Notas sobre as presidenciais 7: Ana Gomes against the system

Não quero imaginar o que teria sido esta eleição sem a candidatura de Ana Gomes. Sem uma candidatura que representasse o espaço que vai da social-democracia ao socialismo democrático, onde me posiciono ideologicamente. Sem uma voz de esquerda suficientemente corajosa para questionar o establishment socialista, mas sem nunca renegar o europeísmo ou as vantagens de uma economia mista, onde os sectores público, privado e social se complementam, regulados pelo Estado. Uma voz do centro-esquerda com provas dadas de carreira e competência, que tem sido um farol na luta contra a corrupção, contra a criminalidade económica e a favor de um Estado mais honesto e transparente. Senti-me representado desde o primeiro momento, mesmo sabendo tratar-se de uma eleição com um resultado mais do que expectável, que de resto se veio confirmar.

Ana Gomes teve, de longe, a batalha mais difícil de todas. Partiu sem o apoio do Partido Socialista, liderado por um António Costa que ainda não perdoou – nem perdoará – o apoio e o alinhamento de Gomes com António José Seguro, antes da tomada hostil do partido em 2014 por Costa e sua entourage, como não perdoa a ousadia da candidata em confrontar o partido com os seus fantasmas. Poucos, muito poucos, têm a coragem de o fazer. Contam-se pelos dedos e Ana Gomes é a primeira e mais audível. Como foi a primeira e a mais audível a criticar José Sócrates, sem contemplações, quando a máscara do ex-primeiro-ministro caiu. Não será à toa que, a poucos dias das eleições, Sócrates escreveu um artigo de opinião em que criticou duramente Ana Gomes. She should wear it like a medal!

É meu entendimento que Ana Gomes prestou um importante serviço ao país. Ao avançar apenas com o apoio de dois pequenos partidos, PAN e Livre, para representar um espaço político e ideológico que António Costa entregou ao candidato conservador numa bandeja de prata, Ana Gomes demonstrou coragem. Ao ficar à frente de André Ventura, mostrou ao país que o centro-esquerda pró-europeu, humanista, fiel à herança da luta pelos direitos humanos e civis, que defende o primado do conhecimento científico e uma abordagem musculada no combate às alterações climáticas, que luta contra a corrupção e contra a criminalidade económica, e que defende, acerrimamente, um Estado Social forte, para todos, sem discriminações, continua a valer mais do que a extrema-direita que é a negação de tudo isto. Uma extrema-direita com aliados poderosos, financiadores multimilionários, bases altamente mobilizadas e uma campanha de desinformação em curso há dois anos. Alguns poderão afirmar que a diferença foi curta, mas 50 mil votos não são uma insignificância. Mas, mais do que a diferença de votos, importa a mensagem que se passa ao país: numa eleição em que o centrão das negociatas se uniu em torno de Marcelo, com a excepção de alguns milhares que migraram do PSD e do CDS para o Chega, Ana Gomes foi a jogo com poucos recursos e mostrou que a socialismo democrático continua a ser um ideário mais mobilizador e inspirador que o do salazarismo bafiento assente no discurso do ódio. Com ou sem o apoio do establishment socialista. Estou-lhe muito agradecido e espero que uso o capital político conquistado nestas eleições para causar um vendaval no próximo congresso socialista. Ainda é cedo para a reforma.

Muito obrigado, Ana Gomes!

Comments

  1. JgMenos says:

    Dentro do despautério socialista, o de Ana Gomes é de facto um caso com alguma singularidade.
    Não acarneira como tantos outros, e denuncia bravamente a corrupção que adivinha fora da manada, pois em relação esta limita-se a pontuar em casos do domínio público, seguramente não em investigação interna a que não lhe faltam acessos.

    Em final serve o seu talento de arruaceira e acaba tendo alguma utilidade para o a nódoa maior que é a manada.

    • POIS! says:

      Pois tá bem!

      Só faltou a V. Exa. assumir que escreveu isto depois de dois shots de águarrás.

