Terceira intifada palestiniana contra a radicalização da ocupação israelita | Acompanhamento | Semana #1

Crônica | Viagem à Palestina: parte II - Resistência | OpiniãoSemanalmente irei compilar no Aventar alguns dos textos que tenho escrito sobre a terceira intifada palestiniana contra a radicalização da ocupação israelita. Posto que a generalidade das redes sociais tem vindo a apagar conteúdos que não sejam pró-israelitas, farei o arquivo na plataforma WordPress, que não tem, até à data, histórico de censura digital alinhada com o sionismo.

#Nakba73 #SaveSheikJarrah #FreePalestine #JerusalemIntifada #PalestineUnderAttack #GazaUnderAttack #AlAqsaUnderAttack

Nas últimas horas Israel decidiu atacar militarmente Al-Aqsa, na esplanada das mesquitas, o coração palestiniano de Jerusalém. O ataque já fez mais de 170 feridos entre os palestinianos, mas o saldo da violência sionista ainda é incerto. A segunda intifada começou com uma provocação neste mesmo local, era então Ariel Sharon o chefe da milícia israelita. Desta vez, Benjamin Netanyahu, fragilizado internamente no campo colonial, parece apostado em avançar ainda mais sobre o pouco que sobra à Palestina, roubando e pilhando o bairro de Sheikh Jarrah e não reconhecendo o direito dos palestinianos de Jerusalém a votarem nas suas eleições a partir de Jerusalém. Como em tudo este é um processo dinâmico e os motivos da revolta já vão muito para lá do saque de Sheikh Jarrah, entre outros, e da questão eleitoral, sendo claro que a única intenção de Israel é dar mais um passo para a aniquilação total da Palestina. O mundo continua sem saber, a esmagadora maioria dos meios de comunicação continuam sem informar, mas os palestinianos continuam a lutar com a bravura que se conhece, naquela que já é descrita como a terceira intifada. Enquanto houver um palestiniano vivo o colonialismo israelita não vai cantar vitória.

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Recuperada Al-Aqsa, depois do recuo do exército israelita, milhares de palestinianos de todas as proveniências estão a encaminhar-se para Jerusalém, em resposta às provocações de Netanyahu na esplanada das mesquitas e no bairro de Sheikh Jarrah, que tem vindo a ser alvo de sucessivas ocupações por colonos e pelo exército de Israel. Abriram mais uma caixa de Pandora que não se sabe como irá avançar. A terceira intifada parece estar em marcha para evitar mais uma anexação sionista.

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Um dia depois do ataque à Al-Aqsa, os palestinianos deram uma resposta de massas às provocações israelitas, numa mobilização sem precedentes nos últimos tempos. Muitos dos que tentaram chegar a Jerusalém não conseguiram, bloqueados nos check points, uns fixos outros improvisados para o efeito, mas ainda assim foram suficientes para não deixar vazio nenhum dos metros quadrados que ontem foram violentados pelo cobarde e imoral exército de Israel. As condições objectivas talvez nunca tenham sido tão desfavoráveis, ao ponto de Israel se sentir confiante para tentar ocupar o bairro de Sheikh Jarrah e violentar a esplanada das mesquitas em tempo de Ramadão, mas o ricochete já teve a proeza de dar uma noite de soberania da Palestina sobre o coração da sua capital.

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Derrotado pela mobilização popular dos palestinianos, o exército israelita carregou pela calada, à saída da esplanada das mesquitas e um pouco por toda a Jerusalém Oriental, aterrorizando os que tiveram a coragem de responder ao ataque à Al-Aqsa e à anexação do bairro de Sheikh Jarrah.

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Mais um ataque de Israel à Al-Aqsa. Desta feita já são mais de 200 feridos, muitos deles em estado grave. A comunidade internacional emite uns comunicados pifios enquanto continua a financiar e a legitimar Israel. Dos EUA à UE, da Rússia aos Estados Árabes, os negócios comuns estão sempre primeiro que a humanidade. Esquecem, porém, um factor. Al-Aqsa e o bairro de Sheikh Jarrah não são só mais um passo na anexação colonial, são um passo que qualquer palestiniano entende como a “solução final” e por isso vão lutar pela sobrevivência por todos os meios possíveis.

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Esplanada das mesquitas de novo recuperada pelos palestinianos, que à margem da limpeza deste seu local sagrado, desenharam Al-Aqsa com os cartuchos usados pelo exército israelita durante o ataque desta manhã.

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Gaza respondeu com rockets às sucessivas provocações, que evitaram novo assalto à  esplanada das mesquitas, posto que lograram a debandada dos colonos que, a reboque do “dia da bandeira”, se preparavam para atacar a Al-Aqsa e os bairros palestinianos de Jerusalém Oriental. Como tenho escrito por estes dias a tentativa de anexação do bairro de Sheikh Jarrah e a violência sobre Al-Aqsa não iam ficar sem resposta. Mais logo, porém, nos meios de comunicação ocidentais, o tema será finalmente notícia, mas para colocar quem tem sido vítima no papel de agressor e quem tem sido agressor no papel de vítima.

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Na sua habitual desproporção, os raides da força aérea de Israel já assassinaram 20 pessoas na Faixa de Gaza, nove das quais crianças, número que deve subir durante a madrugada. Os rockets que evitaram um banho de sangue em Al-Aqsa e em Jerusalém Oriental não tinham feito mais do que escassos danos materiais. Nas notícias garantem, sem vergonha nem pestanejar, que este massacre se trata de uma retaliação. Quem acompanha o que se passa no terreno sabe que o nome do processo é ocupação e o método chama-se genocídio.

Actualizações:

Uma hora depois o número de vítimas mortais já subiu para 27.

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Além do massacre aéreo em Gaza, que já conta pelo menos 24 vítimas mortais, dez das quais crianças, os colonos incendeiam árvores na esplanada das mesquitas onde está Al-Aqsa, epicentro da cidade velha de Jerusalém. Israel, como se esperava, radicaliza a cada madrugada, mas estará preparado para o ricochete da sua violência?

