Crónicas do Rochedo 44: A carteira é quem mais ordena ou o efeito Ayuso

Nas próximas eleições autonómicas de Madrid, a candidata do PP e actual presidente da Comunidade Autonómica de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, prepara-se para esmagar eleitoralmente a concorrência e ter o dobro dos votos obtidos nas anteriores. Nas anteriores o PSOE tinha ganho, mas a coligação pós eleitoral PP/Ciudadanos e o silêncio do VOX foram suficientes para governar. Os espanhóis chamam-lhe “o efeito Ayuso”. E porquê?

Porque a carteira é quem mais ordena. Isabel Ayuso nunca permitiu confinamentos radicais. Mesmo com Madrid quase sempre acima da média espanhola em casos de Covid-19, o Governo Autonómico na parte que lhe competia (e em Espanha nas autonomias compete bastante) ajudou o sector da restauração e hotelaria, assim como o comércio em geral, permitindo regras mais suaves: enquanto nas Baleares, na Andaluzia ou na Catalunha os restaurantes e o comércio estavam encerrados, em Madrid podiam abrir até às 18h. Depois, quando noutras zonas de Espanha podiam abrir até às 17h já em Madrid podiam estar abertos até às 22h ou mesmo meia noite. E se na Páscoa o confinamento quase total era a regra, em Madrid não. Desde turistas vindos de outras partes da Europa, até esplanadas cheias e ruas pedonais à pinha. A estratégia de Ayuso foi defender aquilo a que ela chamou de “economia de Madrid”. Foram (ainda são) inúmeras as guerras travadas com o Governo espanhol e com os seus parceiros de coligação. Ao ponto de romper a coligação com o Ciudadanos e avançar para eleições antecipadas. Ao que tudo indica, vai ganhar a guerra e de forma absoluta. O Ciudadanos passa de parceiro de Governo a representação zero. O PSOE passa de primeira força a segunda e com quase metade dos votos de Ayuso. O Podemos avança com o inenarrável Iglesias e não evita um desastre (fica atrás do Más Madrid e do VOX) e em penúltimo. Mesmo tendo apostado as fichas todas.

O mais impressionante é verificar que Ayuso conseguiu aliados de peso: é normal em Madrid ver restaurantes, cafés e lojas com a fotografia de Ayuso quando alguns dos seus proprietários são votantes normais de esquerda, alguns até militantes desses partidos. Só que a carteira fala mais alto. Ter dinheiro no bolso que permita alimentar a família é mais importante que a ideologia, que os partidos. Com toda a sinceridade, não sei se o caminho que Ayuso seguiu é o melhor. Não sei. E desde o início que a senhora me irritou solenemente. Mas a verdade é que escolheu um caminho e foi por lá fora contra tudo e todos (inclusive recebendo críticas de outros Presidentes Autonómicos do seu Partido). Por exemplo, a socialista que lidera a região autonómica das Baleares preferiu sempre o caminho das restrições – para os outros, já que a dita senhora foi apanhada a sair de um bar já passavam das duas da manhã, quando obrigava este sector a encerrar às 22h ou, mais recentemente, apanhada a jantar em Ibiza quando era (e é) obrigatório encerrar às 17h e proibido o uso dos interiores dos ditos. São estilos e filosofias.

Em Portugal não temos nenhuma Ayuso. Nem aparentado. Provavelmente é por isso que António Costa está onde está e como está.

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Com esse raciocínio, diria que António Costa e o PS, com quase tantos votos potenciais, segundo as sondagens, do que a direita toda junta, é um ” excelente PM”.

  2. Paulo Marques says:

    Deixar os trabalhadores à sorte também é uma ideologia.

  3. Filipe Bastos says:

    Bem, comparando-a ao ‘nosso’ Merdina vejo imediatas vantagens estéticas. Pelo visto é também melhor autarca; não que seja difícil ser melhor que o Merdina. Um peixe morto já chegava.

    O Naldinho diz que a popularidade é um critério duvidoso: de facto, veja-se o Bosta, o 44 ou a Múmia Cavaca. Mas seria então melhor a Ayuso ter menos votos? Ou se acredita na partidocracia ou não; se se acredita então a popularidade é o que importa.

