Turismo de subserviência e outras cabritices

O Reino Unido anunciou hoje a exclusão de Portugal da sua “lista verde”, que permitia aos turistas ingleses fazer férias em Portugal e regressar ao país sem cumprir quarentena. A decisão das autoridades britânicas, baseada na evolução dos números da pandemia, era previsível, depois daquilo que foram os festejos do campeonato ganho pelo Sporting, que agora se reflectem no aumento diário de casos em Lisboa e Vale do Tejo. Ontem, por exemplo, 50,8% dos novos casos positivos foram registados naquela ARS. No dia anterior foram 60,6%. No anterior 81,6%. And so on.

A vantagem sobre outros concorrentes do turismo, como Espanha, Itália ou Grécia, durou pouco tempo. Foi desperdiçada. E, a continuar assim, depois do outro grande evento desportivo que foi o encontro de hooligans ingleses na Ribeira do Porto, corremos algum risco de, daqui por duas semanas, estarmos a assistir a um novo pico de infectados. E, eventualmente, mais restrições. Internas e impostas pelos países que cá vêm passar férias. Ou vinham.

E tudo isto porquê?

Em princípio porque o futebol nos tira o discernimento. Mas sobretudo porque temos um governo que foi totalmente irresponsável e incompetente, quer na forma como permitiu (juntamente com a CML) que a festa verde e branca se desenrolasse daquela maneira (e a PSP avisou que tinha tudo para correr mal), quer na postura servil com que permitiu que a “bolha” inglesa transformasse várias zonas do Porto em algo parecido àqueles descampados que vemos nos filmes, onde hooligans encharcados de cerveja andam à porrada. E tudo isto conduzido pela auto-piada ministerial que “lidera” a Administração Interna. Foi feito o pleno.

Poucas coisas minam tanto a autoridade do Estado e, por conseguinte, a nossa segurança, como casos desta natureza. Dão gás aos extremistas “pela verdade”, dão gás aos extremistas pelo fascismo, e, mais importante que tudo isso, contribuem para manchar ainda mais as instituições, aos olhos daqueles que querem acreditar nelas.

E Eduardo Cabrita ainda é ministro.

Comments

  1. whale project says:

    O aumento de casos em Lisboa centrou-se na zona histórica, por coincidência a mais visitada por turistas ingleses, que bem vistos foram no Bairro Alto, bêbados que nem cachos, sem máscara, sem cumprir distanciamento social e com um jovem a gabar-se que eles eram, a geração Y, logo a geração que não tomava cuidado com nada, sendo essa “a dura verdade”. E ninguém lhe deu logo um soco na boca. Não consta que a população das zonas históricas estivesse toda na festa do Sporting mas muita estava a servir essas hordas à mesa. No Algarve, invadido por essas hordas bêbedas e irresponsáveis, também temos visto aumentar os casos sem que houvesse qualquer festejo do Sporting ou outro. O aumento de casos coincidiu justamente com o levantar de restrições aos ingleses. Só coincidência, pois claro. Foram eles que nos encheram de bicho em Janeiro, não foi o Natal. Não era nas aldeias que estava a variante inglesa que chegou a ser dominante em terras lusas e nos custou milhares de vidas.
    E iam voltar a encher-nos de bicho agora, onde os “santinhos” dos empresários algarvios já pediam a entrada dessas hordas sem sequer o competente teste PCR. Porque não são eles que correm o risco de ir parar ao Matadouro de Faro se forem contaminados. É o desgraçado do empregado de mesa, do recepcionista, da empregada de limpeza de quartos, pagos a salário mínimo e sem direito a nada. Essa sim é a dura verdade, Bifes go home e talvez possamos continuar a receber turistas de terras que não tenham tanta “geração y”.

    • Rui Naldinho says:

      Apetece-me dizer como o outro:

      “Indignados por receber tantos ingleses (Liga Campeões), indignados pelo facto de eles não virem”.

      Em que ficamos?
      Não há receitas ao gosto de cada grupo económico, de cada região ou cidade. Há o que há.
      Segundo ouvi nas notícias de hoje, sexta feira, a decisão de Bóris Jhonson terá prejudicado as companhias aéreas inglesas, em especial as de baixo custo e as agências de viagens, entre outros sectores, em 2 mil milhões de euros.

      A minha opinião não sendo 100% coincidente com a sua, toca muitos dos seus pontos.
      A única coisa que esta pandemia me ensinou, e foi muito, é a de que continuamos a ser um país de serviçais. Já agora de oportunistas.
      Daí os alemães terem proibido os voos não essenciais com origem no Reino Unido, e nós clamarmos por eles.

  2. Shhh… deixem lá os ingleses, pode ser que assim venham turistas civilizados e de países desenvolvidos. Shhh…

  3. JgMenos says:

    Verde para nos despachar a final…amarelo para salvar libras!

  4. Filipe Bastos says:

    É exactamente aqui que começa o estado a que isto chegou.

    Ora bem, João Mendes. Melhor que mais um post de ‘análise política’. Como se cá houvesse alguma.

    Eis Portugal numa placa: doutores a inaugurar vedações.

    Noutras notícias, a PM da Finlândia está a ser entalada por despesas indevidas de alimentação. Valor em causa: cerca de 850 euros /mês, no total de 14.000 euros.

    850 euros/mês. Na Finlândia. Imaginem as gargalhadas do 44, do Loureiro, do Relvas, do Vara, de todos os ministros, de todos os autarcas, vereadores, assessores, consultores e nomeados por ‘confiança política’ deste jardim à beira-mar cagado.

  5. Júlio Rolo Santos says:

    Há quem lhe chame turismo de subserviência mas eu prefiro chamar-lhe turismo de sobrevivência. Obviamente que quem depende exclusivamente do turismo tem de se preparar para, mais tarde ou mais cedo, mudar de vida pois o turismo em Portugal já conheceu melhores dias. Nós pouco mais temos para oferecer ao turista, sol, praia e eucaliptos e pouco mais.

    • Paulo Marques says:

      E pastéis de nata, pá.
      Mas não é verdade, há muita indústria, e algum software, só que não se compete tendo uma moeda estrangeira sobrevalorizada, nem com desvalorização interna (que não funciona, mas enfim).

      • Filipe Bastos says:

        Mas não é verdade, há muita indústria, e algum software…

        Imensa indústria, imensa. É isso e agricultura: após décadas de governos do centrão e de esmolas europeias, rapidamente convertidas em Mercedes, Audis, montes no Alentejo e casas no Algarve, produzimos tanto que até assusta.

        Software… os mamões da Critical, da Outsystems, da Glintt, da Novabase? O euro não parece incomodá-los.

        • Paulo Marques says:

          Bem, se vai pegar no que tem sucesso de qualquer maneira, não vê o resto que não consegue competir. Mas isto nem sequer está em questão, daí fundos estruturais e a alteração da economia para se basear em serviços de baixos salários e baixo lucro; nem sequer foi Cavaco que se lembrou disso, só disse que sim, aliás, continuou a dizer que sim.

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