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Não é só o simbolismo de Al-Aqsa e do bairro de Sheikh Jarrah que está a levar a uma nova intifada, a revolta palestiniana. Não é só a sabotagem eleitoral com que Israel procura impedir o simulacro da democracia na Palestina. Não são só mais 26 mortos, 10 deles crianças, apenas na última madrugada, a somar à vala comum da Nakba, a expulsão, por todas as formas, dos palestinianos da Palestina. É o acumular de mais de sete décadas onde Israel rasgou todos os acordos, todas as possibilidades de convivência, deixando claro, escrito a fósforo, chumbo e muito sangue, que a sua natureza colonial depende da aniquilação física do povo ocupado.

É assim desde o primeiro recuo, sabem-no todas as gerações de palestinianos, dentro e fora da Palestina. Cada acordo de paz, feito às custas da coluna vertebral da Autoridade Palestiniana e nunca às custas do projecto colonial israelita, teve como resultado a transformação da Palestina num queijo suíço insustentável a não ser como bantustão, sujeito a humilhações quotidianas e à banalização do luto. Ora, os bantustões só funcionam como exército de mão de obra desmoralizado, que aceita tudo, algo que desde 14 de Maio de 1948 nunca aconteceu na Palestina. Israel não funciona sem essa mão de obra. A aliyah – programa de captação de judeus sionistas em todo o mundo para colonizar a Palestina – outrora um sucesso, cada vez convence menos fundamentalistas, sobretudo para os postos de trabalho menos valorizados. Israel tem compensado isso com os judeus do Sudão, da Etiópia, da Somália e da Eritreia, mas estes são negros demais para o racismo do sionismo mais empedernido, hegemónico na sociedade israelita e que manda no governo de Israel e lhes limita a entrada em números muito significativos.

Assim, paradoxalmente, Israel está mais isolado do que a Palestina, que conta com apoio popular em todo o mundo árabe mas também fora dele, conforme se pode confirmar pelas manifestações em Londres, Paris ou Chicago, ou pelas centenas de figuras importantes e com visibilidade, em diferentes campos da sociedade. Israel, já sabemos, tem sobretudo a força militar, política e financeira dos EUA e da UE, mas estes não estarão dispostos a tudo, a qualquer preço, sempre. Fora do aparelho de Estado, ninguém tem coragem de cantar ao lado dos colonos que ontem celebraram o fogo vindo da cidade velha de Jerusalém, atrás do muro do que nunca lamentaram, e já poucos compram a balela de que Israel é a única democracia do Médio Oriente. A chave para a sobrevivência da Palestina passa então, além do apoio incondicional à sua resistência, por minar o apoio dos EUA, da UE e dos seus fantoches, onde se inclui, lamentavelmente, Portugal, país em que pontificam as palavras cúmplices do patético e amnésico Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Apoiar a Palestina já não pode ser só uma batalha pela informação ou pela agitação da propaganda política. Apoiar a Palestina passa por ferir a legitimidade de Israel, em todas as frentes onde Israel se apresenta com as mãos escondidas. Na diplomacia, na economia, no pinkwashing, no desporto, em todo o lado. Tal como no passado se passou a recusar colaborar com a Alemanha de Hitler, a África do Sul do Apartheid ou a Indonésia de Suharto, só para dar três exemplos, hoje temos que recusar qualquer colaboracionismo com aquilo que Israel já demonstrou ser, à exaustão, contra a nossa humanidade.

A imparcialidade às portas de Buchenwald, Dachau ou Auschwitz era tão criminosa como é hoje às portas de Hebron, Gaza ou Jerusalém. Israel não vai parar pela via do diálogo, pela via diplomática, como não pára por essa via nenhum projecto ancorado no genocídio. Israel para recuar precisa que todos lhe façamos frente, de todas as formas que se revelem possíveis e necessárias.

Tradução em inglês

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Israel, não obstante controlar o fluxo nos principais meios de comunicação internacionais, está a perder a batalha pela informação. Sem darem voz ao contraditório, os meios caiem no ridículo, sendo vistos por cada vez mais pessoas como simples repositórios da propaganda sionista. O Intercept, com coragem, foi perceber as razões, mas não creio que a explosão das redes sociais, e o seu potencial de denúncia no terreno, explique tudo. A par disso, que é um factor relevante, creio que há outro que me parece importante. Israel, sobretudo desde os sucessivos massacres em Gaza – em 2008, repetidos com violência em 2014, e agora uma vez mais em 2021 – tem na justificação do combate ao terrorismo uma explicação curta, dada a desproporção de forças no terreno. O mundo já entendeu que Israel não se defende, Israel ataca. Israel não retalia, Israel provoca para depois se poder vitimizar enquanto radicaliza a sua natureza genocida. Ora, não há story-telling que sobreviva perante este grau de barbaridade. Nem entre os defensores de Israel que ainda alimentam a ideia de uma convivência pacífica, quanto mais no quadro da opinião pública mundial. Esta guerra Israel já perdeu. Chegará o dia em que perderá a outra. Quanto mais rápida for a derrota de Israel, mais rápido a Palestina poderá voltar a ser um lugar seguro para todos, sejam eles ateus, judeus, cristãos ou árabes.

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Israel perdeu o controlo de Lod (Lida), uma cidade de 65 mil habitantes, que alberga o aeroporto Ben Gourion, a principal infra-estrurura de transporte internacional israelita. Não se sabe quanto tempo vai demorar Israel a retomar o controlo desta cidade mista, que além do aeroporto fica apenas a 15 km de Telavive. É a grande novidade da revolta palestiniana, que em nenhum outro momento, em nenhuma das duas primeiras intifadas, obteve tal conquista.

