar em sociedade, porque tudo é economia.
Nesta visão dominante, o que dá vida à economia são as empresas. Tudo o resto é, na prática, considerado um peso que as empresas, estoicamente, arrastam às costas. Deste modo, poderemos dizer que a sociedade precisa de serviços públicos, como escolas ou hospitais; a economia diz-nos que os serviços públicos são parasitas (a não ser que escolas e hospitais sejam privados ou privatizados – aí, passam a ser economia, mesmo que não sirvam uma grande parte da sociedade).
Viver em pandemia ou com pandemia acrescentou problemas às certezas absolutas que subordinam tudo à economia. Se é verdade que o confinamento afecta a economia, não é menos verdade que o vírus afecta a sociedade (e também a economia).
A direita desumana (não sei se estamos na presença de uma redundância) vive toda para a economia e desvaloriza a sociedade, abomina as pessoas, esses peões proletários. Aliada a um certo marialvismo, a direita diz que não nos podemos fechar em casa, que é preciso manter a economia a funcionar, chegando ao ponto de, como acontece com bolsonaros e trumps, desvalorizar a periculosidade do vírus. Essa direita mudou pouco com o tempo, sonha com perda de direitos (a legislação laboral é sempre demasiado rígida) e com salários baixos (para Pedro Ferraz da Costa, aumentar o salário mínimo – aquele com que só é possível sobreviver – é crime).
Não me iludo e não desvalorizo a questão da produtividade: o equilíbrio entre a bolsa e a vida está num ponto crítico. A direita, no entanto, não se preocupa com a vida (a não ser quando finge indignar-se com os problemas sanitários da Festa do Avante) e pensa apenas na bolsa. A economia é a única coisa que interessa; a sociedade é carne para canhão.
Aquilo que a direita anda a defender é a manutenção de zombies ineficientes e tecnicamente falidos, por sua vez mantendo o sector financeiro zombie e falido, e todos a criar “crescimento” por via de produtos financeiros que lhes permitem dizer que estão de boa saúde (reverse factoring).
Apostar em mais do mesmo é não ter a mínima noção do buraco em que os países se meteram, até porque, se fosse verdade que a dívida é necessariamente má, anda o ocidente todo a adiar a sua bancarrota inevitável.
Que visão!!!
Nada que se compare aquela tacanhez de se perguntar de onde vem o dinheiro que paga os salários de quem trabalha.
O dinheiro vem das contas que o BCE aumenta, sendo depois espalhado por outras por transacções comerciais até voltar e ser destruído. Se opta fazê-lo através de uma data de operações inúteis para enriquecer os Menos deste mundo, nada disso implica que acrescentem valor, quanto mais riqueza, porque nada disso é produção de nada
Por muito que o Menos ache, nada tenho contra que a produção feita por privados, só que essa já não é principal fonte de lucro, e temos aumentando os números sem o correspondente aumento no número bens, e chamado a isso sustentável enquanto o planeta já literalmente arde. Com a lata de dizer que isso é que é bom para os nossos filhos e netos.
Pois, ou ainda melhor!
Parafraseando: de se perguntar de onde vem o dinheiro dos que não pagam os salários de quem trabalha.
a direita diz que não nos podemos fechar em casa, que é preciso manter a economia a funcionar
Isso parece-me redondamente falso. Se o autor do post observar as posições defendidas pelo PSD, incluindo pelos autarcas do PSD, verá que o PSD tem defendido o fechamento ainda com mais ferocidade do que o PS.
Em Cascais, o autarca do PSD fechou ruas, fechou o paredão marítimo, para impedir os cidadãos até de fazerem passeios higiénicos e um pouco de exercício.
Em Ovar, o autarca do PSD defendeu desde o primeiro momento uma quarentena total à cidade.
Não há limites para a hipocrisia.
Tudo tretas para manter os serviços públicos sem controlo de custos e medida de utilidade.
Como se fosse um bem por natureza…
Dos privados sabe-se que só recebem de quem lhes quer pagar.
O que vale é que um estado é uma fonte inesgotável sem controlo de custos para bancos, igrejas, padarias, sociedades de advogados e afins.
Pois não!
Por vezes recebem de quem não quer. Ou não existiriam agências funerárias.