Incompetência e irresponsabilidade no controlo da pandemia

Não foi por falta de aviso nem de escassa informação que não se controlou a expansão epidémica na Área Metropolitana de Lisboa. Não, foi mesmo incompetência e irresponsabilidade sustentadas em desmesurada soberba!
No pretérito dia 3, especialistas escarneceram da decisão do governo britânico, aduzindo que só tínhamos 12 casos da nova variante nepalesa e que estavam perfeitamente controlados. 17 dias volvidos, o mesmo especialista do Instituto Ricardo Jorge, João Paulo Gomes, vem à televisão dizer que já representa 60% dos infectados na Grande Lisboa!

Henrique Silveira no Facebbok

Mas isso foi apenas o começo! Logo no dia seguinte, a 4 de Junho, depois de o Ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, explicar que a decisão do seu governo se deveu “a taxa de positividade” que “quase duplicou desde a última revisão em Portugal” e com “uma espécie de mutação do Nepal”, surge o nosso inefável Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, a afirmar que a atitude do governo britânico tinha sido fruto de uma decisão “intempestiva” e baseava-se em “irrelevância estatística”!
Cega e despudoradamente, o governo avança com nova fase de desconfinamento a 14 de Junho, desdenhando o problema que Lisboa evidenciava a olho nu, escudando-se em considerações que, de todo, escamoteavam o perigo de não controlar a pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Faltava a cereja em cima do bolo, o despautério do Presidente da República ao afirmar, a 13 de Junho, “Já não voltamos para trás. Não é o problema de saber se pode ser, deve ser, ou não. Não vai haver. Comigo não vai haver. Naquilo que depender do Presidente da República não se volta atrás”!!! Fiou-se Marcelo Rebelo de Sousa no facto de já haver uma percentagem considerável de vacinados e de as novas infecções não representarem perigo de ruptura do SNS!
Na verdade, não houve uma única voz, seja de políticos, especialistas ou comentadores instalados em órgãos de comunicação social a denunciar a evidência, o perigo iminente que representava não controlar o recrudescimento da pandemia naquela região! Ou seja, se as “fake news” estão, como dizem, nas redes sociais, a desinformação, para não adjectivar de outra forma, atravessou o governo, a Presidência da República, o Parlamento, todos os partidos e os media sem excepção!
Apesar de termos alertado no Aventar, logo a 3 de Junho, para a “Irresponsabilidade insana” de não controlar a pandemia em Lisboa e Vale do Tejo, por considerar que “Esta insanidade de não ter voltado a confinar a Área Metropolitana de Lisboa teve por consequência imediata o descontrolo da pandemia e, em muito breve prazo, a pior das consequências económicas – sairmos do grupo de países considerados seguros”, nada foi feito, desde então, para proteger Portugal do momento que estamos a viver e iremos viver durante este Verão.

Entre as vozes mais autorizadas, Henrique Silveira, matemático do IST, foi o primeiro especialista a ver as consequências graves de nada se ter feito em Lisboa, talvez por ser Lisboa(?), começando a alertar que, tal como no ano passado, a Área de Lisboa e Vale do Tejo iria prejudicar todo o restante país no que ao turismo diz respeito! Com efeito, teve a coragem que nenhum órgão de comunicação social teve, a de dizer qual o Rt de cada região, independentemente do de Lisboa! E assim, ainda hoje esclareceu no seu perfil do Facebook que os números eram estes a 20 de Junho: “1,27 País; 1,1 Norte; 1,21 Centro; 1,34 Lisboa VT; 1,16 Alentejo; 1,54 Algarve; 0,98 Açores; 1,29 Madeira.
Isto é gravíssimo porque mostra, sem velatura que valha, a irresponsabilidade dos principais responsáveis ao nada fazerem para cortar cadeias de contágio em Lisboa! Incompetência, soberba e irresponsabilidade numa aliança firme a prejudicar o conjunto das regiões! Mais grave ainda, por sabermos hoje que, devido a não terem controlado de início esta nova variante, será impossível que ela não se alastre, mais cedo que tarde, a todo o país!
É que, contrariamente ao pensamento de Marcelo Rebelo de Sousa, a necessidade de controlar a pandemia naquele momento não era por uma questão de saúde pública, mas por uma questão de urgência de relançamento da economia!