De resto, desde 1966 que Israel não declarava nenhum Estado de Emergência nas cidades mistas, sendo que a estupefacção e o dramatismo do campo sionista foi ilustrado pelo próprio Yair Ravivo, presidente da Câmara da cidade: “Perdemos o controle da cidade de Lod”. O ministro da guerra, o fanático e carniceiro Benny Gantz, chamou parte do exército que estava nas fronteiras com a Cisjordânia quer para Lod quer para as outras cidades mistas que estão no limiar de replicar a situação, como são os casos Haifa, Akka, Ramlat, Oum al-Faham, Chafa Amro, Kafar Mandat e Arabat Der al-Assad, esta na região de Jalil, na Galileia. Estamos a falar de vilas ocupadas na primeira fase da Nakba, ainda em 1948, cuja população árabe pela primeira vez está a aderir em massa à revolta palestiniana.

Em várias destas cidades a resistência palestiniana removeu a bandeira israelita dos edifícios públicos, levaram à debandada dos colonos que se viram sem apoio das forças policiais e do exército israelita que não está a ser capaz de restabelecer o domínio colonial. “O meu carro pegou fogo. Para mim, isso é tudo que sei. A polícia não apareceu. Vimo-nos a lutar sozinhos”, disse um dos colonos. O aeroporto foi encerrado, o tráfego ferroviário entre Lod e Telavive interrompido e há informações que dão conta que Israel está a evacuar de algumas destas cidades os seus colonos.

Netanyahu já assumiu a gravidade da situação,  afirmando que “os batalhões da guarda de fronteira virão da Judeia e Samaria (Cisjordânia) para cidades mistas esta noite. (…) Ordenei agir com firmeza contra os violadores da lei e da ordem e fortalecer as forças no terreno para restaurar a calma e a ordem em Lod e em todas as regiões de Israel o mais rápido possível”.

Com Leila Mazboudi, do Al Manar, um dos principais meios de comunicação do Líbano, que o facebook não deixa incorporar mas que posso enviar a quem tenha interesse por mp.

Tradução em inglês

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Já lá vão seis anos desde a última visita ao centro do mundo, treze desde que entrei em Gaza, mais de vinte desde a primeira visita à Palestina. Não sei quanto tempo terá que passar para que lá possa voltar. Por estes dias de barbárie concertada, de avanço genocida, de radicalização sionista, todos os que já lá foram partilham de uma empatia cúmplice de quem sabe que não voltou o mesmo. A Palestina não é só um país, os palestinianos não são só um povo, Jerusalém não é só uma cidade. Fica-nos tudo no sangue. Nada nos é indiferente. É um destino que passa a ser um ponto de partida. É uma pátria mesmo para quem seja apátrida.

As notícias que chegam são, na sua esmagadora maioria, avassaladoras, desesperantes, sujam-nos os olhos. Israel é cada vez mais Israel, um milícia de carniceiros, de terroristas, que a cada dia que passa se resumem a isso. Indignos de falar em nome de quem sofreu o holocausto, pois levam a cabo outro que faz amanhã 73 anos. No caminho que tomou nada sobrará a Israel para lá daquilo que sempre foi. Acabou o espaço para os árabes israelitas. Acabou o tempo dos liberais de Telavive. Acabou a propaganda de que são a única democracia do Médio Oriente, quando só lhes sobra aqueles que rejubilam com o regresso à idade média. A turba que grita “gaz the Arabs”, que invade casas ilegalmente, que mata gente como quem mata moscas, não aceitará a parte de Israel que se promoveu no Ocidente e que há muito deixou de ter espaço para existir internamente. Os comunistas dos Kibbutz, os pinkwashers das grandes avenidas e das cidades modernas, serão varridos ou sairão de cena face à hegemonia dos colonos radicais que serão os únicos bem-vindos, os únicos a querer ficar numa terra que só eles acreditam lhes ter sido prometida.

A mentira de Israel esbroa a cada parada do “dia da bandeira” que ulula perante o fogo na cidade velha, a cada perseguição árabe, a cada linchamento em praça pública como aqueles que nos chegaram das cidades mistas na última madrugada. Este Israel que sobra a Israel será a razão do seu fim. Só pode vencer se lograr “a solução final” de liquidar fisicamente 7 milhões de palestinianos, entre a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e os árabes israelitas. Nao haverá fanáticos suficientes para alimentar tamanha vala comum. O sionismo já não convence judeus europeus ou americanos, em número suficiente, a emigrar para isto. Os judeus russos, na sua maioria, voltaram à Rússia e deixaram muitos colonatos quase vazios, e os africanos são demasiado negros para a branquitude sionista. A deserção do exército deixou de ser marginal e cada vez menos jovens querem ir para uma frente de uma guerra que passou a estar em todas as frentes. Israel é uma potência militar, mas nenhuma potência militar se aguenta sem soldados rasos, limitada apenas é só às altas patentes dos seus fanáticos.

Fora da Palestina, ainda mais depois de ter ferido Al-Aqsa, Israel provocou os muçulmanos de Nouackchot a Islamabad e o campo da laicidade de Nova Iorque a Berlim. Não há, desde o Reich hitleriano, uma potência simultaneamente tão forte e tão isolada. Já não podem esconder ou justificar a sua brutalidade, a sua agenda, os factos no terreno. Israel passou a ser inimigo da única possibilidade que precisava para uma convivência “pacífica”, mesmo que irremediavelmente desigual. Israel escolheu o caminho que o torna uma colónia irrespirável, antisemita, condenada pela heróica resistência palestiniana, condenada pelo seu próprio fundamentalismo e condenada, mais cedo ou mais tarde, pela história da humanidade.

