All a bunch of socialists

No sábado, Pacheco Pereira escreveu uma crónica no Público intitulada “Não deixem os atuais liberais apropriarem-se da palavra liberdade”. O texto de Pacheco Pereira começa bem quando fala de neoliberalismo, aquele termo incerto que nunca ninguém soube explicar muito bem o que é. Talvez porque não exista. Neoliberal não passa de uma tentativa de insulto aos liberais. E para não haver hipótese de julgarem que sou faccioso, avanço já que o equivalente a isto é aquela direita que grita marxismo-cultural sempre que a esquerda faz algo que não gostam, mas que não sabem como argumentar. Pacheco Pereira diz que neoliberalismo é o liberalismo reduzido à economia. Certamente não se refere à Iniciativa Liberal, que defende o liberalismo económico, social e político desde o primeiro dia. Falam os liberais mais de economia do que em temas sociais? Certamente, porque estamos num país exemplar para a Europa em certos pontos sociais, mas que caminha para o abismo económico. Admitia que há anos se duvidasse do liberalismo em toda a linha da IL, visto que era desconhecida. Hoje, é só desonestidade intelectual. Um partido que já fez várias propostas de caráter social, que foi a favor de um referendo mesmo sabendo que a sua posição seria aprovada em Assembleia, o único partido que é capaz de condenar veementemente os ataques aos direitos humanos pelo Estado chinês, o partido que propôs medidas para combater problemas de saúde.

 

Para fazer uma análise mais precisa da Iniciativa Liberal recorre ao PREC Liberal, que são 100 medidas apresentadas em contexto de pandemia. Tinha também programas políticos ao longo destes três anos de existência, mas optou pelo PREC Liberal. A Iniciativa Liberal não coloca tudo no mesmo saco, como gosta de fazer passar. A Iniciativa Liberal defende as liberdades de uma forma plena, não tendo preferências. E é preciso voltar a dizer: as ideias liberais para a saúde e para a educação aumentam a liberdade de escolha do cidadão. Em que medida isso é mau? Nunca saberemos.

 

Vamos ao que interessa: o que levou Pacheco Pereira a escrever este texto? Não sei. Mas não posso deixar de reparar num dado curioso. Esta crónica foi lançada sábado, um dia depois do famoso caso nos Açores, em que depois de se saber que o governo PSD/CDS/PPM repete a estratégia tachista do PS, a IL afirma não aprovar um orçamento com estas gorduras. Mais uma vez, a IL provou que não fará oposição clubística, colocando-se numa barricada, criticando os do outro lado, mas de olhos tapados para os defeitos do seu. A IL faz oposição a tudo aquilo que não representa os seus valores, quer tenha de se opor ao PS, PSD ou ao MAS. E isto afeta, porque o PSD perdeu finalmente a esperança de ver na IL aquilo que viu muitas vezes no CDS. O PSD olha para o que o PS faz com o BE e o PCP e ficou triste por não poder fazer o mesmo com a IL.

 

Gosto de me afirmar como um liberal de direita, mas a direita portuguesa há muito que está perdida. Não vale a pena criticar um partido, se acabamos por fazer exatamente igual. Fazer política com ações e atitudes não é apenas a melhor forma de fazer política, é a única. É por todos estes vícios estatistas entranhados na política portuguesa, que a IL veio marcar diferença com ideias liberais em toda a linha, não estando preocupada com direitas e esquerdas que são termos cada vez menos importantes para a política.

 

Este texto de Pacheco Pereira e partilhado por Rui Rio não passa de uma demonstração de que há muito trabalho a fazer em Portugal e mentalidades por mudar. Da direita à esquerda, temos ainda demasiada esperança na função do Estado e uma descrença brutal no cidadão. Levou-nos até aqui e parece que a queda ainda não acabou.

 

Para acabar, cito uma frase de Mises que poderia muito bem ser dita ao PS, PSD e respetivas muletas: All a bunch of socialists!

