Fernando Medina: uma lição de “eleitoralolismo”

Fernando Medina tem-nos dado uma lição de como saber surfar a crista da onda. Isto sem que se lhe conheçam quaisquer “actividades extra-curriculares” que incluam surf ou outra variante.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa é uma espécie de camaleão político, comporta-se como o aluno do quadro de honra, querendo passar a imagem de que é dos que diz irra! quando bate com mindinho na perna da mesa.

Está, portanto, do lado certo da política: a escola do Partido (pouco) Socialista. Oportunista, dissimulado e charlatão.

Puxemos o filme atrás.

Em 2011 dizia que precisávamos de José Sócrates como Primeiro-ministro, graças à sua “liderança”, ao seu “conhecimento”, “experiência”… ou seja, quando convinha, #JoséSócratesNoComando.

Em 2021, José Sócrates traiu a confiança dos portugueses. Depois de descoberto o véu à noiva, de ter sido dito o “sim” e de tantas noites de núpcias calorosas, naquilo que parecia ser um casamento para durar, afinal era violência conjugal e, portanto, #MeToo.

Pronto, tudo bem. José Sócrates ganhou duas eleições, uma delas com maioria absoluta, perdoemos Fernando Medina por esta, tendo em conta que muitos de nós fomos enganados.

Avancemos, continuando, ainda assim, em 2011.

No mesmo discurso em que louva José Sócrates como o Messias do Largo Rato (ver a partir dos 4 minutos), garante que o PS ganhará as eleições, apesar “da cobardia da extrema-esquerda”.

Em 2017, contrariando a postura de pitbull assumida seis anos antes, porque obviamente era do seu interesse, vestiu a pelugem de beagle.

A extrema-esquerda cobarde de outrora, era, agora, a amiga de sempre com quem fechava acordos. De extrema passou, aparentemente, a moderada. E de cobarde “que não quer governar”, a heroína que apoia uma governação. Irra!

Começa a ser oportunismo a mais? Talvez.

Já em 2020, por conta das eleições para a presidência do Benfica, Fernando Medina – tal como António Costa (cá está, a velha escola) – aceitou fazer parte da comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira.

Cinco dias depois, quando a opinião pública não perdoou e cuspiu da ponta da língua a expressão “conflito de interesses”, Luís Filipe Vieira “retirou” Fernando Medina – e António Costa – da sua comissão de honra.

Política e futebol a dar um french kiss, tudo bem, não é novo. Siga o jogo.

Há uma semana, João Paulo Rebelo, Secretário de Estado da Juventude e do Desporto (força de expressão), dizia o seguinte sobre a, à altura, eventual festa do título do Sporting:

 «Está a ser preparada. Tive a oportunidade de falar já esta semana com o Ministério da Administração Interna, para perceber em que curso estão as coisas. Hoje mesmo decorre uma reunião entre a Câmara Municipal de Lisboa (…)»

E o que disse Medina depois da batalha campal entre adeptos sportinguistas e polícia?

Primeiro, disse que o que foi feito na comemoração do título dos Leões “foi melhor do que não fazer nada”. Quando a minha mãe me mandava arrumar o quarto, aspirar e limpar o pó e eu só tinha feito a cama, também respondia “foi melhor do que não fazer nada”.

A seguir, descobriu-se que a PSP deu parecer negativo ao ecrã gigante junto a Alvalade.

Por fim, o presidente da CM de Lisboa – reforço “presidente” – diz “desconhecer o parecer negativo da PSP”.

A carreira política de Fernando Medina tem-se pautado pela incoerência coerente. Incoerência no que diz e no que faz; coerente, pois são esses os valores do Partido (pouco) Socialista (os da incoerência).

António Costa tem uma decisão difícil de tomar pela frente: uma posição de destaque na União Europeia ou um terceiro mandato como Primeiro-ministro. Quer António Costa se mantenha ou não no cargo de PM e de Secretário-geral do PS, Fernando Medina é, juntamente com Pedro Nuno Santos, um dos putativos sucessores do actual rei sol (pouco) socialista.

A escolha será, portanto, entre o lobo com pele de cordeiro e o cordeiro com pele de lobo. A essência, prevê-se, será a mesma. No que diz respeito a Medina, uma coisa é óbvia: está na escola certa e isso chega-lhe para ganhar eleições.

Ps. E ainda dá uma perninha em programas de comentário político, onde Fernando Medina, o comentador, dá a sua opinião sobre Fernando Medina, o presidente do município de Lisboa. Se isto não é digno de um óscar… ou, vá, uma vitória nas autárquicas! Ó, se é…

Fotografia: Tiago Miranda/Visão

 

 

 

Comments

  1. Carlos Castro says:

    Ao que o Aventar chegou…

    • João L. Maio says:

      Carlos, cuidado com as castrações.

      Ainda acaba num partido do centrão.

      Ps. Ao que o Aventar chegou, mas volte sempre. Beijinho.

      • Rui Naldinho says:

        Grande resposta, João.
        Apetece-me quase escrever como os gajos da direita:
        ” Estes Xuxas não têm emenda”.
        Ser um indefectível do PS da nestas coisas. Pensar com o cartão partidário.
        Confundem social democracia, com viscosidade política.

        • João L Maio says:

          O PS (e, diga-se, o PSD e o CDS) é isto; forma boys de trela curta. Mas ai de quem passe perto: o boy, mesmo de porte pequeno e trela curta, ladra, ladra, ladra… até que fique a entoar o seu ladrar.

          E, se por azar, tentarmos lá ir fazer um carinho ao boy, ele rosna e morde-nos o joelho. Já se sabe que quem se mete com o PS… é mordido!

          Portanto, como a lógica é uma batata, a dos militantes e simpatizantes do Partido (pouco) Socialista, é a seguinte: “comigo quem me lambe os pés sem questionar; contra mim todos os outros – os que não me lambem os pés”.

  2. É o PS-que-temos, os autarcas-que-temos, o país-que-temos. Ora bem!!!!!!!!!

  3. Quanto ao Medina não há dúvidas, mas suponho que tenha um idêntico rol de críticas a fazer ao PNS, para os ter posto no mesmo patamar. Fico a aguardar ser elucidado…

    • João L Maio says:

      O Pedro Nuno Santos, como qualquer outro membro do PS, terá um rol de críticas que se lhe poderão fazer. É idiossincrático.

      Não os coloquei “no mesmo patamar”. Disse, apenas, que:
      1 – são os dois potenciais candidatos a suceder a António Costa na liderança do PS;
      2 – um berra muito, mas depois é obrigado a enfiar a viola no saco; o outro quase não berra, mas faz o que quer e bem lhe apetece.

      É ala direita vs ala esquerda do PS. Não me perguntou, mas digo-lhe: prefiro a ala esquerda, porque sou de esquerda e não sou PS.

      Se o Pedro Nuno Santos chegar, um dia, ao patamar de Fernando Medina em termos de peso político, e se assim se justificar, terá aqui o rol de críticas.

      Bem-haja, Rui.

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