Tradução em inglês

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Em resposta ao anúncio da incursão da artilharia de Israel em Gaza, o Líbano mandou três mísseis para águas internacionais israelitas, naquela que parece uma movimentação militar para que Israel veja que não é o único com brinquedos pesados e para forçar ao recuo terrestre do exército israelita em Gaza. No ar ficam algumas dúvidas que podem baralhar ainda mais o tabuleiro de guerra. Serão os mísseis russos ou iranianos? Se o Líbano tem poder de fogo ao largo de Israel, terá certamente capacidade também para ferir Israel, não só junto às fronteiras que dividem mas também em Telavive, que fica relativamente perto do Sul do país. Ao dizer desde logo que não responde a Norte, Israel está a dizer que não tem medo ou que não tem capacidade para uma nova frente de guerra, depois de Jerusalém, Gaza, as cidades mistas e alguns checkpoints das cidades ocupadas? No terreno os colonos estão sem controlo a linchar árabes israelitas, em Gaza sobem o número de vítimas, mas Al-Aqsa foi discretamente devolvida aos seus e não há registo de novas anexações no bairro de Sheikh Jarrah. Estamos perante uma das raras vezes em que Israel recua ou esperam a calada da noite para voltar a mostrar as suas garras? Por agora, como diria Brecht, são demasiadas perguntas para poucas respostas.

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Nas últimas horas Israel intensificou os ataques aéreos à Faixa de Gaza, não poupando as zonas habitacionais. Fonte do Ministério da Saúde, em Gaza, avança que desde o início dos bombardeamentos, no princípio da semana, são já 109 as vítimas mortais. Há ainda 580 feridos. Estes números ainda não têm o saldo da noite de horror vivida hoje neste território. Israel ataca sem poupar ninguém, quase todos alvos civis, vários jornalistas. Relatos dos habitantes falam num ataque aéreo sem precedentes durante esta madrugada, mesmo comparado com os massacres anteriores de 2008 e de 2014.

Ainda assim, a resistência palestiniana, após os ataques às zonas residências, teve capacidade para retaliar com uma centena de rockets que tiveram impacto sobretudo em Ashdod e Ashkelon, as cidades ocupadas mais próximas da Faixa de Gaza, sem que o Iron Dome tivesse a capacidade de os interceptar em absoluto, como tantas vezes foi garantido aos colonos. Durante o dia, as próprias IDF assumiam, pelo porta-voz Jonathan Conricus, que no norte de Telavive, na cidade de Petah Tikva, houve danos materiais com significado.

A capacidade de resposta da resistência palestiniana não tem paralelo com a destruição causada pela força aérea, mas mina a confiança do campo israelita, cujo sentimento de segurança se esvaiu mesmo que tenha menos de dez vítimas mortais, maioritariamente militares. Internamente, ruíram os esforços para uma coligação pós-eleitoral e Netanyahu não só está isolado politicamente como está a perder força na opinião pública ao ter avançado para um conflito sem antever as surpresas que se verificaram, nomeadamente a maior capacidade de defesa militar dos palestinianos, e sobretudo o levantamento dos árabes israelitas, que mergulhou Israel num caos sem precedentes, com a linha férrea condicionada, sem aeroporto internacional funcional, com parte importante das populações acantonadas em casa ou em abrigos e as ruas entregues ao exército e aos colonos mais radicais.

Uma primeira tentativa de cessar-fogo, liderada pela ditadura militar do Egipto, saiu de Telavive de mãos a abanar e não é provável que fosse reconhecida pelo campo palestiniano. Israel, que tinha passado o dia a ameaçar com uma intervenção terrestre em Gaza, para onde deslocou muita artilharia, ainda cruzaram a fronteira mas não entraram até este momento na Faixa de Gaza, ficando estacionadas, ainda que a fazer fogo, ao pé da fronteira de Erez. Gantz, o sanguinário ministro de guerra de Israel, confirma que foi obrigado a convocar 9000 reservistas do exército para dar resposta às três frentes de combate (Jerusalém, Faixa de Gaza e cidades mistas): “Estamos em uma situação de emergência devido à violência nacional, e agora é necessário um reforço maciço de forças em terra, e elas devem ser enviadas imediatamente para fazer cumprir a lei e a ordem”, declarou.

No Haaretz, principal jornal de Israel, apela-se a uma intervenção rápida em Gaza, nomeadamente pela voz de Yaniv Kubovich, pois a situação interna está fora de controlo com os confrontos entre os colonos e os árabes israelitas. Do Líbano, depois dos três mísseis de aviso, não voltou a haver sinais. Os EUA apelaram aos seus cidadãos para não viajaram para o território por razões de segurança e várias das principais companhias aéreas europeias suspenderam os voos por não aceitarem o aeroporto que substituiu Ben Gourion, que por estes dias recebeu apenas um voo vindo do Bahrein.

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Muitos dos dois milhões de habitantes de Gaza, face à brutalidade da intervenção da força aérea, usaram as redes sociais para se despedirem desta maneira. O que Israel tem feito à Palestina, sobretudo em Gaza, bate todos os recordes de crueldade, esgota a lista de crimes de guerra e por si só deviam ser suficientes para deixar claro que qualquer equidistância é tomar o lado do agressor. Armas proibidas, ataque a populações civis, escolas, jornalistas e infraestruturas dedicadas à actividade dos meios de comunicação, hospitais, pescadores em actividade, crianças a brincar na praia, bloqueios criminosos a material médico e abastecimento alimentar, envenenamento da água, bloqueio da electricidade e das telecomunicações, são alguns dos crimes que já se provaram, sem consequências para Israel. A ONU, o TPI, a UE, os EUA, são cúmplices da barbárie. O mesmo vale para os Estados Árabes que assistem ao genocídio sem deixar de fazer negócios com o agressor e para toda e qualquer forma de colaboracionismo com quem já deixou claro que conspira contra a humanidade.

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Israel e os israelominions repetem à exaustão que a resistência palestiniana usa a população como escudo humano. O argumento, estapafúrdio, não faria qualquer sentido numa circunstância em que um povo que se defende de genocídio jamais se dispunha a acelerar o processo, pois nesse caso seriam aliados dos agressores. O que esses bandalhos deviam explicar é como raio se pode defender um povo de ser escudo da barbárie, quando ele é alvo de bombardeamentos da artilharia e da força área dentro das suas próprias casas?

