A continuar assim, qualquer dia acordamos mesmo em Gilead

No mesmo dia em que a Hungria recebeu Portugal para o jogo inaugural do Grupo F do Euro 2020, o governo de Viktor Orban fez aprovar legislação que proíbe a “promoção” da homossexualidade junto de menores de 18 anos, e a “representação” da homossexualidade e da transexualidade em espaços públicos, no âmbito de um conjunto mais alargado de medidas, alegadamente orientadas para a protecção de menores e para o combate à pedofilia. Entre as medidas, filmes como o Diário de Bridget Jones e a saga Harry Potter serão proibidos a menores de 18 anos, por conterem menções à homossexualidade. O Harry Potter, então, é todo um tratado de ideologia de género. Wingardium LGBT.

Não é preciso ser um rocket scientist para perceber o que está aqui em causa. E o que está em causa é um novo ataque do governo húngaro aos direitos, liberdades e garantias de determinados cidadãos, em função da sua orientação sexual, para assim oprimir e segregar ainda mais estas pessoas, sob o falso pretexto da protecção de menores, demonizando a comunidade através da associação à pedofilia, sem qualquer tipo de fundamento, e tudo isto perante o silêncio cobarde/cúmplice (escolher uma, ou ambas) de uma União Europeia incapaz de fazer cumprir a sua Carta dos Direitos Fundamentais, que proíbe qualquer discriminação com base na orientação sexual. Sempre muito poderoso lobby, o LGBT!

Este ataque aos direitos fundamentais da comunidade LGBT na Hungria, para além da crueldade que encerra, da humilhação que representa para a UE (como podemos criticar as ditaduras do Médio Oriente ou da América Latina, se permitimos que o governo húngaro governe desta forma? Com que moral?) e da vitória moral de ultrahomofóbicos como Putin ou Lukashenko, é uma séria ameaça contra todos os democratas europeus, que, tal como em Portugal, lidam hoje com a ascensão de partidos de extrema-direita, fortemente influenciados por grupos de extremistas religiosos, gangues movidos pelo ódio a qualquer coisa, e pelo so-called “iliberalismo”, o eufemismo político da moda. Num país outrora considerado como um bastião progressista no leste europeu, as regras do jogo mudaram radicalmente ao longo dos últimos 10 anos.

Desengane-se quem achar que estamos livres de experienciar uma situação idêntica. Num país onde um estudo recente revela que 63% da população está disponível para ser liderada por um governo mais autoritário, onde a homofobia tem significativa expressão e onde a extrema-direita emerge de braço dado com o fundamentalismo evangélico, o extremismo neo-nazi e toda uma panoplia de chanfrados, apostados em “curar” homossexuais, remover ovários, aplicar castrações ou reintroduzir a pena de morte, todo o cuidado é pouco. Principalmente quando existem tantas e tão moderadas barrigas de aluguer disponíveis.

Quanto à União Europeia, sempre tão célere a sancionar questões relacionadas com défices e orçamentos, a impunidade com que o vanguardismo neofascista de Orban, Morawiecki ou Borisov vem oprimido os seus parece importar pouco a Bruxelas, reforçando, desta forma, o poder e a legitimidade percepcionada dos extremistas. E se a União se reduziu a um espaço de comércio e lobbys, sem mecanismos de prevenção e defesa contra as várias violações dos direitos humanos de tantos cidadãos europeus, então talvez seja altura de questionar o caminho que estamos a fazer, porque algo não está a correr bem. A continuar assim, qualquer dia acordamos mesmo em Gilead.

Comments

  1. JgMenos says:

    A cambada só pára quando começar a haver uns bandos de gays à saída das escolas a promover a sua facção e a recrutar a miudagem para o exercício dos seus direitos.
    Retirar toda a anormalidade de homens em corpo de mulher e mulheres em corpo de homem é a cruzada deste bando de progressistas da merda.

    • João L Maio says:

      És doente.

    • POIS! says:

      Pois tá bem!

