A capa da Sábado de hoje mereceu um silêncio ensurdecedor. Não só das televisões como também nas redes sociais. A excepção, pelo menos na minha timeline, foi o Rui Calafate. Como ele refere, “Eu não ponho em causa a idoneidade de Marcelo, mas se fosse qualquer outro envolvido, e eu não gosto de dois pesos e duas medidas, já o tribunal popular o carimbava de corrupto”.
Segundo o testemunho de Pedro Queiroz Pereira (conhecido como PêQêPê), Ricardo Salgado (BES) supostamente teria “comprado” Marcelo Rebelo de Sousa contratando a sua namorada: “O dr. Ricardo Salgado pegou no departamento jurídico do Grupo Espírito Santo e mandou entregar trabalho de cobranças à dra. Rita Amaral Cabral”, descreveu Queiroz Pereira, no depoimento citado pela Sábado. “Se for ao escritório da dra. Rita Amaral Cabral, verá que mais de metade, 60%, do trabalho era o BES que lho dava, o que era uma forma de comprar o professor Marcelo Rebelo de Sousa”.
É uma acusação grave. Que se torna ainda mais grave quando estamos a falar do actual Presidente da República. E no meio de todo este turbilhão judicial, é mais uma machadada na imagem da justiça e da política portuguesa. Exige-se o cabal esclarecimento. Se é verdade que Marcelo Rebelo de Sousa o merece, os portugueses e aqueles que, como eu, sempre acreditaram na sua seriedade, ainda mais. O silêncio, nesta matéria, é absolutamente ensurdecedor.
Mas dar trabalho ao escritório da senhora não se relaciona forçosamente com o marido dela.
É preciso mostrar que Marcelo fez algum benefício a Salgado que merecesse tal paga.
Há para aí tanto caso para investigar, como sejam o sorteio do totoloto e do Euromilhões, e estamos a perder tempo com estas quesilias.
Mas que poder tinha Marcelo para dar benefícios a Salgado em troca dos serviços que ele encomendava à mulher?
Marcelo foi, durante a maior parte do tempo, somente um professor de Direito Constitucional e comentador televisivo. Como político, era de segunda linha e não tinha praticamente qualquer poder executivo ou legislativo real, mediante o qual pudesse beneficiar Salgado.
Tanta ingenuidade, Lavoura.
Além dos compinchas na Laranja Podre e no centrão em geral, com quem trocava favores e intrigas como fazem todos os ex-pulhíticos, o Martelo era só o mais popular comentadeiro e opinion maker do país, a larga distância dos demais, e o mais que provável futuro presidente deste jardim à beira-mar cag…plantado.
O Mamão Salgado e a máfia banqueira já hão-de ter comprado gente muito menos importante e influente, provavelmente por muito mais do que custou o Martelo.
“ Por este andar, qualquer dia já nem o Passos Coelho, o Miguel Relvas, o Marco António Costa, o Carlos Moedas, … são pessoas sérias!”
Santa paciência! Haja alguma prudência!