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A somar a Al-Aqsa, ao bairro de Sheikh Jarrah, às cidades mistas, à Faixa de Gaza, aos checkpoints das cidades da Cisjordânia, ao Líbano, às dezenas de manifestações que varreram as embaixadas que têm pelo mundo e as ruas das maiores cidades, Israel leva agora também com o gigante adormecido da diáspora palestiniana na Jordânia, a maior comunidade fora da Palestina, que já cruzou a ponte do rei Hussein rumo às fronteiras mais próximas. Não vão bastar 9 mil reservistas. Não vai ser suficiente todo o dispositivo militar de que dispõe. Israel, face a esta que já ninguém dúvida ser a terceira intifada palestiniana, nunca teve contra si tantas declinações da resistência palestiniana, que nunca esteve tão forte. Se a isto se somar a capacidade da população do Egipto contornar a sua ditadura rumo a Rafah, se a via da rota de Damasco, Teerão e Islamabad sair da letargia, se a Rússia e a Turquia ganharem um pingo de vergonha, Israel pode estar à beira de enfrentar a maior frente popular contra o genocídio e a limpeza étnica da sua barbárie colonial. Pode vir a não ser suficiente, mas nunca foi tão palpável a possibilidade de uma derrota significativa do sionismo medieval.

Tradução em inglês

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Vale muito a pena ouvirem a entrevista da Hard Talks, da BBC, à embaixadora de Israel em Londres. Ponto por ponto uma aula de jornalismo e uma demonstração de que no campo da informação Israel já perdeu a guerra.

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Israel não existe só em Israel. Israel, para poder ser Israel, conta com uma corrente de colaboracionismo um pouco por todo o mundo, movido a shekels e a uma terrível agenda ideológica, razão pela qual todos podemos fazer a nossa parte, isolando o mais que for possível a capacidade de fogo da barbárie. Os portuários italianos estão de parabéns pela coragem, ao travar os carregamentos de material de guerra com que o sionismo leva a cabo o genocídio do povo palestiniano.

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Israel bombardeou as bases da Associated Press e da Al Jazeera na Faixa de Gaza, os principais meios de comunicação internacionais no terreno a acompanhar os acontecimentos. Mais um crime de guerra a somar ao longo cadastro do sionismo.

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NO 73º ANIVERSÁRIO DA NAKBA

OITO FRENTES DE GUERRA CONTRA ISRAEL

Hoje foi um dia sem precedentes, a vários níveis, no que à questão palestiniana diz respeito. Nunca, em 73 anos de ocupação, tanta gente fora da Palestina se manifestou solidária com o seu povo, e nunca Israel teve tanta condenação. É absolutamente inédito. Da Austrália ao Canadá, de África do Sul à generalidade dos países da Europa, as principais capitais e cidades do planeta viram as ruas cheias de gente contra o sionismo medieval e mais um massacre israelita contra a existência e a resistência da Palestina.

Só nos EUA, o mais importante e determinante aliado de Israel, houve manifestações em 50 cidades, nas capitais dos Estados mais relevantes mas também, com muito significado, no Rust Belt, nordeste industrial, coração da classe operária americana. Na Europa as mais fortes aconteceram em Londres, Berlim e Paris, mesmo que, na capital francesa, a manifestação tivesse sido proibida e reprimida. Escandinávia, Balcãs, Turquia, Grécia, Iraque, Irão, Sudeste Asiático, uma mão cheia de países Africanos, cidades da Oceânia, enfim, foi provavelmente o primeiro aniversário da Nakba com impacto mundial.

No terreno, Israel, que começou a escalada deste conflito para consumar a judaização integral de Jerusalém, confiscando o que falta confiscar no bairro de Sheikh Jarrah e atacando a liberdade de culto e de controlo sobre Al-Aqsa, enfrenta agora oito frentes de guerra, algumas delas com contornos inesperados. Em Jerusalém, em Gaza, na Cisjordânia, nas cidades mistas, no Líbano, na Síria, na Jordânia e na comunidade internacional, Israel enfrenta desafios que não se resolvem com a narrativa do combate ao terrorismo, falácia com que ludibriou tudo e todos ao longo dos 73 anos onde o monopólio do terror esteve sempre do seu lado.

Em Jerusalém, ao longo da semana, a cidade teve sempre confrontos na porta de Damasco e nas imediações entre a zona árabe e a zona ocupada, mas provavelmente por estar demasiado surpreendido com a velocidade dos acontecimentos, Israel não consumou mais nenhuma anexação em Sheikh Jarrah e devolveu Al-Aqsa a quem lhe pertence, numa tentativa de apaziguar os árabes israelitas, que têm interpretado a revolta nas cidades mistas. Netanyahu e o presidente da câmara de Jerusalém, Moshe Lion, eleito pelo partido de extrema-direita Yerushalayim Shelanu, não deixaram de querer consumar a anexação de Sheikh Jarrah, mas passaram a esconder e a abrandar o que antes aceleraram e divulgavam como sendo o princípio de um processo maior, bem para lá das fronteiras da cidade.

Na Faixa de Gaza o cenário é dantesco, com a maior operação da força aérea desde que quem lá vive tem memória. Bombardeamentos a cada 10 segundos, durante horas a fio, no território com maior densidade populacional do planeta, com perto de 2 milhões pessoas cercadas, desde 2008, dentro de 365 km². São, nada mais nada menos, que 5046 habitantes por cada km². Mais de uma centena de vítimas mortais em menos de uma semana, quase todas civis, um terço delas crianças. Somado ao massacre, vários ataques a zonas residenciais, reduzindo os escritórios da Associated Press e da Al Jazeera a cinzas, destruindo quase integralmente o sistema elétrico, a distribuição de água e o abastecimento de bens de primeira necessidade. Apesar desse grau de violência, o Hamas, que é o governo eleito neste território, respondeu a cada ataque com uma capacidade militar que ninguém imaginava, sobretudo depois das palavras de Netanyahu no fim do massacre de 2014, onde dava conta de ter enviado a capacidade militar do Hamas e a Faixa de Gaza para a idade da pedra. Ao contrário dos foguetes artesanais de outros tempos, o Hamas tem conseguido furar o Iron Dome, com alguns danos materiais, poucas vítimas, mas muito impacto no moral e no sentimento de segurança dos israelitas, nomeadamente em Telavive, onde se tinha perdido o hábito do recolher obrigatório das populações para os abrigos.

