Incompetência a dobrar: O Cabrita e Os Vampiros


O ministro Eduardo Cabrita tem prestado um serviço lastimável ao País. É ponto assente e é indiscutível.

De todos os erros que tem cometido, pedirem a demissão do mesmo depois de um acidente rodoviário que vitimou um cidadão, onde nem sequer era Eduardo Cabrita quem ia a conduzir e onde não houve intenção qualquer de matar, não só é totalmente descabido por parte da Direita, como demonstra uma falta de escrúpulos arrepiante de quem, ao usar esta triste morte, se quer aproveitar politicamente. Demonstra, também, o estado de desespero em que a Direita se encontra, onde qualquer migalha lhe serve para matar a fome de eleitores.

Eduardo Cabrita é incompetente, é prepotente e é um péssimo ministro. Eduardo Cabrita não é assassino e eu desejava que os abutres Rui Rio e André Ventura parassem com essa narrativa de merda que começa a alastrar na opinião pública.

Ganhem vergonha e respeitem a vítima. Para mais: já se imaginaram a atropelar alguém inconscientemente? Como se sentiriam a seguir, sabendo que tiraram uma vida num acidente?

Pensem nisso e deixem de ser palhaços, porque por muito que a política seja um circo, não precisam de cagar no tapete. Não se faz política com mortes acidentais.

Comments

  1. Alexandre Barreira says:

    ………é verdade…..assim a “derêta”….não vai lá….a “contar cabritas”….!!!!

  2. Rui Naldinho says:

    Excelente texto. Eu não diria mais. Está aí tudo.

    • Rui Naldinho says:

      Nuno Santos, 43 anos, atropelado na autoestrada, enquanto trabalhava, pelo carro oficial do ministro da Administração Interna.

      Era isso que sabíamos, dez dias depois da sua morte, deste homem: a identidade do automóvel que o atropelou. Isso e a chusma de gestos políticos que se foram sucedendo à volta do caso. Como o comunicado do MAI que, com uma investigação a decorrer por parte de uma polícia sob a sua tutela, garantiu ter o morto atravessado inopinadamente a estrada e não existir sinalização dos trabalhos (informação que a Brisa desmentiu publicamente esta terça-feira) – sem porém nos certificar que o automóvel não circulava em excesso de velocidade. Ou o anúncio do partido que, depois de no sábado o Correio da Manhã fazer manchete com a viúva a dizer que as filhas do casal iam “morrer à fome” pela falta do salário do marido, veio nesta segunda-feira dizer ter criado “um fundo” para apoiar a família.

      Sucede que, independentemente das responsabilidades de outra ordem – por eventual condução perigosa – que possam existir na sua morte, Nuno era um trabalhador a trabalhar quando morreu. Pelo que à partida, antes de qualquer outra consideração ou averiguação sobre as circunstâncias da sua morte, é de um acidente de trabalho que se trata. E os acidentes de trabalho prevêem a responsabilização dos empregadores, via seguros obrigatórios, pelas despesas, compensações e pensões dos sinistrados e/ou suas famílias.

      É isso que determina a lei laboral – aquela que muitos dos que procuram usar a morte de Nuno, nomeadamente um certo demagogo de extrema-direita, propõem eliminar, em total liberalização das relações de trabalho, para quiçá as substituírem por caridade à la carte.

      É pois bastante extraordinário que durante dez dias, de 18 de junho, dia da morte, até esta segunda 28, nada tenhamos ouvido da parte das empresas responsáveis pelos trabalhos na A6 – de limpeza da vegetação das bermas – em que se ocupava o trabalhador Nuno: a Arquijardim, que o contratava diretamente e cujo nome pouco apareceu nas notícias até agora, e a Brisa, contratante indireta. Mais que não fosse para nos dizerem qual o vínculo contratual do malogrado trabalhador, se o processo relativo ao acidente de trabalho está já em marcha – como deve estar – e se estão a dar algum apoio à família até o assunto, que implica a intervenção da seguradora e do tribunal (é assim em casos de morte por acidente de trabalho), se resolver.

      Poder-se-ia dizer que não falaram por ninguém lhes ter perguntado, mas quando liguei à Arquijardim, ao fim da tarde de segunda, e perguntei essas duas coisas básicas, não houve resposta. Até o nome dos responsáveis da empresa recusaram dizer, como se fosse segredo (é só ir ao portal do Ministério da Justiça e consultar os atos societários). Poucas horas depois, no entanto, surgia no site da SIC, sem atribuição de fonte, a notícia de que esta empresa está a pagar à família o vencimento do trabalhador – que era seu efetivo há dois anos – e se encarrega das despesas do enterro “enquanto se processa o apuramento das responsabilidades da parte das seguradoras”.

      Não sabemos de quando data a decisão da Arquijardim e quando informou a viúva, ou se soubemos antes dela – mas é a primeira boa notícia neste caso. Porque um acidente laboral implica um processo que, apesar de urgente, será sempre demasiado moroso para uma família privada de rendimento. E se a lei prevê que possa ser atribuída, pelo tribunal (se não houver acordo à partida),uma pensão provisória, a ser adiantada pelo Fundo dos Acidentes de Trabalho, até à fixação da que deve ser paga pela seguradora, tal implica não existir contestação em relação à caracterização do sinistro como acidente de trabalho. Já foi noticiado, porém, na sequência do citado comunicado do MAI, que a seguradora envolvida quer perceber se houve da parte do trabalhador um comportamento, negligente ou temerário, que possa eximi-la de pagar.

