É tudo muito liberal, mas…

… quando o assunto é o capital, a coisa muda de figura.

A prestação do deputado João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, durante a sessão de inquérito de ontem, em que foi ouvido Luís Filipe Vieira, para mim não foi uma desilusão. Porquanto, só se desilude quem iludido está.

Antes, foi uma confirmação do que eu penso da Iniciativa Liberal: “vinho novo em odres velhos”.

Por isso, quanto ao que aconteceu ontem na audição parlamentar de Luís Filipe Vieira a instâncias de João Cotrim Figueiredo, eu até poderei ser suspeito para falar do deputado da Iniciativa Liberal.

Mas, o nosso Fernando Moreira de Sá, não

Aquela tentativa, a que o nosso Francisco Salvador Figueiredo chama de momento de humor, por parte de João Cotrim Figueiredo, ao dizer “Nesta segunda ronda vou aproveitar para fazer a segunda pergunta que os portugueses mais querem saber, sendo que obviamente a primeira é saber como é que se gasta 100 milhões numa época e se fica em terceiro“, foi infeliz, mas propositada.

Enquanto português, por mim, o Benfica até pode gastar 500 milhões e ficar em último: desde que nenhum desse dinheiro saia do meu bolso ou do Orçamento do Estado, é-me totalmente indiferente.

Falo por mim, sabendo que falo, também, o que muitos outros portugueses pensam. Incluindo liberais, que defendem que tal matéria diz respeito aos privados e não ao Estado.

A questão é que com essa espécie de humor, João Cotrim Figueiredo acabou por brincar numa audição de uma comissão de inquérito, que visa, também, apurar quem e como enriqueceu à custa do empobrecimento de um povo. E, quando a Iniciativa Liberal, tanto apregoa moralismo sobre como se gasta ou deve gastar o dinheiro público.

Então, qual foi o propósito de  João Cotrim Figueiredo, ao brincar com um assunto grave e num momento sério, e que deveria ser caro à Iniciativa Liberal?

Não tenhamos ilusões: para conseguir mais um “soundbite”.

Porque, no fim de contas, é a isso que a Iniciativa Liberal se resume: cartazes e “soundbites”.

Mas, não pode brincar com coisas sérias?Claro que sim: vá fazer “stand up”, arranje um programa de rádio ou de televisão, ou faça um podcast.

Agora, em audições de comissões de inquérito deste jaez, já basta quem é ouvido.

Mas, o mais grave, é que a intervenção de João Cotrim Figueiredo foi de tal ordem branda e amistosa, que se fica sem perceber ao certo que papel foi lá fazer: se de deputado da nação ou se outro qualquer.

Acabou por brilhar, como é costume, Mariana Mortágua, dessa Esquerda perigosa e extremista que nas audições leva a sério e com acutilância esta coisa de bancos e quejandos sorverem a riqueza de um povo. Enquanto Berardos, Vieiras e tantos outros, ora se dão ao luxo de rir ora se dão ao luxo de afirmar que quem vendeu o Novo Banco à Lone Star deveria ser enforcado – ainda que em tempos próximos tenham sido oferecidos ao maldito, bilhetes de tribuna presidencial para assistir a jogos.

A pantomina existe, é um facto: BPN, BES, Novo Banco, etc. E, tem sido sempre patrocinada com o dinheiro dos portugueses. Mas, daí a termos piadistas de mau gosto a interrogar com brandura os que enriquecem à custa de nós, só para arrancar mais um “soundbite”, vai uma longa diferença. Donde resulta que a Iniciativa Liberal, não faz diferença alguma: “vinho novo em odres velhos”.

Humor infeliz oportunista, misturado com candura, numa comissão parlamentar de inquérito que, repito, também visa apurar quem e como enriqueceu à custa do empobrecimento de um povo, só pode dar mau estrugido. Ou refogado, para que se perceba melhor na capital do Império.

Comments

  1. carlos almeida says:

    Eu admira-me é haver alguém com mais de 18 anos esperar alguma coisa duma ideologia velha e relha de 200 anos.
    Honra a Guerra Junqueiro e aos outros liberais que lutaram contra o absolutismo e contra as forças reaccionárias do tempo.
    Estes só se enganam a eles próprios

    • “Estes só se enganam a eles próprios” e tentam enganar também os outros.