    O Paulo, claro, arrepia-se com tal irresponsabilidade perante a terrível pandemia. As coisas só deviam abrir em 2023, se já não houver covid. Se ainda houver covid não abrem. Paciência. Desde que a ralé trabalhe, a elite pode continuar em casa.

    • Daniel says:

      Ela não é autarca!…

    • Paulo Marques says:

      Não, o que digo é que não se escolheu nem uma, nem outra. Quando chegar a P1, a B351, e o que ainda aí vier, ver-se-à. Ou isso ou a região do Quebec é anti-empresas e só eu é que não sei.
      De igual forma, a bazuca que ainda não existe não é um apoio às empresas, e por muito que ache que os nossos queridos líderes eurófilos não discordassem, em larga medida não têm escolha de abandonar.

  4. balio says:

    Não sabe se o caminho que Ayuso escolheu foi o melhor???!!! Claro que foi! O povo está lá para o dizer! Se o povo vota em Ayuso, está a dizer muito claramente que o caminho escolhido por ela FOI o melhor!

  5. Santiago says:

    https://www.rtve.es/noticias/20210414/encuestas-elecciones-madrid-promedio/2085699.shtml

    Estas talvez sejam mais realistas e não pode esquecer o efeito “desaparecimento” do Ciudadanos. Se este partido não alcançar representação (hipótese viável), a direita não alcança a maioria, dado que o PP e o VOX (em queda nas sondagens) por certo de unirão como bons irmãos de sangue que são.

    Mais, o Más Madrid está em trajetória ascendente e o Podemos, apesar de longe do que se propôs, cresce em percentagem e número de parlamentares em comparação com as eleições de 2019.

    Até o PSOE, veja-se lá, perde pouco mais do que 1%.

    Ayuso não esmaga o PSOE, Ayuso esmaga o Ciudadanos e ainda tira votos à extrema-direita.

    Sei que pode ser difícil para si, mas seja sério nas análises que faz .

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Para os estalinistas do pensamento, só é sério que pensa como eles, pela bela cartilha com que sempre nos brindam. Deus nos livre e guarde dos estalinistas na acção, pois desses sabemos bem nós e os 60 milhões de assassinados do que esperar…
      Mas vamos então ao anónimo Santiago do sapo, que não o apóstolo, que já deu sentença: quem não pensa como ele não é sério nas análises. Nornalmente, a anónimos (mesmo os com o rabo de fora) não tenho por hábito responder com argumentos. Normalmente ou os mando foder ou nem sequer me dou ao trabalho. Siga uma excepção.

      Portanto, séria é a sondagem da TVE, esse canal que passou de popular (de PP não de audiências) a uma espécie de Maduro TV naquela velha máxima tão usual em Espanha como em Portugal do “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Está bem abelha…

      Praticamente todas as sondagens dão a Ayuso uma vitória folgada e quase em maioria absoluta sozinha. A que é citada no post é a mais recente e do jornal “El Independiente”. Nessa sondagem Ayuso sozinha elege 60 deputados. O PSOE, o segundo mais votado, elege 36, o Más Madrid 18, o VOX 12 e o Podemos 10. Se isto não é esmagador para alguém que leva meses a levar porrada de tudo e todos no campo político, em especial na TVE ou no El País. E, já agora, como no link se pode ler, estes valores são um “promedio” das várias sondagens.
      Diz o apóstolo comentadeira anónima que tal se deve ao quase desaparecimento do Ciudadanos. Sim. E já agora, qual a razão para o Ciudadanos quase desaparecer, sabe? Sim, sabe pois não quero acreditar que mesmo seguindo a cartilha estalinista vinha para aqui falar sem saber nadinha.
      Mas então, como foram as coisas nas eleições autonómicas de Madrid em 2019?
      O PSOE venceu elegendo 37 (agora fica nos 30), Ayuso foi segunda com 30 (agora anda nos 60, coisa pouca, só o dobro…), o Ciudadanos teve 26 (agora zero), Más Madrid teve 20 (agora está com 18), o VOX está exactamente igual com 12 e o Podemos teve 7 (agora está com 10). Portanto, o apóstolo dos últimos dias do Aventar confunde subidas e descidas entre sondagens com comparações de resultados 2019/média das sondagens 2021. E, já agora, não esquecer que o Podemos colocou a carne toda no assador, enviando a Madrid o seu Ventura, o Pablo Iglesias – que era vice-primeiro ministro.

