The Handmaid’s Trump

Em 2016, a 10 meses do final do seu mandato, a maioria republicana no Senado impediu Barack Obama de substituir o falecido juiz Antonin, do Supremo Tribunal. O líder dos republicanos, Mitch McConnell, justificava a decisão com o argumento de que os eleitores teriam uma palavra a dizer, pelo que a substituição do juiz do Supremo só deveria ocorrer após o acto eleitoral marcado para o final desse ano.

Quatro anos volvidos, Donald Trump nomeou Amy Coney Barrett, na sequência do falecimento da icónica Ruth Bader Ginsberg, a menos de um mês das presidenciais. O ainda líder dos republicanos, Mitch McConnell, bem como a bancada republicana no Senado estado-unidense, nada tiveram a opor. Os eleitores, esses, nada puderam ou tiveram a dizer.

Desta forma, cumpriu-se a vontade de Donald Trump, que nomeu o seu terceiro magistrado vitalício na mais alta instância jurídica dos EUA, ampliando a maioria republicana no Supremo. Uma maioria com a qual o presidente conta para invalidar uma possível vitória de Joe Biden na secretaria, plano em marcha há várias semanas, assente na narrativa da fraude eleitoral.

O cerco está montado. Mesmo que Biden vença as eleições, o Supremo Tribunal dos EUA será uma força de bloqueio à governação do novo presidente. E com três juízes nomeados por Trump, a última das quais uma ultraconservadora membro da People of Praise, uma organização fundamentalista católica que advoga, por exemplo, que as mulheres se devem submeter à vontade dos seus maridos, o cenário não é nada animador. Após vários episódios verídicos de Black Mirror, a realidade parece apostada em reproduzir The Handmaid’s Tale.

Comments

  1. Pimba says:

    Há 12 anos, Ruth Bader Ginsberg tinha 75 anos, e havia maioria democrata no Senado.
    Com 75 anos, teria sido boa altura para se reformar (aliás, em 1993 ela subsituiu um juiz de 76 anos, que se reformara).
    Näo o fez, e agora é isto.
    É a tal coisa, nunca se sabe o dia de amanhä, logo há que tomar as devidas precauc,öes!

  2. Os republicanos fizeram o que a direita faz sempre, são hipócritas moralmente superiores

  3. Luís Lavoura says:

    Tanto o Presidente como o Senado dos EUA agiram totalmente de acordo com a lei. Portanto, não podem ser criticados.
    A lei é que talvez esteja mal feita.

    • Paulo Marques says:

      Durão Barroso agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticado.
      O Banco de Portugal agiu totalmente de acordo com a lei no BES, portanto, não pode ser criticado.
      Ricardo Robles agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticado.
      O Avante e o Santuário de Fátima agiram totalmente de acordo com a lei, portanto, não podem ser criticados.
      Neto de Moura agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticado.
      Joacine Katar Moreira agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticada
      O governo a ignorar a concertação social agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticado.
      Passos Coelho a privatizar meio país agiu totalmente de acordo com a lei, portanto, não pode ser criticado.

      Que merda de argumento.

    • Ética e lei são coisas diferentes

  4. Luís Lavoura says:

    a People of Praise, uma organização fundamentalista católica que advoga, por exemplo, que as mulheres se devem submeter à vontade dos seus maridos

    Vendo na wikipedia, conclui-se que a People of Praise é uma organização ecuménica cristã que, embora a maioria dos seus membros seja católica, também tem bastantes membros protestantes. Não se trata, portanto, de uma organização católica, muito menos fundamentalista católica – pois que os fundamentalistas católicos abominam os protestantes!

    A wikipedia informa também que a People of Praise advoga que os homens devem orientar espiritualmente as mulheres. Não diz que as mulheres devam submeter-se aos homens, nem aos seus maridos, mas sim que eles devem orientá-las no plano espiritual. Mais informa que a People of Praise encoraja as mulheres a educarem-se e a arranjarem emprego. Inclusivé, a serem prestigiadas juízas e até membros do Supremo Tribunal!

    • Carla Fernandes says:

      Obrigado Luis Lavoura , já tinha visto essa “pequena” nuance , mas é sintomático. Um comunista como este João Mendes só podia sair coisa assim, enganar dissimular para convencer desonestamente as pessoas da sua espécie de argumento. O interessante é que, até num post em que quer criticar uma conduta moral comete a sua habitual desonestidade intelectual. Enfim…Moralidade Comunista…

      Carla Fernandes

      • Filipe Bastos says:

        Pode queixar-se da parcialidade do João Mendes em muita coisa, mas nesta não parece: a People of Praise é sobretudo católica, e tem posições que, se não forem fundamentalistas, são pelo menos muito conservadoras. Cito:

        Married women are “headed” by their husbands.