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Caro Francisco Figueiredo, também li o texto de Pacheco Pereira e estou em total sintonia com a análise do historiador portuense. Somos diferentes. A Democracia é isso.
    A IL irá fazer o seu caminho, tal como todos os partidos liberais na Europa o fizeram, mas ficará sempre refém dos maiores partidos, numa menoridade representativa idêntica àquela a que submeteu o CDS durante décadas. Nem sequer acredito numa IL com uma representação parlamentar acima dos 10%, ou se quiser, 20 deputados. Mas posso estar enganado.
    O IL à direita, tal como o BE à esquerda, são dois partidos urbanos, “académicos”, com expressão num grupo restrito de cidadãos, cujo nível intelectual e cultural ultrapassa a média do eleitorado dos outros partidos.
    De qualquer modo, entre o Chega e a IL, venham os deputados do seu partido, a toda a velocidade.
    Podemos defender no plano das ideias tudo aquilo que quisermos, novas abordagens económicas e sociais, mas é a praxis política do dia a dia, que determinará a credibilidade duma instituição partidária. Não vejo isso na actual conduta da IL.
    Nos tempos que correm, em face duma pandemia, perante os desafios éticos e morais que se colocam, mais até dos que os legais, eu gostaria de ver, por exemplo, a IL demarcar-se daquilo que está a acontecer nos Açores. Uma vergonha que repete e imita o pior do PS, em especial o do período de governo de Carlos César. Mas uma posição política coerente, responsável e forte, que obrigasse o governo regional a reequacionar todas as nomeações feitas até aqui, nos últimos três meses, anulando aquelas que bradam aos céus.
    Não, um mutismo completo. Ou, pior ainda, a seguir virá uma encenação igual a que foi feita pelo Chega, para que tudo fique na mesma.
    Gostaria de ver a IL a insurgir-se com veemência contra a forma como o plano de vacinação foi também aplicado no sector privado, com especial incidência nos hospitais geridos pelos grupos de saúde. Não, um mutismo completo.
    Já sei. Vão dizer que a culpa é da Ministra da tutela, porque não deu instruções rígidas, aos profissionais de saúde e gestores hospitalares, como se a ética e a deontologia, recebessem instruções superiores de uma qualquer entidade, que não a nossa própria consciência profissional.
    Já no caso dos Açores, vejo com alguma ironia, como em poucos meses, a montanha pariu um rato. De facto em Portugal os políticos sem excepção, incluindo os do partido onde eu voto, o BE, e o seu, a IL, pregam uma coisa e a seguir, na maioria das vezes, acabam a fazer o seu contrário. O meu voto, sempre o afirmei, não é ideológico. É um cordão sanitário contra a indecência. Principalmente a do Centrão. Foi por isso mesmo que votei na Ana Gomes e não na Marisa Matias, como seria expectável.
    É por isso que eu não acredito em ideologias. Muito menos em novas abordagens políticas, porque sei que no fundo tudo isso não passa de retórica, e que, perante as situações adversas que se deparam dia a dia, a pressão exercida por um lobie, por um grupo profissional mais próximo do poder político, por exemplo, a magistratura, eu e os meus pares, seremos sempre prejudicados, não em favor da sociedade em geral, numa espécie de mitigação dos danos, mas sim em favor dos mesmos. A elite dominante.

    • Francisco Figueiredo says:

      Em relação aos Açores, a IL não tem poder nas nomeações. A IL não aceitará um orçamento assim e já o comunicou, ao contrário do Chega que aceita. Veremos a continuação destes episódios.

      Em relação ao resto, temos opiniões diferentes. E ainda bem que assim pode ser. Obrigado!

      • POIS! says:

        Pois não sei!

        O que impede a IL-Açores de agir já. Para começar, pode dizer que acabou o acordo. Já seria um respeitável início.

        Senão, por mais que tentem, não se livram das más companhias, especialmente da da Legião do Venturoso Enviado da Providência.

        • Francisco Figueiredo says:

          Impede que não há forma de o fazer. É esperar que o orçamento seja votado.

          • POIS! says:

            Não me diga, Sr. Figueiredo!

            Então sugiro-lhe que faça a seguinte proposta lá ao povinho liberal:

            PROPOSTA: Vamos convocar uma conferência de imprensa para anunciar o seguinte:

            “Face á proliferação de nomeações suspeitas, A IL considera sem efeito o acordo anteriormente assinado com o PSD-Açores, pelo que não se compromete a votar contra eventuais moções de censura nem a viabilizar qualquer Orçamento Regional”. FIM DA PROPOSTA. Ponto final.

            Custa muito? Não há forma de o fazer? Porquê? O deputado regional da IL é mudo? Ou tem a vozinha a zero decibéis como o outro que aqui costuma comentar?