Num artigo do Haretz, Muhammad Shehada, um colunista palestiniano, questionava se o Hamas já não teria ganho a guerra antes mesmo dela acabar, pelo simples facto de, fruto do desastre político dos estrategas do governo de Netanyahu, ter ganho muito prestígio na comunidade árabe israelita e na Cisjordânia, onde já é tido como favorito à vitória nas próximas eleições, em boa medida por ter sido a organização que em primeiro lugar e com mais músculo saiu em defesa dos palestinianos que foram atacados pelo exército israelita nos últimos dois dias de Ramadão, desarmados, dentro de Al-Aqsa.

Ainda em Gaza, destaque para a guerra da informação sobre o recuo da intervenção terrestre da artilharia. Israel fez saber que mentiu aos jornalistas para enganar o Hamas, alegando ter feito bluff para antecipar o que seria a sua movimentação. O Hamas faz saber que Israel usa essa desculpa para esconder o medo de entrar no território, face à incógnita do que pode vir a encontrar em cada esquina e às vítimas que inevitavelmente passará a contar com outra dimensão.

Na Cisjordânia, ao costume do desafio que todas as sextas-feiras tem lugar, somou-se o aniversário da Nakba e a mobilização que o escalar do conflito sempre provoca. Houve confrontos nos chekpoints em todas as cidades, com pelo menos uma dezena de vítimas mortais do lado palestiniano. Esta mobilização explica-se também pela adesão à revolta de todas as organizações políticas palestinianas, seculares ou religiosas, de esquerda e de direita, com a excepção da Fatah, comprometida com Mahmoud Abbas e a Autoridade Palestiniana.  Hamas, a Jihad Islâmica, Brigadas Al Aqsa, Frente Popular de Libertação da Palestina, todos entenderam que ou vencem a terceira intifada ou aceleram o genocídio imposto pelo processo de radicalização do sionismo. O resultado desta ampla frente de convergência, transformará a Cisjordânia num caldo ainda mais complexo que Gaza, posto que não é fácil para Israel castigar militarmente fora dos checkpoints onde se levantaram as trincheiras.

As Cidades Mistas são a maior surpresa e simultaneamente o maior problema interno de Israel. Os árabes israelitas são cerca de 20% da população, perto de 2 milhões de palestinianos que aceitaram o passaporte israelita. São cidadãos israelitas com direitos reduzidos. Cidadãos de segunda. Não ingressam no exército. Não podem ser proprietários. Não podem estudar, entre outros ofícios e saberes, engenharia. São aceites apenas na proporção da sua resignação. Por isso mesmo, ao longo de 73 anos, várias guerras e duas Intifadas, poucas foram as vezes que se insurgiram. São a grande novidade desta intifada. Levantaram barricadas em várias cidades. Colocaram Israel no limiar de uma guerra civil depois de décadas de humilhação e subserviência. Não aceitam mais ser cidadãos terceira categoria, ainda para mais na iminência de serem linchados a cada esquina por hordas de colonos fanáticos. Entenderam que são parte dos que serão expulsos pela radicalização do sionismo que deixou de apostar as suas fichas na ilusão da convivência pacífica entre ocupantes e ocupados. A sua revolta vai levar tempo a explicar, não se sabe se irá durar, mas entende-se pela depauperização que vinham a ser sujeitos, o ódio de que são vítimas e à normalização da sua estigmatização interna. Os colonos radicais transformaram-se em milícias que assinalam as suas casas como o nazismo fazia com os judeus, e atacam pela calada da noite ou da ocasião para assassinar com a mesma cegueira com que celebraram o fogo da cidade velha de Jerusalém.

O linchamento de um taxista saiu das redes sociais para os principais meios de comunicação, seguiram-se outros igualmente indignos. Israel tem os colonos a lidar com estes cidadãos com a narrativa que alimenta em Gaza, mas precisa destes cidadãos para funcionar. Não tem como os classificar como terroristas, mesmo que a sua guarda avançada de fundamentalistas judeus o faça independentemente do que vier a dizer agora. É o novelo mais complexo do conflito, cuja saída ninguém de bom senso arriscará tão cedo.

O Líbano foi o primeiro país a internacionalizar o conflito, com o disparo de três mísseis, alegadamente vindos de um campo de refugiados. Tem o Hezbollah reforçado ao longo dos anos, bem armado e com via aberta até Islamabad, com Teerão a meio do caminho e a sua moral reforçada pelo aumento do seu prestígio nas regiões da Síria mais perto das suas fronteiras. Tem uma comunidade palestiniana muito importante com cerca de 200 mil refugiados que se somaram ao longo dos 73 anos de Nakba, com todas as organizações palestinianas em actividade como se estivessem numa região da Palestina.

A Síria é um país onde de Assad à Turquia, da Rússia ao Hezbollah, todos têm capacidade operativa e todos sabem que Israel os ameaça. Tal como no Líbano têm uma comunidade palestiniana forte e respeitada e também como no Líbano deram um sinal de que o conflito se internacionalizará com o disparo de três mísseis de aviso. Face ao impacto da guerra que também tem vivido, é uma incógnita a sua capacidade de envolvimento até que os factos no terreno falem mais alto.

A Jordânia, com cerca de 2 milhões de palestinianos, é o maior refúgio desde o início da ocupação da Palestina, isto num país com uma população idêntica à de Portugal, a rondar os 10 milhões. São 20% da população e ao longo do dia de hoje rumaram às fronteiras mais próximas da Cisjordânia para se juntarem à revolta, tendo logrado passar a ponte do Rei Hussein, numa mobilização inédita em termos de participação, que dá sinais de que não se ficará pelo aniversário da Nakba.