Não sou especialista nem candidato a cargo ao comissão, mas mesmo sem perceber o alcance de uma proibição de saída ou entrada na região durante um fim-de-semana para além de um mero acto de propaganda, parece-me que, embora tarde, é imperioso controlar todos os surtos activos e que venham a surgir, colocar polícia nas zonas de maior aglomeração de lazer e, se necessário, militares para travar quem não cumpre com as mais básicas normas sanitárias, desconfiando que os confinamentos tradicionais já não são adequados ao actual momento pandémico.
Trata-se de uma questão que não é de Lisboa, mas nacional, que coloca em causa, inexoravelmente, o relançamento da nossa economia tão dependente do turismo.
Basta de soberba, de incompetência e de irresponsabilidade!

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Hoje é segunda, e é dia de dizer que afinal o governo devia ser forte (e proibir arrais?), enfiar a liberdade na gaveta, que afinal o que conta não é a capacidade hospitalar, e que, afinal, as empresas só precisam de estar abertas em Agosto.
    Bom, é difícil acompanhar a narrativa, mas uma coisa é certa: dia 3 e seguintes a decisão não fazia mesmo sentido do lado britânico, pois estavam mais seguros cá. Uma? Duas, o entretanto banalizado estado de emergência, que se insistiu em não alterar, já não faz mesmo sentido, até porque já ninguém o ia respeitar. Fora isso, é ir navegando à vista, como qualquer outro país (mais ou menos bem, discuta-se à vontade), já que a extinção do bicho nunca foi considerada.

  2. Filipe Bastos says:

    Ora cá temos a competição de histeria covideira entre o Carlos Alves e o Paulo Marques. Quem vencerá?

    O Marques costumava ir à frente, mas nos últimos tempos o Alves ultrapassou-o. É que o Alves parece um genuíno histérico covideiro; por vontade dele já havia tanques nas ruas. Já o Marques depende mais do que o governo faz.

    Se o Bosta persegue e prende a malta, para o Marques tudo bem. Se depois importa 20.000 ingleses bêbados, não é lá muito lógico, mas no fundo tudo bem. Se fecha Lisboa cedo, tudo bem. Se fecha Lisboa tarde, tudo bem. Se não fecha, tudo bem.

    Ora o Bosta fez desta maneira, logo tudo bem. Se tivesse feito de outra maneira, também tudo bem.

    • Paulo Marques says:

      Não, não fez bem muitas coisas. Daí muita da falta de respeito e crença nas declarações oficiais nos últimos tempos, mais calmos. Mas, como sempre disse o Filipe, acho, o que conta é a capacidade, e essa vai bem. Contrariando até a preocupação com o santo António.
      Não acho que tenha sido boa opção não se ter recuado logo em Lisboa, já agora, apesar de não fazer sentido serem os britânicos a preocuparem-se. E, por não achar, disse que era melhor ter cuidado para ter o verão aberto. Não tenho culpa da realidade se ter tornado menos preocupante. O que não contraria que não se devia atirar quem trabalha para a sua sorte, mas é o que temos.

    • Filipe Bastos says:

      “Não, não fez bem muitas coisas.”

      A sério? Quem o leia jamais diria.

      Um governo PS até pode errar um bocadinho, mas nada de grave, né? Coisas menores. É como estourar milhares de milhões – que não temos – em obras ruinosas e negociatas mafiosas. Antes isso que fazer nada, né?

      Bem, bem no fundo devemos estar gratos ao PS. Ao Bosta, ao 44, ao ferro-velho todo. Né, Marques?

      • Paulo Marques says:

        Devia ler melhor. Fez mal em não criar uma lei adequada à emergência, ou não aceitar alterações ao OE que foi obrigado a voltar atrás, ou em deixar para depois da hora a aquisição de computadores, por exemplo. Faz mal em achar que ir para além do TO dá alguma benesse ao país, ou que a precariedade laboral ajuda o mercado. Em injectar capital na economia, em abstracto, para que os empresários se mexam, não é; mais vale cavar buracos e enchê-los que ficar o dinheiro quietinho no banco e os trabalhadores quietinhos em casa.
        Se fica grato, é consigo. Prefiro a que mandem os portugueses sair e ofereçam o país nos saldos para pagar mais renda (e pode incluir as PPPs e SWAPs aí, rosas há poucas), a ver se é desta que vem investimento estrangeiro (nunca é).

    • Ricardo Pinto says:

      E quem criticar este Governo é de certeza de Direita.

      • Paulo Marques says:

        Tem razão, é confusão com nomes. Mas mantém-se que, ao longo deste tempo, ninguém acertou perto de sempre nas previsões.

  3. Nada para pensar aqui... says:

    « 1,27 País; 1,1 Norte; 1,21 Centro; 1,34 Lisboa VT; 1,16 Alentejo; 1,54 Algarve; 0,98 Açores; 1,29 Madeira. »

    Mas o caos insano está em Lisboa, é isso???

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