      Entretanto, para sermos justos e correctos é bom informar o Apóstolo do Pablo que a assembleia de Madrid passou de 132 deputados em 2019 para 136 nas de 2021. Que o Más Madrid não suporta o Pablo, que o Pablo veio para salvar o Podemos Madrid de desaparecimento mas até agora não fez mossa a ninguém – a candidatura de Pablo Maduro não faz crescer a esquerda e que nas últimas sondagens o Podemos não passa dos 7%. E, por fim, que em 11 centros de Sondagens com sondagens regulares para as eleições de Madrid só a CIS (a da TVE) não dá maioria à direita. Dupla coincidência: ser a única e ser a citada pelo apóstolo…Porque será?

      Agora, vá lá até ao gulag ler a cartilha estalinista. E quando acusar os outros de falta de seriedade, olhe primeiro para o espelho.

      • Carlos Almeida says:

        Os outros é que são estalinistas, mas vocês que agora controlam o Aventar, é que fazem censura e apagam os post que não vos agradam.

        Podem também apagar este

        • Fernando Moreira de Sá says:

          Então conte-nos lá que comentário ou comentários foram apagados?

        • Fernando Moreira de Sá says:

          E pelo caminho, caro Carlos Almeida, então quem é que “agora controla o Aventar”???

      • Fernando Moreira de Sá (“resposta” a Santiago) Esta foi oseu PIOR COMENTÀRIO que já aqui vi vindo de si. Costuma ser desemxaibido . Neste comentário não passou de um reles extremista teor fasciszante (quem não é por mim é Estalinista). Não concordo com a anélise que DIZ CRITICAR do comentário anterior do tal de Santiago mas o seu comentário é VOMITIVO. Nada mais que isso. Volte à sua postura habitual de “nem sim nem sopas” ou outra qualquer que mais lhe convenha e, no camnho, ganhe juizo.

      • Luís Lavoura says:

        Ayuso foi segunda com 30 (agora anda nos 60), o Ciudadanos teve 26 (agora zero)

        Se isto é assim, quer simplesmente dizer que o PP comeu o Cidadãos. Onde antes PP-Cs tinham 56, agora PP-Cs têm 60, o que é pouca diferença. Portanto santiago tem razão, o crescimento do PP é essencialmente devido ao desaparecimento dos Cidadãos. Ayuso quase não rouba votos aos restantes partidos.

  6. António de Almeida says:

    A vitória de Ayuso também é uma vitória da razão sobre a riscofobia e hipocondria. Porque escolheu não ceder às tentativas de lockdown impostas pela Moncloa, será premiada.
    Cada país tem os políticos que merece, ou neste caso, a direita que merece. Por cá, temos a liderar a oposição, o inútil Rui Rio, um tarefeiro subserviente a Belém, que não aspira a mais que integrar um bloco central, que o PS não quer, mas que lhe permitiria obter um lugares para os boys titulares de cartão laranja e aceder a parte substancial da bazuca.
    Ayuso escolheu e bem, defender os negócios, os empregos e permitir que as pessoas, devidamente informadas, prosseguissem com as suas vidas.

    • POIS! says:

      Pois pois, não há dúvida!

      Ayuso escolheu os negócios e o emprego.

      Os negócios do PP e o emprego dela. Cofere!

    • Paulo Marques says:

      Como se tivessem escolha em ir expor-se. Boa malha, e a China é a Rússia agradecem a parvalheira.

    • Luís Lavoura says:

      A vitória de Ayuso também é uma vitória da razão sobre a riscofobia e hipocondria. Porque escolheu não ceder às tentativas de lockdown impostas pela Moncloa, será premiada. […] Ayuso escolheu e bem, defender os negócios, os empregos e permitir que as pessoas, devidamente informadas, prosseguissem com as suas vidas.

      Exatamente. Totalmente de acordo. Ayuso fez o que hipocondríaco Marcelo e o Costa em pânico deveriam ter feito. Mas isso teria sido pedir de mais a esses dois.

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