A comunidade internacional tem sido, em 73 anos, um aliado de Israel e do seu colonialismo. Assim continua, mas há sinais interessantes. Biden e Harris, confessos admiradores de Israel, disseram o que todos os seus antecessores tinham dito até aqui, repetindo a cassete de que Israel tem o direito de se defender de quem ocupam, mas sem uma palavra sobre o direito dos palestinianos a se defenderem de uma ocupação. Mas o ataque à Al Jazeera e, sobretudo, à Associated Press – agência oriunda dos EUA e com sede em Nova Iorque – foi além de um crime de guerra um tiro no pé, levando um porta-voz de Washington a avisar que tal acto é uma linha vermelha no conflito, aproveitando a boleia para condenar os ataques às populações civis.

A opinião pública internacional mudou, conforme se compreende pelo número das manifestações e pela sua participação, aumentando a pressão para que o genocídio do povo palestiniano cesse e para que Israel não continue a gozar de total impunidade, mesmo perante o avolumar de actos hediondos. A propaganda da embaixadora de Israel em Londres foi esmagada na BBC, nas redes sociais o habitual ostracismo a quem defende a Palestina deu lugar a uma onda de solidariedade. A própria página da IDF tem mais gente que a contestam do que a apoiam nas suas caixas de comentários, isto sabendo que quem contesta só o faz por uma vez. Os estivadores italianos bloquearam armamento que iria para Israel e centenas de figuras públicas, de todos os quadrantes da sociedade, colocaram-se com clareza e emoção ao lado dos palestinianos.

Em uma semana de conflito não é fácil tirar conclusões, mas é fácil perceber que Israel não contava com oito frentes de guerra, muita hostilidade face à sua narrativa e poucas vias rápidas e de baixo custo, interno e externo, para sair ileso do seu próprio labirinto.

Tradução em inglês

(…)

Omar Rammal colocou cada um de nós no lugar das famílias de Sheikh Jarrah, no lugar dos 700 mil palestinianos expulsos na Nakba, no lugar de cada palestiniano que ao longo dos últimos 73 anos viu a sua casa invadida e ocupada por colonos de uma potência militar sem precedentes, perante o silêncio e a cumplicidade da comunidade internacional. Não é fácil imaginar como seria se fosse connosco, mas não deixem de ver este vídeo para fazerem uma ideia.

(…)

Foi muito duro o último dia da primeira semana da revolta palestiniana contra a radicalização da ocupação israelita, com as vítimas mortais a subirem para 210, 191 delas na Faixa de Gaza, 52 crianças. Dezenas de habitações destruídas, muitos desaparecidos a lutar pela vida nos escombros. Um morto no bairro de Sheikh Jarrah, os demais na Cisjordânia. Centenas de feridos. Não fosse a barbárie já incrivelmente violenta, um adolescente de apenas 14 anos decidiu acabar com a vida, depois de ter perdido toda a família no massacre de 2014 à excepção da mãe, e de ter perdido a mãe na última madrugada de bombardeamentos. Não aguentou mais e atirou-se do cimo de um prédio de oito andares. Tinha nascido um ano antes do massacre de 2008. Não é possível ficar indiferente. Israel não é só um enclave militar que dizima palestinianos, Israel é um projecto terrorista que conspira contra a humanidade.

O isolamento de Israel aumenta. Os árabes israelitas e os israelitas contra a escalada do ódio ensaiam uma greve geral para terça-feira. O Irão emitiu um aviso na última hora. A Rússia também terá dito alguma coisa. Entre o Iraque e a Síria organizam-se brigadas internacionais para sair em socorro da Palestina. O Egipto abriu as fronteiras mas apenas para ajuda médica. Partidos, sindicatos, centenas de figuras públicas de todos os quadrantes da sociedade e de todos os países, continuam a somar a sua voz à voz dos palestinianos e até no Japão se encheram as ruas. Amanhã haverá manifestações em Lisboa e no Porto, no Martim Moniz e na Praça Palestina, às 18h, para que também por cá se dê corpo à revolta e se ajude a travar a matança.

Lá estarei. Lá estaremos.

Não podemos continuar sem fazer nada.

Eventos das manifestações do Porto e de Lisboa

Evento da primeira manifestação, junto à Embaixada de Israel em Lisboa.

Tradução em inglês

(…)

Há oito horas que ninguém publica nada a partir de Gaza. Ninguém. Nem agências de notícias, nem habitantes. As últimas informações que chegam é que os raides aéreos desta noite, de bombardeiros e de drones, atingiram o sistema de abastecimento de luz e deitaram a baixo as telecomunicações que mantinham alguma informação a chegar da Faixa de Gaza. Não se sabe quanto tempo levará a restabelecer. Bombardearam também as poucas estradas que estavam capazes, impedindo a ajuda médica e o desencarceramento de agir após horas de destruição. Sem luz, além da capacidade de informar, crucial face a uma agressão genocida, sem grandes fontes de energia alternativas, posto que Israel mede cada litro de gasolina que entra no território, os geradores de recurso não devem aguentar muito tempo para tarefas tão essenciais como os ventiladores hospitalares. Depois de atacar os escritórios da Associated Press e da Al Jazeera, Israel deixou Gaza às escuras, com as bárbaras intenções que podemos intuir. Israel está apostado em converter uma prisão a céu aberto no maior campo de concentração alguma vez visto. Que a força deste povo esteja uma vez mais capaz de se superar.

Teme-se, infelizmente, o pior.

Não podemos continuar sem fazer nada.

ACTUALIZAÇÃO: Comunicações da Wafa e da Al Jazeera foram recuperadas às 11h, horário de Lisboa.