            Porque o orçamento até pode vir equilibradinho. Sabe como? Com a Venturosa receita do Enviado de Deus. Retiram-se apoios aos mais pobres, diminuindo o RSI para metade o que, numa situação económica de crise como a presente, conduzirá muita gentinha, especialmente crianças, à miséria e a poupança assim gerada já dará para pagar umas nomeaçõezinhas jeitosas.

  2. Miguel says:

    Neo-liberalismo, existe e é distinto do ultra-liberalismo. Leia “Il faut s’adapter” de Barbara Stiegler. Ouça esta entrevista para ter um cheirinho da coisa.

  3. Luís Lavoura says:

    Neoliberal não passa de uma tentativa de insulto aos liberais.

    Não. O liberalismo original aplicava-se em grande parte à economia de coisas reais, produtos e serviços de coisas reais. O neoliberalismo, produzido a partir de 1980 nos países anglossaxónicos (Reino Unido e Estados Unidos), pretende aplicar o liberalismo às transações financeiras. São coisas bastante diferentes. Uma coisa é ter liberdade de produção e transação de batatas, outra coisa é ter liberdade de produção e transação de derivados financeiros. É que, o mercado das batatas tende a equilibrar-se, de acordo com a lei da oferta e da procura, mas o mercado de produtos financeiros tem uma tendência inerente para a instabilidade.

    • Filipe Bastos says:

      Sim e não, Lavoura: isso será assim para batatas, restaurantes ou papelarias; actividades de fácil entrada e ampla escolha, onde há mesmo concorrência e são inviáveis cartéis ou monopólios.

      Mas tente concorrer com a EDP, a REN, a ANA, a PT, os CTT, o Google, o Facebook… ou tente abrir um banco, uma seguradora ou uma petrolífera. Porque não? Pois.

      A escala, tecnologia e investimento necessários tornam-nas não só monopólios ou oligopólios naturais, como sobretudo mamões naturais: é sempre a mamar. E nada os impede de se juntarem ou lobbiarem para mamar ainda mais; para distorcer o famoso ‘mercado’, essa linda utopia direitalha.

      Os fãs do capitalismo persistem na fantasia de que este promove a concorrência. É mentira. O seu objectivo é mesmo acabar com a concorrência: aniquilá-la, comprá-la, fali-la. Todo o propósito do capitalismo, e também por isso agrada tanto aos americanos, não é competir ou concorrer – é ganhar. E mamar.

      • abaixoapadralhada says:

        Bastos

        “Mas tente concorrer com a EDP, a REN, a ANA, a PT, os CTT, o Google, o Facebook… ou tente abrir um banco, uma seguradora ou uma petrolífera. Porque não? Pois.”

        Isto tudo é verdade, porque os lideres neoliberais (agora auto intitulados liberais * ), tentaram convencer os totós do milagre do chamado capitalismo popular e muitos trabalhadores caíram nessa armadilha

        *O liberalismo é velho e relho de 200 anos. Honra ao grande Alexandre Herculano e tantos outros que lutaram contra a tirania e o poder. Os liberocas de hoje estão do lado do poder”

  4. Paulo Marques says:

    Neoliberalismo é a ideologia de desregular e deixar a economia ao sabor do vento dos intervenientes, sem nunca deixar de intervir para garantir as condições “naturais” do mercado que insistem em não revelar concorrência perfeita e agentes perfeitamente racionais.
    O Tea Party, português ou de outra etnia, não defende a liberdade, defende a selva, com o estado a “concorrer” ficando com os restos não lucrativos. Podem fazer de conta as vezes que quiserem, é exactamente esse o “socialismo” que temos tido no mundo desde um pouco antes d’”o fim da história”, seja na educação, na saúde, na finança, nos transportes, ou noutra coisa qualquer, porque a tendência natural da economia é zigzaguear pela estrada toda e ninguém tem vontade de repetir a grande depressão.
    A mensagem que veio trazer é que a sorte e o caos na vida pessoal e profissional, causador de doenças físicas e psicológicas, é, afinal, uma coisa boa para os eleitores, e que devia ser alargado ao restante da sua vida, incluindo as pensões (podem telefonar ao Costa). Depois dos milagres da eurolândia, boa sorte com isso. O que não é, é apolítico.
    Usar uma citação rejeitada quer por Hayek, quer por Friedman é representativo do quão relevante a ideologia é, como também é o contexto de ser numa discussão sobre impostos progressivos e moeda flutuante: teoria económica não é convosco, é mais teologia económica.
    Mas deixo outra que diz muito sobre o sujeito:
    «Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando o estabelecimento de ditaduras são cheios de boas intenções e que sua intervenção, em dado momento, salvou a civilização europeia. O mérito que o fascismo ganhou assim, por si só viverá eternamente na história.»
    Percebe-se a coligação nos Açores, portanto.