    • Democrata_Cristão says:

      Menos

      “Em final serve o seu talento de arruaceira e acaba tendo alguma utilidade para o a nódoa maior que é a manada.” ?????

      Falas muito da manada, mas o BOI és tu

    • Paulo Marques says:

      Acesso privilegiado é mau para perseguir o querido coiso, já para perseguir os que não são do clube já estava bom. Conta-me mais.

  2. Tal & Qual says:

    o espaço que vai da social-democracia ao socialismo democrático, onde me posiciono ideologicamente.

    V,Exª é desses?
    Bem pode limpar as mãos à parede !
    É que esse espaço, (se não deu por isso) é onde estão os maiores trafulhas cá da santa terrinha…
    Passe bem e salaam aleikium !

    • iceberg da Islandia says:

      ” salaam aleikium”

      V,Exª é desses?

      • Tal & Qual says:

        Era só parra ver se estavas atento aí da … Islândia !

    • Paulo Marques says:

      Tá errado, para serem sociais-democratas tinham que, pelo menos, não ter asco a usar a palavra trabalhador invés de colaborador.
      Mas tem razão que a beira da estrada nada tem a ver com a estrada da beira, não há partido parlamentar que seja democrata socialista.

  3. Filipe Bastos says:

    …o socialismo democrático, onde me posiciono ideologicamente.

    Eis a sua confusão, João Mendes, e a dos muitos Naldinhos que vão tolerando e perpetuando este pântano xuxa: socialismo é o controlo democrático da sociedade e da economia pela população.

    Não esta plutocracia saqueada por mamões e governada pelos seus fantoches pulhíticos, que uma minoria de carneiros vai alternando.

    ‘Socialismo democrático’ é assim, além de uma redundância, uma versão pífia da boa e velha social-democracia: essa charneira onde cabe quase tudo, um socialismo light e faz-de-conta que muda zero, mas fica muito contente consigo mesmo.

    Daí a admiração do João pela Ana Gomes, essa euromamadora de voz grossa, essa feroz contestatária: tão séria e tão feroz é ela, que mama há décadas no PS, a pior máfia pulhítica do país.

    Vai acossando uns mamões, acusando uns trafulhas e dizendo umas verdades? Vai; nisso é realmente rara. Mas é menos mérito dela do que demérito deste regime podre. Tanto que não larga a teta. O regime gosta das Anas Gomes: ladram mas não mordem.

    • POIS! says:

      Ladra mas não morde? Ora pois!

      É como aquele Deus do comentário que acusou aqui o Primeiro-ministro de homicídio qualificado com dolo eventual e, que se saiba, até agora nada fez para o evitar. Quem faz uma afirmação destas tem certamente provas. É seu dever, como cidadão, apresentá-las ás autoridades judiciais.

      Ou então, teremos de concluir que os latidos dessa Basta Divindade também não se traduzem no respetivo abocanhamento. É pena!

    • Filipe Bastos says:

      Pois é uma velha confusão sua: o que eu disse é que o Bosta só se preocupa com as mortes pelo efeito destas na sua imagem; não disse que as causa de propósito. Porque o faria?

      A prova do que (re)afirmo acima é que meros dias após Pedrógão, onde o Estado teve culpas óbvias, o pulha convocou um ‘focus group’ para avaliar os danos na sua imagem.

      Não se lembra? Sobre isso não se lhe oferece dizer nada?

      • POIS! says:

        Pois não se me oferece, não senhor. Não desvie a conversa.

        Só agora é que deu pela minha “confusão”? Eu não “registo coisas” como V. Exa. mas, se calhar devia. É a terceira vez que lhe menciono o tema e V. Exa. a assobiar para a atmosfera.

        V. Exa. escreveu mais ou menos isto: O Costa está-se a borrifar para o número de velhos que morrem. Só pensa é na sua imagem ou no poder, ou coisa assim.

        Isto, Sr. Bastos, é acusar alguém de algumas centenas de crimes homicídio qualificado com dolo eventual.

        Se não citei como devia, V. Exa. certamente repetirá o que escreveu. Vá lá!

