CNN Portugal

Acerca da criação da CNN Portugal, pouca coisa há a afirmar fora do domínio do cómico. O mainstream irá informar o cidadão português de que se trata da salutar chegada da uma credível, séria e íntegra cadeia de informação. A realidade, como quase sempre, reside no oposto que nos é dito. A CNN americana é uma merda e está na merda. E está na merda porque é uma merda.

Não foi só para os americanos descontentes que Donald Trump surgiu como messiânico. Ofuscada pelo universo de informação que é a internet, a CNN – e a generalidade do mainstream – estava numa franca curva descendente de credibilidade e consequentemente de audiências, quando Donald Trump emergiu das trevas. O ódio a um simples individuo serviu de reservatório durante quatro longos e lucrativos anos. Para isso foi necessário, naturalmente, mentir, ocultar, enganar, ludibriar, chorar, vitimizar, ou como se designa em 2021, fazer jornalismo.

O pior – ou o mais deliciosamente irónico, dependendo do ponto de vista – viria a seguir. Tanto lutaram pelo desaparecimento do homem da vida pública, apoiando inclusivamente a sua exclusão das redes sociais, que não estavam à espera do que se seguiria, mesmo sendo isso pornograficamente previsível:

Sem o bicho-papão, sem o bode expiatório, sem um símbolo cinematográfico de vileza, a imprensa de esquerda vale zero. Porque não é jornalismo, é activismo. O jornalismo tem sempre informação para descobrir e sobre a qual trabalhar. O activismo, sem causas, perde o propósito. A CNN só conseguiu fazer dinheiro fazendo do ódio a sua bandeira.

Sempre que me quiser divertir, vou partilhar nos próximos tempos algumas das mais engraçadas histórias da CNN: desde os teatros constrangedores dos irmãos Cuomo às não menos constrangedoras intervenções choramingas de Don Lemon. Para já, fiquem conscientes de que se virmos a CNN Portugal a optar por notícias falsas, propagandistas e ostracização de segmentos populacionais, já sabemos que não estamos perante falhas deontológicas, mas sim diante de um lucrativo modelo de negócio. A boa notícia é que aqui na choldra não destoará.

Comments

  1. TERESA PALMIRA HOFFBAUER says:

    Talvez até tenhas razão, Diogo, quando dizes que “A CNN americana é uma merda e está na merda. E está na merda porque é uma merda.” Eu vou continuar a engolir essa MERDA, acompanhada de uma cervejinha e alguns amendoins.

    Eu sei, eu sei, que as mulheres portuguesas preferem engolir uma outra MERDA: as telenovelas 🤮

    • Rui Naldinho says:

      Todos os projectos jornalísticos que nasceram numa determinada época com o fim de se demarcarem da voz oficial do regime, ou de fazerem jornalismo de investigação, a SICNoticias é um bom exemplo, acabaram mais tarde ou mais cedo por se deixar instrumentalizar, acabando também elas no populismo, nas Fake News, etc, etc.
      A redes sociais vieram rebentar com a Comunicação Social como a conhecemos. Há uma parte que as ultrapassa, mas há uma outra que só pode ser imputada a elas próprias. A da credibilidade.
      Ainda estou à espera do resto da “novela” dos Panama Papers, interrompida ao fim de alguns episódios, a mando não sei de quem.

      • Paulo Marques says:

        A SIC do caso Paula é do Alberto Gonçalves? nunca diria.

  2. Filipe Bastos says:

    Aprecio quem diz as coisas como são e chama os bois pelos nomes. O Hoffbauer tem essa qualidade. Este post não vai agradar a muitos residentes, mas está carregado de razão.

    Claro que não foi só a CNN: todos os media americanos e europeus viviam do Trampa, fosse a cascá-lo (90%) ou a louvá-lo (10%).

    De certa forma, nada de novo. Os media sempre tiveram o papel ambíguo e repugnante de não apenas relatar, mas lucrar com as polémicas e as desgraças. Interessa-lhes que haja guerra e morte e Venturas e Trampas. Paz e razão não vendem.

    O que o Trampa deixou ainda mais a nu foi o contraste entre cultura e economia: entre o que é permitido no discurso público, nos media e no zeitgeist dominado por uma pseudo-esquerda cada vez mais histérica e identitária, e a ortodoxia capitalista que, longe de ameaçada, continua de pedra e cal.

    Mal saiu o Trampa, um mamão fantoche, e entrou o Biden, um fantoche de mamões, na tradição de Obama ou Clinton, magia: o perigo acabou, o mundo mudou, tudo está bem quando acaba bem.

    E a carneirada sorri, sentada no Starbucks, iPhone na mão, farpela da Zara, Amazon e Feicebuque nas ventas; ganhámos!

    • TERESA PALMIRA HOFFBAUER says:

      Uma opinião que enriquece o artigo do Diogo Hoffbauer.

      “… o Trampa, um mamão fantoche, e entrou o Biden, um fantoche de mamões, na tradição de Obama ou Clinton…”

      A política é uma porca rodeada de mamões, não somente nos USA.