  2. JgMenos says:

    Quando economia aquece, o dinheiro e o crédito jorram salários e expectativas, tudo anda feliz e contente. Depois vem aquela treta do ciclo e de investidores arrojados todos passam a ladrões…

    • POIS! says:

      Pois cá está! O génio nunca falha!

      Mais um grande filme!

      Mais um grande argumento do extraordinário JgMenos, neste caso um “thriller” de um suspense inimaginável!

      Depois do memorável papel de mexilhão, que lhe valeu o óscar do Melhor Bivalve, JgMenos aparece-nos aqui encarnando a perturbante personagem de “Treta do Ciclo”, um travesti fatal que arrojadamente enfrenta um bando de supostos arrojados investidores, que se disfarçam de ladrões a fim de escaparem à fúria popular contra os banqueiros.

    • Paulo Marques says:

      Aqueles que andava aqui a exaltar na altura?

  3. Rui Naldinho says:

    Calma! Há aqui qualquer coisa que me escapa.
    Mas a IL afinal parece valer pouco ou nada, apenas e só porque o deputado João Cotrim Figueiredo foi manso com o Luís Filipe Vieira, na Comissão de Inquérito ?
    Ou alguém achava que aquilo era diferente de todos os outros partidos?

    • Paulo Marques says:

      Todos? Para não ser clubista, a Cecília Meireles não conta?

  4. JgMenos says:

    Pairam por aqui duas cambadas de cromos:
    Uns sabem de negócios o que aprendem nos prospetos do supermercado.
    Outros, julgam que as pensões podem ser a devolução de descontos acrescidas de impostos sobre quem trabalha e que isso pode durar sempre.
    Para uns e outro os bancos são caixas-fortes de aluguer e não centros de negócios que, ou são competentes ou bons penhoristas ou perdem dinheiro pela certa.
    O que eles gostam de ser é bons penhoristas, mas lá têm que apostar em negócios se querem ganhar dinheiro que se veja. Aí entra a irresponsabilidade e a balda abrilesca a acrescer incerteza a negócios e abrigo a corruptos e ladrões…

    • Paulo Marques says:

      Sim, Zé, o que os esquerditas menos querem é acabar com a fusão entre banca e finança para que a última possa falir. Nunca lhes passou pela cabeça.
      A balda abrilesca também afectou o Credit-Suisse e o Softbank? Ou o Citigroup e amigos?

    • Filipe Bastos says:

      A banca privada, Jg, é o maior cancro mundial.

      Até a banca ser toda nacionalizada, a criação de dinheiro passar para os estados, sob o controlo de uma entidade transnacional tipo BCE, e os ‘mercados’ serem metidos na camisa de forças de onde nunca deviam ter saído, isto só vai piorar.

      A espiral de dívida e de dinheiro irreal inventado pelos casinos financeiros vai voltar a rebentar com isto; todos sabem que é uma questão de tempo.

      A única esperança, Jg, é que a pancada seja tão forte que acorde a carneirada… e uns mamões comecem a ser caçados na rua, nos seus iates e mansões. Mas é uma esperança vã.

      • JgMenos says:

        A camisa de forças dos mercados é a mesma dos consumidores, dos cidadãos.
        Quanto a deixar de haver iates e mansões, esteja certo que os donos das camisas de forças não deixarão de os ter.

        • POIS! says:

          Pois cuidado JgMenos!

          Que quando a caça começar, no princípio é aos elefantes, depois aos veados, a seguir marcham os javalis e tudo acaba nos pardais, ou ainda Menos.

          O melhor é V. Exa. começar já a pensar em técnicas de camuflagem.

        • Paulo Marques says:

          É a mesma? Podemos fazer com que o estado nos dê um veículo financeiro com juros garantidos decidido por nós e não sabemos.
          Exagero, o mito que são os mercados a decidir já viu melhores dias. Mas a eurolândia é o que é, e quem decide não são os cidadãos. Que nem porta aberta em Bruxelas têm, quanto mais.

    • POIS! says:

      “Outros, julgam que as pensões podem ser a devolução de descontos acrescidas de impostos sobre quem trabalha e que isso pode durar sempre”.

      Pois tá bem!

      Há três coisas nesta vida que nunca vi acontecer: um defunto a ressuscitar, um homem a parir e o JgMenos a perceber o que é isso de segurança social.

      É certo que ainda não li a sua obra “Teoria Geral dos Lagares de Azeite””. Não tive tempo. Espero que façam o filme e depois vou ver.

  5. Sonolento.

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