      • POIS! says:

        Pois então, depois de muito procurar, relembro-lhe o que escreveu (em 14/1, num comentário a post de J. Cordeiro):

        “Podemos confiar no seguinte: o Costa – o mesmo Costa do focus group de Pedrógão – está-se a borrifar para quantos morrem; mas tudo fará para proteger a sua imagem”.

        E a minha resposta foi:

        “Desculpe lá mas, se um Primeiro-ministro se está “a borrifar” para quantos morrem o seu comportamento é doloso. Neste caso o dolo, ainda que eventual, é uma conduta muito grave, com incomensuráveis consequências.

        O Presidente da República deve ter conhecimento imediato. mas não pode ficar por aqui.

        Deve apresentar as provas que tem à PGR, imediatamente. E mesmo às instâncias internacionais comunitárias e a OMS.É um país em sofrimento que o exige, Sr. Bastos. É sua obrigação. Não nos desiluda.”

        Pois foi! A desilusão persiste. O Deus do Comentário, o verdadeiro Inquisidor-mor das incoerências alheias, ainda não “arranjou tempo” para tão necessária denúncia. É confrangedor!

        • Democrata_Cristão says:

          Pois

          Estão a dar corda a um garotão fascistoide, disfarçado de esquerdista

      • Filipe Bastos says:

        Sim, já tinha dado pela sua confusão. Tal como dei pelo Paulo Marques, nesse mesmo post, a tentar branquear a filha-da-putice do focus group sugerindo que o Costa queria “governar de acordo com a opinião dos eleitores”.

        Mas não se pode responder a tudo, já açambarco demasiado os comentários. Depois isto torna-se uma chatice.

        Repare, não é crime um PM ser um pulha narcisista; e não é crime v. gostar dele. Como eu disse nesse post, até nas mortes da histeria covideira seria difícil condenar o Costa: limita-se a seguir recomendações e a imitar outros países.

        Mas não sendo crime, é repugnante. Em Pedrógão como em tudo o resto, ele nem assumiu qualquer responsabilidade, e houve grandes culpas do Estado, nem teve mínima decência. Fez o de sempre: passar culpas, distrair o pagode e proteger o seu rabo. Um focus group? Que grande FDP.

        • POIS! says:

          Outra vez a desviar a conversa?

        • Filipe Bastos says:

          Desviar? Sendo o focus group de conhecimento geral, e não sendo crime, do que é que está a falar?

          Priberam: dolo – intenção ou vontade consciente de cometer acto ilícito ou de violar a lei.

          Não foi ele que ateou o fogo, entende? O que está em causa é o que fez depois. O que faz sempre.

          Consegue entender que não é contra a lei alguém, mesmo um PM, borrifar-se para mortes alheias? Que não é contra a lei ser-se filho da puta… ou defender filhos da puta?

          • POIS! says:

            Pois está enganado!

            Em primeiro lugar: eu não estou aqui a defender, em abstrato nenhum Costa. Por isso bem pode considerar isso como contrário á lei ou não. Estou-me a borrifar. Folgo por saber que V. Exa. se considera completamente dentro da legalidade. Desculpe lá, mas estava a pedi-las…

            Agora vamos ao resto.

            Sr. Bastos a sua “veia” para dissertar sobre tudo e mais alguma coisa é conhecida. Relembro aqui a sua “redução” a chulecos” dos maestros de orquestra, cuja função, segundo V. Exa. seria a de “ensaiar”, realçando que a orquestra (que pode ter aí uns 70 elementos, separados 30 metros entre si…) bem poderia tocar sozinha se os músicos fossem experientes, reduzindo a presença de um maestro à frente como “uma questão de marketing”…O vício de V. Exa. nas maravilhas da tecnologia levaram-no a confundir uma orquestra com um sintetizador…

            A sua cultura jurídica revela-se semelhante. “Priberamou” e está o caso arrumado!

            O dolo, Sr. Bastos, tem vários matizes. No dolo direto, o agente quer que o resultado se produza. V. Exa. já afastou essa possibilidade, pelos vistos.