    • Francisco Figueiredo says:

      Lamento que se tenha focado apenas numa citação, mas não há nada a fazer. Só para esclarecer que nos Açores não há nenhuma coligação com a IL envolvida.

      • Paulo Marques says:

        O acordo, ainda vigente.
        Não tenho culpa que escolha como citação gente asquerosa, quer pessoal, quer profissionalmente, cujo legado ainda mata muita gente por ano.

  5. Nuno says:

    Eu parei de ler logo na parte em que diz que o neoliberalismo é uma coisa que ninguém sabe muito bem explicar o que é.

    O que eu acho incrível é que escreve coisas sobre economia e não sabe o que é neoliberalismo. E ainda por cima cita Mises. Enfim, o que se há-de fazer?.

  6. JgMenos says:

    Logo que eu veja o Estado a montar qualquer merda que coloque um bem ou um serviço à venda no mercado livre, vou prestar atenção a essa cena do neoliberalismo.

    Até lá quero que os palhaços que só comem e bebem porque há liberalismo, se vão carpir para o regaço da mãezinha deles… embora me ocorra frase bem diferente.

    • POIS! says:

      Pois faz bem!

      Em não lhe ocorrer a tal frase. É melhor guardar a coisa para uso próprio. Ou V. Exa. ainda perde o seu merecido sossego.

      • POIS! says:

        Até porque aquela malta dos palhaços costuma fazer muito banzé! Não facilite, ó Menos!

    • Paulo Marques says:

      Quando vir um mercado livre, eu digo-lhe. Ah, espera, tivemos aquela coisa das acções da GameStop em que as regras para uns não são as regras para os outros para o mercado não ruir. Coincidências.

      • Democrata_Cristão says:

        ” as regras para uns não são as regras para os outros”

        É claro que nunca são, só mesmo os totós acreditam nisso.

        Basta observar há quanto tempo anda a ser “julgado” o Salgado do BES

    • Santiago says:

      ó menos, pede ao Artur Carvalho, presidente do Chega -Santo Tirso que te explique. Ele é um catedrático.

      Meteu-se numa associação de solidariedade do concelho e roubou os alimentos que essa associação recolhia para entregar a famílias carenciadas.

      Tu e os teus são uns parasitas!!! Vai para a grande puta que te cagou

      • abaixoapadralhada says:

        Muito bom exemplo

        Se as pessoas começarem a denunciar situações como esta, esse bando criminoso fascistoide é rapidamente desmascarado.

        • Santiago says:

          Não sei se será coincidência, mas todas as pessoas que conheço e, de uma forma ou outra, estão ligadas ao Chega têm/tiveram comportamentos criminosos.

          Veja-se o caso da Cristina Azevedo, diretora financeira dos Hotéis Rurais de Portugal e membro da concelhia de Vila Nova de Famalicão dos fascistas, que sem ser TOC fazia contabilidades habilidosas que ajudaram dezenas de empresas a fugir ao fisco

          • Filipe Bastos says:

            Nem é coincidência, nem é só no Chega. O PS é outra máfia. O PSD outra. O CDS almeja ser outra.

            Só os comunas, regra geral, são menos mafiosos. Mas nas autarquias não ficam muito atrás.

    • abaixoapadralhada says:

      o Menos

      Já aqui fizestes tantas vezes a profissão de fé que só acreditas na ditadura fascista, não precisas de atacar os neoliberais que ao pé de vocês, até são gente decente. Pelo menos acreditam na democracia .

  7. abaixoapadralhada says:

    Bastos

    “Nem é coincidência, nem é só no Chega. O PS é outra máfia. O PSD outra. O CDS almeja ser outra.”

    Nunca me enganaste facho !

    • Santiago says:

      O discurso pretensamente anarco-sindicalista não engana, verdadeiramente, ninguém. O CDS “almeja”, bela escolha de palavras, o Jacinto leite Capelo Rego não o diria melhor.

      No Chega, reúne-se o que de pior tem os partidos (PSD, CDS e PS) que fazem do bem público a sua coutada privada. O nome do partido é diferente, a perfídia não.

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