        The group is almost entirely run by men … ensuring men do not leave family and community matters to women, according to a 2009 document obtained by The Times.

        Other language states that while being the head of the household does not give a husband a license to dominate, a wife “should take her husband’s direction seriously.” A husband’s responsibilities include “correcting” his wife should she stray from the proper path, listening to her and ensuring her needs are met.

        Some people familiar with the People of Praise describe Judge Barrett’s career as an anomaly for women within the community. Families are often large, and “the moms didn’t tend to work,” said Ms. Byrne, who grew up in the group.

        Ou seja: um típico clube de carneiros religiosos, algo comum na canalha americana, com graus variáveis de fanatismo. Moralidade comunista? Nada a ver.

  5. Até quando irão os democratas permitir o que esta gentalha sem escrúpulos jogue invariavelmente sujo? Até que imponham uma ditadura? Espero que ganhem juízo e logo a seguir às eleições, que vão ganhar, aumentem o número de juízes do Supremo, que é a arma que lhes resta.

  6. Filipe Bastos says:

    “Os eleitores, esses, nada puderam ou tiveram a dizer.”

    Parabéns, João Mendes: descobriu que nesta partidocracia, nos EUA como em Portugal, os eleitores decidem ZERO. Rodam o tacho de anos a anos, quando lhes mandam, e já é um pau.

    Curiosamente, só o descobriu agora graças ao Trampa. Suponho que quando o António Bosta decidia algo, ou o Putin, ou outros pulhíticos, devia ser a democracia a funcionar.

    • Paulo Marques says:

      Não é verdade; elegem, por exemplo, directamente muitos dos xerifes e procuradores, o que resulta nalgumas bandalheiras e corrupção inevitáveis como efeito da democracia directa.

      • Filipe Bastos says:

        Sim, também elegemos directamente o PR ou os autarcas. E então? Continua a ter zero influência no que eles farão após ganhar o tacho. O eleitor limita-se a rodá-lo: hoje o PS, amanhã o PSD. Hoje o Isaltino, amanhã a Foge Fatinha, depois o Merdina ou o Major Batata.

        Percebo que chulos e pulhas queiram denegrir a democracia directa, mas cidadãos normais? Afinal que tem contra a única verdadeira democracia?

        Que tem a perder? A chulice, corrupção, desfaçatez e impunidade desta canalha pulhítica? Tem medo de quê?

        • Paulo Marques says:

          Que nos tornemos nesse grande exemplo que é o Brasil.

        • Paulo Marques says:

          Ou, no caso dos referendos para tudo, os problemas com isso na Suiça e Califórnia.
          O nosso está longe do melhor, mas não é por sermos uma república.

          • Filipe Bastos says:

            Sim, coitados dos suíços: um país horrível e mal organizado. Não é exemplo para ninguém.

            O Brasil é exemplo do seu regime: uma ‘democracia’ representativa. Daí o Bolsonaro.

            Não vejo a relevância de ser república; havia de ser uma monarquia? Não me diga que, como muito americanos, confunde república e democracia.

          • Paulo Marques says:

            Numa república o voto é indirecto, na democracia directo. E no Brasil elegem-se muitos caciques por voto directo, invés dos partidos que tanto odeia, e não são menos corruptos.

          • Filipe Bastos says:

            Sempre tem a mesma confusão. Ser república indica apenas que não é uma monarquia. Pode ter democracia directa, indirecta, ou nenhuma.

            No Brasil elegem caciques, como bem diz, logo é também representativa.

            Nem sequer defendo uma dem. directa: apenas semidirecta. Temos de começar por algum lado. Assim é que não podemos continuar.

    • Luís Lavoura says:

      Os eleitores dos EUA escolhem o Presidente e os senadores. Estes escolhem os juízes do Supremo Tribunal.
      É um sistema muito similar ao português. Cá também, os juízes supremos não são diretamente eleitos pela população, são escolhidos pelo governo e, eventualmente, aceites pela Assembleia da República.
      Não conheço nenhum país onde os juízes supremos sejam diretametne eleitos pelo povo.

      • Filipe Bastos says:

        Claro que é semelhante: daí dizer que nesta partidocracia, nos EUA como em Portugal, os eleitores decidem ZERO.

        A questão nem é tanto os juízes; é que não somos tidos nem achados em qualquer decisão desta canalha. O Lavoura eleitor, o Lavoura contribuinte e cidadão, decide zero. A sua opinião, o seu julgamento e as suas prioridades valem zero.

        Num país de milhões de pessoas continua a ser uma ínfima minoria ou até um só político a decidir tudo. É primitivo. É medieval. É digno das cavernas. É uma cidadania infantil, uma monarquia 2.0 sob uma fachada democrática.

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