            O dolo indireto possui duas formas. No dolo eventual, apesar de o agente não querer um resultado doloso, prevê que ele possa acontecer e aceita essa possibilidade; no dolo alternativo, o agente prevê o resultado, e aceita um ou outro dos resultados possíveis.

            O agente, Sr. Bastos, não é nenhum comerciante, nem nenhum polícia. Isto para lhe tirar o trabalho de ir ao Priberam. O agente é, neste caso, aquele que produz uma ação, o Dr. Costa. Que V. Exa. acusou nos seguintes termos:

            “Podemos confiar no seguinte: o Costa – o mesmo Costa do focus group de Pedrógão – está-se a borrifar para quantos morrem; mas tudo fará para proteger a sua imagem”.

            Ora, na minha terra, e creio que mesmo numa suposta semidemocracia semidireta semirepresentativa quem acusa deve apresentar provas. E V. Exa, não duvido, tem essas provas. Por isso deve exercer prontamente a coerência que aqui está sempre a “cobrar” aos outros.

        • Paulo Marques says:

          E qual foi o dolo? Impediu a análise ao comprimento do contracto, à resposta, e à reconstrução?
          Ou em que fez insuficiente por todos eles porque não há dinheiro? Isso é que não se quer discutir, e não falo do Filipe.

    • Paulo Marques says:
  4. claudia rocha says:

    A Ana Gomes é o establishment sem tirar nem pôr, viveu a vida toda à sombra do PS, andou abraçada ao Sócrates, defende um Lopes Mota, tem uma filha carreirista, uma casa construída em zona de parque natural à custa de amizades…

    • César P.Sousa says:

      A Ana Gomes não terá muitas semelhanças com a Nossa Senhora de Fátima , mas este comentário cheira-me a dor de cotovelo ! Será ?
      A inveja é muito feia dona Cláudia.

      • Filipe Bastos says:

        Ora cá está. Quando alguém constata algo que não dá jeito, que não serve a ‘narrativa’, que não é lisonjeiro para os Heróis do nosso lado… é inveja. Nunca falha.

        A resposta intemporal de todos os mamões, todos os trafulhas, todos os chulos deste mundo: é tudo inveja!

        • POIS! says:

          Pois não seja injusto, Sr. Bastos!

          Um Ser Perfeito, um Deus como é V. Exa. deveria ser mais magnânimo.

          Bem sabemos que um Deus não tem heróis, porque acima dele nada existe. mas partir para logo condenar a “mamões”, “trafulhas” e “chulos” qualquer pecador é ser mauzinho.

          Diz o povinho, lá na minha terrinha, que “hora a hora, Deus melhora”. É essa nossa esperança. Um Deus mauzinho não faz cá falta nenhuma.

          • Dr. Contraditório says:

            Ou seja, não contestaste nada do que a senhorita escreveu, porque não podes. Isto é o mesmo que dizer que confirmaste, por incapacidade de contestação, o que a mulher escreveu.

            De seguida, gastaste umas palavras do dicionário a tentar desviar a conversa.

            Parabéns, Cláudia Rocha! Deu-lhes no osso e eles estão a choramingar ao canto.

          • POIS! says:

            Pois não entendi!

            O que é que o Dr. Contraditório contraditou. Como eu não contraditei nenhuma “senhorita” acho que o Dr. Contraditório entrou em contradição.

            Também ficamos a saber que o Dr. Contraditório não gasta palavras do dicionário, até porque, segundo parece, as que queria realmente usar já lá não estão porque foram gastas. Mas, mesmo assim, gastou mais algumas, o que me parece um tanto contraditório.

      • Claudia Rocha says:

        Inveja do quê….?

    • Paulo Marques says:

      A menos que tencione votar num desconhecido qualquer, qualquer candidato vai estar associado a um poder ou a outro. Até os concorrentes do Big Brother estão associados ao poder mediático.

  5. Dr. Contraditório says:

    Ana Gomes? Uma crítica seletiva e hipócrita?

    Meu Deus! Ela salvou a pátria.

    Ora, com vossas licenças, brrrrrrrrrrrr!

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