  3. Paulo Marques says:

    Imprensa de esquerda, que tanto insistia na necessidade de Biden porque o resto era muito radical. Certo. O canal de Chris Matthews é Chuck Todd a defender que estava tudo bem antes da tangerina e que não se devia escolher alternativas, é de esquerda. Certo.

  4. JgMenos says:

    A CNN tem uma larga margem da sua actividade focada na informação de negócios o que a põe a milhas da esquerdalhada cá do sítio que faz comissões de inquérito para ocultar que produz leis que facilitam toda a bandalheira em negócios; de facto, haver bandalheira em negócios é-lhe instrumental para manter o seu discurso de atrasados mentais,
    Se contribuiu para correr com o Trump, bem haja por isso, que facilitar a vida a mentirosos já cá temos quanto basta.
    O antiracismo da CNN – em que se ocupa bastante – tem todo o fundamento que por cá falta à indigente esquerdalhada que ergue toda a bandeira que lhe dê notícias e acesso ao orçamento.
    Veremos da relevância da CNN Portugal,

    • Paulo Marques says:

      Sim, como o RERT em que se apagam registos, ou se privatizam empresas para o estado Chinês, ou se se ocupa a administração da banca – tudo esquerdista, claro.

  5. Miguel says:

    CNN, imprensa de esquerda. Ora bem, era preciso alguém ousar. Certo, em termos relativos estárá à esquerda de qualquer coisa, por exemplo da extrema-direita. O CDS também (espero).

  6. Elvimonte says:

    Lúcido e clarividente. Uma verdadeira “anomalia” nos tempos que correm. Acho que não tardarão a “cancelá-lo”.

    • Paulo Marques says:

      Se o negacionista-mor, o amante do botas, e o maoista ainda escrevem, não se preocupe.

  7. Filipe Bastos says:

    E cá está, meus caros: o falhanço da esquerda. No Guardian:

    “A Alemanha tem níveis de desigualdade mais próximos dos EUA do que da França; os 10% mais ricos já possuíam 2/3 da riqueza antes de o covid aumentar ainda mais essa distância.

    No entanto, a esquerda não consegue trazer a desigualdade para o centro do debate político. Um novo estudo explica porquê.

    A pesquisa retrata uma sociedade em que “todos pensam que são de classe média”: os mais pobres sobrestimam o seu rendimento; os que ganham mais não se acham acima da média.

    O resultado, diz o estudo, é que debates sobre a desigualdade são demasiado abstractos para o eleitor médio, mesmo que acredite que há um problema de desigualdade em geral.

    “É um paradoxo recorrente”, diz um dos autores do estudo, “os eleitores são pessimistas em geral, mas optimistas na sua situação pessoal. É assim muito difícil à esquerda debater impostos sobre a riqueza ou as heranças, por exemplo, sem que os instintos conservadores dos eleitores entrem em acção”.

    O resultado de décadas de propaganda direitalha, da celebrity culture, do mantra ‘greed is good’, de futeboleiros e cantadeiros e bitaiteiros e outros chulões a distrair a carneirada, enquanto a esquerda brinca ao LGBTQXP&K# e ao racismo: países cheios de ‘milionários temporariamente embaraçados’.

    • Paulo Marques says:

      Pois, porque Bernie, Corbyn e Lula não existiram e não foram afastados como foram. Citando o The Guardian, novamente, depois de tanto criticar por o ler quem nunca o leu. Seriedade e coerência.
      Porque nem esse é o porquê, porque também se esquiva, no seu centrismo agressivo, a explorar quando e como o paradoxo surgiu, e que o Filipe nunca se deu ao trabalho, comendo o discurso dos Guardians de que é um jogo de soma zero em que tem que se tirar do prato dos outros, senão Venezuela, Zimbabwe, béu, béu, béu. E, por isso, continua a perder.

    • Filipe Bastos says:

      O problema não é ler o Guardian, seu palonço: o problema é lê-lo pela tralha woke que tomou conta dele nos últimos anos, e que tornou um bom jornal onde íamos ler artigos como o que cito acima num pasto para os choninhas ‘interseccionais’ de que v. parece ser um zeloso representante.

      Se o não lê devia passar a ler; é mesmo o seu cup of tea.

      Quanto ao resto poderá ou não ter razão; não faço ideia pois v. nada explica. Certo é que é um jogo de soma zero, por muito que direitalhas e entusiastas da ‘nova esquerda’ como v. o neguem. Aliás, o artigo acima assenta-lhe bem.

      Muito do que v. diz soa ao típico esquerdista-centrista-blairista ‘aspiracional’ que não quer real mudança; chega-lhe assinalar a sua virtude wokista enquanto mama uns trocos na bolsa e escolhe o próximo popó alemão.

      Sim, sim, tornar o mundo mais justo e tal; mas com calma. Alguém tem de trazer-me o Uber Eats e lavar as escadas. Alguém tem de trabalhar 12h de pé para eu ficar sentado. Alguém tem de ser pobre. Desde que não seja eu.

  8. Que confusão… Fox News e CNN são coisas bem diferentes…

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