      Essa possibilidade – de a família de Nuno Santos ter de enfrentar um longo processo de averiguação por parte da seguradora e o contencioso que poderá seguir-se – demonstra que há muito mais neste caso para questionar do que a velocidade a que ia o carro que transportava Eduardo Cabrita e se este deve ou não demitir-se se se provar que houve condução perigosa e, consequentemente, que o comunicado do MAI falseia os factos. Mas, claro, a proteção que a lei confere às vítimas de acidentes de trabalho é um assunto complexo e maçudo, que exige estudo e não faz manchetes sexy nem se presta a retóricas populistas, muito menos de partidos que combatem os direitos dos trabalhadores.

      Como Ihor Homeniuk, cuja morte só ganhou dimensão mediática e política quando pareceu que o ministro podia cair, Nuno Santos e a sua família não durarão um fósforo na via rápida do oportunismo.

      Fernanda Câncio

      • Filipe Bastos says:

        Obrigado, Naldinho, por trazer-nos a sábia voz da Câncio, insigne piaçaba xuxa e parceira de saque do Trafulha.

        Também gosto de citações; aqui tem uma para a troca:

        Que raio de animal repugnante atropela uma pessoa e nem se digna a sair do carro nem a prestar auxílio?

  3. Vi esta manhã uma animação computarizada com base no testemunho de uma testemunha. Está uma carrinha do lado direito a sinalizar o decorrer dos trabalhos e estão logo adiante tres homens a limpar as bermas. E mais adiante, voliá, um homem ( falecido ) no separador central. Ora, muita gente ( eu inclusivé, quando vejo veiculo parado na berma da direita passo na faixa esquerda, por segurança. Terá sido o que o motorista bmw fez. E é bom possivel que o falecido tenha tido algum descuido e tenha entrado na faixa de rodagem sendo apanhado de surpresa pelo bmw. Para quem viaja pelas estradas europeias é claro como a agua que a sinalização de trabalhos na auto estrada é pessima e muito amadora no nosso pais. Pelas “Franças” o transito é obrigado a fluir por uma unica faixa, já 500 m antes dos trabalhos. Aqui, uns sinaiszitos e “dois” cones e siga marinha, á portuguesa.

  4. Filipe Bastos says:

    João, copy-paste:

    Um ministro não é um passageiro qualquer. O carro – carrão – do ministro não é um mero táxi ou uber. Se o João lesse mais comentários saberia o que está em causa.

    Primeiro, a desfaçatez e impunidade dos nossos ‘representantes’. Toda a gente sabe que as regras, incluindo as de trânsito, são só para os outros – para a plebe.

    Quem já não viu comitivas destes chulos a 200/hora ou mais? Quem já não viu o desprezo com que tratam as pessoas que lhes pagam os carrões, os motoristas, as escoltas e os tachos?

    Segundo, o típico silêncio e encobrimento das entidades oficiais. Velocidade, documentos do carro, detalhes do acidente, motivo da deslocação e da pressa? Tudo omitido ou fornecido a conta-gotas. Esta canalha não deve satisfações a ninguém.

    Qual a grande diferença entre isto e qualquer banana republic da América Latina? O João vê alguma?

    Terceiro, aconteceu ao Cabrita e a um governo do PS. O Cabrita mete nojo. O PS é a maior máfia do país.

  5. Filipe Bastos says:

    Mais, João Maio:

    Segundo a Lei, os membros do governo só podem exceder o limite de velocidade “se estiverem em serviço urgente de interesse público” – com sirene, piscas, etc.

    Qual o urgente interesse público do tramposo Cabrita? Aliás, que urgência pode haver nesta pasmaceira podre? Ia evitar uma guerra? Um desastre? Ia tirar alguém da forca?

    Sejamos claros: esta canalha não anda de BMW a 200/hora porque precisa; anda porque quer. Porque pode. Porque se julga acima dos outros e sabe-se impune.

    A única ‘urgência’ é ir almoçar, jantar, inaugurar uma trampa qualquer ou botar discurso. Tretas pulhíticas ou partidárias. Interesse público? Zero. E nós, como camponeses medievais, a ver passar os senhores nas suas carruagens.

    Num país e numa democracia decente, esta canalha andava de transportes públicos ou quando muito de Clio, que já é bem bom; e andava com juizinho e sem escolta.

    Não é o cidadão que deve esperar por eles; são eles que devem esperar pelos cidadãos. Eles são meros servidores, funcionários da população. E em vez de abusar, deviam dar o exemplo. Alguém tem de dizer isto ao cabrão do Cabrita.

    • João L Maio says:

      O Filipe costuma ler-me. Sabe, portanto – e sabe-o perfeitamente -, que não defendo o PS ou os seus boy(i)s. Logo, saberá, também, que não é a defesa do PS e respectivos canitos de fila que me fez escrever este texto.

      Muito há a ser explicado sobre o acidente. Este e outros. Mas nunca sobre a intenção de quem atropelou. Aliás, juntando 1+1, é provável que o condutor do BMW fosse um polícia; e eu, que não suporto tal corja, poderia aproveitar isso para bater neles… a questão é que tenho o mínimo de consciência para saber que a lógica é uma batata e que A não tem nada a ver com B.

    • João L Maio says:

      Ah, e uma outra coisa:

      O Cabrita já há muito se devia ter posto a andar. Digo mais: nunca sequer devia ter lá metido os pés. Mas nunca por este acidente… por tudo o resto.

  6. xico says:

    Sobre o caso do acidente na AE já se disse quase tudo: a velocidade excessiva, a falta de empatia do ministro, o comunicado intempestivo a atribuir culpas antes do inquérito, etc. Mas ainda não vi ninguém preocupado com outras possíveis vítimas: o facto de um trabalhador que para exercer a sua tarefa seja obrigado a atravessar a faixa de rodagem de uma auto estrada não encerrada ao trânsito, independentemente da sinalização que lá esteja.

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