      As exigências que V. Exa. engendra como moeda de troca para parar! Cá p’ra mim, pelo Menos, é desculpa!

    • Paulo Marques says:

      Entretanto, no planeta terra, ainda há bandos de rebarbados a mirar gajas à saída da escola; mas com esses Machos vive o Menos bem, que respeitar mulheres é progressismo de merda. A menos que fossem pretos ou monhés ou outros terroristas quaisquer, aí voltava a ser mau, porque isto é a coutada do macho ibérico, carago.

  2. JgMenos says:

    O neofascista Orban.
    Porque este teóricos de tudo que é o corretês não nos iluminam sobre a condição do homosexualidade na Rússia em resultado da sua exposição por mais de 70 anos de iluminismo socialista, que a Ungria partilhou por mais de 40?

    • POIS! says:

      Pois não me diga!

      A Ungria partilhou? Ai a desgraçada!

      Tivesse ela nascido na Hungria e estava bem lixada!

    • Paulo Marques says:

      A mesma que em muitos países democráticos, reprimida e em risco de morte. Ao menos deixamos de ser maricas em relação aos outros.

  3. Filipe Bastos says:

    “Num país onde … 63% da população está disponível para ser liderada por um governo mais autoritário”

    É a carneirada sempre ao contrário: em vez de exigir mais poder e uma verdadeira democracia, quer delegá-lo ainda mais. Quer ainda menos democracia.

    Mas o João Mendes e a maioria dos demais aventadores não são muito melhores. Querem apenas que sejam os vossos a mandar. Nunca a população, nunca os contribuintes, nunca quem trabalha, quem paga tudo; sempre partidos e pulhíticos.

    Pior: rejeitam qualquer responsabilização real desses partidos e pulhíticos; o seu controlo e punição efectiva; ou a sua justificada discriminação após décadas de saque e negligência impunes.

    Querem, em suma, mais do mesmo. Depois admiram-se.

    • Paulo Marques says:

      Quem é contra sindicatos, greves, e manifestações, quer poder para quem trabalha e contribui. Segue já a seguir, mal deixe de haver uma entidade que ainda faça alguma frente ao capital.

    • Filipe Bastos says:

      Sou contra chulos sindicalistas como o Nogueira, não contra sindicatos. Contra greves de bem instalados, não contra todas as greves. Contra ineficazes passeios na avenida, não contra manifestações que malhem nos pulhíticos e nos DDT.

      Sou contra as suaves larachas e doces meias-tintas que tanto lhe agradam e que mudam rigorosamente nada.

      Sou contra o seu confortável esquerdismo woke, que traiu as classes que devia defender e passa a vida a berrar racismo! e homofobia! para parecer revoltado enquanto mantém tetas e privilégios. Contra quem louva os tadinhos dos ciganos, mas jamais viveria ao lado deles. Contra histerias e hipocrisias PC. Contra o seu recorrente branqueamento da máfia PS. Contra a partidocracia podre que v. e outros querem manter. Contra esta bandalheira corrupta e os bandalhos que a saqueiam.

      • Paulo Marques says:

        Foi o que eu disse, porque são os únicos com poder para não temer quase nada ou os que já temem o dia a dia e nada têm a perder.

  4. Quando falam em promoção da homossexualidade imagino que seja algo como: “troque uma senhora de 40 por duas de 20”.

  5. Paulo Marques says:

    Mau, mas então já não estamos numa ditadura xuxalista? Será a tal manipulação das sondagens que diz Rio?
    Ou será que o título é a Impresa a ser Impresa, e não houve pergunta sobre líder (não governo) autoritário?
    https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2021/06/desfocagem-e-manipulacao-de-informacao.html
    João, João, esperava mais, pá. 🙂 bem como da referência ao Potter, mas isso é outra conversa. Dá, de facto, jeito inventar um Outro culpado e mandar a realidade às malvas, ignorando décadas e décadas de experimentalismo em que nem nada se curou, nem o mundo acabou. Nada de novo, enfim.

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