A propósito das Presidenciais

Acho curioso como há quem seja capaz de compartimentar quem vota neste ou naquele partido: no PCP votam estes, no Chega votam aqueles, no PS aqueles outros, e por aí fora.
Aquilo que fui percebendo é que os eleitorados são realidades muito mais transversais do que realidades compartimentadas.
Conheci empresários que votavam PCP e operários que votavam CDS.
Há uma mescla de gerações, de sonhos e frustrações, que torna a realidade eleitoral em algo muito mais rico do que grupos ou tendências.
No meio disto tudo, à medida que a República vai degradando-se, o chamado voto de protesto vai ganhando maior peso eleitoral.
O real e concreto perigo para a Democracia é quando o voto motivado pelo ódio e pela revolta se sobrepõe ao voto motivado pelo sonho e pela utopia.

Comments

  1. Antonio Miguel says:

    E os culpados disto estar descambando há muito tempo são aqueles que enganaram o Povo que lhes confiou o destino de Portugal e delapidaram tudo desde a confiança, os dinheiros públicos, passando pelas organizações .
    Depois queixam-se do surgimento dos populistas, dos Venturas, das cópias hitelerianas e outros oportunistas na venda da banha da cobra

    • Paulo Marques says:

      Apesar de tudo, a delapidação não foi foi assim tão grande ou única. Há quem seja subsidiado para fomentar golpes de estado noutro lado… Confio menos em quem diz que resolve tudo, põe tudo no mesmo saco, e acaba por não resolver nada. Quantas pessoas condenaram JMV e Carlos Alexandre, mesmo, depois de todo o circo de salvação nacional? Como ficaram os fluxos financeiros e a zona de conforto depois da limpeza além-troika?
      Promessas de amanhãs que cantam do mercado único e do pelotão da frente que nunca dão em nada são muito piores a minar a confiança em quem as propagandeia. A culpa, assim, de não haver vacas a voar só pode ser atribuída a eles, já que o resto é uma maravilhosa oportunidade, e não uma manta de retalhos legais a favorecer quem já partiu à frente e que tem que ser paga, literalmente, com desemprego para que assim continue.

  2. Filipe Bastos says:

    Há realmente excepções, mas são isso mesmo. Quem (ainda) vota tende a votar não em sonhos, mas em benefícios: quem tem menos vota em quem lhe promete mais; quem tem mais vota em que lhe promete manter o que tem, e obter mais ainda.

    São raros os que vêem para além do seu interesse, quanto mais contra ele. Mas quase todos mascaram este egoísmo, simples e rudimentar, com princípios bonitos e outras razões.

    A isto soma-se o carneirismo: os partidos – de esquerda e de direita – são como clubes. Somos criaturas de hábitos. O meu pai sempre votou PCP; embora desiludido, não votaria noutro.

    Os culpados, como disse o Antonio Miguel, são claros. O autor fala em democracia, mas só temos partidocracia. Supostas alternativas são mais do mesmo, como o banha-cobrista do Chega.

    Revolta? Quem nos dera. Só cá há apatia e abstenção, que o regime ignora ou apresenta como concordância. O único voto útil é branco ou nulo: ir votar só para dizer NÃO.

    Votar só para escarrar nesta farsa chula e corrupta. Quem nos dera uma maioria de votos brancos e nulos. Uma grande, uma imensa maioria de escarros no focinho destes pulhas.

    • Mandar estes embora, para pôs lá quem?

    • Filipe Bastos says:

      Num mundo melhor: ninguém. Há muito que a tecnologia permite uma democracia mais directa, com todas as decisões relevantes votadas a nível nacional, regional e local.

      Os fãs desta farsa pseudo-representativa gostam de ameaçar com caos e a ‘ditadura da maioria’ (havia de ser da minoria?). Tretas. Desculpas para deixar tudo na mesma.

      Seria referendada uma Constituição para prevenir abusos, e câmaras altas – políticas e técnicas – ou senados para avaliar e implementar as decisões. Estas, em vez de delegadas como cheques em branco, seriam validadas por todos.

      No mundo que temos: uma democracia semidirecta; um meio caminho. Tomar mais decisões, e fiscalizar as que são tomadas pela classe política. Tudo explicadinho ao cêntimo.

      Varrer estes partidos. Acabar com alguns. Correr com chulos, prender trafulhas. Criar uma polícia política, mas ao contrário do habitual: para vigiar os políticos, não os cidadãos.

      Políticos e ex-políticos. Todos controlados e investigados à lupa. A Gestapo e a Stasi são boas inspirações. Não gostam? Não se candidatem. Larguem a pulhítica. Vão trabalhar.

      • Paulo Marques says:

        Essa versão da anarquia deixava facilmente o controlo nas mãos dos tais peritos, facilmente controlando o sistema. Ou a polícia, ainda para mais assumidamente com mandato para violência descontrolada, não seria gerida por peritos? E em nada alterava a fácil manipulação de votantes e eleitores.
        Tem que estudar mais. Eu também, mas isso é notoriamente fraco.

      • Filipe Bastos says:

        Eis uma objecção que não esperava de si: a histeria covideira que passa a vida a defender é supostamente sustentada por peritos. Então os peritos já não prestam?

        Em todo o caso, v. é que está a falar em controlo dos peritos e em anarquia; falei apenas em especialistas para ajudar a tomar melhores decisões. Ninguém sabe de tudo.

        Polícia, bombeiros, hospitais, tudo continuaria a funcionar. Qual violência descontrolada? Que diabo, uma democracia assusta-o assim tanto? Não concebe um mundo onde adultos decidem a sua vida, em vez de tudo delegar num ditador, no paizinho-Estado ou numa classe de pulhas?

        • Paulo Marques says:

          Os peritos informam, os políticos decidem. Isso é em tudo. O que digo é que parece um sistema, pela descrição, que facilmente cai numa oligarquia a fazer-se de meritocracia.
          A anarquia é apelativa, mas não, não concebo. Temos um país em que o melhor português é Salazar, em que o Euro trouxe prosperidade, etc etc. Se são ignorantes hoje, serão ignorantes amanhã. O que é natural, têm, e não gozo, mais que fazer.

  3. JgMenos says:

    Quando secar a vaca europeia é que se saberá no que isto vai dar.

    • POIS! says:

      Pois é!

      O seu pequeno-almoço vai ter de ser obtido noutro úbere.

      E a sua carreira de reputado Peão de Brega vai mesmo ficar em perigo. Ou tornar-se mais perigosa. Vai ter mesmo de levar os touros para o curro sem auxílio. Se as verónicas não resultarem, o melhor é mesmo apear o capote e tentar vestir-se com um calfe e baixar-se disfarçadamente. Aficionados de referência dizem que resulta.

      • POIS! says:

        Pois talvez haja uma estratégia melhor!

        É vestir-se como aquele tipo da QAnon. Não esquecendo o “chapéu”. Depois é só colocar-se ao lado do touro e começar a ler os discursos do Venturoso Enviado. O touro recolhe logo aos curros, pode ter a certeza. Mas há o perigo de marrar. Os Murteira Grave, por exemplo, têm pouca paciência para discursos.

    • Paulo Marques says:

      Como, “quando” secar? Pelo menos desde a fantasia do pelotão da frente que sai mais do que o que entra, a bazuca é mais do mesmo.
      Ou o contabilista não faz contas?

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