Tradução em inglês

(…)

Fontes:

https://www.reuters.com/…/thousands-pack-al-aqsa…/

https://www.aljazeera.com/…/jerusalem-dozens-of…

https://www.aljazeera.com/…/al-aqsa-worshippers-protest…

https://twitter.com/arwaib/status/1390800051887345669?s=19

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10223310033450333&id=1570184079

https://www.facebook.com/531065759/posts/10160975453620760/

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10223310827030172&id=1570184079

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10223310827030172&id=1570184079

https://twitter.com/Fariya…/status/1390789658129354760…

https://www.facebook.com/watch/?v=280166220412119

https://www.facebook.com/watch/?v=554460122186791

https://youtu.be/P8Gzoj_iOXM

https://www.middleeasteye.net/news/israel-gaza-children-killed-air-strikes

https://theintercept.com/2021/05/12/israel-palestine-jerusalem-social-media/

https://www.bbc.co.uk/sounds/play/w3ct1n14?fbclid=IwAR3ySX7N6GKWZ-F9knPh7irr5MgzmsFcfP6z16pqpToFbUl2vJ0r-jDkoWw

http://esquerdadiario.com.br/Portuarios-italianos-param-o-arsenal-de-guerra-que-estava-indo-para-Israel

https://contropiano.org/news/internazionale-news/2021/05/14/livorno-i-portuali-non-intendono-caricare-armi-su-nave-destinata-a-israele-0138975

https://www.leftvoice.org/italian-dockers-stop-arms-shipment-to-israel-in-solidarity-with-palestine/

https://apnews.com/article/israel-west-bank-gaza-middle-east-israel-palestinian-conflict-7974cc0c03897b8b21e5fc2f8c7d8a79

https://french.almanar.com.lb/2064020

https://french.almanar.com.lb/2066594

https://jornalismodecausas.wordpress.com/2016/04/10/a-resistencia-improvavel-a-ocupacao-impossivel/

Agências e meios de comunicação que acompanham os factos no terreno:

https://www.haaretz.com/

http://english.wafa.ps/

https://www.aljazeera.com/

https://shehaben.com/

https://www.trtworld.com/

https://qudsnen.co/

https://french.almanar.com.lb/

https://www.ap.org/

https://www.reuters.com/

Comments

  1. Tal & Qual says:

    3ª Empifada…!
    Há 5 mil anos que andam com esta treta! Ufffff!

  2. Luís Martins says:

    A acreditar na reencarnação diria que os algozes dos judeus da 2ª guerra mundial, reencarnaram nos descendentes das vítimas, o que seria de uma suprema ironia.
    E o mundo, ou melhor, os senhores do mundo assistem impávidos ao extermínio de um povo. O povo palestiniano.
    Há alguma esperança para este mundo?

    • Renato Teixeira says:

      A marcar casas por orientação religiosa parecem irmãos, não encarnações.

  3. Antonio Ramos Lemos says:

    O Aventar a propagar fake news e teorias da conspiração(Sionismo que mandar no mundo).
    Quando a Lei dos Direitos Humanos na Era Digital estiver implementada este post será apagado e o Renato Teixera terá que responder pelo crime.

    Antonio Ramos Lemos

    • Renato Teixeira says:

      Isso será antes ou depois de Israel e os seus acólitos responderem por genocídio? Já ilustrar a fake news ou a teoria da conspiração, zero. Nada de novo debaixo da soleira do negacionismo sionista.

    • POIS! says:

      Pois bem!

      Nesta vida há três coisas que eu nunca vi acontecer: um homem a parir, um defunto a ressuscitar e uma qualquer Lei dos Direitos Humanos ser implementada.

      É como diz, por outras palavras, o Renato: se existisse alguma lei dessas Israel e os seus acólitos estavam lixados. Eles e outros. Por exemplo os que até há pouco tempo eram inimigos e agora são amigalhaços. Tipo Arábia Saudita.

  4. Rui Naldinho says:

    Rinchard Zimler:

    Apenas um pequeno lembrete. Isto vem de Moshe Dayan:

    “Viemos para este país que já era povoado por árabes, e estamos a estabelecer… um estado judeu aqui. Em áreas consideráveis do país comprámos as terras dos árabes. Aldeias judias foram construídas no lugar das aldeias árabes. Nem sequer conheces os nomes destas aldeias árabes, e eu não te culpo, porque estes livros de geografia já não existem; não só os livros não existem, as aldeias áras também não estão lá. Nahalal surgiu no lugar de Mahalul, Gevat – no lugar de Jibta, Sarid – no lugar de Haneifs e Kefar Yehoshua – no lugar de Tell Shaman. Não há um lugar construído neste país que não tenha uma antiga população árabe.”

    • Renato Teixeira says:

      Muito bem lembrado.

    • luis barreiro says:

      Um coitado a tentar mentir ao propaguear que a religião islâmica é mais antiga que a judaica. máta-te.

      • Paulo Marques says:

        Mais um que nunca aprendeu a ler.
        Se a terra é deles, porque é que a China não pode voltar a Taiwan? Porque é que a Rússia não há de ter a Crimeia e a Ucrânia?
        Parecem putos.

  5. João Paz says:

    António Ramos Lemos a bater palmas e a aclamar de pé a lei aprovada sem quaisquer votos contra e que volta a tornar legal a CENSURA em Portugal. O estado de direito e a liberdade de expressão vão na vazante e os amantes da ditadura vêm a público apoiar. Obrigado pela sua autodefinição ARL.

    • Renato Teixeira says:

      Sempre útil. Sempre um prazer fazer com que mordam o isco. Sem censura, posto que aquilo que dizem é mais útil do que imaginam à causa palestiniana.

  6. Ferroadelas à parte, nunca foi tão verdade a frase de uma famosa diplomata palestiniana: “É verdade que Israel pode ocupar os territórios e também pode ter a paz. O que não poderá ter nunca é ter ambas as coisas, visto que se excluem mutuamente”. Manter a ocupação significa a guerra e se quer a paz, tem de desocupar. Não há outra alternativa.

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